Exposição Profundus, Sertanus, Incantatus
A exposição, com obras de Júlio Veredas, entra em cartaz no hall do Teatro Erótides Campos, em Piracicaba
A exposição reúne cerca de 30 obras que foram criadas entre 1982 e 2022. No dia da abertura (29/10) também haverá apresentação musical da cantora Marcia Mah e do violonista Zé Marcos interpretando canções de Elomar Figueira Mello
No final dos anos 1970, ao ganhar uma fita cassete de um artista cujas músicas contavam com um dialeto próprio e com uma sonoridade que estabelece um novo paradigma para a música erudita brasileira, o artista plástico Júlio Veredas se viu completamente apaixonado pela obra do músico e compositor Elomar Figueira Mello.
Sua aproximação com a obra de Elomar fez com que se iniciasse ali uma série de obras artísticas atravessadas pela musicalidade do músico e que, agora, estão reunidas na exposição Profundus, Sertanus, Incantatus, que entra em cartaz no hall do Teatro Erótides Campos de 29 de outubro a 12 de novembro. O evento tem apoio da Prefeitura de Piracicaba, por meio da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural).
No dia de abertura do evento (29/10, domingo, 16h), haverá ainda um show da cantora Marcia Mah e do violonista Zé Marcos interpretando canções de Elomar Figueira Mello, como O Pedido, Arrumação, Chula no Terreiro e Puluxias do Tropeiro Gonsalin.
A apresentação terá também canções autorais da Marcia, incluindo Sertanias – inspirada no livro Grande Sertão – Veredas e com arranjo de Cao Alves, artista que já participou de várias produções de Elomar e que foi integrante do grupo Tarancon.
A mostra, com curadoria do mestre em artes visuais Allan Yzumizawa, traz aproximadamente trinta obras de Júlio – entre desenhos feitos em grafite sobre papel, nanquim sobre papel e aquarela – criadas desde o início dos anos 1980, quando conheceu Elomar pessoalmente -, até 2022. O projeto é realizado com o prêmio Exposição Inédita do PROAC 2022 com apoio do Centro Cultural São Paulo.
Conhecido por uma obra influenciada drasticamente pela música e pela literatura, Júlio conta que os trabalhos apresentados nessa exposição inédita também são influenciados pela poética do escritor João Guimarães Rosa, que reconstrói a imagem do sertão e o universaliza quando transcende o eterno conflito entre o ser humano e o destino que o espera – característica comum com a música de Elomar Figueira Mello.
Sob a perspectiva da busca e exploração do sertão de si mesmo, Júlio Veredas ilustra essa encruzilhada de onde partem e convergem inúmeros caminhos e alternativas que habitam seu íntimo. “O título dessa exposição traz algo do encantamento que flagrei na minha convivência com amigos que vivem na Caatinga”, conta Júlio.
“Muitas vezes eles me contavam suas histórias em botecos na beira de estradas e eu contava as histórias do que estava vivendo em São Paulo. Mesmo morando lá por muito tempo, não me sentia um vaqueiro, um catingueiro, e é nessa troca que nossas histórias ganhavam um certo encanto, uma formação de nossas identidades”, completa o artista.
Elomar Figueira Mello, baiano de Vitória da Conquista, é compositor, escritor, violonista e cantor. Hoje, com 85 anos, é considerado um artista ímpar na música brasileira e sua obra surge como um marco significativo dentro do panorama da música popular brasileira, marcada pela forte presença de variantes dialetais, arcaísmos e neologismos, formando uma linguagem muito característica fundada na oralidade sertaneja.
Suas letras abrangem uma ampla gama de temas, na maior parte das vezes vinculado ao imaginário rural do sertanejo nordestino, ainda que com elementos medievais, cristãos e ibéricos.
“Quando vi pela primeira vez os desenhos desse malungo Julio Veredas, gostei muito, pois vi desenhos de algumas estrofes minhas e centenas dele. Vi que retratava a própria vereda que sua alma bonita percorre.
