Quando a máscara cai: quem está disposto a encarar os próprios defeitos?

Ficção-novela da mineira Jerusa Furbino evidencia as imperfeições humanas em uma história sobre preconceitos e segredos guardados a sete chaves

Capa do livro 'Inimigo Oculto', de Jerusa Furbino
Capa do livro ‘Inimigo Oculto’, de Jerusa Furbino

Encarar os próprios defeitos é tarefa que nem todos estão dispostos a enfrentar. Para quebrar essa barreira, a escritora mineira Jerusa Furbino propõe uma jornada de encontro com as imperfeições humanas por meio do livro Inimigo oculto.

Nesta ficção-novela, ela desvenda as complexidades da convivência familiar, aborda questões existenciais e põe à prova a máxima de que as pessoas nem sempre são o que aparentam, afinal, carregam consigo preconceitos e segredos velados.

Em um passeio entre a capital e o interior de Minas Gerais, a narrativa retrata o comportamento da família Silva Rabelo,  que decide substituir o tradicional “amigo secreto” de Natal por uma técnica terapêutica ousada: o Inimigo oculto.

Proposta por Bruno, estudante de psicologia, a brincadeira desafia os participantes a descreverem a pessoa secreta sorteada com um defeito, sem receber questionamentos.

À medida que as máscaras caem e segredos vêm à tona – como traição, corrupção, preconceitos e rejeição de um filho gay –, os personagens precisam aprender a lidar com raiva e mágoas, mas também a se reconhecerem no amor e no perdão.

Desta forma, a autora faz pensar sobre a importância da convivência familiar, o respeito pelas individualidades e o valor da coragem de quem decide enfrentar as sombras da própria personalidade.

[…] Seguindo adiante, gostaria de dizer que meu “inimigo oculto” é quase
considerado um santo por muitos que estão sentados nessa roda de ódio natalina,
todavia, quando a namorada vira as costas, adora dar em cima das outras mulheres,
inclusive eu já fui vítima da sua conversinha mole sobre sexo tântrico, yoga e poliamor!

(Inimigo oculto, págs. 34 e 35)

Narrado de forma fluida, como em um roteiro de novela, o livro carrega ilustrações do multiartista e poeta Dione Machado, um dos fundadores do “ColetiVoz”, grupo de poesia marginal mais antigo de Belo Horizonte. As imagens dão dinamicidade ao enredo que, apesar das intrigas e reviravoltas, termina com uma mensagem de aceitação, amor e união.

Pensada pela autora como ferramenta de exploração emocional, a obra dá brechas para que o leitor reconheça a si mesmo e a própria família na história. Para Jerusa Furbino, a abordagem pode se tornar um trampolim para a evolução pessoal. “Somente quando conhecemos nossas sombras, podemos fazer brilhar nossa luz”, complementa.

FICHA TÉCNICA

Título: Inimigo oculto

Autora: Jerusa Furbino

ISBN: 978-65-00-79275-1

Páginas: 128

Preço: R$ 50,00 | R$ 24,99 (e-book)

Onde comprar: Com a autora | Amazon

Sobre a autora

Jerusa Furbino
Jerusa Furbino

Jerusa Furbino é natural de Governador Valadares (MG) e tem vários papéis no mundo: mãe, mulher, dona de casa, advogada por formação e poeta por paixão.

Atualmente faz da escrita sua trilha diária, com dois livros de poesias já publicados, Rabiscos e Luto – Um passeio da poesia entre o substantivo e o verbo, e também a obra de contos Catarse Literária.

Participou de diversas antologias poéticas, tendo destaque Mexerica, onde assina com seu pseudônimo Ponto Jota na poesia erótica.

No final de 2022, teve sua poesia “Indagações” como vencedora do primeiro lugar no Prêmio Nacional de Literatura de Clubes.

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Rejane Nascimento: 'Sobre a realidade das máscaras'

Rejane Nascimento

Sobre a realidade das máscaras

As máscaras se tornaram parte do nosso cotidiano. Eu pergunto: até quando? Talvez seja uma pergunta que envolva certo desespero, mas ao mesmo tempo quando pensamos em máscaras abrimos um leque enorme, pois, ao longo da história da humanidade, as máscaras foram utilizadas para fins distintos, envolvendo religiosidade, festas populares, como o Halloween, Carnaval, bem como para fins de proteção na área da saúde.  São tantas as curiosidades sobre elas que procurei fazer uma pequena pesquisa a respeito da origem das máscaras e acabei descobrindo coisas que nem imaginava; talvez, coisas que estavam até ocultas em mim.

Se fosse possível dar uma volta ao mundo agora, assistiríamos várias situações, onde as máscaras estariam presentes de formas completamente diferentes. Contudo, sua necessidade hoje envolve uma proteção e, com certeza, encontraríamos este resguardo que, neste momento, é primordial.

