Celso Lungaretti: 'Um maximiza o extermínio, outros dois estão dispostos a pisar em todos os cadáveres necessários para se elegerem'

Tão obcecados quanto o Bolsonaro pela faixa presidencial, o Lula e o Ciro hoje agem como facilitadores do genocídio

Temos:
a) dois problemas gravíssimos (a pandemia e a depressão econômica), que exigem solução ainda em 2021, caso contrário este país explodirá;
b) um presidente provavelmente sem condições mentais para ocupar o cargo e certamente sem condições morais nem intelectuais para tanto, que passa o tempo todo agravando os problemas acima, de forma que sua remoção é condição sine qua non para começarmos a sair do buraco sem fundo em que nos metemos;
c) duas lideranças oposicionistas que, ao invés de cuidarem do absolutamente urgente e necessário neste momento dramático da nossa História, estão desde já em campanha para a eleição de outubro de 2022, na prática desviando a atenção daquela que deveria ser a única preocupação atual dos brasileiros conscientes e ajudando a perpetuar o genocida no cargo (ou seja, a única preocupação de ambos é de que seja até lá mantido um cenário favorável a suas ambições eleitorais, e que se danem todos os brasileiros que morrerem doravante por causa do governo catastrófico).
Precisarmos unir forças para salvar o Brasil hoje da destruição, caso contrário é capaz de nem haver eleição daqui a um ano e meio. E quem, como o Lula, vem há tempos fazendo tudo que pode para que o Bolsonaro continue sangrando no poder mas não seja dele afastado antes da eleição, cumpre, na prática, o papel de facilitador de genocídio.
Infelizmente, agora o Ciro o está secundando nessa faina de iludir o povo, à medida que também incute nos ingênuos a esperança de que a solução seja a eleição. Não é, de jeito nenhum.

 

 

 

 




Celso Lungaretti: "Hoje o Lula só discursou e deu entrevista. O lançamento da nova 'carta aos brasileiros' ficou para depois…'

Celso Lungaretti

celso lungaretti

Conciliação das elites em marcha: sem surpresa nenhuma, lula evidencia que vai repetir seu papel histórico de 2002

Comecei o dia lendo que os dirigentes petistas aconselharam Lula a evitar atos e palavras contundentes, passando a interpretar o papel de um estadista, de forma a aproveitar a mais gritante vulnerabilidade do Jair Bolsonaro. 
 
mito que nunca foi nada além de um mico, em suas aparições públicas, aparenta quase sempre ser um doido recém-evadido do hospício (e o genocídio decorrente de seus surtos psicóticos durante a pandemia a cada dia convence mais brasileiros de que ele é, na verdade, um doido que, para infelicidade geral da nação, esqueceram de colocar no hospício). 
 
Em discurso e entrevista coletiva na manhã desta 4ª feira (10), Lula seguiu à risca a recomendação, chegando a arrastar-se aos pés do empresariado, como em 2002: 

 

Se ele quer dinheiro, tem que gostar de mim. Se quer ver o povo consumir, tem que gostar de mim. (…) Eu não entendo esse medo, eu era chamado de conciliador quando presidia. Quantas reuniões fazia com os empresários? Dizia: ‘O que vocês querem? Então, vamos construir juntos’.

 Má escolha de verbo, construir lembra Odebrecht

 
A performance teria sido perfeita caso ele houvesse resistido à tentação de proclamar em tom apoteótico que ficara provada sua inocência, quando, na verdade, a decisão do ministro Edson Fachin foi apenas de considerar que os processos contra ele deveriam ter tramitado em Brasília e não em Curitiba, daí tê-los anulado e devolvido à 1ª instância. 
 
Como o que impedia Lula de disputar eleições era a Lei da Ficha Limpa, tal obstáculo foi removido quando as condenações viraram pó e lhe restituíram condição de réu ainda não julgado. Demagogia à parte, foi só isto que aconteceu.

Não recuo um milímetro do que sempre escrevi: se todos os presidentes, governadores e prefeitos do Brasil respondessem a processos rigorosos por corrupção, os inocentes seriam, quanto muito, um em cada cem.

 
Utilizou-se contra Lula um inusitado rigor e os grandes empresários com os quais seu governo se acumpliciou não precisaram de nenhum DOI-Codi para cantarem como passarinhos. Sem nenhum tapa ou choque elétrico, apenas para saírem logo da cana, confessaram até que assaltavam as lancheiras dos colegas no primário. E  devolveram os lanches…   
 
Caso Lula tivesse superado seu lado mitômano, jamais pretenderia ter sido vítima vítima “da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história”. Por que não falar, simplesmente, a verdade? 
 
