Geraldo Bonadio: 'História de Natal'

Geraldo Bonadio
Eleito em 2018 ‘Personalidade Cultural do Ano em Sorocaba’

História de Natal

Ele tinha 13 anos e ela tinha 12 quando foram invadidos por uma paixão mútua daquelas que as pessoas só experimentam nos verdes anos.

Casamentos entre pessoas bem jovens eram, naquele tempo, regra na terra em que viviam. Os pais dele e dela apoiaram o sonho dos filhos. O casamento ficou acertado, devendo consumar-se um ano mais tarde. Até lá, não coabitariam, continuando a viver sob a guarda de seus respectivos pais.

Só que, nesse meio tempo, o Deus Eterno interveio inesperadamente na vida dele e dela. De uma forma que ultrapassa o entendimento humano, colocou nas mãos daqueles adolescentes, mal saídos da infância, o plano por ele traçado, desde toda a eternidade, para o mundo e as pessoas que o povoam.

Só um Deus embriagado de amor pela humanidade, como o Deus dos cristãos, ousaria deixar a decisão sobre seu projeto, de irromper na história das gentes e integrar-se à trajetória humana por conta de dois jovens galileus. Até aquele momento, eles apenas sonhavam com a vida em comum, com a felicidade que se proporcionariam mutuamente e com quantos filhos haveriam de ter.

Ainda mais loucos que o Altíssimo, Maria e José disseram sim àquele projeto assustador que implodiria os seus sonhos e contraporia, a cada futura exultação, um amargor terrível.

A contar de sua adesão ao plano do Senhor, teriam de conviver com uma gravidez inexplicável; peregrinar, à véspera do parto, à remota vila ancestral; suportariam a aflição de não encontrar espaço em que a criança pudesse ser dada à luz dignamente.

Tais perrengues seriam apenas o começo. Nascido o menino, precisariam fugir para escapar à sanha de um rei assassino; submeter-se a um exílio longo e amargo e, em resumo, sofrendo as aflições inerentes ao convívio com um Deus que era, a um tempo só, detentor de todo o Poder e indefeso recém-nascido.

Esta é a real e muito humana história do Natal, que tanta vez não vemos, porque se apresentar a nossos olhos oculto pelos guizos falsos de falsas alegrias.

O carpinteiro José, varão de idade avançada, é fruto da imaginação dos artistas que, tendo elegido por tema a natividade não lograram entendê-la plenamente.

Melhor se saiu o francês Georges Moustaki, em sua canção “Mon vieux Joseph”, vertida para o português e gravada por Rita Lee, quando ainda vocalista dos Mutantes:

Olha o que foi meu bom José / Se apaixonar pela donzela / Entre todas a mais bela / De toda a sua Galileia

Casar com Deborah ou com Sarah / Meu bom José você podia /
E nada disso acontecia / Mas você foi amar Maria

Você podia simplesmente / Ser carpinteiro e trabalhar / Sem nunca ter que se exilar / De se esconder com Maria

Meu bom José você podia / Ter muitos filhos com Maria / E teu ofício ensinar / Como teu pai sempre fazia

Porque será meu bom José / Que esse seu pobre filho um dia /
Andou com estranhas ideias / Que fizeram chorar Maria?

Me lembro as vezes de você / Meu bom José meu pobre amigo /
Que desta vida só queria /Ser feliz com sua Maria

 

Geraldo Bonadio

 geraldo.bonadio@gmail.com




Geraldo Bonadio: 'O tropeiro nos versos de Benedicto Cleto'

Geraldo Bonadio
Eleito em 2018 ‘Personalidade Cultural do Ano em Sorocaba’

Um poema de Benedicto Cleto apresentado na ASL durante a Semana do Tropeiro

O tropeiro nos versos de Benedicto Cleto

Em 9 de maio de 1988, em reunião da Academia Sorocabana de Letras comemorativa da Semana do Tropeiro, o escritor Benedicto Cleto encantou os presentes com a leitura do poema, escrito especialmente para aquela ocasião, que celebrava o Tropeiro Sorocabano.
Unindo com perfeição a linguagem poética e conhecimento histórico e sociológico, publicada unicamente num caderno de circulação interna da Academia, é obra que merece ser lembrada e perenizada e que, em homenagem à sabedoria e ao talento do autor, sócio fundador da Academia e instituidor da Cadeira Guimarães Rosa, transcrevo a seguir.

