Glenda Brum: 'Coração completo'

Glenda Brum

Coração completo

Definem o coração como um músculo oco.

Suas quatro cavidades são responsáveis

Por  fazer o sangue, que nos vivifica,

Circular e nos alimentar como mágica.

Seu mecanismo ininterrupto começa

Seu laborioso trabalho, no escondido

Do ser que o abriga antes do nascer.

E só o cessa, quando o cansaço ou

O abrupto trauma, o faz desfalecer.

Essa forma científica de explicar a biologia,

Não esclarece, que esse precioso órgão

Nasce incompleto em sua individualidade.

É apenas uma metade do sentimento,

Que faz sua existência ter sentido, na vida.

Ele se completa com a outra metade,

Quando encontra em um dia qualquer,

Aquele que pulsa na mesma cadência.

O coração surpreso sai do compasso,

Acelerando até ofegar de contentamento,

Ou aquieta-se até quase parar no regaço,

Onde ele encontra a sua completude.

Esse encontro o completa e ressoa,

Como o mais perfeito uníssono;

Ou perfeita forma do amar.

 

Glenda Brum

glendabrum@gmail.com

 




Glenda Brum de Oliveira: 'Aprendendo com o Príncipe'

Glenda Brum de Oliveira

Aprendendo com o Príncipe

Durante muitos anos critiquei o livro ‘O Pequeno Príncipe’. Achava-o fútil e sem maiores interesses além de uma fábula para crianças.  Eu precisei revisitá-lo, por conta de um trabalho escolar do meu filho. E alguns trechos do livro me despertaram para análises que há muito não fazia. Minha maneira de vê-lo modificou-se.

Algumas frases do livro têm efeito devastador, quando compreendemos sua profundidade. Passamos pela vida com o desejo de felicidade e amor. E por mais que se negue, temos a necessidade da aceitação do outro. Por vezes, ficamos tão centrados nas próprias necessidades e desejos egoístas, que esquecemos que temos responsabilidades, com aqueles que cruzam nosso caminho; com aqueles que andam ao nosso lado. Como diz o livro, “somos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos”, por exemplo.

Essa responsabilidade é maior quando cativamos o afeto dos que convivem conosco. A vida não para, os cenários e o cotidiano mudam e as pessoas seguem seus rumos. E nem sempre são iguais aos nossos. Mesmo na distância, pequenos gatilhos de lembranças nos fazem recordar as pessoas que nos cativaram e foram por nós cativadas.

Impossível ser indiferente àqueles a quem o carinho ficou guardado no coração. Impossível não perceber que algo está errado só de olhar, quando olhamos com o coração. E não é de estranhar quando uma lágrima rola, pois somente nos emocionamos com aqueles que nós deixamos nos cativar.

A profundidade das nossas responsabilidades, com aqueles que cativamos, passa batida num mundo superficial e materialista. A Bíblia, há milênios, diz que devemos fazer aos outros aquilo que queremos que nos façam. Se a solidão nos assola, nos esmaga, e por vezes parece nos sufocar, porque não olhar para dentro e encontrar a quem perdemos pelo caminho!?

Podemos começar por encontrar a nós mesmos.  Depois, encontrarmos os afetos que ficaram pelo caminho da vida; nos interessarmos pelos seus caminhos; prestarmos atenção naqueles que partilham ou partilharam nosso caminhar.

Por que não abrirmos as janelas do coração e permitimos que o sol das emoções entre e aqueça? Que retire o bolor das mágoas e a sujeira dos rancores? Se nada há para ser resgatado, então plantemos novas mudas, cultivemos novos afetos, acarinhemos novos corações. Porque convivência trata-se de cultivar sentimentos, também muito bem colocado pelo livro. Muitos correm o mundo atrás de algo especial, sem perceber que tinham ao seu lado um tesouro. Às vezes é possível resgatar essas relações perdidas; em outras situações, as perdemos para sempre.

A dor pode durar uma noite ou uma vida inteira, depende de como a olhamos e cultivamos nosso coração. A dor pode originar muitos espinhos e multiplicar as dores, mas também pode suavizar o olhar e a cobrança sobre o outro; pode trazer o perdão e novas perspectivas. Podemos olhar as rosas, sentir seu perfume e nos encantarmos com suas diversas cores; ou vermos somente seus espinhos e as mágoas por eles causadas. A beleza ou a dor depende dos olhos que as miram.

Impossível não sentir dor, mas passado a aflição, é um sentimento que podemos abandonar a beira do caminho, a fim de superarmos. De cada dor,  deve-se carregar apenas a sabedoria. A amargura deve ser abandonada pela estrada, como pavimentação da nossa jornada de vida.  Apenas as rosas e seus perfumes das boas amizades, do companheirismo, do aprendizado e das vitórias devem ser levados, como bagagem de vivência. E somente o calor do amor deve aquecer nosso espírito.

 

Glenda Brum de Oliveira

glendabrum@gmail.com

 

 

 




Glenda Brum de Oliveira: 'Ucrânia'

Glenda Brum

Ucrânia

 

Chora criança assustada.