Seria esta: “Meu governo apenas atuou segundo o figurino de todos os governos do Brasil, recorrendo à corrupção para conseguir aprovar seus projetos no Legislativo e para financiar suas campanhas políticas. Se não prenderam todos os outros governantes deste século e dos séculos passados, mas tão-somente a mim, violentaram escandalosamente a igualdade de todos perante a lei”.
 
Temo que morrerei sem ver um político profissional fazendo tal confissão. Mas, fiel ao rumo que escolhi para minha vida em 1967, continuarei proclamando sempre a verdade, que é revolucionária, e não lorotas convenientes. Devo ter nascido no país errado para adotar tal postura, mas a manterei até o fim.
 
De resto, fica cada vez mais evidente que Lula será o grande trunfo do sistema para o lugar do Bolsonaro, cujo governo derrete a olhos vistos. A contagem regressiva chegará ao fim em semanas, o mais tardar em meses. É isso ou o caos.
Mas, impeachments demoram demais e tanto a crise sanitária quanto a depressão econômica precisam de respostas urgentes, caso contrário o extermínio de coitadezas atingirá proporções inimagináveis.
 

Só vejo uma saída: os que botaram o Bolsonaro no Palácio do Planalto tirarem-no de lá interditando-o por insanidade mental ou forçando-o à renúncia. Nos bastidores da política brasileira, como os bem informados sabem muito bem, os realmente poderosos sempre arrumam um jeito de viabilizar esses passes de mágica.

 
Difícil mesmo seria arrumarem uma desculpa para a entrega imediata  do poder ao Lula. Mas, o objetivo principal –evitar que o Brasil exploda– poderia ser alcançado com Mourão cumprindo o restante do mandato, à frente de um governo de salvação nacional do qual o Lula fosse o principal destaque e cartão de visita.
 
As prioridades, obviamente, seriam:
— reverter  todas as lambanças cometidas por Bolsonaro na área de saúde, fazendo com que nela voltassem a vigorar unicamente os critérios científicos;
— realizar em regime de urgência total a vacinação em massa contra a covid;
— criar opções para a sobrevivência dos desempregados, dos excluídos, dos vulneráveis e dos mais pobres em geral, rudemente golpeados pela pandemia.
 
Ou muito me engano, ou será assim que a ópera bufa acabará, com a conciliação de sempre, as elites desarmando bombas-relógios prestes a explodir e nada realmente se resolvendo. 
 
Na arte de empurrar as crises com a barriga e ir adiando o inadiável mediante gambiarras institucionais, a classe dominante brasileira é uma virtuose. (por Celso Lungaretti) 

 

 

 

 

 




Celso Lungaretti: 'Será Lula o Petain brasileiro?'

Celso Lungaretti

Será o Lula o Pétain brasileiro?

Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain, mais conhecido como Marechal Pétain, foi um herói francês da 1ª Guerra Mundial, aclamado principalmente por sua liderança militar excepcional na Batalha de Verdun, mas que se tornaria colaboracionista com o nazismo no conflito mundial seguinte.
 
Em 1940, com a queda iminente da França, o presidente Lebrun o nomeou primeiro-ministro da França. Pétain logo retiraria o que restava do seu governo para uma região que ainda não havia sido invadida pelas tropas alemãs: a cidade de Vichy e seu entorno. 
 
Solicitou o armistício a Hitler, conformando-se com que a República da França ficasse sob a ocupação direta do inimigo histórico, com exceção do regime de Vichy, que permaneceria como um Estado teoricamente autônomo, mas, na verdade, uma miniatura do nazismo, incluindo a perseguição aos judeus.
 
Condenado à degradação militar e à morte depois da Libertação, Pétain teve sua pena comutada para prisão perpétua em função de seus méritos anteriores e de sua idade avançada (89 anos).
 
É o exemplo histórico mais emblemático do qual me recordo de um grande homem numa fase tornar-se o oposto noutra. Embora Pétain provavelmente acreditasse estar prestando serviço aos franceses ao evitar que uma parte deles ficasse sob a dominação direta de Hitler, o fato é que seu regime fantoche só se diferenciava do das nações ocupadas pela terceirização da tirania nazista, já que os locais se incumbiram do serviço sujo.
 