Tropeiro sorocabano
BeneCleto

Senhores, peço licença
Por que eu lhes possa falar,
Não me tomeis por ofensa
Este meu fraco trovar.
Pois tenho a honra sem par
De estar na vossa presença.,
Minha alegria será imensa,
Se eu vos puder agradar.
Porque tenho benquerença
Convosco, meu povo ordeiro,
Conforme a vossa sentença,
Prossigo no meu roteiro.
E o faço já, sem detença,
Pronto, rápido, ligeiro.
Eu junto a minha homenagem
À vossa, povo altaneiro:
Trago aqui a minha mensagem
Ao valente pioneiro
– Por que hoje seja louvado,
Hoje e sempre celebrado
Esse nosso herói tropeiro.
Louvada, senhores meus,
Seja a máscula figura:
Que se eleve a grande altura,
Louvada seja abaixo de Deus.
Louve-se em todas as idades;
Louvemos de coração
Esse abridor de sertão
E plantador de cidades.
Salve, tropeiro valente,
Orgulho de nossa gente.
Orgulho desta Nação.
Esperamos que te agrades
Com este nosso presente;
Crê que por nossas vontades
Viverás eternamente,
Com as eternas verdades.
Bendita a tua semente
Por todas posteridades
Deste Brasil continente.
Tu não morreste tropeiro,
Vives em nossa memória,
Vives nos fastos da História
Deste povo hospitaleiro
Que aprendeu tua lição
De luta e abnegação.
Vê em cada cavaleiro
Dessa imensa multidão
Um bravo herói, um guerreiro,
Que é teu legítimo herdeiro
Dessa imortal tradição.
Isso é ser sorocabano,
Ser paulista ou paulistano,
Ou Melhor – ser brasileiro.
Não és apenas lembrança,
És a perene certeza
– Foste e és nossa esperança,
Luz em nosso peito acesa;
Embora seja verdade
A nossa imensa saudade,
Certo é que nossa cidade
Te deve muito em grandeza,
Pelo espírito de luta,
Pela força às vezes bruta
Contra a própria natureza:
Varaste por picadões
Os inóspitos sertões,
Vales, rios, chapadões,
Sem nunca mostrar fraqueza.
Às vezes com tropa arreada,
O sol e a chuva enfrentando,
O dia inteiro marchando
Em busca de uma pousada.
Na frente a mula madrinha
De enfeites na cabeçada,
Retinindo a guizalhada,
Como orgulhosa ela vinha
Por saber-se admirada!
Logo atrás vinha o menino
Na garupa do cargueiro.
Começava assim o destino
Desse futuro tropeiro
Guardião da matalotagem
Do mantimento e a equipagem
Da alçada do cozinheiro,
Por que chegados no pouso,
Antes da bóia, primeiro
Aprontasse um “ amargoso”
Que recendesse de cheiro,
Forte e doce, bem gostoso.
Às vezes solta a mulada,
Não mais em lotes apenas,
Porém de muitas centenas
A grande tropa formada.
Madrinha agora uma égua,
Ponteira, quase uma lgua,
Pelo menino montada.
Subiam balcões de poeira,
Tal que os peões de rabeira
– O patrão e o capataz
Que também vinham atrás,
Enxergavam quase nada.
Porém no pouso a viola
Sempre os corações consola,
Chorosa e bem ponteada.
Outros ferravam no truco,
Mas sempre à mão o trabuco,
Prevenção contra a “pintada”,
Ou contra ladrões, gatunos
Que pelos campos reúnos
Eram praga desgraçada.
Viagem de muitos meses,
Quase um ano até por vezes,
Mas sempre com peito forte;
Por inóspitos lugares,
Lutando contra os azares
Num rumo quase sem norte;
Vendo outra gente, outros ares,
Tão longe dos familiares,
Desgostos de todo porte;
Encarando mil perigos,
Toda espécie de inimigos,
Confiando em Deus e na sorte
– Brejos, rios caudalosos,
Enfrentando criminosos,
Olhando de frente a morte.
Enfim o mundão sem porteira
Já se alonga da fronteira
E a lonjura então se acaba,
Quando a tropa viajeira,
Depois da grande canseira
Vai findando a viagem braba,
Eis a esperança fagueira,
Já se avista a cabeceira
Do Morro do Araçoiaba.
E assim a gente tropeira
Já se aproxima da Feira Famosa de Sorocaba.
Agora os grandes negócios,
Ganha o patrão, ganham sócios,
Camaradas e peões.
Depois é gozar os ócios,
Alguns viram capadócios
Que há sobra de diversões.
Adeus cargueiros, bruacas,
Tempo agora é das guaiacas
Recheadas de patacões;
Mulheres, jogo, bebida,
Importa é gozar a vida
E alegrar os corações.
Era assim, meu rico povo,
Até começar de novo
Em se acabando os dobrões:
Volve-se ao horizonte azul
Para o Rio Grande do Sul,
Para os longínquos rincões.
Novas tropas vai buscar
Para de novo voltar
Enfrentando desafios;
Sempre afeito a suportar
Verões de sol de queimar
Ou os invernos mais frios.
Terríveis invernos frios.
Da semente salutar
Que o tropeiro vai semear
Por esses sertões bravios,
Cidades vieram vingar,
Progressos em todo lugar
– Estradas, pontes nos rios.
Ninguém negará, pois não.
Que o tropeiro nosso irmão,
Essa raça de gigantes,
Foi quem garantiu a união
Dessa imensa imensidão
Das regiões mais distantes,
Engrandeceu a Nação,
Foi a continuação
Dos antigos bandeirantes.
Meu poema aqui se acaba
– Salve, salve Sorocaba
Do ensino e labor fabril
De que meu povo se gaba
No vale do Araçoiaba
Do Monarca varonil;
Salve, salve o pioneiro,
Salve o nosso herói tropeiro,
Salve São Paulo e o Brasil.




