Leandro Campos Alves: 'Minha Minas Gerais'

Leandro Campos Alves

Minha Minas Gerais

Mineiro é coisa chique, que vem apurando de fora para dentro, com um jeitinho tímido, logo revela sua simplicidade e acolhimento.

No sotaque digo e ainda atrevo em afirmar, que mineiro é culto de nascença, seu sotaque e jeitos, ditos um pouco preguiçosos porque engole as palavras e encurta o diálogo, que é longo de nascença, reflete a inteligência desse povo mineiro.

Das extremidades territoriais, os mineiros levam o sotaque paulista no sul, misturado com o sotaque carioca no sudeste, ou quem sabe com o capixaba que tem em Guarapari a sua praia mais mineira do Brasil.

Subindo ao norte vem a Bahia, que deixa o sotaque bem caprichoso, que eu mesmo achei ser baiano.

Mas em terra longa como as Gerais, o mineiro se mistura, puxando o amor pelo sertanejo de Goiás, São Paulo então volto a raiz, do dialeto sulista desse estado de graças, que puxa o “R” na pronuncia dessa minha Minas de poli línguas de suas extremidades.

Mas ah! Minha Minas Gerais… De um povo amável e acolhedor, que entra em seu seio, na trilha dos bandeirantes a caminho do ouro, prata e diamante, que deixa nesse percurso a influência das línguas externa, e encontra a essência de seu povo verdadeiro.

Sotaque manso e desconfiado, que traz o “sô” como pronome de respeito.

O ali do mineiro é uma légua Paulista.

O trem bão não é locomotiva.

A moça sô, não está sozinha.

Um cadinho pode ser um pouquinho.

Como também oceis não é um grupo de seis, mas quem sabe uma multidão.

Quando cansa da caminhada, pede para perar um tiquim.

Adoro o mineiro, principalmente na hora do café, que tem o docindileiti, cafezim com broinha de fubá ou com biscoidipuvio. Não sei se conhecem, mas adoro o franguim com quiabu, nem me fale do torresmi bem fritim, e no cair da noite, nada melhor do que o mingau de mio com couve bem picadim.

Esse é o coração do mineiro, bem no centro da Gerais, que olha o semáforo vermelho e péra um tiquim, quando abre o amarelo logo o motorista prestenção sô, no verde então, o mineiro cauteloso agora podii.

Não tem despedida mais amável, que o “tchau procê”, e no encontro mineiro sai o primeiro verbete, “uai? Comé qui cê dá?” Mas logo a hospitalidade mineira toma conta pelo seu carinho, tanto amor que num dê conta de revelar, mas como bom mineiro, peço que prestenção sô, pois falaremos igualzim ao coração de Minas, que é muito sabido na sua fala, que come pelas beiradas de mansim, e quando se encontra sem caminho, descobre que cê tá lascado sô, sem saber oncotô, e nem proncovô, o mineiro sai de fininho, talvez com fome vai cumê um trem, para matar a quifomqueutô, num quidito nessa conversa? Pois digo como mineiro, que você pode acreditar só um cadim.

Ah! Minha amada Minas Gerais, que pulsa o coração de Belzonti, e não minto que falamos des jeitn mesmo, mas é bão demias sô, ter a nossa personalidade própria.

Ah! Minas que amo, que está nu coração dagen, mas engana quem pensa que mineiro é assim, somos o sonho da terra, o fruto do amor, o abraço acolhedor, de um povo quieto, que presta muita atenção, para não sair falando besteiras, sem ter razão.

Se as frases curtas é a expressão do povo Mineiro, diga João Guimarães Rosa, ou quiçá, Carlos Drummond de Andrade, podendo também falarmos de Fernando Sabino, a felicidade de ser mineiro e trazer contigo o sotaque apaixonado de uma terra persona.

Ah! Minha Minas Gerias que amo demais, que originou de uma miscigenação, de vários estados, povos e nação, se baiano cansado é mineiro, minas é o berço dessa nação de múltipla cultura em sua miscigenação.

 

Leandro Campos Alves

leandrocalves@hotmail.com




Leandro Campos Alves: 'Pessoas'

Leandro Campos Alves

Pessoas

Tem gente que se acha grande.

Tem gente que se acha justo.

Tem gente que se acha gente.

 

Mas nem toda grandeza traz segurança,

nem toda justiça é perfeita,

nem todo achar nos faz ser gente.

 

A vida é feita de atos.

A gente é feito pelo amor,

e o amor…

É feito de respeito.

