Peça 'Hotel Mariana' é atração do Sesi de Itapetininga

 

INSPIRADO NA MAIOR TRAGÉDIA AMBIENTAL DO BRASIL, ESPETÁCULO HOTEL MARIANA CHEGA AOS PALCOS DO SESI ITAPETININGA

 

Da professora do grupo escolar ao velho da folia de reis, do ativista à aposentada que escreve poemas, os sobreviventes do rompimento das barragens de minérios em Mariana (MG) traçam um panorama da tragédia que abalou o país.

 

Fotos: goo.gl/qRiiYm

 

O SESI Itapetininga recebe nos dias 9 e 10 de março, sexta e sábado, às 20h, o teatro documentário Hotel Mariana, inspirado na maior tragédia ambiental do Brasil (2015), com passagens relatadas por quem esteve lá. A entrada para as duas apresentações é gratuita e os ingressos podem ser reservados pelo Meu SESI www.sesisp.org.br/meu-sesi

O rompimento das barragens de minérios em Mariana (MG), com cerca de 55 bilhões de litros de lama espessa, atingiu dois distritos rurais, matando 19 pessoas e deixando milhares desabrigadas. O vazamento provocou a morte do Rio Doce e danos ambientais que se estenderam aos estados do Espírito Santo e da Bahia. Ao todo, 39 cidades foram afetadas e 11 toneladas de peixes foram mortos.

Indicado ao Prêmio Shell 2017, Hotel Mariana utiliza a técnica verbatim, um tipo de teatro documentário que reproduz no palco as palavras exatas de depoimentos reais. O material coletado é editado com a intenção de transmitir uma mensagem particular e dar sentido narrativo. Durante a apresentação, os atores usam fones de ouvido e reproduzem instantaneamente o que estão ouvindo. O objetivo, com isso, é atingir um grau de fidelidade que se aproxime da essência de cada entrevistado, com todas as suas características e detalhes de fala. Relatos perturbadores, surpreendentes e emocionantes são colocados no palco e evidenciam a simplicidade de pessoas que perderam tudo ou quase tudo o que tinham.

SERVIÇO

Local: SESI Itapetininga – Av. Padre Antônio Brunetti, 1360 – Vila Rio Branco

Datas e horários: 9 e 10 de março, sexta e sábado, 20h

Capacidade: 246 lugares 6 para cadeirantes

Duração: 65 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

Modalidade: Adulto

Gênero: Teatro Documentário

Informações: (15) 3275 7920

Entrada gratuita – Os ingressos serão distribuídos 1 hora antes do início do espetáculo.

 




Matéria de Reinaldo Canto: 'Pesquisa revela dano à imagem da Samarco'

Pesquisa anual mostra que, para os brasileiros, a mineradora é a empresa que mais causa danos ambientais no Brasil

por Reinaldo Canto

Fred Loureiro/ Secom ES/Fotos Públicas
Desastre de Mariana

A maior tragédia ambiental de nossa história tem na mineradora Samarco a principal responsável por reduzir ainda mais a credibilidade do setor privado

O desastre de Mariana, ocasionado pela mineradora Samarco, parece ter impactado o olhar dos brasileiros sobre a atuação do setor privado em relação à responsabilidade socioambiental. Essa é a impressão do relatório publicado anualmente pela Market Analysis, intitulado “Ranking de Sustentabilidade Empresarial – Melhores e piores empresas em responsabilidade socioambiental aos olhos dos brasileiros”.

A pesquisa realizou mais de 900 entrevistas em 11 das principais capitais brasileiras, entre elas, Rio, São Paulo e Brasília, entre janeiro e fevereiro deste ano, com pessoas com idades que variavam de 18 a 69 anos.

O que ficou bastante destacado no relatório deste ano foi uma visão mais negativa na atuação do setor privado em relação aos levantamentos em anos anteriores. Segundo a conclusão dos organizadores da pesquisa, a citação espontânea que identificava empresas com ações positivas e sustentáveis caiu pela metade.

Isso demonstra que desde o início dos levantamentos em 2000, os entrevistados confiavam mais na iniciativa privada para responder aos desafios da sustentabilidade.

Se a tendência de desconfiar das empresas já se consolidava, a maior tragédia ambiental de nossa história em Mariana tem na mineradora Samarco a principal responsável por reduzir ainda mais a credibilidade do setor privado.

Nesse caso, é interessante notar que a pesquisa constatou uma maciça rejeição a Samarco, mas poupou uma das suas principais acionistas, a empresa Vale (classificada em segundo lugar como uma das empresas mais responsáveis ambientalmente).

Trata-se de uma clara demonstração de que a maneira como a imprensa fez a cobertura da tragédia e até mesmo o modo como as pessoas absorviam as notícias pode ter contribuído para condenar uma (a Samarco) e a absolver ou pelo menos poupar a outra (a Vale).

Outro aspecto que pode entrar nessa conta é o trabalho histórico da marca Vale em divulgar suas iniciativas socioambientais, o que contribuiu para manter essa reputação de empresa “amiga da natureza”.

Para Fabián Echegaray, fundador e diretor-geral da Market Analysis, essa nova percepção da sociedade de mostrar maior desconfiança em relação ao setor empresarial baseia-se também em outros inúmeros fatos desabonadores que, ao longo dos anos chegaram ao conhecimento do público.

Entre eles, os escândalos envolvendo empresários e empresas; inúmeros casos de desrespeito aos direitos dos consumidores; situações de irresponsabilidades e crimes ambientais; infrações aos direitos legais de funcionários e trabalho escravo e mesmo as que fizeram referência a produtos alimentícios prejudiciais à saúde humana, entre outros.