Geraldo Bonadio: 'A Taurus acima de todos'

Geraldo Bonadio

As disposições batem de frente com as disposições da lei do desarmamento

As decisões do atual inquilino do Palácio do Planalto excedem, para pior, mesmo as expectativas dos que, como eu, dele só esperavam o pior.

O grande exemplo disso é o insano decreto que, a título de flexibilizar as normas da lei do desarmamento, viabilizam o acesso de 19 milhões de pessoas às armas de fogo, as quais, no limite, poderão adquirir até quatro delas – inclusive fuzis não automáticos, ou seja, que não disparam rajadas, mas podem cuspir dezenas de disparos em curtíssimo tempo – e municiar-se com até 5 mil cartuchos por ano.

Mesmo após aparados os muitos excessos daquele ato – cujas disposições, creio, batem de frente com as disposições da lei do desarmamento, que a elas se sobrepõe – o decreto cria uma situação de risco geral e totalmente insana.

Imagine-se o que pode acontecer se, na rua ou condomínio em que você mora, um desses brasileiros hiper armados e municiados surtar e resolver acertar, na bala, suas contas com o mundo…

Ou, se num número mínimo de casas ou apartamentos, os pais não conseguirem manter armas e munições em locais separados e inacessíveis às crianças…

A mim parece que quem vai efetivamente estar acima de todos, nesse terrível cenário infernal, serão a Taurus e os seus concorrentes internacionais, agora com livre acesso ao nosso mercado.




Texto de Geraldo Bonadio publicado no Facebook é uma verdadeira aula de História

Geraldo Bonadio revela fatos importantes sobre a família do humorista Agildo Ribeiro, recentemente falecido

Em artigo publicado no Facebook, o jornalista e historiador sorocabano Geraldo Bonadio, presidente da Academia Sorocabana de Letras, Mestre, Especialista em Planejamento e Desenvolvimento Regional e Mestre em Teoria da Comunicação (na foto ao lado do escritor Jairo Valio, ambos colaboradores do jornal cultural ROL – Região On Line), teceu comentários sobre a família do humorista Agildo Ribeiro, falecido dia 28 último no Rio de Janeiro. O texto mereceu vários comentários importantes que ressaltaram a qualidade da mensagem de Bonadio, entre eles o do presidente da Academia Cruzeirense de Letras, o escritor Eduardo César Werneck, também colunista do ROL, que faz referências em seu livro ‘O Marquês de Paraná’ a Cipriano Barata “um personagem instigante e controverso”. A seguir o texto postado pelo jornalista Geraldo Bonadio. (HR)

 