 

A grandeza é ilusória.

A justiça só a divina.

E a história?

É o reconhecimento de quem foi gente.

 

Leandro Campos Alves

leandrocalves@hotmail.com

 

 

 




Leandro Campos Alves – IWA: 'O homem da roça perdeu o encanto'

Leandro Campos Alves -IWA

O homem da roça perdeu o encanto

Hoje a roça está triste, não vejo mais a alegria em seu entardecer.

O cabo da enxada perdeu espaço para a capina química, a junta de boi para o arado mecânico, e a ordenha então?  Nem tem comparação, aquele contato quente e apaixonante do homem ordenhando o animal, perdeu o encanto, pois a ordenha mecânica trouxe a frieza do capitalismo para as tetas da vaca.

O entardecer perdeu o encanto e trouxe a tristeza, pois não ouvimos mais a algazarra dos pássaros ao cair da noite, muitos pássaros morrem no contato de remédios químicos que cuidam da saúde animal e das plantações.

O mesmo cair da noite trouxe a frieza na ausência da fumaça da chaminé, sinal de boa conversa ao redor do fogão a lenha, sinal de família inteira reunida e amigos proseando.

Hoje a chapa de ferro encontra-se gelada. O fogão já não tem o cheiro e barulho da madeira em combustão, a cozinha não tem o cheiro do bom feijão caipira, com a couve refogada na banha de porco e o torresmo fritando em repouso na chapa negra e quente.

O homem do campo perdeu o encanto, com ele a minha alegria rural foi sepultada, perdi o exemplo de vida no aconchego do calor humano da roça.

Hoje as máquinas tomaram o campo, pequenas e grandes extensões de terras viraram empresas capitalistas que derrubam o que, ou, quem que se impõem em sua frente, tudo em nome do orgulho.

Valores perderam o sentido, pelo qual família inteira se dedicavam uns aos outros, e todos em prol à cultura caipira, na labuta sofrida, mas humanitária, onde todos amavam todos, e a irmandade era sagrada.

Valores se perderam por este mundo moderno, que o homem do campo não é mais do campo, e sim, da cidade que vai ao campo como impostores, que sugam do seio da terra o orgulho de se mostrarem bem sucedidos, sem fazerem questão de deixarem os animais em pequenos espaços, como bibelôs que só servem para retirarem a seiva da vida.

A roça já não tem a capina de compadres, a correria das crianças, a imparcialidade da família.

O homem do campo perdeu o encanto, e com ele levou o meu orgulho por ter a origem caipira.

 

 Leandro Campos Alves

leandrocalves@hotmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 




Leandro Campos Alves: 'O canto de um bêbado'

Leandro Campos Alves

O canto de um bêbado

Foto: freepik – Homem Louco e Bêbado. Autor: luis_molinero – br.freepik.com

Olá, me chamo Carlos.

Ontem eu estava em uma festa com os amigos, e entre um bebida e outra, a noite foi passando e não percebi que a madrugada estava batendo à nossa porta. Kkkk.

Digo à porta da nossa boemia, afinal, entre amigos não procuramos mulheres, paixões e aventuras, apenas contamos piadas e causos, assim é a noite de encontro entre amigos. E foi exatamente numa destas noites que eu fiz de meu melhor amigo, meu apoio inconsciente de delação.

Já era madrugada beirava quatro horas da manhã, a esta altura já tínhamos tomado todas, era uma piada e um gole a mais. Pensando bem eu estava praticamente lúcido, pelo motivo principal que levava o nome de “Dona Maria” exatamente. Ela provavelmente estava me esperando em casa, e ai de mim se chegasse de madrugada cheirando perfume de mulher ou cambaleando sobre as pernas, por este fato sempre fui um dos mais controlados entre os amigos.

E foi este fato que me levou a maior gafe da minha vida, pois ao ver as horas eu avisei aos companheiros que já estava de partida, pois do bar que estávamos até em casa eu teria que dirigir meu carro por uma rodovia estadual. Até aí normal, pois não seria a primeira vez que eu faria este percurso depois de beber, porém um dos companheiros daquela noite era meu compadre que morava uma quadra abaixo da minha casa, e ele realmente tinha passado um pouco do limite na bebida, por este motivo meu compadre ouvindo que eu estava de saída me pediu um favor.

Ele pediu que eu fosse na frente e se eu visse a polícia na rodovia, era para avisá-lo pois ele iria logo atrás.