Chora jovem de esperança destroçada.

Chora mulher, que olha a estrada.

Chora homem, com a família separada.

Chora ancião vendo a terra, novamente devastada.

 

A guerra não poupa.

Resultado de humanidade louca.

De horda, que se diz douta.

De líderes, que a audição parece mouca.

Não ouvem população, que grita rouca.

 

Suplicam em coro, que tenham clemência.

Que acabem com a louca divergência.

Evitem as demonstrações de prepotência.

Não tratem o povo com displicência.

Não arrisquem do povo a sobrevivência.

 

Ucranianos não dormem, por causa da adrenalina.

Vivenciam, na guerra, a carnificina.

Lares em montouros estão em ruína.

Infelizmente a história se repete, não ensina.

Governantes ainda destroem, como aves de rapina.

Glenda Brum

glendabrum@gmail.com

 

 

 




Glenda Brum de Oliveira: 'Narciso e a era digital'

Glenda Brum de Oliveira

Narciso e a era digital

O mito grego de Narciso fala de uma vaidade exacerbada, acrescida de arrogância e orgulho. Narciso, ao contemplar seu rosto na superfície de um lago, fica tão embevecido com a própria imagem, que não consegue parar de mirá-la. E ali perece de inanição, pois não consegue sair e viver sua vida. Torna-se vítima de uma narcose fatídica, que o impediu de ter a vida longa e plena, profetizada pelo oráculo Tirésias, quando nasceu. Morreu cedo, como escravo e vítima de sua própria beleza, que se tornou sua algoz.

Todos os dias, as mídias derramam conteúdos diversos de diferentes influencers, inundando as redes sociais. A atividade que abre a intimidade, a vida privada torna-se pública e não há limites de exposição. Toda essa exibição busca admiração, seguidores e em alguns casos, suprir a necessidade de segurança em relação a própria imagem. E o pior, muita mentira. Ficção montada para agradar. Tornando-se até roteiro de filmes.

Pode-se argumentar que é apenas trabalho, uma nova profissão, mas por trás há vários pontos a serem considerados, tanto para quem expõe-se, quanto para quem acompanha a exposição alheia.

A realidade difícil e limitada da maioria das pessoas é ‘desinteressante’, diante da vida ‘emocionante’ vivida por celebridades digitais. A ‘monotonia’ da vida cotidiana fica mais colorida, quando ganha as cores da vida alheia contemplada. Olhar as aventuras, o glamour das celebridades nas redes sociais, ‘supre’ a necessidade de emoção e coloca os seguidores num mundo paralelo de realidade virtual. Sentem como se vivessem a vida de quem estão seguindo. E tão absortos ficam nessa praxe, que se esquecem de viver a própria vida. Entram em um estado de narcose, como o Narciso do mito; não paralisados pela própria beleza, mas pela ‘bela vida’ de quem seguem.

Essa contemplação torna-se muitas vezes doentia, tanto para quem segue, como para os que são seguidos. Igualmente há o ego exacerbado, a inércia contemplativa, presentes no mito grego.

Muitos seguidores tornam-se frustrados diante da impossibilidade de vivenciar as mesmas experiências, desfrutar da mesma fama e atenção. Uns se tornam inconvenientes e há os apáticos, pois acham-se derrotados e incapazes.

Os que produzem conteúdo, frustram-se pelo vazio das relações interpessoais; sofrem de ansiedade, pois necessitam sempre ter novidades atrativas e emocionantes, para manter e aumentar a audiência de seguidores ávidos e assim obter seus ganhos financeiros ou suprir o seu egocentrismo.

Seja qual for o caso, o estupor soporífero causado pela nova realidade midiática, impede a análise, o questionamento e ação por parte dos seres humano atualmente. Estão sujeitos à intervenções e direcionamentos da mídia e suas celebridades, e são carregados na avalanche de opiniões e achismos alheios, que lhes moldam as vontades e saberes. Estabelecendo um perigoso fim para a autonomia e individualidade, bem como para as divergências de perspectivas de como viver a vida, de leitura de mundo. Podendo ser massa manipulável diante de interesses escusos e más intenções.

Estamos diante de uma nova forma de narcose fatídica social. Basta saber se o final diferirá de Narciso ou seguirá a mesma conclusão trágica. A escolha ainda depende de cada pessoa.

 

Glenda Brum

glendabrum@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 




Glenda Brum: 'A magia de viver'

Glenda Brum

A magia de viver

A criança sorri despreocupada e feliz, vivendo o presente. Também sonha e tem mil planos para o futuro. Há espaço para os dois em seu coração. E faz as duas coisas de forma muito intensa.

Da mesma forma, os anciãos vivem seu presente o melhor possível, pois não sabem quanto tempo ainda terão. Querem aproveitar ao máximo a vida, pois reconhecem o seu valor inestimável. Sabendo que o tempo é limitado, deleitam-se em recordar e tentar acertar pendências deixadas no passado. E a esperança os faz ainda projetar um futuro, que não sabem se chegará.

