Mais alguns papéis e alguns despejos

Clayton Alexandre Zocarato

‘Mais alguns papéis e alguns despejos’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato

Adaptado segundo a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus

Criador de imagem do Bing - 24 de abril de 2025, às 11:08 PM
Criador de imagem do Bing – 24 de abril de 2025, às 11:08 PM

Em algum lugar da miséria presente.

Mulher I – Empurrando um carrinho de compras, cheio de entulhos para reciclagem, encontra duas catadoras de papéis.

Mulher I – Até no despejo pode haver uma dignidade!

Mulher II – Dignidade não se faz favela, mas é carência na vida de um favelado!

Mulher III, olhando para suas companheiras…

– Desde quando dignidade e humanidade fazem parte de nossas vidas miseráveis?

Um breve silêncio e todas cruzam seus olhares.

A primeira solta um desabafo, e outras a seguem com o seu carinho.

– Não adianta querermos ter alguma dignidade, tudo já nos foi roubado, agora devemos procurar um novo quarto, para sermos despejadas novamente, diante de nossas misérias morais e espirituais…

Gemidos de angústia acompanham seus caminhos.

Encenação feita dia 23 de abril na E. E. Professor Mario Florence de 2º grau, localizada no município de Novo Horizonte (SP), com estudantes do 3º ano do Ensino Médio turma D, como parte de incentivo à leitura e escrita e na produção audiovisual, com o Projeto da Secretaria da Educação do Estadual, “Se Apaixone por um Obra”. Mediação e Linguagem.

Clayton Alexandre Zocarato

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A espera

Sandra Albuquerque: Poema ‘A espera’

Sandra Albuquerque
Sandra Albuquerque
"Uma criança, encolhido atrás de uma velha porta de madeira, jogada às traças e ao tempo e escorada num velho móvel"
“Uma criança, encolhido atrás de uma velha porta de madeira, jogada às traças e ao tempo e escorada num velho móvel
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Uma data se aproxima.
E as ruas superlotadas,
gente para todos os lados.
As pessoas sorriem ,
embaladas pela emoção
da compra de presentes.
E ali, encolhido
atrás de uma velha porta
caótica de madeira,
jogada às traças e ao tempo
e escorada num velho móvel descartados pelo dono da loja.
As pessoas passam por mim
e não me enxergam.
Eu sou , apenas, uma criança, sem infância,
numa deplorável miséria,
longe dos sonhos
e banhada pelas lágrimas da dor que o frágil corpo corrói.
E mesmo no fim do túnel,
pois não vejo futuro pra mim,
ali continuo,
esperando que uma alma bondosa apareça e me faça renascer das cinzas como a fênix.
Eu preciso sair daqui.
Será que não tem ninguém
que me leve para casa?
e que pelo menos, me dê guarida, um banho descente,
uma comida quentinha
e uma roupa nova ?
já que é Natal!
E falam tanto em amor
quando só vejo desamor.
Olhem para meu rosto,
pois eu ainda não morri,
mas sinto o cheiro da morte.
Meus ossos estão frágeis e minha alma geme.
Por favor, olhem para mim!

Poetisa Sandra Albuquerque
Rio de Janeiro, 23/12/2019.
Todos os Direitos reservados (Lei nº 9.610/98)

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Natal

Francisco Evandro Farick: Poema ‘Natal’

Francisco Evandro Farick
Francisco Evandro Farick
Natal da Era de Aquário
Natal na Era de Aquário
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Natal

E como está o mundo?

Estamos na Era de Aquários!

Todos esperavam muita paz, harmonia e amor entre os povos.

Mas, é Natal! E não há amor, tampouco paz entre as Nações.

A fome, a miséria e a violência vivenciam o cotidiano.

É natal! Assim mesmo sempre Jesus está conosco.

Ainda existe amor naqueles que têm Jesus no coração.

É natal!

As esperanças se renovam…Em sonhos…

Vi o brilho de alegria nos olhos do povo.

Como seria bom renascer as boas ideias.

Percebi a violência ser amainada e eliminada

Reinava a paz!

Nos lares, os alimentos estavam à mesa,

Não havia fome!

É natal! Não existia miséria nos países africanos.

A prostituição infantojuvenil deixara de existir.

É natal! Os crimes hediondos há muito que amainaram.

É natal! As crianças brincavam alegres…

O trabalho infantil não se fazia presente.

É natal! É apenas um sonho, mas como seria bom

Viver assim em todos os natais.

Francisco Evandro Farick

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 Reflexão sobre a violência

Francisco Evandro de Oliveira:

Artigo ‘Reflexão sobre a violência’

Francisco Evandro de Oliveira
Francisco Evandro de Oliveira
Países seculares estão com suas economias falindo
Países seculares estão com suas economias falindo
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Estou cansado, a bem da verdade, muito cansado de ouvir falar e ver violência no nosso cotidiano; cada político, cada componente da justiça tem a brilhante solução. 

