Tonhão, o Indiozinho Apinajé, de José Humberto Henriques

Magna Aspásia Fontenelle:

Crítica Literária

‘Tonhão, o Indiozinho Apinajé, de José Humberto Henriques’

Magna Aspásia Fontenelle
Magna Aspásia Fontenelle

Falar da obra de José Humberto Henriques é falar de um processo criativo inventivo de mensagens cristalizadas, tanto no individual como no coletivo, na desconstrução de visões unilaterais e na ampliação do processo perceptível dialético, que leva o leitor a compreender a pluralidade de vozes que compõem o universo do autor.

Magna Aspásia Fontenelle

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Crítica literária

 Tonhão, o Indiozinho Apinajé de José Humberto Henriques

Por Honrorico de Bulhões.

Tonhão, o Indiozinho Apinajé

Capa do livro ‘Tonhão, o Indiozinho Apinajé’

José Humberto Henriques conta na sua obra, que no tempo de suas pescarias, todas elas chamadas de homéricas, desde o lambari bonito até a pirarara bocuda, conheceu diversidade de pessoas e de lugares. É por isso que sua poesia abrange um mundo gigantesco de concepções e acentos. Esse requisito fez com que seus romances atingissem a ousadia de congregar todos os estados brasileiros, de maneira independente cada um, num só compêndio semelhado a uma enciclopédia de Literatura Comparada.

Esses detalhes fazem do autor um dos mais profícuos e alarmantes de toda s Literatura Universal. Pois o que ele dizia, conhecera diversidade de pessoas e lugares. Aprendeu a comer iguarias inusitadas e a sentir cheiros espetaculares. Nesse entretido de mundo, conheceu um indiozinho apinajé em beiradas do rio Surubim, no maravilhoso estado do Tocantins.

Era um indiozinho bem-humorado, segundo consta em suas observações. Devia ter uns sete ou oito anos de idade, tinha todas as características de seu povo. Era um índio puro. E muito bonito. O menino se afeiçoou ao pescador e aparecia todos os dias para buscar caramelos e contar histórias, rir delas e confabular alguma coisa pouca notória.

Da mesma maneira, como toda moeda tem seus dois lados, o poeta também se afeiçoou ao pequeno Tonhão. O nome já de si surgia engraçado. Uma pessoa tão miúda e graciosa com esse nome de estivador. Enquanto estava a pescar os seus piaus à sombra de um angico grande, sentado a uma pedra de bom banco, o poeta escutava as risadas e opiniões do índio. Para o apinajé não havia surpresa alguma em peixe ou pássaro, em animal qualquer. Ele estava inserido em seu mundo muito particular e somente lhe afetava e lhe mudava o comportamento quando os doces surgiam à luz dos olhos. Esse encontro, que poderia ser chamado casual, foi importante em vida do escritor, tanto eu ele dedicou um livro à figura do indiozinho, bem como alguns contos.

Foto cedida pelo autor
Foto cedida pelo autor

Esse é um compêndio de poesias com pretensões infantojuvenis, surpreendentes palavras, rimas coloridas, um misto de romance conto de fadas e poesia – em verdade -, José Humberto  Henriques introduz uma arte gratificante. Esse tipo de desafio, deve-se insistir nisso, representa uma alternativa para o pequeno leitor que já possui senso crítico, portanto, em torno da terceira infância e pré-adolescência, para discriminar entre aquilo que tem valor estético e aquilo que é simplesmente uma banalidade a ser considerada. Na verdade, a história do índio sugere um conceito de liberdade enorme e uma preocupação com o futuro das criaturas.

Tonhão é aquela figura que não escapa á fatalidade de ser impressionante e ao mesmo tempo cativante diante de quem se depara com ele e sabe que jamais estará diante de sua pessoinha risonha e determinada a fazer perguntas esquipáticas.

Sugere novidades aos leitores esse tipo de solução poética alegre e bem- humorada. Palavras ditas e sussurradas como brisa e lançadas aos ares. A figura do índio menino é uma dádiva para conhecimento e reconhecimento. Figurativo de dente-de-leão. É isso que se pressupõe de um livro como esse, feito para elaborar graças no leitor mirim.

