Filme ‘As Órfãs da Rainha’ tem pré-estreia no dia 16 de agosto no Festival de Cinema Judaico

Tendo como foco a chegada da Inquisição no Brasil Colônia, o longa-metragem discute temas ainda atuais, como a opressão às mulheres e a mazela da intolerância

Cena do filme ‘As Órfãs da Rainha’. Crédito da foto: Jonathas Marques Abrantes

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=0UQXlt9dSls

O longa histórico ‘As Órfãs da Rainha’, novo filme da diretora, produtora e roteirista Elza Cataldo, faz sua pré-estreia em São Paulo no próximo dia 16 de agosto,  dentro da programação  do  26º Festival de Cinema Judaico.

Já no dia seguinte, 17 de agosto, a obra – que recebeu  o prêmio de Melhor Filme Histórico no Toronto International Women’s Film Festival, entre outros prêmios, entra em cartaz nos cinemas da capital paulista.

Com distribuição da Cineart Filmes e produção da Persona FIlmes, Elza Cataldo – que estreou na direção com o aclamado ‘Vinho de Rosas’ (2005) – volta mais uma vez ao passado, trazendo o período da Inquisição no Brasil Colônia do século XVI e promove um resgate da importância da presença feminina nas páginas da história brasileira para falar de temas infelizmente ainda atuais, como a opressão às mulheres e a intolerância.

Cena do filme ‘As Órfãs da Rainha’. Crédito da foto: Jonathas Marques Abrantes

Podendo ser considerado como uma narrativa de ficção no gênero histórico, ‘As Órfãs da Rainha’ conta a história das três irmãs órfãs, Leonor (Letícia Persiles), Brites (Rita Batata) e Mécia (Camila Botelho). Criadas como católicas pela rainha de Portugal, elas são enviadas a contragosto para a colônia brasileira com a ordem de se casarem.

A dura adaptação à precariedade do Novo Mundo é vivida de forma diferente por cada uma delas. Leonor é quem mais resiste à nova realidade e escreve cartas para a rainha, pedindo permissão para voltar. A resposta, entretanto, nunca chega.

À medida que o tempo passa, ela se apaixona pelo marido, Escobar, tem filhos com ele e passa a admirar a religião judaica. Brites, por sua vez, faz de tudo para conquistar o marido violento, Tales, e lhe dar um filho. Já Mécia, rejeitada devido a uma deficiência física, se encanta por um indígena.

A irmandade é colocada à prova quando o Inquisidor chega à Bahia, em 1591, espalhando medo e desconfiança entre os habitantes de Vila Morena. Leonor, Brites e Mécia são surpreendidas por acusações de práticas judaizantes. Em meio às ameaças da Inquisição, as três irmãs descobrem sua verdadeira origem e vão fazer suas próprias escolhas.

‘As Órfãs da Rainha’ foi filmado na Zona da Mata de Minas Gerais, em uma antiga fazenda localizada na zona rural de Tocantins (onde uma vila cenográfica foi construída). Sobre a cenografia, Elza Cataldo conta: “O cinema nos possibilita transformar um lugar no outro, uma pessoa na outra. Nós transformamos uma fazenda de Tocantins nesta localização do Recôncavo Baiano, graças a um trabalho imenso realizado por um conjunto de profissionais talentosos e coordenado pelo diretor de arte Moacyr Gramacho”.

No elenco estão Letícia Persiles, Rita Batata e Camila Botelho no papel das protagonistas. O grupo se completa com a presença de nomes como os de César Ferrario, Alexandre Cioletti, Juliana Carneiro da Cunha, Jai Baptista, Inês Peixoto, Teuda Bara, Celso Franteschi, Eduardo Moreira, Odilon Esteves, Luiz Gomide, Beto Militani, entre outros.

Passagem por festivais

Antes de estrear em circuito comercial, ‘As Órfãs da Rainha’ teve uma passagem bem-sucedida em alguns festivais internacionais de cinema. No Toronto International Women’s Film Festival, o filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Filme Histórico. Além disso, a produção foi selecionada para o Washington Jewish Film Festival 2023 e conquistou o prêmio de melhor narrativa no Los Angeles Independent Women Film Awards. No Feedback Female Film Festival 2022, conquistou o título de Melhor Filme de Longa-metragem, consolidando seu valor e relevância.

A realização de “As Órfãs da Rainha” contou com o apoio do Polo Audiovisual Zona da Mata. Criado em 2002, o Polo mobiliza lideranças da região em torno de um Programa de Cultura, Educação, Inovação e Desenvolvimento Sustentável.

