Jeane Tertuliano: 'Rebeldia'

Jeane Tertuliano

Rebeldia

Fui uma miúda rebelde:

Não fazia estripulia,

Questionar era a minha ousadia.

Matutava demais,

Sentia demasiadamente.

Entretanto, o tempo passou

E a timidez silenciou

O clamor da minha mente.

Se eu pudesse voltar atrás,

Haveria feito diferente:

Golpearia a hesitação,

Não seria escrava dos ‘nãos’.

Encararia o reflexo no espelho,

Buscando reencontrar

O meu amor pioneiro:

Eu, apenas eu, por inteiro.

 

Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com

 




Jeane Tertuliano: 'Negacionismo é doença'

Jeane Tertuliano

Negacionismo é doença

Trancafiariam o meu eu faminto

que em histeria verte o que sinto

em tempos funestos de grandes delitos.

À mulher, desejo exposto é errado,

alegam ser um hediondo pecado

sucumbir às suculências do fado.

Não se pode fugir do inevitável;

há muito temos renegado

a real natureza dos nossos atos.

O ser humano é, por si só,

intrinsecamente erótico.

Então, por que trazer à tona o caótico

Se há tanta anuência no exótico

Que engloba a nossa existência?!

Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com

 




Jeane Tertuliano: 'Desabrochar'

Jeane Tertuliano

Desabrochar

Quando frágil, me faço forte.

Eu não me rendo ao cansaço

E não serei refém da sorte,

Porque sei que isto é um laço.

 

Eu escrevo para desabafar:

Rimando no mar do verso,

Me esquivo do vil naufragar

Ao mergulhar no universo.

 

A escrita me faz resistir!

Através dela, eu renasço;

Ressuscito, volto a florir.

 

Ser escritora é desabrochar,

intrínseca e vorazmente,

A cada novo despertar.

 

Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com

 




Jeane Tertuliano: 'Desvario'

Jeane Tertuliano

Desvario

Conhecer as entranhas do ser
É um ato tão necessário
Quanto amar e ser amado.
Satisfazer nossos anseios
É um querer pioneiro,
Ainda assim, há quem julgue
Como desfrute ou devaneio.
Contudo, o real desvario
É resultado da amargura
Que abate o homem vil.

Jeane Tertuliano

 jeanetertuliano@gmail.com




Jeane Tertuliano: 'Eclipse'

Jeane Tertuliano

Eclipse

Emaranhadas,

São luzentes:

Ela e a Lua,

Desnudas,

Frementes.

Poeta e musa

Em rima dúbia:

Fecundam o breu

E concebem, enfim,

O verdadeiro Eu.

Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com




Jeane Tertuliano: 'Ruína'

Jeane Tertuliano

Ruína

Há cadáveres

por onde caminho.

Mortes contínuas

de mim mesma

inibem a cicatrização

da ferida que,

erroneamente,

julguei estar contida.

 

Meu corpo lívido,

em penúria, verte;

a poesia nas rimas

do meu caminhar

já não acalenta

o meu desaguar.

 

Me ponho a escrever

porque há muito vislumbro

o meu próprio ser, padecer.

Cruel inconformidade

que me fez ver verdade

nas quimeras do viver

 

 Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com

 

 




Jeane Tertuliano: 'À flor da pele'

Jeane Tertuliano

À flor da pele

A poesia é, também, presença: não se faz real somente no poema, engloba todo e qualquer sistema. Para conceber o belo, o poeta se apropria com esmero da magia evocada pelo sublime mistério da vida. Há poesia nos olhos dos indivíduos sensíveis que se põem a contemplar com enormidade a simplicidade do agora, saboreando, sem demora, o encanto sapiente pela felicidade.

Assim, quando a Lua ergue o seu véu, a noite retira o fel que adoece os aviltados. A angústia continua; entretanto, desnuda, a Lua acalenta os amargurados. A poesia está no olhar erguido ao Céu, que, extasiado, já não transborda em lágrimas desesperadas, porque foi cativado. Todo poeta é, por si só, enamorado.

 

Jeane Tertuliano

jeanetertuliano@gmail.com