Ao contemplá-los, consigo ver como que em sonhos fragmentos de momentos das paisagens que minha alma viu antes de nascer, assim como também ouço o prenúncio, apenas aurora mágica que anunciam a impossibilíssima ressurreição de uma daquelas perdidas e distantes tardes da infância”, diz Elomar Figueira Mello.
Júlio Veredas
Com uma atuação intensa a mais de 40 anos na artes visuais, Júlio Veredas, se destaca pela singularidade de seu trabalho, que dialoga com a música e a literatura e constrói uma obra que traz aspectos da cultura popular sob a perspectiva da busca e exploração do sertão de si mesmo.
Artista autodidata, desde muito cedo passou a frequentar cursos livres de artes e atuar na área de eventos culturais. Natural de Sorocaba Julio Veredas, residiu por muitos anos na capital convivendo com grupos de música e teatro, quando inicia as primeiras mostras de seus desenhos, realizando exposições individuais no Centro Cultural São Paulo e no MASP (1983/1984), mantendo em paralelo uma produção em sua cidade natal, Sorocaba, com artistas diversos e na cidade de Vitória da Conquista Bahia, terra do compositor Elomar Figueira Mello, que passa a ser uma grande referência em seu processo artístico.
Essa geografia se mantém presente em toda sua trajetória e torna-se marcante na produção de seus trabalhos que resultam hoje numa coleção de aproximadamente 1000 ilustrações entre Aquarelas, Grafites, Nanquim e Colagem, com participações em projetos como Projeto Terra Rasgada – SECSP, Projeto Glauber Rocha Museu Regional Vitória da Conquista (BAHIA), e dezenas de exposições individuais e coletivas.
Colaborando com outros trabalhos tem desenvolvido ilustrações para livros, encarte de CDs, restauros, além de participar ativamente da política cultural de Sorocaba, integrando o Conselho Municipal de Cultura e atuando como gestor de Espaço Artístico colaborativo (Teatro OFF), sendo por isso homenageado pelo mais tradicional bloco carnavalesco de Sorocaba, o Depois a Gente se Vira, em 2020.
Toda a poesia e delicadeza empregada em sua jornada como artista plástico não exclui sua habilidade em lecionar para pessoas de diferentes faixas etárias conteúdos técnicos de desenho. Atuando em projetos em sistemas penitenciários e hospitais psiquiátricos, oficinas em diversas cidades do interior de São Paulo, aulas particulares e projetos educativos do sistema S.
A pandemia criou uma nova etapa em seu processo de trabalho, com o fim das aulas e exposições passou a se dedicar integralmente à produção em seu ateliê e a se reinventar no ambiente virtual das redes sociais, conquistando um público novo que observa novos elementos no significado de suas obras. Atualmente mantém uma comunicação diária com internautas e uma intensa atividade com a criação de aquarelas onde amplia o conceito de sertão como algo transversal do interior dos lugares e do ser.
Marcia Mah (Cantora)
Com quatro álbuns na carreira, lançou o CD “Apanhado” (2000) interpretando autores paulistas, CD Choro Canção (2006) com o Grupo Casa de Marimbondo, CD/DVD “Láláiá” (2011) com músicas próprias, realizando turnê em Portugal em 2015 através do Programa de Intercâmbio Cultural do MINC e Selo Musical MIMS – Europa, DVD PRISMAH – um olhar sobre o corpo da voz (2016), sendo contemplada pelo Prêmio PROAC Circulação de Espetáculos em turnê pelo PROAC 2018 com apresentações no MIS capital, litoral e interior do estado de São Paulo.
– Produtora do projeto “Profundus, Sertanus, Encantatus” do artista plástico Julio Veredas aprovado pelo PROAC Exposição Inédita 2022
– Produtora do CD Linha de Chegada de Zé Marcos lançado em nov/2021
– Produtora do Documentário “ARTEIROS” – Lei Aldir Blanc (2021)
– Seminários “O Canto Popular” nas Fábricas de Cultura (Sapobemba, Belém, Cid. Tiradentes, Vl. Curuçá, Itaim e São Bernardo do Campo) agosto/22
– Preparadora Vocal do 1° Festival Estudantil Estadual do SESI SP – FESTVOZ agosto/22
– Selecionada no Edital do Centro Cultural FIESP com uma temporada de apresentações do show “Acústico Márcia Mah” 2019/2020.