Não especularei sobre os motivos que levam o ex-presidente Lula a estar agindo de forma parecida desde que foi libertado em novembro de 2019. O certo é que ele tudo tem feito para evitar que a esquerda brasileira assuma firmemente a bandeira do impeachment de Jair Bolsonaro:

— quando, mais do que nunca, deveria pacificar e unir a dita cuja, continuou insistindo em manter a postura imperial e arrogante do PT que é um enorme estorvo para qualquer tentativa de formação de uma frente abrangente de todos que estão contra o pior presidente do Brasil de todos os tempos;

— boicotou as manifestações de secundaristas e torcedores de futebol que reconquistaram as ruas para o nosso lado, contribuindo para que o mentecapto decidisse moderar seu golpismo e voltar para os braços do Centrão, com o ônus de ter sido obrigado a abrir mão de bandeiras que ainda lhe davam alguma aura de idealismo, como o combate à corrupção e à velha política
— explicita ou veladamente, Lula tem sempre desestimulado o impeachment do genocida e favorecido a inconcebível permanência do dito cujo no cargo até janeiro de 2023 (como se a explosão social que ele está incubando não fosse ocorrer muito antes disso!);
— acaba de unir forças com o bolsonarismo na eleição para presidente do Senado.
Não vou embarcar em teorias da conspiração incomprováveis, mas a mim parece bem claro que Lula voltou à cena política para salvar o PT e não para livrar o Brasil do celerado que o está destruindo.
É possível que Lula não tenha pactuado com o inimigo e que suas decisões deploráveis e aparentemente incompreensíveis se devam ao fato de ter como aspirações máximas as que convém ao seu futuro político, mas não, necessariamente, ao do Brasil: sua reabilitação judicial e conquista do 3º mandato. E, seja o que for que as inspire, a consequência prática de suas posturas acaba sendo o pior possível.
Assim, o Lula pavimentou o caminho para a vitória do demente em 2018, puxando o tapete de Ciro Gomes (o que detonou as chances de união da esquerda em torno de uma candidatura única) e desperdiçando tempo precioso com a palhaçada da candidatura fantasma, que até as pedras das ruas sabiam ser insuficiente para mudar a decisão do TSE.
 
E agora chega ao ponto mais baixo de sua trajetória, exatamente num ano em que são enormes as possibilidades de salvarmos brasileiros da infinidade de mortes inúteis causadas: 
— pela administração catastrófica da pandemia de covid-19 (pois, apesar da vacinação enfim ter começado, a forma caótica como está sendo feita retardará por vários meses a imunidade de rebanho); e 
— pela devastação econômica decorrente da adoção de políticas simplesmente insanas, que tende a acentuar-se cada vez mais ao longo de 2021. 
Ou seja, fazendo exatamente o jogo desse sórdido inimigo a quem convém magnificar o pleito distante para desviar a atenção das desgraças atuais, Lula incumbe Fernando carisma zero Haddad de sair pelo Brasil trombeteando a candidatura petista para a eleição de 2022.
 

Novamente Haddad é escolhido como candidato-estepe, pois Lula também deve estar ciente de que sua candidatura nem desta vez será consentida, como antecipou a Mônica Bergamo e eu reproduzi. Se acontecer o improvável, Lula é quem vai ser o candidato e o Haddad ficará chupando o dedo.

 
Então, quando muitos contingentes de esquerda se mostram dispostos a não trair seus princípios e travar o bom combate que ora se impõe, Lula faz uma verdadeira chantagem com todos partidos e forças do nosso lado, contando com que, por medo de perder o trem da História, eles adiram à candidatura petista ou lancem desde já outro candidato.
 
Nos dois casos, isso contribuirá para mudar o foco da esquerda, do flagrantemente imperativo (o afastamento do sociopata com a máxima urgência) para o absolutamente irrelevante neste momento (a eleição que, se não for levada de roldão pela explosão social, ocorrerá daqui a 20 intermináveis meses).
 
De minha parte, não tenho mais nenhuma dúvida de que as prioridades máximas da esquerda, no curto prazo, sejam derrubar Bolsonaro e superar Lula, as duas faces da moeda do populismo que é uma âncora do atraso nos impedindo de avançar para estágios superiores de civilização. (por Celso Lungaretti)

 

 

 

 

 

 

 




Celso Lungaretti: 'Ao avistarem um apedrejamento, muitos apanham pedras também, mas os dignos se colocam entre os linchadores e seu alvo'

Celso Lungaretti

Uma última palavra sobre as desculpas do Lula por ter libertado o perseguido político que jamais quis libertar

Fiquei muito satisfeito em ver publicado pelo Observatório da Imprensa o meu desagravo ao Cesare Battisti diante das deploráveis declarações do Lula a seu respeito (vide aqui).  

Pois nunca o jogo da formação de opinião foi tão desequilibrado como hoje em dia, inclusive desencorajando alguns que tinham o dever moral de ir contra a corrente avassaladoramente dominante, mas preferiram não queimar seus filmes com o sistema do qual, no fundo, fazem parte, ainda que cultivando a imagem de rebeldes.