O roteiro leva as assinaturas da própria diretora, junto a Pilar Fazito e Newton Cannito. Para assegurar a fidelidade ao lastro histórico, Elza conta que, no curso do processo que precedeu as filmagens, chegou a ler mais de 300 livros. No processo de redação, os três também contaram com uma consultoria de calibre, composta pelo historiador Ronaldo Vainfas, especialista no tema Inquisição; pela escritora e historiadora Mary del Priore especialista em história das mulheres;  e pelo rabino Uri Lam, que é formado em Psicologia e tem mestrado em Filosofia.

Além da direção e da co-autoria do roteiro, Elza Cataldo também assina a produção de  “As Órfãs da Rainha”. Ela acabou ainda contribuindo na concepção dos figurinos ao compilar imagens encontradas nos livros fontes de sua pesquisa. O figurino é assinado por Sayonara Lopes e Rosângela Nascimento com consultoria da Beth Filipecki.

Ficha Técnica:

Direção e Produção: Elza Cataldo

Roteiro: Elza Cataldo, Pilar Fazito e Newton Cannito

Direção de Arte: Moacyr Gramacho

Direção de Fotografia: Fernanda Tanaka

Figurino: Sayonara Lopes e Rosângela Nascimento

Montagem: Armando Mendz

Direção Musical: David Tygel

Participação especial da cantora Fortuna

Elenco: Letícia Persiles, Rita Batata, Camila Botelho, César Ferrario, Alexandre Cioletti, Jai Baptista, Celso Frateschi.

Participações Especiais: Juliana Carneiro da Cunha, Teuda Bara e Inês Peixoto.

Redes sociais: @elzacataldo @asorfasdarainhaofilme Facebook Elza Cataldo e Persona Filmes

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=0UQXlt9dSls

Fotos:

Sobre Elza Cataldo

Elza Cataldo é diretora, produtora e roteirista. Com curso em Cinematografia pela Universidade de Nanterre e Doutora pela Sorbonne, França, foi também professora e pesquisadora pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Entre seus trabalhos, estão o filme de longa-metragem ‘Vinho de Rosas’ (Prêmio de Melhor Diretora Estreante no Festival Internacional de Batumi – Geórgia 2006 e Prêmios de Melhor Figurino, Melhor Cenografia e Melhor Som Direto no Festival de Maringá 2006); do filme de curta-metragem ‘O Crime da Atriz’ (Prêmio de Melhor Curta Brasileiro do Júri e do Público e Prêmio TeleImage na Mostra Internacional de São Paulo 2007 e Menção Honrosa: Comédia no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte 2008); do documentário ‘A Santa Visitação’ e dos curtas ‘O Ouro Branco’, ‘Lunarium’ e ‘A Má Notícia’.

Coprodutora dos filmes de longa metragem ‘A Luneta do Tempo’, de Alceu Valença, e ‘Meu Pé de Laranja Lima’, de Marcos Bernstein.

Foi coordenadora do Laboratório CINEPORT de Roteiros, consultora do ISVOR/FIAT sobre o tema Storytelling, palestrante e professora da Fundação Dom Cabral sobre estruturas narrativas, consultora do Programa Bahia Criativa (Minc/Secult) para desenvolvimento de roteiro, consultora da Casa da Economia Criativa/ SEBRAE para projetos audiovisuais e líder do Núcleo Criativo de roteiros da Brokolis do Brasil.

Exibidora de cinema em Belo Horizonte. Dirigiu ainda o filme o documentário ‘O Levante de Bela Cruz’, o documentário O Silêncio de Eva, em planejamento de lançamento e ainda o longa metragem de ficção A Pedra do Sino, em fase de finalização.

Sobre a Persona Filmes

A produtora Persona Filmes tem o foco no gênero histórico. Suas realizações aliam pesquisa estética e qualidade técnica a temas que revelam traços marcantes da identidade cultural brasileira e de seus personagens. Ao resgatar a memória feminina, procura-se destacar e dar visibilidade à presença das mulheres na história e também criar personagens em busca de suas origens reais ou fictícias.

Sobre a Cineart Filmes

A Cineart Filmes é uma distribuidora 100% brasileira e independente que tem, como principal objetivo, compartilhar conteúdos audiovisuais de alta qualidade.

Trabalhando tanto com obras nacionais quanto internacionais, independentemente do gênero, o nosso compromisso é sempre o de oferecer cultura e entretenimento de qualidade ao maior número de pessoas possível.

Para isso, além de valorizar o cinema nacional e abrir espaço para as produções regionais, a Cineart Filmes participa dos maiores festivais e feiras de cinema do mundo, como Cannes, Toronto, Berlim e AFM.

Nossa intenção é alcançar cada vez mais o mercado exibidor e as redes de distribuição, sempre buscando conteúdos diversificados e de qualidade dentro e fora do Brasil. Assim, com ética nas relações e compromisso com os parceiros, vamos ampliando as nossas fronteiras, fortalecendo a indústria audiovisual no Brasil e no mundo, levando mais longe a magia do cinema.

