Mais um grande nome no já excepcional time de colunistas do ROL: GONÇALVES VIANA

GONÇALVES VIANA: O NOVO CRAQUE NO TIME DO ROL!

 Gonçalves Viana, aliás, Aparecido Gonçalves Viana, nasceu em Itatinga (SP) em 1944, aos 2 anos de idade, sua família mudou-se para Sorocaba, onde vive até os nossos dias. É Projetista Mecânico por profissão e – sente ainda certo pudor em afirmar – “poeta por dileção”. Gosta muito de música (embora não toque nenhum instrumento musical) e de declamar poesias. É membro fundador da “Associação Cultural Coesão Poética” de Sorocaba (SP), e também do grupo cultural Sorocult. Participou ainda do Instituto Literário Paulo Tortello-Poesia em Debate e de vários eventos culturais e literários de Sorocaba. Escreveu crônicas para o jornal-revista Provocare. É autor dos livros de poesias: ‘Vertentes’ (2006), ‘Quase cai… – Haikais’ (2007) e ‘Estilhaços’ (2008). Tem participação, também, em várias Coletâneas. Esse é o novo colaborador colunista do ROL. Abaixo segue sua primeira participação. Acesse: com certeza gostará! (Helio Rubens, editor)

 

MARIA DO INGÁ

Gonçalves Viana

 

Certa vez, um amigo – professor chileno radicado no Brasil – disse-me que admirava muito o Brasil e o seu povo, pois é uma gente que gosta muito de cantar a sua terra. Então, pus-me a lembrar, e constatei que realmente existem muitas músicas enaltecendo locais: logradouros, vilas, cidades, estados, etc.

Senão vejamos: Saudades de Matão, Piracicaba, Tardes de Lindóia, Serra da Boa Esperança, Saudades da Bahia, Minas Gerais, Sampa, e tantas outras que, se formos enumerá-las aqui, faltaria espaço e tempo para tanto. São muitos os poetas e músicos que cantam a sua terra, sua pátria, seu lar.

Mas eu quero falar sobre uma cidade que se apropriou do nome de uma canção para a sua própria denominação. — Joubert de Carvalho é o seu compositor.

Joubert nasceu no dia 6 de março de 1900, em Uberaba (MG). Era um dos treze filhos de um fazendeiro local. Na fazenda havia um piano que ele desde menininho vivia a arranhar. Tinha doze  anos, quando os pais se mudaram para São Paulo, eles queriam que seus filhos tivessem uma educação esmerada.

Joubert cursava o ginásio, mas, nas horas vagas, para se distrair, corria à casa de uma tia que era pianista.  Ali, tomou conhecimento dos clássicos, dos quais gostou muito, principalmente, Debussy, Beethoven e Chopin, entre outros. Ele não queria estudar música – achava muito aborrecido – queria apenas tocar e, além do mais, tinha muita facilidade para compor.

Em 1920, após terminar o Ginasial e o Científico, resolveu estudar Medicina no Rio de Janeiro. Nessa altura, já tinha muitas composições – embora amadoristicamente – editadas. Quando terminou o 1º ano do curso, veio em férias para São Paulo. Seu Editor pediu novas músicas e ofereceu-lhe 600 mil réis por mês — um dinheirão para a época. E Joubert continuou a produzir tangos, valsas, modinhas e marchinhas que faziam grande sucesso.

Por volta de 1930, José Américo de Almeida, então Ministro de Viação, quis conhecer Joubert, pois gostava muito de suas canções. Depois do primeiro encontro, na residência do médico e compositor, ele se tornou assíduo frequentador do Gabinete do Ministro.

Como ele desejava muito um lugar de médico no Instituto dos Marítimos, falou com o secretário do Ministro, que lhe respondeu: ─ Peça você mesmo, como ele é do nordeste, faça uma canção falando da tristeza causada pela falta de água, da seca que assola a região, tenho certeza que ele vai gostar. Enquanto o secretário falava, Joubert ia-se inspirando e compondo uma canção: uma cabocla saindo com a leva de retirantes e deixando para traz um caboclo. Essa cabocla seria uma Maria, só faltava dizer de onde. Aí, perguntou onde o Ministro havia nascido:  ─ Nasceu em Areias.

