Pedro Novaes: 'Generalistas'
Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘GENERALISTAS’
Escrever artigos semanais, sendo especialista em absolutamente nada, é uma temeridade.
No caso da greve de caminhoneiros, é instintiva a aprovação do movimento, em face dos altos custos do pedágio, da violência e do próprio combustível. Quando analisada a questão das contingências do mercado mundial do petróleo, contudo, é requerido algum conhecimento mais aprofundado do tema, sob pena de opiniões apressadas, que desinformam.
O Brasil é repleto de especialistas, que tentam transformar simples opiniões em fatos incontestes. Geralmente, nossos especialistas sem especialização habitam as searas econômica, social e política.
A paixão, partidária ou política, leva a produção de textos que, tentando ser objetivos, acabam repetindo chavões que jamais conseguem ir além do discurso fácil, sempre acolhendo uma solução simplista. Tais textos, por numerosos e repetitivos, encontram terreno fértil na incipiente cultura do público leitor.
Existem temas pouco tratados, por estarem permanentemente protegidos por especialistas. Assim, são raros os amadores que ousam penetrar no campo da medicina, das ciências naturais ou mesmo de conteúdo bíblico.
No caso do edifício que ruiu, em São Paulo, o tema mais tratado foi a miserável condição dos invasores e a lamentável política habitacional dos governos. Poucos atentaram à inexistente eficácia de nossas leis, pretensamente rígidas na proteção dos patrimônios tombados, e, para surpresa geral, o edifício era tombado.
Poucos incluíram, no trato da política habitacional, a criminalização fiscal dos investimentos em imóveis para locação. Quem paga aluguel não tem direito a deduções, e quem os recebe é gravosamente taxado.
Existem temas cuja persistência histórica faz rarear as análises e indignações, como a pecaminosa ausência de correção, nas tabelas do imposto de renda. Governos após governos, o Estado avança mais, a cada ano, sobre os ganhos da população, agigantando-se em suntuosidades e ineficiências.
A pouca presença de especialistas, dentre os articulistas, contudo, deve ser saudada como primado da democracia, pela diversidade de opiniões. A mídia nacional, salvo honrosas exceções, tem tendido a figurar como mais uma, dentre tantas redes sociais.
Tamanha liberdade, contudo, seria melhor aproveitada fôssemos, os leitores, mais instruídos. É triste presenciar, nas esquinas, discussões que nada mais são que esgrimas de chavões e frases de efeito.
Um povo que toma como verdades e fatos meras opiniões tende a ser vítima fácil de embustes eleitorais, aclamando soluções aparentemente lógicas e infalíveis, de fácil digestão. Candidatos sérios e honestos, que não apregoam o paraíso sem sacrifícios, não costumam ser campeões de voto.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.