Houve, do outro lado, uma enxurrada de textos aplaudindo o posicionamento do Lula (ou recriminando-o por só agora tê-lo tomado), como se fosse uma grande novidade e não mais do mesmo

Tão pouco solidário ele sempre foi ao Cesare que, tendo o acórdão do Supremo que confirmava caber a ele a última palavra sobre o caso sido publicado em 16 de abril de 2010, o Lula só foi dar sua decisão em 31 de dezembro de 2010, oito meses e meio depois


Para um preso político, o que Battisti jamais deixou de ser, tal espera equivaleu a uma tortura a mais, e das piores! 

Mas Lula não hesitou em deixar o Cesare mofando na prisão apenas para que a sua decisão não fosse objeto de críticas adversárias na campanha eleitoral daquele ano. Tal é o homem e tais são suas prioridades…

E tratou do assunto com tal desleixo que a última edição de 2010 do Diário Oficial da União já estava pronta e teve de ser remanejada à última hora, com a retirada de outro texto qualquer, para que ela ainda fosse publicada durante a presidência de Lula.

Quem terá se lembrado, na enésima hora, desse pequeno detalhe? O Gilberto Carvalho? O Tarso Genro? O Suplicy? Lula estava esquecendo de fazer a lição de casa porque não dava a mínima ou porque preferia mesmo esquecer? Os historiadores talvez um dia nos esclareçam…

Vale acrescentar, aliás, que o Lula estava sendo perfeitamente coerente com a postura por ele adotada a partir da década de 1980, tudo fazendo para expelir do PT tendências de esquerda como a Libelu e a Convergência Socialista.


Então, como meus artigos não são reproduzidos nem nos espaços da direita (aí incluídos os veículos da grande imprensa, todos eles burgueses na sua essência, embora alguns tentem convencer-nos de que não têm o rabo preso com o poder econômico) nem nos que oscilam na órbita do PT ou evitam contrariá-lo, foi auspicioso ter sido rompido desta vez o monolitismo. 

É assim que eu avalio não só a publicação no OI, como também as no Direto da Redação (vide aqui), no site do escritor Cláudio Tognoli (vide aqui) e no jornal ROL (vide aqui): são valiosos contrapontos, respiradouros que deixam passar a verdade.

Lembro-me do imenso amargor que senti nos anos de chumbo, quando afinal saí dos cárceres da ditadura militar e tomei conhecimento de todas as afirmações equivocadas ou simplesmente mentirosas que os muy amigos haviam feito a meu respeito quando eu estava impossibilitado de apresentar minha versão dos acontecimentos. 

Então, jamais deixaria de me posicionar face às declarações OPORTUNISTAS e COVARDES do Lula, nem que fosse apenas no meu blog e pouco me importando com quantas outras retaliações viesse a receber (já foram tantas ao longo dos tempos…).


De resto, registro que o Carlos Lungarzo teceu suas considerações sobre o assunto neste post, na linha de defender a imagem do Cesare sem criticar o Lula, por quem continua tendo grande admiração. 


E, por último, abro um espaço para o sindicalista Magno de Carvalho, que foi extremamente dedicado ao Cesare e, inclusive, o responsável por ele ter escolhido Cananeia (litoral sul paulista) para morar, pois lá, como vizinhos, poderia prestar-lhe assistência mais efetiva.

É que o Magno também escreveu um artigo, mas ele não aparece em nenhuma busca virtual, pois foi ao ar tão-somente no Facebook.

Então, embora haja nele trechos que eu não subscrevo, publico-o abaixo na íntegra, para que também possa ser acessado pelos eventuais interessados em conhecer o outro lado, o dos apoiadores do Cesare, que a grande imprensa omitiu escandalosamente.


Fala de duas decepções, uma primeira que não passa de jogo de cena e a outra bem real e cada vez maior. 


Ou tal ficha cai finalmente para a esquerda brasileira, ou muitos outros desastres virão… (por Celso Lungaretti)   

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magno de carvalho

A DECEPÇÃO DE LULA COM BATTISTI

 E A NOSSA DECEPÇÃO COM LULA!

Lula afirmou, num programa de debates no último dia 20, que ficou decepcionado com o fato de Cesare Battisti ter admitido sua participação na morte de quatro pessoas nos anos de chumbo (anos 70) na Itália.


Nesta época, Cesare Battisti juntamente com milhares de trabalhadores e jovens, participou da luta armada contra o governo e paramilitares que implantaram um regime de terror na Itália, que prendeu e matou milhares de pessoas.


Cesare tinha vinte e poucos anos e integrou uma das mais de cem organizações armadas o PAC – (Proletários Armados pelo Comunismo).

Os quatros mortos em questão eram: um militar, um carcereiro e dois paramilitares assassinos e torturadores. Cesare assumiu sua participação, negando-se a entregar qualquer companheiro.

Será que Lula esquece-se de que não só na Itália mas também no Brasil nos anos 70, milhares de trabalhadores e jovens se levantaram em armas contra uma ditadura militar que também prendeu, torturou e matou centenas ou milhares de lutadores?

Será que Lula também esqueceu que aqui os que lutaram com armas na mão contra a ditadura e foram presos e sobreviveram, acabaram sendo absolvidos por uma anistia ampla geral e irrestrita, mesmo aqueles julgados por mortes de militares e agentes da repressão do Estado terrorista?

Será que Lula esquece que, além de anistiados, muitos destes lutadores ainda receberam e recebem reparação econômica pelos danos causados pela perseguição naqueles anos terríveis?

Reparações pagas desde o governo de FHC, no seu próprio governo, assim como no da Dilma, que também participou da luta armada?

Será que Lula esquece ou não sabe que muitos destes lutadores que foram julgados pelos chamados crimes de sangue ajudaram a construir o Partido dos Trabalhadores?

Lula fala de sua de sua decepção com o companheiro perseguido por 40 anos por sua luta e que hoje cumpre uma absurda prisão perpétua numa solitária e ainda diz que a esquerda brasileira também está decepcionada com Cesare Battisti.

Mas Lula sabe que uma grande parte da verdadeira esquerda, assim como uma grande parte dos trabalhadores e do povo pobre do país, está há muito tempo decepcionada com ele.

Infelizmente, esta decepção ajudou em muito a eleição do fascistoide que governa este país. (por Magno de Carvalho (foto ao lado), diretor do Sintusp e membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas).

 

 

 




Lula, ataca quem está preso na Itália mas deixou que secundaristas e torcedores de futebol agissem contra Bolsonaro em lugar do PT

Celso Lungaretti

Lula faz autocrítica, mas não a que está nos devendo há anos e realmente ajudaria agora

O ex-presidente Lula, numa entrevista à TV Democracia, pediu desculpas à esquerda italiana e às famílias das supostas vítimas de Cesare Battisti. Mas esqueceu de dizer muitas coisas, então, a bem da verdade, vou colocar os pingos nos is.

Em meados de 2008 recebi telefonema de Brasília, de um participante do Comitê de Solidariedade a Battisti, apelando-me para que entrasse naquela batalha de opinião pública. 

Aceitei de imediato. Não o fizera antes porque nunca tive compulsão por holofotes e acreditava que outros esquerdistas já lhe estariam fornecendo suficiente apoio. Mas, tenho a solidariedade revolucionária como um valor sagrado; quando recorrem a mim e eu tenho uma contribuição a dar, jamais a nego. 

Então, ao tomar conhecimento de que um único jornalista (Rui Martins) vinha sistematicamente refutando as falácias da imprensa burguesa a respeito do Battisti, mas o fazia desde a distante Suíça, percebi que faltava alguém complementando seus esforços no palco principal dos acontecimentos.

Ignorava se o Battisti era ou não culpado do que o acusavam, mas sabia que:

— o governo italiano cometera um rosário de ilegalidades durante os anos de chumbo, atuando com tendenciosidade e rigor extremos contra os ativistas de esquerda e empenho bem menor contra os responsáveis pelos grandes morticínios causados pela direita, como o massacre de Bolonha (85 mortos e mais de 200 feridos) e o atentado da Piazza Fontana (17 mortos e 88 feridos), havendo até hoje questionamento sobre provável acobertamento dos mandantes;

— 29 anos depois do último dos quatro assassinatos dos Proletários Armados pelo Comunismo cuja culpa foi atirada nas costas de Battisti, tendo ele desistido da política, constituído família e se consagrado como escritor, era uma perseguição odiosa a que lhe moviam Berlusconi e seus neofascistas, obcecados em obterem um troféu impactante para exibir; e

Bolonha: pior massacre dos anos de chumbo italianos

— seria a hipocrisia suprema o Brasil extraditar Battisti após ter abrigado carrascos como o coronel haitiano Albert Pierre (que, chefiando os Tonton Macoutes, fora responsável por mais de 500 episódios de assassinatos e torturas) e o ditador paraguaio Alfredo Stroessner. 

