João Gabriel Frehley: ‘Atenção é necessária!’
Era um sábado à tarde, fazia muito calor em Itapetininga. Como de costume, resolvi descer os andares do prédio onde moro, e ao fazê-lo caminhei alguns segundos até um bar, do qual gosto muito. Sentei-me à mesa número um -minha predileta- que ficava na calçada, debaixo de uma sombra fresca. Após isso, pedi minha cervejinha com uma porção de fritas e queijo cheddar.
Lá parado, bebendo cerveja e pensando na vitória do Lula durante as eleições, de bermuda, chinelo e camisa, que estava confortavelmente com os quatro primeiros botões abertos, reparo dois carros: um Fusca branco, muito bem conservado, e logo ao lado um Tempra preto, brilhante e extremamente chamativo, no melhor estilo luto, que tirava toda a atenção do pobre Fusca, que branco, repousava sobre o sol. Naquela época, era o sonho de qualquer homem ter um Tempra.
Logo, tomei um puxão de orelha, e assustado, virei minha cabeça para a esquerda para olhar o que era e não vi nada. Foi quando virei para a direita e rapidamente encontrei um sujeito bem-apessoado, com pinta de malandro, camisa rosa com colarinho alto, desabotoada até o final do peito e o começo da barriga, óculos aviador e um colar de prata que carregava um pingente do qual não me lembro. Estava no melhor estilo anos 70. Com topete e tudo. O homem agiu como se me conhecesse há anos. Serviu-se das batatas com cheddar e gritou para o garçom pedindo um copo. Eu achei a situação tão cômica, que relevei e então deixei o homem sentado ali me fazendo companhia. Afinal, que mal tinha?
Logo, começamos a conversar, enquanto bebíamos e comíamos, ele, obviamente, às minhas custas. Então ele me disse que estava descontente com a vitória do Lula e também falou sobre como seu time favorito, o Corinthians, andava de mal a pior. Falou ainda sobre alguns amores fracassados, até que me pegou olhando na direção dos carros que estavam estacionados, e me disse:
-Este carro é meu! Gosto muito dele. Ao contrário de mim, bebe pouco, fora que o design é lindo. Não é tão espaçoso, é verdade, mas seu porta-malas é bem grande e seu motor funciona que é uma beleza, apesar de ser um pouco barulhento.
Animei-me a conversar sobre aquela verdadeira dádiva negra e perguntei sobre o motor da fera. Sagaz, após tomar um pouco de cerveja num daqueles copos de boteco bem tradicionais, e ainda com o bigode feito de espuma, disse:
-O motor é ótimo, meu amigo! Rugi como um leão enfurecido. Minha masculinidade vai ás alturas quando eu piloto essa belezinha!
-Eu presumo… Deve ser o máximo! – Respondi, minimamente animado.
-A melhor parte é ser reconhecido por ser dono dele. As crianças adoram o som da sua buzina! E as garotas, o do motor!
O sujeito me falou com tanta emoção e entonação, que fiquei animado em saber ainda mais sobre o Tempra Preto.
Então eu o questionei sobre a sensação de pilotar esse carro e se acaso existisse, que ele me dissesse algo que ele não gostava ou algo de ruim naquela pantera (fiz essa comparação por conta de sua cor preta, que se destacava mais ainda ao lado do Fusquinha branco).
Ele, igualmente animado, respondeu na velocidade de cem mulheres tendo crises simultâneas de ciúmes e com o prazer de quem está tendo um orgasmo, indagou:
– Cara, eu me sinto o exterminador do futuro, é demais! O defeito? Bom, só não gosto da cor… Branco suja muito.
Após ouvir as palavras, só pude rir.