Buscando compreender um pouco mais sobre as máscaras, encontrei fatos marcantes e citarei algumas das várias situações onde foram utilizadas.  No Brasil, os nativos, em seus cerimoniais, usavam máscaras simbolizando animais, pássaros e insetos.  Os gregos foram pioneiros no uso das máscaras, nas festas dionisíacas, praticadas em homenagem a Dionísio, divindade responsável pelo vinho e pelos rituais de fertilidade, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara. Ainda na Grécia, o ‘Berço do Teatro’, os artistas recorriam ao encantamento das máscaras como uma forma de  proteção aos atores que incorporassem os mortos. No Antigo Egito, eles acreditavam que a colocação de uma máscara na face dos mortos ajudava na passagem para a vida eterna. Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos. Em Veneza, na Itália, temos o mais antigo documento sobre as máscaras com a data de 02 de maio de 1268 e ainda  outro documento, datado de 22 de fevereiro de 1339,  que proibia os mascarados de vaguearem pela noite nas ruas da cidade, mas permitido durante todo Carnaval. Na Itália, os artistas do riso transformaram-se em Arlequim, Pierrot e Colombina, personagens que conduziam o carnaval de Veneza, sendo que as máscaras tinham o poder de revelar ou ocultar sentimentos. Na necessidade do homem de se enfeitar e de se transformar, surge em Veneza, no século XV, o primeiro baile de máscaras. Hoje, o mundo está fantasiado de máscaras, porém não como uma peça de ostentação como era usada nos bailes e sim como uma salvadora de vidas, porquanto são barreiras contra uma peste cruel. São vidas ceifadas sem a chance da despedida, então ficamos com uma tristeza guardada por não poder dar o último adeus; é um pular etapas, pensamos como isso é injusto com os que vão e com os que ficam.

Nossos rostos estão escondidos, nosso semblante, tão importante na comunicação humana está atrás de uma barreira de proteção. Sinceramente não sei dizer até quando isso será suportado, sei que neste momento está sendo necessário. Nosso grande problema é como quebrar essa barreira; talvez, estamos ganhando de presente um ‘puxão de orelhas’. Estranho falar disso como um presente, mas, provavelmente, estávamos sendo aquele filho que a mãe tentou corrigir por inúmeras vezes de  forma suave e ele não  conseguiu compreender o que a mãe estava tentando ensinar e, assim, ela  não teve escolha,  foi obrigada a dar um ‘puxão de orelhas’.

Hoje, penso que podemos aprender sobre nossos egoísmos; por mais que negamos isso, eles estão presente em nós; temos sim, dentro de nós esse ‘olhar para o próprio umbigo’ e, talvez, seja isso um dos nossos grandes pecados. Perdemo-nos de nós mesmos neste lugar tão egoísta onde há uma grande disputa de poderes pelo mundo. Vivemos uma ‘grande guerra camuflada, mascarada por um vírus’, onde vidas são ceifadas e nós ainda não compreendemos o que podemos aprender com tudo isso, ou de que devemos nos desprender.

Para alguns, este momento que viemos trouxe a incorporação de novos comportamentos; para outros, mesmo com tudo isso, a ganância continua, estes não entenderam que, ‘não há poder que perdure sem a vida’.  Nesta visão sobre as máscaras, neste mundo de disfarces, o puro torna-se confuso e fica difícil distinguir o banal do essencial. E quando tudo isso se for e ninguém mais tiver que usar máscaras para proteger, esconder ou abafar, talvez, teremos um verdadeiro encontro com a verdade e, quem sabe, nos veremos sozinhos, pensando em tudo que deixamos passar e encontraremos o verdadeiro sentido  da vida  e paremos de flutuar, colocando os pés no chão, onde estaríamos  verdadeiramente, seguros e sem máscaras, pois sempre  haverá um dia em que elas  cairão. Eu nasci para acreditar e a esperança dentro de  mim  não  morre, pois tento alimentá-la todos os dias.

 

Rejane Nascimento

rejane.d@hotmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 




O leitor participa: Marcelo Bancalero, do Rio de Janeiro (RJ): 'Em tempos de máscaras'

Marcelo Bancalero

Em tempos de máscaras


Não temos dificuldades com a necessidade de usar máscaras
Afinal, usamos máscaras a vida toda
Máscaras de alegria em dias de tristeza
Máscaras de coragem em dias de medo
Máscaras de otimismo em dias de pessimismo
Máscaras de felicidade em tempos solidão
Usamos quaisquer máscaras desde que escondam nossa realidade
Só nós  mesmos é que nos conhecemos por detrás delas
E alguns até preferem usar máscaras pra si mesmo, por não suportar a própria realidade.
O medo e preocupação com o que o outro vai pensar se nos ver desmascarados é o que pauta e nos limita de viver nossa vida em plenitude
O problema não são as máscaras
O problema é a aceitação de ser quem somos
Marcelo Bancalero