Marcus Hemerly: 'Filmes exploitation'
Filmes exploitation
As mais basilares lições de psicologia explicam a atração extintiva do cérebro humano pelo bizarro, no campo das informações usualmente pouco processadas. Por essa razão, é pronunciada a tendência ao consumo do entretenimento de terror, suspense e o interesse pelas notícias mais mórbidas ou sensacionalistas. Além de uma forma de arte, o cinema é um nicho extremamente lucrativo, e aquele denominado “de exploração” ou “exploitation”, nos brinda como interessante objeto de análise. Afinal, o que seria Exploitation?
Tratam-se de produções rápidas e relativamente baratas, com o objetivo de lucro imediato sem grande apreço, salvo exceções casuísticas, pelos desdobramentos estético artísticos da película. Não raro, principalmente em determinados países, tende-se a seguir um círculo, pautado no interesse popular que esteja em voga, ou decorrente do contexto histórico cultural.
Alguns exemplos, seriam os filmes B produzidos na Oceania, Ozploitation; Bikersploitation, filmes de motocicleta; Zumbis e Canibais; Blaxploitation, traduzindo elementos, como gírias e estereótipos da cultura negra; Anuxploitation, películas B canadenses; Carsploitation, filmes usando carros com corrida, batidas e explosões; Chambara films, aventuras de samurai; Nazisploitation, sobre campos de concentração nazistas; Nudist films; Redsploitation, versando sobre protagonistas índios americanos; Sexploitation e seus desdobramentos, (nunsploitation, filmes eróticos de freiras), entre outros. Cita-se apenas alguns tópicos de uma lista prolífica.
Observa-se, nesse panorama, um reflexo instigado pela demanda mercadológica. No Brasil, de modo similar, verifica-se tal fenômeno no cinema produzido na chamada boca do lixo paulistana, quando, a partir dos anos oitenta, as errônea e genericamente rotuladas de pornochanchadas, deram espaço ao cinema explícito. O cenário anterior de simulação erótica nas telas, inserido nos mais diferentes enredos, cedeu lugar ao conteúdo hard core, por pressão do público e exibidores. No entanto, por óbvio, seja no plano internacional ou doméstico do cinema comercial, emergiam títulos e diretores altamente artísticos, que se destacam pelo tom peculiarmente experimental de suas obras.
Como se sabe, revela-se uma tendência atual a rotulação e a criação de constantes definições, tais como subtítulos ou subgêneros muitas vezes inócuos. Contudo, dentre essas denominações, a título de exemplo, alguns são dignos de um artigo à parte, como o famoso A vingança de Jennifer (I Spit on Your Grave, 1978) e Thriller, A Cruel Picture, de 1973, os quais inpiraram ainda algumas derivações no gênero Rape and Revenge, derivação dos chamados WIP – Women in Prison (mulheres na prisão).
Em Thriller, uma jovem muda é sequestrada, sendo forçada à prostituição e anestesiada pelo vício da heroína induzido por seus captores, em reiterada despersonalização. Na medida em que o tempo passa, a protagonista desenvolve, anonimamente, habilidades especiais, tais como o manuseio de veículos em fuga, armas de fogo e artes marciais, em preparação silente a uma vingança cruel, como adianta o título. Aspecto visual distinto, slow motion, além da violência estilizada, são elementos marcantes, posteriormente identificável no cinema de Tarantino e outros contemporâneos.
O filme amealhou bastante sucesso à época de seu lançamento principalmente por cenas explícitas de pornografia enxertadas, tendo em vista que a distribuição começou a ser chancelada legalmente e popularizada naquele país. Situação parecida ao reproduzido nos filmes da “boca do lixo” ou “boca do cinema”, a fim de atender a demanda no início dos anos oitenta. Renove-se, entre as produções, além das citadas, colhem-se excelentes exemplos de qualidade e boa técnica narrativa, haja vista que talentos relegados à marginalidade dentro daquele contexto comercial, não são tolhidos de suas mentes criativas. Nosso saudoso Zé do Caixão utilizava-se da precariedade de recursos a seu favor, construindo obras universalmente reverenciadas, em valorização das feições experimentais e elementos subjetivos.
O tempo, realmente, renova o modo como alguns filmes são observados/redescobertos, elevando o antes obscuro ou duvidoso, ao status de cult. Nesse espaço, indaga-se: O que seria cult? A resposta é objeto de outro diálogo.