Gonçalves Viana: 'O Rimbaud brasileiro'

 Arthur Rimbaud surgiu como um meteoro na literatura francesa, e porque não dizer mundial, já que os franceses sempre tiveram a primazia nesse campo. Ele escreveu toda sua obra dos 15 aos 20 anos de idade. Era considerado o “jovem Shakespeare” entre os escritores e poetas do círculo literário de Paris

 

Para podermos estabelecer o paralelo existente entre o Rimbaud original e o nacional, vamos falar um pouco sobre o original.

Arthur Rimbaud surgiu como um meteoro na literatura francesa, e porque não dizer mundial, já que os franceses sempre tiveram a primazia nesse campo. Ele escreveu toda sua obra dos 15 aos 20 anos de idade. Era considerado o “jovem Shakespeare” entre os escritores e poetas do círculo literário de Paris.

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu em Charlesville, França, em 20 de outubro de 1854. Ainda criança começou a escrever suas poesias. Seu professor de retórica – George Iszambard – no Colégio de Charlesville incentivou-o na leitura dos poetas clássicos: Rabelais, Victor Hugo e Theodore de Banville.

Em 1870, quando tinha 16 anos, escreveu para o poeta simbolista Paul Verlaine, enviando-lhe alguns poemas seus.

Em 1871 viaja à Paris, onde procura Verlaine, que o acolhe em sua casa. E Rimbaud, o “enfant terrible”, inicia uma conflituosa relação amorosa com o poeta, o que chocou a sociedade da época.

Em 1872, Verlaine abandona a esposa e os filhos, e junto com Rimbaud vão viver em Londres. Em abril de 1873, Rimbaud volta para sua cidade natal, onde começa a escrever “Uma Temporada no Inferno”.

Em junho, volta para Verlaine em Londres. Após muitas brigas, se separam e voltam a se reencontrar em Bruxelas, onde Rimbaud tenta romper a relação com Verlaine, que atira em Rimbaud, ferindo-o na mão. Verlaine é condenado pela justiça da Bélgica a dois anos de prisão.

De volta à Charlesville, Rimbaud publica “Uma Temporada no Inferno” (1873), que reúne nove poemas em prosa. A obra foi considerada um marco da história da poesia e influenciou vários poetas modernos e muitos movimentos da contracultura do século XX. Em 1874 está de volta à Londres e publica “Iluminações”.

Com apenas 20 anos deixa de escrever e decide trabalhar com o comércio de café na Etiópia. Entra para o exército das colônias holandesas, mas em 1876 deserta e volta para a cidade natal. Em 1885, se envolve com o tráfico de armas.

Arthur Rimbaud faleceu em Marselha, França, no dia 10 de novembro de 1891, após ter amputado uma perna, devido a um câncer no joelho.

Por sua obra, Rimbaud foi considerado um dos precursores do surrealismo. Chegou a ser incluído no que se convencionou ser chamado de “les poètes maudits” (poetas malditos), onde pontuavam, além de outros, Baudelaire, Mallarmé, Verlaine e Lautréamont.

Apesar de ter causado tanta celeuma na sua época, influenciou, além de Henry Miller, escritor subversivo americano; os autores da chamada Geração Perdida: Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Sherwood Anderson; os beatniks: Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs e até alguns roqueiros, caso de Bob Dylan e principalmente Jim Morrison.

O fato de Rimbaud ter parado de escrever aos 20 anos, é o ponto em que se estabelece o paralelo, o fulcro que liga esses dois poetas, distantes no tempo e no espaço, e diferentes na origem e gêneros, mas geniais, tanto um quanto o outro, o original e o nosso tupiniquim Rimbaud: Luís Aranha.

Luís Aranha Pereira nasceu em 17 de maio de 1901 na capital de São Paulo de família bem colocada, seu pai era advogado e fundador da Companhia Paulista de Seguros, estudou no Colégio dos Irmãos Maristas de onde saiu em 1919, pera trabalhar como balconista na Drogaria Bráulio, na rua São Bento, na qual seu pai tinha interesses.

Através de seus irmãos mais velhos foi apresentado a Mário de Andrade em princípios dos anos 20. Entre 1920 e 1922 escreve muitas poesias, dessa época são conhecidos 26 poemas seus.

Abandonou o emprego e passou a frequentar as reuniões que Mário de Andrade promovia todas as terças-feiras, onde passou a se relacionar com os poetas Ronald de Carvalho, Oswald de Andrade, e os pintores (as): Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.

Participou ativamente da Semana de Arte Moderna em 1922 e colaborou neste mesmo ano, na revista Klaxon, com quatro poemas: Aeroplano, Paulicéia Desvairada, Crepúsculo e Projetos. Após isso Aranha emudeceu.

Acontece que Luís Aranha entregou a Mário os manuscritos daquele que seria o seu primeiro livro de poesia intitulado Cocktails. O livro continha os quatros poemas já publicados na Klaxon, além de muitos inéditos. Em sua avaliação, Mário foi demasiado severo, qualificando a poesia de Aranha como “preparatória”, e o livro como “desastre definitivo”.

Esse livro, Cocktails, seria publicado somente em 1986, seis décadas após sua concepção. Em que pese e a despeito da grandiosidade de Mário de Andrade e seus companheiros da Semana de 22, Aranha estava muito acima deles e seu livro permanece atualíssimo mesmo hoje, quase 100 anos depois. Isso pode se verificar nos três longos poemas constantes no livro: Drogaria de Éter e de Sombra, Poema Pitágoras e Poema Giratório, que eram originalíssimos na época, e conservam até hoje essa qualidade.

Rimbaud parou de escrever aos vinte anos e nunca mais escreveu nada, já o nosso Luís Aranha parou aos 22. Mas diferentemente de Rimbaud, concluiu o curso de direito em 1926, na faculdade do largo São Francisco e entrou para o Ministério de Relações Exteriores, nomeado por concurso (no qual obteve o 1º lugar). Terminou a carreira, por limite de idade, como embaixador no Ceilão. Luís Aranha faleceu em 29 de junho de 1987, na cidade do Rio de Janeiro.

Cocktails é a minha dica de livro, e ao contrário do livro que indiquei anteriormente, este é mais fácil de ser encontrado e também mais acessível financeiramente, com preço variando entre R$5,00 a R$35,00, no Estante Virtual.

                                                                            

Gonçalves Viana – v_aparecido@ig.com.br