Onde moram os inícios
Ella Dominici: Poema ‘Onde moram os inícios’


I
O princípio escapa à compreensão.
antes de nós, já se movia; depois de nós, seguirá.
não há fronteiras de tempo. Há apenas o instante,
que nos atravessa como flecha.
nós o pressentimos, como quem escuta de longe o mar
sem jamais tocá-lo, tentando capturar a dimensão que nos escapa.
II
Existimos tentando prender a centelha desse sopro.
o instante se faz passado antes que o nomeemos.
Tudo o que guardamos é fragmento
insuficiente
mas na insuficiência há aprendizado.
na incompletude mora a sabedoria
que nos afina para o mistério do existir.
III
Do alfa ao ômega divino caminhamos,
Sim, o caminho é sensor do amar
não há começo nem fim
somos discípulos da travessia,
aprendendo a nascer a cada aurora
e a morrer em cada ocaso.
IV
O existir nos convida a essa valsa infinita,
em que ser é repetir sem
cessar o primeiro gesto da vida.
quando perguntamos onde moram os inícios
a resposta não se veste de palavra.
a resposta é silêncio. Pois:
“Todas as coisas principiam em silêncio,
e o silêncio é a casa do princípio.”