– Participa do Encontro Musical com Orquestra Mundana Refugi pela Mda Internacional dez/2021
– Idealizadora do Projeto Bioma Musical apresentado em várias unidades do SESC SP 2022
– Idealizadora e produtora do espetáculo “ECOS de 22” apresentado nas unidades do CEU pela SMESP 2022
– Palestrante convidada nos cursos de Semiótica e Produção Musical das Universidades Federal da Bahia (Salvador e Recôncavo), FATEC Tatuí e UNISO (2015/2017).
– Durante a pandemia participou de projetos on-line como o FESTVALE (Festival de Economia Criativa do Vale do Ribeira) , REC-começo SESC Sorocaba, Especial Boteco do RibeiraSESC Registro
– Diretora da Brasilidades Produções Artísticas, onde desde 2013 desenvolve diversos espetáculos temáticos e de arte educação e especiais em homenagem a Dorival Caymmi, Noel Rosa, Samba Paulista com Osvaldinho da Cuíca, Nara Leão, Clementina entre outros. Produtora do Livro e CD “Nilson Lombardi – Obra completa” (2002)
– Formada em Filosofia (UNISO)e no Curso de Canto Lírico e MPB/JAZZ do CDMCC – Tatuí- SP, integrou o Coral Cênico “Da Boca Pra Fora” como solista em recitais e concertos sinfônicos
Zé Marcos (Violonista)
Zé Marcos é reconhecido na região metropolitana de Sorocaba, onde atua há 30 anos como violonista, compositor, arranjador e educador. No início da carreira, foi vencedor do Concurso Jovens Instrumentistas do Conservatório Heitor Villa Lobos de São Paulo, dando prosseguimento aos estúdios se formando em Violão Bacharelado na Faculdade Mozartéum de São Paulo.
Realizou especializações em renomados centros, como o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical) escola ligada ao Zimbo Trio e Curso de Especialização em Educação e Organização social na Universidade de Havana (Cuba).
Coordenou diversas oficinas realizadas na Oficina Cultural Grande Otelo de Sorocaba,
com destaque para os projetos “Caminhos do Violão” e oficina com artistas como Tom Zé e Arrigo Barnabé, sendo citado no Livro “Violões do Brasil de Myriam Taubkin – 2004 . Entre os diversos grupos que idealizou e integrou, destaca o grupo de choro “Caco de Vidro” – 2011, com formação em regência realiza concerto como convidado da Banda Sinfônica da Fundec – 2011.
Como músico acompanhante destaca o show “Samba Interior” com o sambista Osvaldinho da Cuíca em projetos de Arte educação. É integrante do Grupo Ybsorok e em espetáculos como “ECOS de 22 – desdobramentos Musicais sobre a Semana de Arte Moderna”, além de ser parceiro musical no CD Lalaiá (Marcia Mah) e do conjunto da cantora na sua turnê em Portugal.
É músico fixo na banda e gravações do CD “Estações”, do violeiro Zéca Collares. Como educador, criou um método próprio ao longo de sua experiência didática, lançando o Livro “Violão Guia de Ensino e Aprendizagem”. Lançando-se como intérprete não só como músico, mas também cantor, apresentou o Tributo a Baden Powel no Teatro do Sesi Sorocaba 2019 e lança em outubro de 2021 seu primeiro CD autoral – “Linha de Chegada” pela LINC Sorocaba.
SERVIÇO:
Profundus, Sertanus, Incantatus | Júlio Veredas
Local: Hall do Teatro Erótides Campos
Endereço: Rua Dr. Maurice Allain, 454 – Engenho Central- Vila Rezende / Piracicaba
Período expositivo: 29 de outubro a 12 de novembro. Segunda à sexta-feira, das 13h às 17h e aos finais de semana, de acordo com a agenda de espetáculos
Entrada gratuita
Voltar: http://www.jornalrol.com.br
Facebook: https://facebook.com/JCulturalRol/