Areias não dava rima:

─ E você? — Perguntou.

─ Em Pombal.

─ Hum… mas onde a seca é mais rigorosa?

O secretário citou vários lugares, entre eles, o município de Ingá. Joubert então disse: ─ É isso aí, vai ser Maria do Ingá. Ali mesmo, na hora, concluiu a canção.

Gravada por Gastão Formenti, com o nome sincopado, Maringá tornou-se imediatamente um sucesso nacional e até mesmo internacional. No ano seguinte, 1933, o Dr. Joubert de Carvalho, foi nomeado médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira chegando a Diretor do hospital.

Enquanto isso, no norte do Paraná – em uma área de 999 km² – estava sendo construída uma cidade que, quando pronta, receberia sementes de café, milho, feijão e trigo, para atender às necessidades da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, empresa responsável pela construção da cidade. Durante o dia, os operários trabalhavam duro na construção, mas, à noite, se reuniam em grupos para cantar sempre a mesma canção que individualmente cantarolavam durante o dia: Maringá.

Quando a cidade foi concluída, a diretoria da Companhia realizou uma reunião com o objetivo de batizar a cidade, precisavam de um nome. A Sra. Elizabeth, inglesa, esposa de Henry Thomas, presidente da companhia – aparteou: — Vocês estão procurando um nome? Pois há o nome de uma canção muito linda, que os operários vivem cantando dia e noite. Estava batizada a cidade: Maringá.

Assim é que em 10 de maio de 1947, estava criado mais um município brasileiro. Joubert foi homenageado, ainda em vida pela cidade, com o nome de rua e um busto em praça pública. O piano Steinway, em que foi composta a música, foi comprado posteriormente pela Prefeitura da “Cidade-Canção” como é conhecida Maringá.

Já em 1972, ele compôs a continuação de Maringá, a música, A Cidade Que Nasceu de Uma Canção. Foi gravada pelo cantor Ataíde Beck, mas não logrou o sucesso alcançado pela primeira.

Além de Maringá, Joubert compôs inúmeros sucessos, tais como: Taí (Pra você gostar de mim), Pierrô, De Papo Pro Á, Zingara, Minha Casa, etc.

 

MARINGÁ

Foi numa leva

que a cabocla Maringá

ficou sendo a retirante

que mais deu o que falá.

E junto dela

veio alguém que suplicou

pra que nunca se esquecesse

de um caboclo que ficou.

Maringá, Maringá,

depois que tu partiste

tudo aqui ficou tão triste

que eu garrei a maginá.

Maringá, Maringá,

para haver felicidade

é preciso que a saudade

vá bater noutro lugá.

Maringá, Maringá,

volta aqui pro meu sertão,

pra de novo o coração

de um caboclo assussegá.

Antigamente

uma alegria sem igual

dominava aquela gente

da cidade de Pombal.

Mas veio a seca,

toda chuva foi simbora

só restando então as águas

dos meus óios quando chora.

(Joubert de Carvalho)

 

Resta ainda, relatar um fato pitoresco a respeito de Joubert e a sua Maringá. Muito tempo depois, quando ele havia parado de compor, realizou um passeio a Petrópolis. Apesar dos sacolejos do ônibus, continuava lendo um livro, mas um garoto que estava sentado ao lado, com a mãe, não parava quieto, rindo alto, quase gritando e pulando.

Joubert fechou o livro e ficou observando o garoto e perguntou à mãe:

─ Quantos anos ele tem?

─ Tem sete anos, responde a mãe.

─ Muito inteligente, não?

─ Muito, sabe tudo e gosta muito de música, mas música clássica: Chopin, Bach, Beethoven. Das músicas populares ele só gosta de Maringá.

─ Muito bem. Fico feliz em saber que assim como eu, ele gosta de música erudita e, gosta também de Maringá, que é de minha autoria…

─ Escuta aqui, por acaso o senhor é o Joubert de Carvalho?

─ Sou sim, senhora!

A viagem chega ao fim, a mulher se levanta, puxa o garoto pela mão e fala bem alto:

─ Eu hein!… Vamos embora filho, tá cheio de doido por aqui…

 

                                                                                                 Gonçalves Viana