“Essas visões se acumularam nos últimos anos erodiram a confiança nas empresas como agentes de mudança positiva”, afirma Fabián.

O diretor-geral da Market ainda ressalta que tem ocorrido uma mudança em outro sentido: “De fato o que notamos é um movimento para uma maior internalização ou autorresponsabilização individual por concretizar avanços sustentáveis, num plano mais cotidiano e palpável para as pessoas, e apostando menos na via do mercado”.

Esse “empoderamento” dos indivíduos quanto a sua responsabilidade socioambiental também não significa uma redução na cobrança ou expectativas por um comportamento mais responsável das empresas, “apenas que a visão benevolente do mundo empresarial como alavanca da sustentabilidade ficou prejudicada”, apontou Fabián.

Algo que ficou bem demonstrado pela evolução dessa pesquisa é a importância da mídia e de nós comunicadores, para exercermos com isenção, responsabilidade e profundidade nosso papel de fornecer à sociedade os elementos necessários para que ela possa se informar corretamente.

Dessa maneira, as pessoas serão capazes de refletir, emitir suas opiniões e dar a necessária e relevante contribuição para consolidar a nossa democracia e trilhar os caminhos de um mundo mais justo e sustentável.




Artigo de Celio Pezza:'O desastre de Mariana'

Celio Pezza: Crônica # 290: O desastre de Mariana

 

Colunista do ROL
Celio Pezza

O rompimento da barragem em Mariana-MG, em 05 de novembro de 2015, já é considerado um dos maiores desastres ecológicos do mundo, com consequências terríveis para toda a região por muitas dezenas de anos.

De acordo com o Relatório Anual de Sustentabilidade, a produção da mineradora gerou no ano passado, perto de 22 milhões de toneladas de rejeitos e o seu lucro no mesmo período foi de R$2,8 bilhões de reais.

O rio Doce morreu e o solo de toda região está contaminado por uma série de metais pesados, alguns cancerígenos e de vida extremamente longa na natureza.

A lama mortal atravessou milhares de quilômetros e atingiu o litoral, destruindo também a vida marinha.

Este episódio mostra o quanto a União e os estados brasileiros estão subordinados aos interesses das mineradoras, sob o discurso de manter um superávit primário.

Além da degradação ambiental, existem casos de evasão de divisas, sonegação de impostos, falta de controle sobre o que foi realmente extraído e comercializado no mercado internacional e outros crimes.

Apesar de tudo, o setor recebe incentivos fiscais para novos empreendimentos.

No caso desse desastre, a Samarco Mineração pertence a Vale (50%) e à inglesa-australiana BHP (50%), duas das maiores empresas de mineração do mundo.

De acordo com relatórios da Samarco, em 2014 faturaram perto de R$7,6 bilhões e investiram em meio ambiente cerca de R$80 milhões, ou seja, perto de 1% do faturamento.

A mineradora também aparece como uma grande financiadora de campanhas politicas de 2014, contribuindo com perto de R$48 milhões para diversos partidos.

Poucos dias depois da tragédia, a presidente Dilma assina o decreto 8.572, de 13 de novembro de 2015, onde passa a “considerar como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens, que ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais”, para que os atingidos possam sacar recursos do FGTS.

A subprocuradora Sandra Cureau, que atua na área de Meio Ambiente da Procuradoria-Geral da Republica, criticou o decreto, pois isso pode ser usado pela Samarco, alegando que se foi causa natural, não é de responsabilidade de ninguém.

Ela ressaltou que a liberação do FGTS já desvirtua o objetivo do fundo, que não poderia ser utilizado para reparar danos que são responsabilidade da mineradora.

É no mínimo um decreto infeliz, ainda que a intenção tenha sido boa.

Ainda de acordo com a subprocuradora, “a presidente não pode editar um decreto dizendo que um quadrado é redondo, que uma laranja é azul. Esse desastre não é natural”.

 

Célio Pezza

Novembro, 2015




O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto.

Mariana: Essa não é uma tragédia ambiental

 

O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto

por Reinaldo Cantopublicado 18/11/2015 12h57
Antonio Cruz/ Agência Brasil
Mariana (MG)

O distrito de Bento Rodrigues, na zona rural de Mariana (MG), foi completamente encoberto por lama após o rompimento da barragem

O rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, em Mariana (MG), é mais um entre muitos exemplos do desleixo e da falta de responsabilidade que congrega e une todos os setores direta e indiretamente envolvidos com a fiscalização e o licenciamento ambiental no Brasil.

A destruição ainda está longe de conseguir ser devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a se espalhar, sepultando em seu caminho rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.

A multa de 250 milhões de reais aplicada recentemente pelo governo federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção, evitando o caos. Atividades suspensas, novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse acontecimento.

Para piorar, o Congresso, que deveria estar atuando para impedir casos semelhantes, está a discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de grandes obras.

Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número 654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura “estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à exploração de recursos naturais.

Para o advogado do ISA, isso significa que “as obras com maior potencial de causar significativos danos socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores controles e prevenção”.

Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto, mas não é. Até porque historicamente, quaisquer medidas compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue prevalecer em detrimento do futuro.

O circo de horrores provocado pela lama da Samarco está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos contemplar com novos capítulos. Empenho não deverá faltar.

O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal e não como ambiental.

Para muitos, a tragédia ambiental ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a sua inverdade no caso da Samarco. Tragédias que matam pessoas, destroem casas, sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim.