Márcio Castilho: 'Face shield'

Márcio Castilho

Face shield

Ao incômodo da máscara no rosto,

Lembre-se das faces árabes sob os véus,

Dos cervicais colares das mulheres-girafa,

Das gueixas que não se queixam da tez pálida,

Lembre-se do silêncio de Anastácia…

 

Lembre-se

Dos lábios indígenas a ostentar alargadores,

Das anônimas enfermeiras a correr pelos corredores,

Dos PMS e seus escudos protetores,

Dos discentes solitários em suas plataformas on line

Incapazes de aprender a fórmula de Bhaskara.

 

Lembre-se que ao repelir o mal pela máscara,

Agirá não tão somente pela tua defesa,

Mas de todos aqueles que sentarem a tua mesa.

 

Márcio Castilho

Marciocastilho74@outlook.com

 

 

 

 

 

 

 




Cláudia Lundgren: 'Mordaça'

Claudia Lundgren

Mordaça

Quero tirar a máscara…ser verdadeira, abrir minha boca, soltar minha voz abafada, ser escutada.
A máscara da falsidade, da falta de personalidade. Quero ser nua, sem rodeios. Crua. Entender por que é errado quem fala a verdade.
A máscara que encobre o meu rosto, a minha verdadeira expressão. Não quero mudar de opinião simplesmente por pressão.
A máscara que camufla sorrisos, suspiros  e interjeições. Feições.
Quero respirar, tirar a máscara. Me canso ao subir a ladeira. As escadas, quanta exaustão. Quero minha alforria, libertação.
Já não sei quem é quem nas ruas, nas praças. Por favor, tire a máscara. Já não conheço meus amigos. Olhar nos olhos para mim é difícil. Ter que encarar, a fim do mistério decifrar.
Quero tirar a máscara. Ser vista por inteiro. Me sinto travada, sufocada, aprisionada. Até mesmo as rosas-chá de bolinhas brancas são cativeiro. Da transparência, da voz, da vez. Da timidez.
Esse pano que me tolhe. Não entendo a fala do repórter. Dicção prejudicada. Meias-verdades, meia-boca. Ambiguidades.
Esse elástico, mordaça. Anastácia. Não quero usar essa máscara.

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@gmail.com