No primeiro contato pessoal que tive com Papuda (vejam aqui as minhas impressões), tive absoluta certeza de que ele não era homem capaz de matar ninguém. Na luta armada brasileira e depois, na carreira jornalística, conhecera muitos que o eram e havia gritante diferença. O muito que li posteriormente sobre o caso e sobre a montagem do segundo julgamento italiano (no qual, à revelia, foi agravada sua pena) só veio confirmar minha intuição inicial.

No entanto, após o pusilânime Evo Morales cometer suicídio moral, entregando-o à Itália como René Barrientos entregara Che Guevara à CIA, Battisti, já bastante abalado pela perseguição sem fim em que se tornara sua vida, fez uma barganha podre com a Justiça italiana. 

Aceitou admitir a culpa por homicídios pelos quais fora condenado sem provas reais em troca de bom tratamento na prisão, com direito a receber o apoio da família, comunicar-se amiúde pelos meios eletrônicos com o filho brasileiro e escrever seus livros (estes pontos acordados nem sequer estariam sendo cumpridos pelas autoridades italianas, segundo ele se queixa nas suas cartas recentes!). 

De que sua surpreendente confissão de culpa foi fajuta, não tenho a mais remota dúvida. Afinal, é público e notório que, dos quatro assassinatos que delatores premiados cometeram e lhe imputaram para serem libertados o quanto antes, dois foram praticamente simultâneos, não havendo nenhuma possibilidade material de ele estar presente em ambos. Por que haveria ele de confessar até um crime que não poderia ter cometido de jeito nenhum?

Candidatura fantasma: confusionismo e perda de tempo

Quanto a Lula, que sempre se colocou na contramão de uma transformação em profundidade da sociedade brasileira, preferindo apenas negociar pequenas concessões com o poder burguês e por meio delas garantir o voto dos coitadezas (tanto que já na década de 1980 tudo fazia para expurgar as tendência de esquerda que atuavam dentro do PT), não é de hoje que ele está contra Battisti.

Como principal porta-voz do comitê de solidariedade no Brasil, muitas vezes eu recebia informações sigilosas de companheiros jornalistas, indignados com o jogo de interesses políticos e econômicos nos bastidores do caso. Então, tive informação segura de que:

— o Lula estava disposto a lavar as mãos e omitir-se, caso o STF decidisse por si só extraditar Battisti; 

— mas, se a decisão final lhe coubesse, ele vetaria a extradição, porque não queria indispor-se com alguns dirigentes influentes do PT para os quais rechaçar as pressões italianas era uma questão de honra.

O desespero do ministro Gilmar Mendes quando seu colega Ayres Britto votou a favor de que a última palavra coubesse ao presidente da República, como sempre foi a tradição brasileira, serviu como atestado eloquente de que a informação que eu havia recebido era correta. 

Tão transtornado Mendes ficou com tal posicionamento que chegou a ser grosseiro em plenário com o Ayres. Por que? Porque sabia que aquele voto era decisivo (ou seja, estava ciente das intenções do Lula).

De resto, ao invés dessas desculpas perfeitamente dispensáveis acerca do Caso Battisti, o que Lula está nos devendo é uma autocrítica pelos erros fatais cometidos ao longo da atual década:

Manifestantes de 2013 foram abandonados à sanha dos inimigos

—começando em 2013 pelo abandono dos manifestantes do Passe Livre que foram triturados por polícias e judiciários estaduais reacionários, ante a indiferença do PT, o que levaria adiante à perda das ruas e à reação pífia quando do impeachment da Dilma; e

— terminando por haver inviabilizado a união da esquerda contra Bolsonaro na eleição presidencial, além de ter desperdiçado tempo precioso com sua ridícula candidatura fantasma, dando mais importância à obtenção de uma espécie de desagravo por suas condenações do que ao imperativo de salvar os brasileiros do pesadelo neofascista que se prenunciava.

Isto para não falar de haver reduzido o PT a uma caricatura de partido oposicionista, a ponto de recusar-se a enfrentar nas ruas a escalada golpista do Bolsonaro em maio/junho últimos, deixando que secundaristas e Gaviões da Fiel fossem correr riscos em seu lugar. (por Celso Lungaretti)

 

 

 

 

 




Celso Lungaretti: 'O EPISÓDIO DA INCONTINÊNCIA VERBAL DO LULA SOBRE A COVID-19 COMPROVA A NECESSIDADE DE A ESQUERDA TRANSCENDER O PETISMO'

Celso Lungaretti

ato 1

LULA FAZ A AFIRMAÇÃO MAIS DESASTRADA

DE SUA VIDA INTEIRA: “AINDA BEM QUE 

NATUREZA CRIOU O CORONAVÍRUS”. 

Quando eu vejo essas pessoas acharem que tem que vender tudo que é público e que tudo que é público não presta nada… 


Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus, porque esse monstro está permitindo que os cegos enxerguem, que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises.

