Artigo de Carlos Cavalheiro: 'Mais um cowboy que se foi…'

Carlos Carvalho Cavalheiro – Mais um cowboy que se foi…

 

Carlos Cavalheiro      Há três anos um acidente de carro pôs fim à vida de Giuliano Gemma, ator que ficou mundialmente conhecido por participar de filmes italianos de faroeste, ou seja, os westerns spaghettis como também eram chamados. O gênero tomou corpo quando o diretor italiano Sérgio Leone teve a idéia de contar suas fábulas ambientadas no velho oeste estadunidense em meados da década de 1960.

No início, tanto os diretores quanto os atores utilizavam nomes em inglês, uma forma de tornar “palatável” os filmes para o público radicalmente exigente. Assim, Giuliano foi apresentado no começo da carreira como Montgomery Wood e só usou o próprio nome quando sua carreira se consolidou e não havia mais nada a provar para ninguém. O mesmo ocorreu com Gian Maria Volonté que teve seu nome mudado para Johnny Wels. O brasileiro Antonio de Teffé era conhecido como Anthony Steffen, Mario Girotti ainda é conhecido como Terence Hill e até o diretor Sérgio Leone teve de assinar seu primeiro faroeste como Bob Robertson. O filme, “Por um punhado de dólares” (1964), inspirado no filme japonês Yojimbo, deu o pontapé para que esse gênero cinematográfico se alastrasse pelo mundo e ajudou a consolidar as carreiras de atores como Clint Eastwood e Gian Maria Volonté.

No começo desta semana outro dos “cowboys” italianos nos deixou. Carlo Pedersoli, ou Bud Spencer, pseudônimo pelo qual se tornou famoso, faleceu na segunda-feira, dia 27 de junho de 2016, em Roma (Itália), aos 86 anos de idade. A sua morte esvazia o rol de atores vivos daquela época. Restam poucos atores vivos de destaque que participaram dessa História: Clint Eastwood, Terence Hill e Franco Nero são alguns desses nomes.

Bud Spencer tornou-se célebre ao se tornar parceiro de Terence Hill em filmes que valorizavam o humor e a pancadaria no Velho Oeste. Com corpo avantajado, a presença de Bud Spencer nos filmes deixava claro que seus inimigos não teriam chance nas brigas. Reza a lenda que o ator escolheu o nome baseado em duas referências:  Bud teria vindo de Budweiser, a cerveja predileta dele, e Spencer seria uma homenagem ao ator Spencer Tracy.

Além de estrelar a dupla com Terence Hill, o ator Bud Spencer participou de outros filmes de faroeste como “O Exército de 5 homens” e “Deus perdoa… eu não”.  Spencer viveu alguns anos no Brasil, trabalhando pelo consulado italiano, oportunidade em que aprendeu a falar português. Em entrevista realizada no início da década de 1980 no programa “Os Trapalhões”, Bud Spencer conversou em português com Renato Aragão e sua turma.

Bud Spencer fez ainda filmes de ação/comédia com Terence Hill, dos quais se destaca “Dois Super-Tiras em Miami” (1985) e “Banana Joe” (1982). Em 1994 voltou ao tema do faroeste com o filme “Os encrenqueiros”, uma revisita aos tempos de Trinity. O ator nasceu em 31 de outubro de 1929, em Nápoles, Itália. De acordo com seu filho, em comunicado à imprensa, “Papai se foi pacificamente, às 18h15. Ele não sofreu, estávamos todos ao seu lado e sua última palavra foi ‘obrigado'”. Bendita a vida que se finda em agradecimento. Sorte nossa, também, que conhecemos – e rimos e nos emocionamos – com a atuação desse grande artista. O céu está estrelado… São estrelas de xerifes do Velho Oeste… Ou balas de prata cuspidas dos revólveres dos anti-heróis, característica máxima dos westerns spaghettis.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

28.06.2016