Os desenhos são delicadíssimos. E, sem nada da pujança do desenhista que prima por detalhes que vão além do pitoresco. Aqui o desenho já nasce e se arvora em ser pitoresco. Tranças filigranadas e multicoloridas, uma para cada página. A escolha das tranças é muito simples, apenas mais uma maneira de brincar com as cores e fazer delas um trançado de imaginação fértil. A percepção do leitor – infantil ou juvenil – aguça-se de tal maneira que página a página surge um novo desafio. Forma inteligente de criar contrapontos

Foto cedida pelo autor
Foto cedida pelo autor

O livro parece quebrar a monotonia das obras infantojuvenis para despertar os pequenos para a diversidade e luz que há no canto poético bem elaborado. Um avanço para a inteligência, já que em dias modernos a influência da tecnologia mudou a vida dos pequenos leitores. Sendo assim, esse livro desafiaria também dos adultos, como na maravilhosa escrita de Manoel de Barros.

Esse indiozinho apinajé, conta Henriques, foi um menino que causou grande impacto em sua vida. Mesmo que não tenha causado os transtornos propostos em relações humanas quaisquer, o menino transportou a consciência do romancista e poeta para mundos muito além do vazio.

Biografia

JOSÉ HUMBERTO SILVA HENRIQUES, médico, pesquisador, escritor, romancista, poeta, novelista e contista, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura (2023). Autor de 410 obras publicadas na Amazon-ebook, e livro físico. Nasceu em Brejo Bonito, município de Cruzeiro da Fortaleza, MG. Mudou-se para Uberaba em (1969).

Concluiu o ensino médio no Colégio Diocesano. Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba-MG(UFTM,1981). Possui especialização em cardiologia pela Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto-SP (1983), e, em cardiologia infantil, pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia do Estado de São Paulo, (1984).

Mestre em clínica médica pela Universidade de São Paulo (USP,1994). Doutor em clínica médica pela Universidade de São Paulo (USP, 2002). Professor de Cardiologia na Faculdade Federal de Medicina do Triângulo Mineiro (UFTM)-Uberaba-MG.

Agraciado com vários prêmios nacionais internacionais: 1º Prêmio Nacional Vereda Literária(2002) – Uni-BH; 3º Concurso Blocos de Poesias – Rio de Janeiro (RJ); Prêmio Cora Coralina de Literatura, Goiânia (GO, 2002); Concurso Literário Nacional Taba Cultural(2001, Rio de Janeiro-RJ); Concurso Nacional de Contos Alberto Renart – 1o lugar – Serra da Ema – Fundação Cultural Cassiano Ricardo – São José dos Campos/SP, IV Prêmios Literários Cidade de Manaus(2011) – Prêmio Álvaro Maia – romance – 1º lugar – A Travessia das Araras Azuis, dentre muitos outros, recebeu aproximadamente 100 prêmios literários.

Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia; publicou artigos científicos em Revistas indexadas na área médica; REVISTA DA SOCIEDADE CARDIOLOGICA – ESTADO DE SAO PAULO, v. 4, p. 29, 1994.; REVISTA BRASILEIRA DE ECOCARDIOGRAFIA, v. 4, p. TO6, (1992). Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a Cadeira nº 26, assumindo a vice-presidência da Casa em 12 de março de (2009). Em (2011) foi eleito presidente da ALTM.

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A Cultura do Riso

Honorico de Bulhões, autor da crítica da obra ‘A Cultura do Riso’, do escritor José Humberto Henriques

Magna Aspásia Fontenelle
Magna Aspásia Fontenelle

José Humberto Henriques, médico, escritor mineiro, natural de Brejo Bonito-MG, é um dos maiores escritores vivo e, sua criação literária contemporânea de qualidade é inquestionável, composta de 407 livros publicados.

José Humberto Henriques
José Humberto Henriques

Henriques, em sua trajetória literária permeia por inúmeros gêneros literários, ganha destaque por sua genialidade, desvelando um emaranhado de fios que formam o tecido da sua criatividade, o que levou ao grande salto para literatura mundial e a indicação ao ‘Prêmio Nobel de Literatura’ 2023.

A Cultura do Riso

Esse romance de estreia de J. Humberto Henriques traduz a concepção do que seria toda as obras posterior desse autor prolífico. Publicado originalmente com o nome de Geomorfosintaxe do Riso, causou estranheza nos meios de comunicação de massa no público em geral, exatamente pelo fato de parecer hermético e de leitura difícil em demasia.