Entre um e o outro grupo, se encontram adolescentes e jovens, que se apegam ao não saber, ao ser difícil, a ideia de que há um tempo enorme e tudo pode ser deixado para depois. E os adultos, que possuem a certeza de que o tempo é limitado e tudo precisa ser feito para ontem. Correm o dia inteiro, às vezes a noite também, para fazer, construir, multiplicar, mostrar, aparecer e se exaurir. Esses três grupos, adolescentes, jovens e adultos, não possuem a perspectiva de que viver plenamente o hoje, seja o mais importante.

Esse viver plenamente, que crianças e anciãos conhecem, deveria ser resgatado e vivido por todos. Eles amam sem restrições. Expressam suas emoções sem envergonhar-se delas, e principalmente, sem colocar dificuldades à frente de tudo pelo caminho.

Aprender a viver plenamente, sem supervalorizar as tristezas e os problemas, encarando-os como desafios normais da jornada e como oportunidades de melhorar e crescer na experiência de viver, são o maior desafio de cada ser humano que vive.

Viva! Viva plenamente!

Sorria! Sorria até das desgraças, porque elas ensinam.

Ame! Ame sem reservas, porque é o ingrediente mágico, que faz a vida valer a pena.

 

Glenda Brum

glendabrum@gmail.com

 

 

 

 

 

 




Glenda Brum de Oliveira: 'Altruísmo o ano inteiro'

Glenda Brum de Oliveira

Altruísmo o ano inteiro

Talvez você tenha visto um vídeo que circula pela internet sobre um entregador de água que está no cumprimento do seu dever, mas é barrado ao tentar entrar num elevador.

Uma mulher carrancuda e de olhar duro tenta evitar que o trabalhador, com um galão de água enorme no ombro, entre no elevador. Ela alega que já está lotado e não há mais espaço. Asperamente, cospe as palavras para ele esperar o próximo.

Uma jovem imediatamente sai e pede que o homem, com semblante cansado, tome o seu lugar, dizendo que ela irá subir no próximo. A cena é cortada e o vídeo retoma a história, com a jovem chegando a um escritório e se desculpando, porque está cinco minutos atrasada para a entrevista de emprego.

O executivo, que a aguardava para a entrevista, ao vê-la sorrir, diz que o emprego já é seu; que ela se dirija ao setor de recursos humanos, para preencher a papelada da contratação. A jovem fica sem entender nada. E o vídeo retoma a imagem inicial. O novo chefe estava no elevador e viu o gesto de bondade da jovem, ao ceder seu lugar ao entregador de água.

É comum ouvirmos o termo “idiota”, quando alguém se exaspera com o outro, mas poucos compreendem o significado desse termo na sua raiz grega; que significa uma pessoa egoísta, egocêntrica, que pensa apenas em si mesma; incapaz de ter empatia pelo outro. No lado oposto dessa atitude temos o altruísmo, que revela uma total preocupação com o seu semelhante, ao ponto de não pensar na própria necessidade ou segurança; como a jovem da nossa história. Mesmo sabendo que o chegar atrasada poderia acabar com suas chances de conseguir o trabalho que desejava, não pensou, antes de ceder seu lugar no elevador, para o entregador de água.

A vida no século XXI trouxe mais idiotismo, do que altruísmo. Porém, nesses tempos de pandemia, viu-se o altruísmo ressurgir em muitos lugares. Jovens se disponibilizando a auxiliar idosos, para que esses não se expusessem saindo à rua, para fazerem suas compras de mercado ou farmácia.

Pessoas doando-se em campanhas para arrecadar alimentos, os embalar e entregar para famílias e pessoas, que tinham perdido seu modo de sustento. Ou ainda, houve quem se disponibilizasse a fazer pães por preço simbólico; ou preparar sopas e entregar na rua, aos que não conseguiam mais comprar o próprio alimento.

Vimos uma legião de médicos e enfermeiros incansáveis, trabalhando até a exaustão, ou até indo além, dando suas vidas no cumprimento do dever de tentar salvar vidas alheias. Numa manifestação de que seguiram um exemplo mais antigo de amor a humanidade; o exemplo do personagem, que marca a divisão da história desse mundo: Jesus Cristo.

Todos os anos, milhares de campanhas publicitárias e humanitárias são feitas no final de ano. Mas conforme os anos passam, o motivo originador das festas de final de ano é esquecido. Ele, o maior exemplo de altruísmo que o mundo já viu. O Filho do Deus Criador, deixou as cortes celestiais, para estar com seres humanos obstinados em fazer o mal. E Seu amor por essa raça decadente foi tal, que deu Sua vida para que seres, não merecedores, pudessem viver.

Nesse encontro entre Deus e o humano, vemos o antagonismo entre o egoísmo humano e o altruísmo divino. Fica-nos a lição de que sermos altruístas é imitarmos o divino. E essa atitude não deve ficar restrita a épocas específicas do ano, como Páscoa ou Natal, mas deve ser prática constante em todos os dias do ano.

 

Glenda Brum

glendabrum@gmail.com