Enxugada a verborragia do Lula, sobra exatamente isto: “Ainda bem que a natureza criou o coronavírus, [para] que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”


Calado, o Lula é um poeta. 

A definição mordaz que Romário deu de Pelé cairá melhor, a partir de agora, para o Lula, depois das impropriedades e inconveniências que ele conseguiu condensar em 64 palavras, durante entrevista à Carta Capital desta semana. Pior, impossível! Superou de longe “o brasileiro não sabe votar” do Pelé. Se não, vejamos:

1. É um desrespeito à memória de dezenas de milhares de brasileiros mortos pela Covid-19 (a contagem de cadáveres oficial já se aproxima de 20 mil óbitos, mas a real dificilmente será inferior a 100 mil) e à dor de seus parentes e amigos. Já não bastava o “E daí?” do Bolsonaro?!

2. Mesmo que a peste venha a nos livrar do Bozo, como tudo indica que sucederá, ainda assim não seria o caso de dizermos “ainda bem que ela ocorreu”. Deveríamos ter sido capazes de expulsar o bode da sala por nossos próprios méritos, não como consequência de uma tragédia humanitária.

3. Como pode o quadro mais influente de um partido passar tal recibo de impotência, ao reconhecer que sua agremiação seria incapaz de fazer o povo enxergar algo caso um monstro não lhe desse uma forcinha?  Ora, se o atingimento dos objetivos depende de ocorrências tão raras quanto uma pandemia, é melhor dispensar os dirigentes e tentar convencer Deus a tomar-lhes o lugar…

4Quando o PT atravessa seu pior momento desde a fundação, aproximando-se a passos largos da irrelevância, Lula faz uma desnecessária e inoportuna profissão de fé no Estado, colocando-se na contramão tanto do anarquismo quanto das várias correntes marxistas que acreditam na abolição do Estado como uma das premissas da libertação definitiva da humanidade (pois esta teria como estágio final uma sociedade sem patrões, sem classes, sem Estado, sem nações, sem forças armadas e sem burocracias parasitárias com poderes discricionários, na qual os seres humanos colaborassem volutaria e solidariamente para o bem comum).

Num momento em que o Bozo multiplica as demonstrações de desumanidade, agredindo com perturbadora frequência a sensibilidade do povo brasileiro, o que menos precisávamos é de uma incontinência verbal do Lula na mesma direção. Deveria ter seguido o sábio conselho que o rei Juan Carlos deu certa vez ao Chavez: “Por qué não te callas?”. (por Celso Lungaretti)

ato 2
A EMENDA DO LULA FOI MELHOR DO QUE O SONETO
NO QUESITO “DESUMANIDADE”, MAS SUA 
ESTATOLATRIA PERMANECEU.

Face à enxurrada de críticas que despencou sobre o Lula por haver dito que o coronavírus permitiu que os cegos enxergassem (vide aqui), ele mais tarde se desculpou, afirmando que sua frase havia sido “totalmente infeliz” ao dar a  impressão de que ele estaria “comemorando a pandemia”.

Mas, no afã de justificar-se, fez uma verdadeira profissão de fé estatólatra, mostrando mais uma vez que está muito longe dos valores originais marxistas e muito próximo dos desvios autoritários  que os descaracterizaram no século passado: “Eu queria dizer que o Estado –e somente o Estado– é capaz de resolver questões que o mercado não vai resolver”. 

Parece jamais lhe passar pela cabeça que tais questões possam ser resolvidas pela cooperação solidária e voluntária dos seres humanos, sem patrão e sem Estado. 


Parece jamais lembrar-se do magnífico exemplo dos mutirões do seu Nordeste natal, como se o patrão capitalista só pudesse ser substituído pelo Estado patrão e ao povo fosse vedado, por algum 11º mandamento que não é encontrado em Bíblia nenhuma, dispensar ambos os patrões.

Cada um tira dos acontecimentos a lição que suas convicções lhe permitem enxergar. 


As minha é bem diferente da do Lula: homens livres de todos os grilhões, acostumado a resolverem seus problemas em conjunto, ajudando uns aos outros, e que não sofressem a brutal exploração do capitalismo brasileiro, adeririam de pronto ao distanciamento e às demais medidas necessárias para se reduzirem a devastação e as perdas humanas causadas pela Covid-19. 


E, o mais importante: teriam condições materiais para fazê-lo, pois não dependeriam do trabalho do dia para botarem comida na mesa familiar à noite nem viveriam amontoados em moradas tão precárias e exíguas, verdadeiros acintes à dignidade do ser humano. 


