Uma data se aproxima. E as ruas superlotadas, gente para todos os lados. As pessoas sorriem , embaladas pela emoção da compra de presentes. E ali, encolhido atrás de uma velha porta caótica de madeira, jogada às traças e ao tempo e escorada num velho móvel descartados pelo dono da loja. As pessoas passam por mim e não me enxergam. Eu sou , apenas, uma criança, sem infância, numa deplorável miséria, longe dos sonhos e banhada pelas lágrimas da dor que o frágil corpo corrói. E mesmo no fim do túnel, pois não vejo futuro pra mim, ali continuo, esperando que uma alma bondosa apareça e me faça renascer das cinzas como a fênix. Eu preciso sair daqui. Será que não tem ninguém que me leve para casa? e que pelo menos, me dê guarida, um banho descente, uma comida quentinha e uma roupa nova ? já que é Natal! E falam tanto em amor quando só vejo desamor. Olhem para meu rosto, pois eu ainda não morri, mas sinto o cheiro da morte. Meus ossos estão frágeis e minha alma geme. Por favor, olhem para mim!
Poetisa Sandra Albuquerque Rio de Janeiro, 23/12/2019. Todos os Direitos reservados (Lei nº 9.610/98)
Estou cansado, a bem da verdade, muito cansado de ouvir falar e ver violência no nosso cotidiano; cada político, cada componente da justiça tem a brilhante solução.
Contudo, a violência cresce assustadoramente, desvairada e descabida continuamente. É um grande cancro em nossa sociedade e nem toda gama de cobalto usado nos tratamentos quimioterápicos, por si só, é garantia da cura e para este mal social nos nossos dias, conhecido como violência. Todos imaginam mágicas soluções para arrefecer, conter e acabá-la.
Os políticos e os componentes da justiça só vislumbram os efeitos, estão cegos para as causas. Em nenhum momento apresentam uma solução viável para as causas principais, que são os males do século: a fome, apartheid social, a miséria reinante e o desemprego em massa.
Tais fatores estimulam uma péssima educação; criam um universo de descamisados, os quais crescem em grandes proporções a cada dia.
Países seculares estão com suas economias falindo. Os grandes políticos não enxergam o evidente que salta aos olhos!
A globalização desvairada, visando disfarçadamente os interesses dos países mais ricos e o excesso de tecnologia estão dizimando as economias de países ditos do 3º mundo e suas populações em si.
Cresce indiscriminadamente o universo de traficantes, aumenta na mesma proporção a repreensão e o aparato policial, que por si só, além dos motivos óbvios conhecidos por todos, não são garantia de combate ao crime, tanto o poder constituído, quando o dito poder paralelo, aumentam consideravelmente seus potenciais bélicos e as mortes se fazem presentes e são diariamente estampadas nos noticiários locais e nacional.
Como consequência imediata vem: superlotação carcerária nas delegacias, carceragens e presídios que, devido às suas precaríssimas condições, tornam-se verdadeiros depósitos humanos e, porque não dizer, também se especializam no curso superior em violência. Rebeliões explodem! Torna-se o Armagedom! Um inferno total!
Uma Torre de Babel dos tempos modernos! Enquanto isso, negociatas entre políticos, banda podre da polícia, da justiça e extermínios diários de jovens e adolescentes se fazem presentes.
Os nossos políticos permanecem dormindo no ‘berço esplêndido do País’, e, quando acordarem desse torpor, o país, embora com jovialidade, será uma nação predominante de crianças, mulheres e velhos.
Os jovens do sexo masculinos foram, em sua maioria, ceifados e dizimados pelo confronto entre traficantes e policiais e entre facções divergentes de seus interesses nefastos à sociedade. Onde estarão seus corpos?
Poderemos encontrá-los nos diversos cemitérios clandestinos dos grupos de extermínios, das polícias, das milícias, dos traficantes e nos cemitérios oficiais.
Esperamos que os governantes acordem para que possamos legar um mundo melhor as nossas futuras gerações; e esse mundo passa, necessariamente, pela Educação, pois como já dizia Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”.
Francisco Evandro de Oliveira Professor de Física e Matemática – Escritor e Poeta
“Como o mendigo comemora a esmola que amordaça,/ Resignamo-nos à crueldade dos que estão no comando/ E seguimos condolentes por caminhos lodosos,/ Crentes de que a humildade e a persistência nos salvarão,/ Se não da vida, talvez na morte.”
SANGRIA
Como o mendigo comemora a esmola que amordaça,
Resignamo-nos à crueldade dos que estão no comando
E seguimos condolentes por caminhos lodosos,
Crentes de que a humildade e a persistência nos salvarão,
Se não da vida, talvez na morte.
A religião e a ação do invisível nos evocam,
E nos aniquilam com suas carícias perversas.
A ciência nos felicita e nos subjuga com suas descobertas.