Um outro O Tempo e o Vento

A trajetória do ator Agildo Ribeiro (1932/2018), que morreu sábado no Rio de Janeiro, agrega pessoas e incidentes em quantidade suficiente para um ciclo de romances aos moldes de O Tempo e o Vento.
Seu bisavô, Cipriano Barata (1762/1838), formado em filosofia, matemática e cirurgia pela Universidade de Coimbra, foi um dos mais importantes jornalistas dos tempos da independência.
Uma de suas filhas, Veridiana Barata Ribeiro, casou-se com um pintor de paredes, enviuvou precocemente e migrou, com os filhos Cândido e Atanagildo, para Rio de Janeiro, fixando-se num casebre da ilha do Governador. Na madrugada, os meninos cruzavam a baia, de carona com os pescadores que iam vender peixes no centro da cidade. Ali passavam o dia, trabalhando em ocupações as mais humildes, para ajudar no sustento da casa.
Monges do Mosteiro de São Bento na corte, comovidos com as duras condições e vida das crianças, as matricularam, de graça, em seu Externato e permitiram que pernoitassem no claustro. Do ponto de vista humanitário foi um excelente investimento: Atanagildo formou-se engenheiro naval e Cândido formou-se médico. Durante o curso, veio para Sorocaba, tratar-se uma doença pulmonar (nossa cidade era famosa pela boa qualidade do ar), aqui conheceu o paranaense Ubaldino do Amaral, de quem se tornou amigo e se casou com uma jovem de uma das melhores famílias locais.
Em parceria com Ubaldino, escreveu um drama, encenado em 1869, de cuja apresentação participou como ator.
Republicano de primeira hora, veio a ser um apagador de incêndios do presidente Floriano Peixoto: nomeado prefeito do Rio, num recesso da Câmara de Vereadores, resolveu, por decreto, dezenas de questões que ali se acumulavam, inclusive a da planta cadastral da cidade. O resultado agradou o marechal de ferro que a seguir o designou – ainda que médico e não advogado – Ministro do Supremo, com o fim de destravar julgamentos que nunca eram realizados. Aceitou, com a condição de que nada lhe fosse pago por isso.
Médico e cirurgião infantil incansável, a morte surpreendeu-o no trabalho. A família, desamparada, precisou pleitear uma pensão à Câmara de Vereadores para subsistir.
Atanagildo, avô de Agildo, foi engenheiro naval. Enviuvando, voltou a se casar. Do enlace nasceu o pai do ator, o futuro capitão Agildo Barata (1906/1968), que ficou órfão de pai aos seis anos. A mãe, sem condições de sustentar a prole com a modesta pensão por ele deixada, passou, com a ajuda dos enteados, a realizar trabalhos domésticos e de confeitaria e encaminhou o filho mais novo para Camaquã (RS), onde vivia seu meio-irmão Francisco, médico recém-formado, que dele se encarregou.
Militar, Agildo Barata participou de todas as revoltas tenentistas, a partir de 1924, com destaque para as de 1930 e 1932. Na Revolta da Aliança Nacional Libertadora, em 1935, no Rio de Janeiro, comandou um dos quartéis sublevados. Cumpriu sentença de dez anos de prisão e, posto em liberdade, em 1947 elegeu-se Vereador pelo Partido Comunista à Câmara do Rio. Cumpriu pequena parte do mandato, pois, logo a seguir, a Justiça Eleitoral cassou o registro do PCB e, a seguir, os mandatos dos que por ele haviam se elegido.




1º Almoço dos Colunistas do ROL

Participaram do 1º ALMOÇO DE COLUNISTAS DO ROL,
dia 11/03/17 no Restaurante Sabina, em Sorocaba

 

– Adriana Rocha – escritora, professora especialista em Conciliação e Mediação, com vários livros publicados

– Ana Elisa Bloes Meirelles de Arruda e Miranda – advogada, artista plástica, artesã professora de scrapbook

– Aparecido Gonçalves Viana – escritor, poeta, presidente do Coesão Poética de Sorocaba, colunista do ROL

– Élcio Mário Pinto – escritor premiado, autor de vários livros publicados, membro da Academia Votorantinense de Letras, colunista do ROL

– Geraldo Bonadio – jornalista, escritor, presidente da Academia Sorocabana de Letras, colunista do ROL

– João Francisco Brotas – escritor, membro da Academia Votorantinense de Letras, vice-presidente do Gabinete de Leitura de Sorocaba, colunista do ROL

– Jorge Facury – escritor, palestrante, ufólogo, colunista  do ROL

– Jorge Paunovic – escritor, presidente da Academia Itapetiningana de Letras, colunista do ROL

– Maria Clara Diniz da Costa – advogada

– Nicanor Filadelfo Pereira – escritor, poeta parnasiano, membro do ‘Coesão Poética’ de Sorocaba, colunista do ROL

– Osvaldo de Souza Filho – o maior colecionador de fotos antigas de Itapetininga, é referência cultural na região, colunista do ROL

– Ranielton Dário Colle – escritor, colunista do ROL

– Reinaldo Canto – jornalista ambiental, consultor, palestrante e professor especialista em sustentabilidade, colunista da Carta Capital e do ROL

– Sergio Diniz da Costa – escritor, revisor, palestrante, colunista e editor regional do ROL

– Silvana Lucarelli – professora

– Sônyah Moreira – escritora, colunista do ROL

– Walquiria Paunovic – artista plástica, restauradora de obras de arte, colunista do ROL