Há 42 anos no teatro, Mario Persico tem mais de 100 trabalhos encenados, como autor/ator ou diretor e, às vezes, exercendo as três funções
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Ingressando na Família ROLiana, um ícone do Teatro Sorocabano: Mario Rafael Persico, ou, como é mais conhecido artisticamente, Mario Persico!
Mario Persico começou a fazer teatro em Sorocaba em 1976, portanto, há 42 anos, motivado por uma paixão incondicional ao cinema. Nunca tinha assistido uma peça de teatro até então. Começou e a paixão foi instantânea. Nunca mais parou.
Em 1983, estreou na direção teatral com o espetáculo “A Bolsinha Mágica de Marly Emboaba”, de Carlos Queiroz Telles. Seu trabalho como ator e diretor de teatro adulto e infantil propiciou uma larga experiência como Coordenador de Oficinas de Iniciação Teatral através da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em cidades como Sorocaba e região.
Em 1994, já com 20 anos de atividade, profissionalizou-se, fato que veio com o espetáculo A Mulher Zumbi, que está em cartaz há 24 anos. Com o espetáculo, excursionou para Portugal e Chile e ganhou 27 prêmios. E 8 prêmios de Melhor Ator, só com essa peça.
Representou o Brasil no XII Entepola – Encontro de Teatro Popular Latino Americano em Santiago do Chile em 1998. Em 1999, excursionou para Portugal com os espetáculos “A Mulher Zumbi” e o infanto-juvenil “Meu amigo, Dom Pedro II”, onde realizou uma turnê por algumas das principais cidades da Região do Porto (Porto, Vila Nova de Gaia, Vila Nova Famalicão, entre outras).
Em 2007, foi Aluno Especial de Mestrado pela Universidade de São Paulo ECA – USP . Na disciplina :Teoria e Prática da Peça Didática de Bertold Brecht- Profª Ingrid Dormien Koudela.
Em 2010 foi um dos cinco membros da Comissão do Proac da Secretaria do Estado de Cultura na Modalidade Teatro – Edital de Circulação de Espetáculos.
Também em 2010 concluiu pós graduação latu sensu em Pedagogia do Teatro pela UNISO – Universidade de Sorocaba. Coordena, também, o TEATRO ESCOLA MARIO PERSICO, espaço criado em 2013 para formação de atores.
Em 2016 foi membro da Comissão do Prêmio Zé Renato de Fomento à Cultura.
Atualmente, é coordenador do Núcleo de Artes Cênicas da Fundec – Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba, onde também atua como professor desde 2001, tendo sob sua orientação 150 pessoas, das mais variadas idades.
Em 2018, Mario Persico foi uma das personalidades sorocabanas mais votadas na enquete Melhores do Ano 2017 em Sorocaba, promovida pelo Jornal Cultural ROL, nas seguintes modalidades: Melhor Ator, Melhor Diretor de Teatro, Melhor Companhia Teatral e Melhor Escola de Teatro.
Como autor/ator ou diretor e, às vezes, exercendo as três funções, Persico atuou em mais de 90 trabalhos encenados, dentre os quais: Romeu e Julieta, O Noviço, Antígona, O Rei da Vela, Tomates Verdes Crus, A Farsa de Inês Pereira, O Crime do Padre Amaro, Bodas de Sangue e O Beijo no Asfalto.
Iniciando sua colaboração no ROL, Mario Persico descreve esse ser humano que, com sua arte, com sua alma, interpreta uma infinidade de outros seres humanos: o ator!
O ATOR
Um ser frágil, multifacetado, sensível, capaz de sentir e reproduzir as dores mais profundas, mais ocultas, um ser que ouve o âmago do outro quando ele se permite esse exercício de empatia que somente seu ofício proporciona. Por outro lado, também é um ser que flerta incondicionalmente com a esquizofrenia o tempo inteiro. Isso já traz algumas consequências. Afinal, quem, como ele, tem tal desassossego? Ele não consegue ser um só. Sua fome é de ser vários, muitos.
Seu trabalho vai tecendo energias sutis que, na maioria das vezes, nem ele mesmo se dá conta. Afinal, ele trabalha com energias, sejam elas boas ou não. Alegres ou não. Atormentadas ou não. Às vezes conflitadas, às vezes serenas. Essas energias são atraídas pelas personagens às quais ele, inocentemente, dá vida no palco. Ele cria e entrega seu corpo vivo a personagens diversas que, por uma hora ou duas, ganham vida através dele.
Muitos atores apenas acham que sobem ao palco com um texto decorado e bem ou mal interpretam alguém que o autor/dramaturgo escreveu. Apenas isso. Mas representar transcende tudo isso. Por essa razão, acontece ali, por mais domínio e controle que um ator possa ter de suas emoções, algo que é maior do que ele. Quando Medeia mata os filhos para ferir Jasão, estamos na melhor das hipóteses brincando num faz de conta frenético, mas também estamos caminhando numa energia trágica que, aliada ao nosso talento de interprete, também se manifesta em nosso corpo, voz, respiração. Estou falando talvez de física quântica.
A definição de Camus sobre o ator: “… Nessas duas ou três horas que dura o espetáculo ele vai até o fim do caminho sem saída que o homem da plateia gasta a vida toda para percorrer”. Então, o ator é o cronista de seu tempo. É através dele que o homem se vê, se analisa e se permite, se quiser, mudar.
Então, não há espaço neste oficio para ego, satisfação individual, pois tudo que ele, ator, constrói através de seu trabalho, não é para si.
É preciso uma grande dose de altruísmo e amor universal para se permanecer nesse oficio.
E o mais absurdo de tudo: seu trabalho não deixa registro! Ele atua no domínio do efêmero. É um milagre que acontece ali, seja entre quatro paredes, seja um espaço aberto. Ele começa e termina em pouco mais de uma hora ou duas. Portanto, não é possível se aproximar de tudo isso irresponsavelmente. Sem saber os perigos e as maravilhas que atuar pode proporcionar.
Mario Persico – mariopersico@ciaclassicaderepertorio.com.br