Artigo de João Gabriel Frehley – um novo colaborador do nosso jornal

João Gabriel Frehley, paranaense de nascença e itapetiningano de coração, inicia suas colaborações com o texto ‘Teimosia matinal’

João Gabriel FrehleySaiba quem é João Gabriel Frehley:  é um jovem estudante, insuportavelmente realista, nascido em Londrina/RR, que mudou-separa Itapetininga logo após

completar um ano de idade. Desde então, não saiu mais de Itapetininga e, segundo ele, “começou a nutrir um amor grandíssimo pela cidade, sua história, seus

costumes e sua gente”. É técnico agrônomo, com dois certificados. Ator e escritor iniciante, arrisca algumas horas do seu cotidiano para relatar a poesia na monotonia

do dia a dia, através de crônicas “um tanto quanto detalhadas demais” conforme se auto identifica. Abaixo, sua primeira colaboração (Helio Rubens, editor)

 

 

Teimosia matinal

Ele teve que pular cedo do sofá -Pular; é assim que a maioria das pessoas do interior paulista se referem ao acordar. Olhou para a direita e para esquerda com cara toda amassada, como se tivesse sido atropelado por uma manada de elefantes enfurecidos. Ainda bêbado de sono, se levantou, dobrou a coberta em quatro partes e a colocou em cima do travesseiro, que estava em cima do sofá vermelho, bem centralizado, numa sala bem arejada com uma vistas para os prédios da Grande São Paulo.

Foi ao banheiro que ficava no cômodo do apartamento designado ‘das empregadas’,  que há anos não estava ocupado. Fez suas necessidades, escovou os dentes, lavou o rosto e suas madeixas ruivas, dirigiu-se, vestido de pijama, de forma totalmente cotidiana até a cozinha e começou a preparar o café. Forrou a mesa com um pano quadriculado vermelho e branco, tirou o leite, a margarina e a manteiga da geladeira, colocou tudo na mesa, cada uma com um faca de serra em cima de suas respectivas tampas. Logo após passar o café, colocou o mesmo dentro da garrafa térmica branca, toda manchada do líquido preto e adocicado.

Feito tudo, o homem virou-se, passou a mão no pijama com cor de hospital a fim de ajeitá-lo no corpo, fechou os olhos, respirou fundo – fundo o suficiente para a sua

alma sentir-se aliviada – e então deu sete passos como se estivesse marchando. Com o rosto tenso e com uma expressão dura, era possível perceber algumas gotas de suor em sua testa.

Então o homem cessou a caminhada, parou em frente a uma porta branca, que da distância em que ele estava parecia ser gigantesca, um verdadeiro titã esculpido em madeira pintado de branco. Quase pestanejou, mas se encorajou.

E foi como se a coragem fora tão necessária naquele momento que se materializou ao lado dele e o forçou a bater na porta. E assim o fez: três toques na porta seguidos que logo foram respondidos:

– O que é, droga?! –Uma voz feminina abafada respondeu do outro lado da porta-

– Meu bem, bom dia, já é hora de… de ir… –Gaguejou o sujeito, tenso-

– Não! Eu não quero ir! –O tom da voz aumento, era possível sentir pavor na voz-

– De novo não, meu amor. Vamos logo! –O homem respondeu, finalmente agindo como um

sujeito adulto.

– Eles não precisam de mim lá. Tem tantas outras pessoas como eu lá, não farei falta, eu não vou hoje! -Argumentou a figura por trás da porta.

— Já é a quarta vez em uma semana; você vai ir sim, goste ou não! Vamos logo, já arrumei todas as suas coisas, seu cadernos, livros, está tudo dentro da Bolsa. Vamos logo! –Indagou o nervoso rapaz ruivo.

– Então OK, senhor dono da razão! Eu vou se me der um bom motivo para fazê-lo! –Disse a mulher, enquanto abria a porta, já fazendo o barulho da fechadura se abrindo:

-Porque você é a professora!