Parecia que ele tinha adivinhado que ¨os homens¨ estariam naquela noite à espreita na rodovia, pois logo que eu os vi reconheci o sinal deles me ordenando a parar. Parei como se nada estivesse de errado, foi quando o policial pediu-me para fazer o teste do bafômetro. 

Logo pensei:

“Tranquilo, afinal eu tinha bebido muito pouco e estava praticamente lúcido.”

Triste ilusão! Tão logo soprei aquele troço os policiais avisaram que teriam de prender meu veículo, pois o bafômetro tinha acusado que eu tinha bebido além da conta. 

Comecei a tentar mudar aquela situação tentando convencer os policiais que eu estava bem, mas nada adiantou. Falei mil vezes que era para eles me liberarem e nada. Realmente eu estava numa situação muito ruim, ainda mais lembrando que se eu pedisse socorro para minha esposa seria pior e se não chegasse em casa, estaria frito.

No ato da confusão com os policiais, logo eu soltei a minha gafe.

“__Olha, senhores policiais, se acham que estou bêbado, esperem meu amigo que está vindo logo atrás para ver o que é estar bêbado de verdade.”

Não deu outra. Meu carro ficou detido e meu compadre passou duas noites preso por dirigir embriagado e por desacato a autoridade.  

Ainda somos amigos, mas sempre nas rodinhas entre nós este acontecimento é relatado da boca de meu compadre que é meu amigo, porém… Ele nunca mais pediu minha ajuda para escapar dos homens da lei. 

 

Leandro Campos Alves

Crônica finalista nacional 2014 pela Academia de Letras de Teófilo Ottoni

 

 

 

 

 




No Quadro de Colunistas do ROL, a Pena de Luz Literária de Leandro Campos Alves – IWA!

Leandro Campos Alves – IWA

Leandro é um ser humano que acredita que os obstáculos da vida existem para ser sobrepujados. Venceu a dislexia e o preconceito, deixando fluir de seu grafite poesia e contos que encantaram o mundo!

Leandro Campos Alves é presidente da Academia Caxambuense de Letras 19/21. Em 2019, foi eleito Diretor Artístico do 47º Congresso Sul Mineiro de Odontologia. É Embaixador da Paz, pela Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos, e comendador Guanabara pela FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes. Leandro é possuidor de diversos títulos e membro de várias Academias de Letras pelo Brasil e no exterior. Apresenta um currículo invejável, recheado com diversas obras, prêmios e trabalhos internacionais. Leandro é um ser humano que acredita que os obstáculos da vida existem para ser sobrepujados. Venceu a dislexia e o preconceito, deixando fluir de seu grafite poesia e contos que encantaram o mundo! É autor do poema épico ‘O Viajante’, reconhecido oficialmente pelo livro dos recordes em 2018, como o maior poema do Brasil, tendo o mesmo o reconhecimento como maior poema mundial da Literatura Portuguesa, com mais de 10875 versos e 2022 estrofes!

É este ser de altíssima estirpe humana que ora ingressa na Família ROLiana para agregar valores literários ao Quadro de Colunistas e Correspondentes do ROL!

Seja muito bem-vindo, Leandro!

Abaixo, sua primeira contribuição: o poema ‘As mãos que afagam’!

 

AS MÃOS QUE AFAGAM

São minhas aquelas mãos.

As mãos que afagam o seu sono,

que segura e protege seu tombo.

 

São minhas aquelas mãos.

As mãos que apoiam seu caminho,

que acalenta seu coração,

que te dá o porto seguro,

mostrando qual é a sua direção.

 

Filho pequeno ou grande,

são minhas aquelas mãos.

Que te acolhe por onde você ande,

e se fecha em oração,

pedindo pra ti proteção.

 

São minhas aquelas mãos.

As mãos que lhe dá o pão,

são as mesmas que lhe dá correção.

Deixa-nos também na tristeza profunda,

por corrigir a nossa criação.

 

São minhas aquelas mãos.

Que a noite te abençoa,

no gesto de devoção;

pedindo a Deus criador,

sua vigília em proteção.

 

São minhas aquelas mãos.

Que se une a voz a trovar,

para entoar graças ao pai,

enquanto te ponho a ninar.

Agradecendo com muito amor,

por ser teu protetor.

 

São minhas aquelas mãos.

Pois se palavras um dia faltar,

são elas que vão lhe mostrar,

que por onde tu andares,

nunca vou deixa de ti amar.

 

São minhas aquelas mãos.

Que doa a ti toda segurança,

minha eterna criança.

São minhas aquelas mãos…