Sol quadrado
Nilza Murakawa: Poema ‘Sol quadrado’


Brancas batinas
Em almas deslavadas
Sujas latrinas
E velas apagadas
Missa
Massa
Submissão
Circo
Cerco
Servidão
Podres até o talo
Escorrem pelo ralo
Descem mil andares
Fétidos como fezes
Não estancam as verdes vozes
Os palanques e altares
Com holofotes desligados
A plateia dissolvida
Os cadeados foram fechados
A lona descolorida
Sem eira nem beira
A rubra bandeira
Queimada na praça
Por mãos em carne viva
No chão, no céu, à deriva
Só cinzas e fumaça
Do sino, da cruz, a verdade
E, então, “o sol da liberdade
Em raios fúlgidos”
Brilhará quadrado
Em olhos ácidos
Em tetos úmidos
Nilza Murakawa