Preocupada em trabalhar sempre com conteúdos de alta qualidade, a Cineart busca um relacionamento próximo com os seus parceiros produtores desde as etapas iniciais dos projetos, acreditando que esse envolvimento contribui para o sucesso comercial do projeto, através da elaboração de planejamentos específicos e cuidadosamente pensados para cada trabalho, procurando traçar o perfil e o tamanho ideal de cada lançamento.

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Esta obra conta com o patrocínio da Energisa, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, e com a Ancine/FSA/BRDE.

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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Livros incendiados'

         Carlos Cavalheiro

“O desprezo social pela queima dos livros está escorado na memória sobre tais procedimentos. Nos momentos de maior obscurantismo da História, a incineração de livros se tornou uma prática comum.”

 

O período de retorno das aulas deste ano coincidiu com uma tétrica notícia: a da prisão de uma diretora e vice-diretora de uma escola pública de Salto de Pirapora, município vizinho a Sorocaba. O motivo, segundo divulgado pela imprensa, foi o fato de ambas participarem da queima de livros dentro da unidade escolar.

O ato, classificado como crime, gerou críticas de diversas pessoas, especialmente com opiniões contrárias manifestadas pelas redes sociais. O delegado de polícia que acompanhou o caso, Gilberto Montenegro, manifestou-se com indignação, dizendo: “Houve o crime de incêndio em prédio público, crime de dano qualificado e inutilização de documentos públicos. Elas disseram que estavam limpando e vendo a cena não tem nada de limpeza. Existe um procedimento de destinação para esse tipo de material, que não foi feito”.

O desprezo social pela queima dos livros está escorado na memória sobre tais procedimentos. Nos momentos de maior obscurantismo da História, a incineração de livros se tornou uma prática comum. Qualquer livro didático trará a informação de que durante a Inquisição – o Tribunal católico que levou milhares de pessoas à morte – houve fogueiras de livros cujos conteúdos eram considerados atentatórios aos dogmas da Igreja. Da mesma forma, os governos fascistas, sobretudo o nazismo de Adolf Hitler na Alemanha, produziram a incineração de pilhas e mais pilhas de livros que continham informações que questionavam a hegemonia daquele governo.

Simbolicamente, o livro carrega consigo a aura de liberdade de expressão e pensamento, portanto, com potencial extraordinário de subversão da situação posta. É pelo livro que se abre o horizonte do conhecimento, despertando a reflexão, a emoção e o intelecto. O livro é associado ao conhecimento produzido. É a concretude da elaboração do pensamento destilado após um intenso trabalho intelectual.

A escola, enquanto símbolo de lugar de produção do conhecimento, não deveria se coadunar, então, com a atitude de destruição de livros. Especialmente por fogo, tanto pelo que representa tal atitude – como um memorial aos tempos da ignorância – quanto pelo aspecto ambiental, porquanto poluidor, o que é inadmissível dentro de uma unidade de ensino que se pretende como tal.

No entanto, a pior notícia é que o ocorrido em Salto de Pirapora não é fato isolado. Há uma prática comum e aceita culturalmente de que livros didáticos, por exemplo, ou materiais antigos (que carregam, portanto, uma memória sobre a escola) devam ser descartados, muitas vezes de forma inadequada. É o culto ao instante, ao presente contínuo, no qual tudo o que se refere ao passado não importa e não possui valor. Reflexo de uma sociedade que valoriza sempre o que é novo, o que é atual, esquecendo-se de que o atual é sempre resultado de um processo que se iniciou no passado.

Não há prédio que se sustente sem alicerce, assim como árvore que se mantenha em pé sem raiz. Da mesma forma nenhum grupo humano poderá existir isento de identidade, formada pelo conhecimento acerca do passado. Faltará a esse grupo a coesão e o propósito de vida, atributos decorrentes da identidade.

Por outro lado, emissão de opiniões que condenaram a incineração de livros dentro de uma escola pode representar a esperança de uma sociedade que ainda consegue se indignar com tal atentado. Num momento em que o povo se encontra anestesiado diante da insistência de notícias de escândalos e incompetências nas administrações públicas, a indignação de parte da população pela queima de livros e documentos se assemelha ao canto do galo de madrugada, anunciando que a despeito da escuridão, a luz logo aparecerá.

 

 Carlos Carvalho Cavalheiro

30.01.2018

PS – Nas últimas edições o título “Achegas para a História de Porto Feliz” equivocadamente foi “revisado” para “Achegos para a História de Porto Feliz”. Esclareça-se que o termo achegas, embora não tão usual hoje em dia, tem o significado de colaborações, ajudas, contribuições, subsídios.