Retratos, imagens, fotografias

Lina Veira: ‘ Retratos, imagens, fotografias’

Lina Veira
Lina Veira
Imagem criada por Lina Veira
Imagem criada por Lina Veira

Os séculos XIX e XX foram marcantes ao campo artístico, especialmente em relação ao desenvolvimento de equipamentos utilizados para  a captura de imagens. A fotografia alcançou grande dimensão e alterou a relação do público com a arte, sendo um dos campos mais explorados pela indústria cultural até hoje.

A capacidade de registrar o mundo em diversos segmentos e miniaturas com efeitos visuais  ganhou uma evolução rápida que, por volta de 1840, transformou o  pintores em fotógrafos, como escreveu Walter Benjamin  em seu texto: 

“Pequena história da fotografia”  

Quem não tem na sua família um pintor, fotografo ou escultor?

Hoje , achei um retrato antigo, do tempo de meus avós, nem parece que o mundo passou por duas guerras mundiais. Quanto tempo!  Ainda vivi o tempo em que  as famílias tinham interesse em deixar registrados momentos de carinhos juntos.  E meus avós maternos, estavam sempre juntos! 

Uma fotografia é quase que uma pintura.  Uma representação visual de uma pessoa, de seus gestos e comportamentos. Real ou imaginária, criada por efeitos visuais ou por emoções, um desenho,  uma pintura,  uma escultura ou fotografia. Pura arte em transformação.

Nesta foto, percebi as névoas do tempo recobrindo nossa pele,  os detalhes de um sorriso e olhares vazios da vida, me roubaram a atenção. O cabelo branquinho de meus avós…Minha Irmã Andressa estava no colo deles. Eu não sorria, mas em todas as fotos eu sempre sorri. Por dentro de toda arte existe a verdadeira vida, derivada da luz, de ondas percebidas pelo olho humano a deriva de  todo tom e cor diferente.  As mudanças são inevitáveis. Por dentro de toda arte existe uma leitura, uma síntese, a verdadeira verdade, um nascimento, algo informal também. Um dia quando eu morrer, essa foto também morrerá.

Cecília Meireles (1901-1964) marco da literatura brasileira soube escrever  muito bem. Nos versos da terceira parte do poema Retrato,  assume que já não se reconhece mais depois da sua transformação :

“Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?”

Minha fotografia predileta, estava intacta. Sentada no  pé de seriguela,  atualizando meus pensamentos e sorrindo.  Meu colo era no quintal, no  tronco do pé de seriguela que me viu crescer, onde meus dias  sempre foram como as manhãs de domingo num dia ensolarado.

Que bom que existe a arte e suas diversas formas de expressão,  que bom que guardei algumas fotos daquele tempo, que bom que escrevo.

Minha arte é manual – tem a segurança de deixar coisas e pessoas para trás e conseguir carregar tudo que sou, somos, vejo e vemos, tudo que atualizamos por ser realmente útil e absolutamente natural se manifestar.

Lina Veira

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