Em sua estreiteza de visão de quem não ousa admitir o imperativo da superação do capitalismo, Lula esquece que, com o quadro trágico da miserabilidade que é imposta à maioria do povo brasileiro, mesmo que o SUS não houvesse sido sucateado seria impossível reduzir-se substancialmente a abrangência da contaminação e a letalidade da peste (por Celso Lungaretti)

 

 

 

 

 

 




Celso Lungaretti: 'Como ficarão o Brasil e a esquerda após o bode ser retirado da sala'

Celso Lungaretti

Como ficarão o Brasil e a esquerda após o bode ser retirado da sala

Já dá para enxergarmos a luz no fim do túnel: a tentativa de imporem ao Brasil um retrocesso de séculos na marcha para a civilização esfarela a olhos vistos. 

 Não serão os mais predatórios dos capitalistas selvagens,  os mercadores da fé que trocaram a Bíblia pelo Evangelho da Prosperidade, os obscurantistas que ecoam os disparates de um astrólogo picareta,  os frutos tardios do tenentismo e do integralismo ou os milicianos homicidas que determinarão nosso futuro; somos nós, os decentes e civilizados, que o construiremos.
O quadro que se desenha é o seguinte: o Jair Bolsonaro, cuja total falta de condições psíquicas e intelectuais para o exercício do cargo que um destino insólito lhe jogou no colo está sendo escancarada pelas crises sanitária e econômica, vai se tornar cada vez mais errático, tempestuoso, destrutivo e autodestrutivo, até tornar imperativo o seu afastamento imediato.  
Isto tende a acontecer ainda em 2020, ascendendo então ao governo uma composição de forças políticas de centro-esquerda, centro e centro-direita. O pacto dos governadores contra o presidente negacionista já é um embrião desse arco de forças centrista.
E será dessa composição que vai sair o próximo presidente eleito. Por enquanto, quem desponta com mais força são o Rodrigo Maia, o Flávio Dino,  o João Dória e o Ciro Gomes. 

Uma incógnita é se o Sergio Moro vai entrar nesse balaio ou se tornará o líder da direita intransigente.

Outra, se o Lula conseguirá manter o PT aferrado ao populismo de esquerda que caducou na atual década ou o Fernando Haddad o conduzirá para a composição centrista. 

No primeiro caso, vai consumar sua trajetória para a irrelevância. No segundo, terá chance de sobreviver politicamente, mas não como força majoritária da esquerda; tal página da História já foi virada, embora a ficha demore a cair para alguns.

No cenário futuro que delineei, não vejo motivo para apoiar ninguém. Minhas simpatias pessoais, claro, iriam para o Flávio Dino e o Ciro Gomes. Mas, está claro para mim que não são os santos milagreiros capazes de tornar a democracia burguesa algo além do tapume que encobre a dominação do poder econômico.
Nossa prioridade absoluta é a depuração e reconstrução da esquerda, que precisa libertar-se das ilusões democrático-burguesas e, pouco a pouco, ir resgatando sua credibilidade e combatividade.
O norte da esquerda tem de ser uma atuação em escala nacional na defesa dos interesses dos explorados, participando intensamente de suas lutas cotidianas, de forma a ir acumulando forças até voltar a ser capaz de apresentar-se como alternativa de poder.
Colocar seus representantes em posições de destaque no Executivo e Legislativo é secundário, pode no máximo ter utilidade tática, pois se trata do que a esquerda vem fazendo desde o advento da Nova República sem conseguir realmente mudar o Brasil, que continua sendo um dos países mais desiguais do planeta e sempre tendente ao autoritarismo. 
As conquistas obtidas nos períodos em que os donos do PIB consentiram que a esquerda populista gerenciasse a dominação burguesa em troca de algumas migalhas do banquete dos poderosos não passaram de miragens: o poder de facto as revogou como quis e quando bem entendeu.

Então, seremos os piores cegos se continuarmos não querendo ver que nada de permanente obteremos em favor dos explorados atuando como coadjuvantes do reformismo e dos jogos de carta marcada eleitoreiros. Estaríamos apenas os coonestando.

 Temos de caminhar por nossas próprias pernas de novo, fixando como objetivo final a construção de uma sociedade que priorize o bem comum e a cooperação solidária entre os seres humanos para que todos obtenham seu quinhão das conquistas da civilização, podendo então usufruir da verdadeira liberdade (aquela que não é limitada pela insuficiência do necessário para uma sobrevivência digna).
Esta, claro, será uma longa caminhada. Mas, é melhor darmos logo o primeiro passo do que continuarmos patinando sem sair do lugar, como vimos fazendo desde 1985. (por Celso Lungaretti)