Guaçu Piteri: 'O Moleque Travesso'

O MOLEQUE TRAVESSO*

por Guaçu Piteri

 

Eu ainda era “bicho” na ESALQ/USP, em 1955 quando, cabeça raspada, comecei jogar no Quinze de Novembro de Piracicaba.

Embora curta e opaca, a experiência trouxe-me boas recordações.  Algumas, eu já tive oportunidade de mencionar no livro Sonhar é Preciso (2008).

Hoje, por mero acaso, lembrei-me de mais uma.

Em partida da Copa São Paulo de Futebol Junior, o Juventus derrotou o Avaí, classificando-se para as quartas de final da competição. Até aí, nada de mais, a não ser por um detalhe. O jogo aconteceu no velho estádio juventino da Rua Javari. Foi nesse cenário – onde Pelé marcou o gol mais bonito de sua memorável carreira – que eu estava escalado para fazer a estreia na equipe principal do Quinze, num jogo de vida ou morte. Se saíssemos derrotados seríamos rebaixados para a segunda divisão. Gatão, capitão e ídolo e líder do grupo, preocupado com o peso da minha responsabilidade, aproximou-se para conversar: “Mantenha a calma, menino. Jogue como nos treinos e tenha confiança. Você vai fazer uma grande partida…”

Já no vestiário, Canarinho, goleiro titular da nossa equipe, numa última avaliação, foi considerado apto e entrou no meu lugar.

Às vezes penso que, se eu tivesse jogado naquela tarde, o destino teria me reservado um futuro bem diferente.

Mas isso não vem ao caso.  Creio que o leitor está mais interessado em saber que o empate, conquistado com muita garra e sofrimento, garantiu-nos a permanência na série A do Campeonato Paulista que, à época era a principal competição do futebol brasileiro. Anos depois, o Quinze foi vice-campeão estadual.

* O Juventus, que apesar de sua fragilidade técnica, tinha a tradição de vencer grandes times, ficou conhecido como o “moleque travesso”.

Quinze de Novembro de Piracicaba

Em pé: Guerra, Fernando, Biguá, Walter, Guaçu, Xixico

e Geraldo Scoto. Foto A Gazeta Esportiva Ilustrada.

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