Contudo, a violência cresce assustadoramente, desvairada e descabida continuamente. É um grande cancro em nossa sociedade e nem toda gama de cobalto usado nos tratamentos quimioterápicos, por si só, é garantia da cura e para este mal social nos nossos dias, conhecido como violência. Todos imaginam mágicas soluções para arrefecer, conter e acabá-la. 

Os políticos e os componentes da justiça só vislumbram os efeitos, estão cegos para as causas. Em nenhum momento apresentam uma solução viável para as causas principais, que são os males do século: a fome, apartheid social, a miséria reinante e o desemprego em massa. 

Tais fatores estimulam uma péssima educação; criam um universo de descamisados, os quais crescem em grandes proporções a cada dia. 

Países seculares estão com suas economias falindo. Os grandes políticos não enxergam o evidente que salta aos olhos! 

A globalização desvairada, visando disfarçadamente os interesses dos países mais ricos e o excesso de tecnologia estão dizimando as economias de países ditos do 3º mundo e suas populações em si. 

Cresce indiscriminadamente o universo de traficantes, aumenta na mesma proporção a repreensão e o aparato policial, que por si só, além dos motivos óbvios conhecidos por todos, não são garantia de combate ao crime, tanto o poder constituído, quando o dito poder paralelo, aumentam consideravelmente seus potenciais bélicos e as mortes se fazem presentes e são diariamente estampadas nos noticiários locais e nacional.

Como consequência imediata vem: superlotação carcerária nas delegacias, carceragens e presídios que, devido às suas precaríssimas condições, tornam-se verdadeiros depósitos humanos e, porque não dizer, também se especializam no curso superior em violência. Rebeliões explodem!  Torna-se o Armagedom! Um inferno total!

Uma Torre de Babel dos tempos modernos! Enquanto isso, negociatas entre políticos, banda podre da polícia, da justiça e extermínios diários de jovens e adolescentes se fazem presentes.

Os nossos políticos permanecem dormindo no ‘berço esplêndido do País’, e, quando acordarem desse torpor, o país, embora com jovialidade, será uma nação predominante de crianças, mulheres e velhos.

Os jovens do sexo masculinos foram, em sua maioria, ceifados e dizimados pelo confronto entre traficantes e policiais e entre facções divergentes de seus interesses nefastos à sociedade. Onde estarão seus corpos? 

Poderemos encontrá-los nos diversos cemitérios clandestinos dos grupos de extermínios, das polícias, das milícias, dos traficantes e nos cemitérios oficiais. 

Esperamos que os governantes acordem para que possamos legar um mundo melhor as nossas futuras gerações; e esse mundo passa, necessariamente, pela Educação, pois como já dizia Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”.

Francisco Evandro de Oliveira
  Professor de Física e Matemática – Escritor e Poeta

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Sandra Albuquerque: 'Eu não pedi para nascer'

Sandra Albuquerque

Eu não pedi para nascer

Eu não pedi para nascer

Mas, se aqui estou

Não preciso de presentes

E sim de pão e amor.

 

O meu sonho de infância

A miséria já levou

Vejo tanta indiferença

Regada de desamor.

 

Nos meus olhos há tristeza

Sinto doer meu coração

Vejo tantas mesas fartas

Enquanto a mim me falta o pão.

 

Dizem que o Noel existe

Meu viver é sofrimento

Sinto fome, sede e frio

Minha estada é um lamento.

 

Eu sou , apenas , criança

E a ninguém eu faço mal

Olhe pra mim com ternura

Me encontre neste Natal.

 

Sandra Albuquerque

sandralennen@gmail.com




Tereza Du'Zai: 'Sangria'

Como o mendigo comemora a esmola que amordaça,/ Resignamo-nos à crueldade dos que estão no comando/ E seguimos condolentes por caminhos lodosos,/ Crentes de que a humildade e a persistência nos salvarão,/ Se não da vida, talvez na morte.”

 

SANGRIA

Como o mendigo comemora a esmola que amordaça,

Resignamo-nos à crueldade dos que estão no comando

E seguimos condolentes por caminhos lodosos,

Crentes de que a humildade e a persistência nos salvarão,

Se não da vida, talvez na morte.

A religião e a ação do invisível nos evocam,

E nos aniquilam com suas carícias perversas.

A ciência nos felicita e nos subjuga com suas descobertas.

Gutenberg, Niépce, Dagarre, Friese-Greene, Marconi…

Tudo o que lemos, ouvimos, reproduzimos,

O movimento infernal das ancas universais,

A dança avassaladora da grande fera ululante;

A miséria, a promiscuidade, a guerra santa.

O Livro dos Espíritas, a Bíblia, a Torá, o Alcorão – substratos da ilusão humana.

Punhaladas políticas, venenos morais.

Bocejamos entre lobos e víboras

E nos alimentamos do vômito cultural de nossos ancestrais,

Somos todos hipócritas, somos todos irmãos.

 

Tereza Du’Zai – terezaduzai@gmail.com