Henriques dividia o romance em três partes desiguais, uma que tratava da banda Geo, outra da banda Morfo e outra da banda Sintaxe da existência. De um modo mais sucinto, a primeira parte seria rural, a segunda seria urbana e a terceira reincorpora a parte rural e a urbana, atinge um ápice de atitude e correção até que as duas partes sejam uma apenas. Tudo se reintegra. 

Nesse romance, todo ele construído com a falta de linearidade que contempla a prosa universal moderna, nada é temporal. J Humberto Henriques remexe com a estrutura do romance, desconstrói tudo com a força do grande criador. Isso poderia ser chamado, em dias de hoje, de romance gauche, como existiu no passado muitas obras com esse referendum. O salto que esse romance propõe dentro da literatura brasileira é gigantesco.

Aqui estão várias vertentes da literatura. Essa divisão que muitas vezes têm o denodo da articulação simplesmente escolástica, didática, que nesse romance obedece a um ritmo sem pragmatismo declarado. Entretanto, aqui está reunido o romance como um todo contemplando a poesia, conto, dramaturgia, ensaio, crônica e a novela.

Por essa razão, quando lido com a atenção que uma grande obra exige, pode ser lembrado o romance como obra genial. O impacto inicial da leitura tida como hermética vai se arrefecendo devagar, sempre à medida que se direciona a leitura para as suas tangencias mais importantes. Muitas vezes a releitura é necessária para a devida compreensão dos objetivos maiores do autor, exatamente o ensejo de promover a novidade dentro da prosa.

A condensação dentro do texto é máxima. Trata-se de uma verdadeira saga, porém, pouco percebida porque o livro enxuga a prosa, reverencia o valor da palavra, como se ainda a verificasse sob condições mallarmaicas. O personagem principal, um certo Nhico, que muitos veem como alter ego do autor, perambula por todo o romance, inicia a descrição e a termina de uma maneira escondida. Zanza de lado a lado até encontrar a alma gêmea.

O amor é o ponto alto e nevrálgico desse livro, a ponto de tudo ser cumulativo em sua direção. O encontro dessa mulher, uma certa Michelle, protótipo do bom gosto e da beleza, faz da personagem em sua faceta masculina um verdadeiro encontro de felicitações. O livro não se resume a isso. Seria muito simplório para um texto criado pela força de JH Henriques, um dos maiores romancistas vivos do mundo moderno.

Capa do livro ‘A cultura do Riso’, de
José Humberto Henrique

      No dizer de Duílio Gomes, o grande mineiro de Belo Horizonte, esta obra de Henriques é ímpar. Assim, comentou Duílio no prefácio da primeira edição desse romance.  “A linguagem, que lembra, às vezes Guimarães Rosa, mas é extremamente pessoal, revela  a maturidade  do autor e detona seu longo fôlego nesse mergulho fundo ao universo rural de ‘Geomorfosintaxe do Riso’.

O processo criativo nos remete ao melhor de Cortazar e Gabriel Garcia Márquez – é circular, complexo, morde a própria cauda e se estilhaça em várias opções de leitura. Os personagens, dezenas deles, passeiam no fio da navalha e trazem códigos pessoais que determinarão suas preferências e raízes socioeconômicas.

O autor é pendular entre a reflexão (com citações que irão mostrar sua cultura literária) e a narrativa, que pode estar tanto na primeira como na terceira pessoa. Essa narrativa, quando da primeira pessoa, alterna-se entre o masculino e o feminino. A arte de narrar, em José Humberto Henriques, é o seu grande trunfo.

Sua análise clara da alma e da mente dos personagens – assim como algumas terminologias do ramo – desnudam, diante do leitor, o médico profissional que ele é. Seu bisturi literário é preciso. Seu estilo, precioso.

Metáforas belíssimas estão semeadas ao longo do texto. A prosa é poética, de uma poesia sofisticada e lúdica. O autor se debruça sobre o lirismo para pescar, com rara habilidade, o insólito e o tragicômico.

“Geomorfosintaxe do Riso”, mapa aberto para muitas pistas e despistes do tesouro. Encontrá-lo é um desafio. E um prazer.”

Ps.: Publicação autorizada pelo autor.

Magna Aspásia Fontenelle

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