Clayton Alexandre Zocarato: 'Aborto e demagogia – Uma fagulha (a)moralista tupiniquim'

Clayton Alexandre Zocarato

Aborto e demagogia – Uma fagulha (a)moralista tupiniquim

Para falar do caso do aborto feito em uma adolescente em Santa Catarina recentemente, vamos recorrer primeiramente à literatura e à Filosofia.

O romancista Eça De Queiroz em sua obra O Crime do Padre Amaro, escancarou que as vontades carnais podem chegar ao seu ápice em quaisquer classes sociais e religiosas, enfatizando uma humanização bizarra do clero, que, assim como qualquer outra instituição, detém seus aspectos doutrinários tanto positivos como negativos. Assim como também Jean Paul Sartre, em sua A Idade Da Razão, eclodiu a banalidade da vida através do professor Mathieu Delarue, que tenta conseguir dinheiro de todas as formas para financiar o aborto da namorada, de uma gravidez indesejada.

Mas o que o Realismo e Existencialismo têm a ver com a sociedade brasileira e seus ‘abortos’? Bem, em um sentido de moral demagógico, em torno do caso do estupro e interrupção da gravidez de uma menina de 11 anos, colocou novamente essa questão bioética à tona. O aborto faz parte da história humana, que em sua insatisfação na não agregação moral em propiciar um lugar ao sol para todos, faz silenciosamente um desejo inconsciente de interromper a ida, para depois ficar em sacrilégios de argumentações que venham assim angariar novos vieses de debates sobre quem vai cair o direito ou não de continuar ou parar com a vida intrauterina.

Para nossa sociedade cristã, tantos os novos ‘Amaros’ como ‘Mathieus’ não levam em consideração a instauração de uma cultura cruel do estupro no Brasil. Para os demais setores, pontos de vistas nefastos, que têm como objetivos servir como base que a opinião particular de cada um deve ser respeitada, e não ser traçada como uma ‘verdade
universal’, que sirva para todos.

É necessário, portanto que haja uma revisão das formações escolares para que elas venham a garantir a volta de uma educação sexual e que também respeitem a base constitucional de um estado laico, sem falsidade ética impregnada de um ‘pensamento libidinal crítico’ em torno da vida das crianças e adolescentes.

Enfim, sair da mordaça ‘sexualizante’ para a construção de uma cidadania lúdica, onde cada pessoa dentro da lei possa ter o direito de escolher o que é melhor para si, independentemente ou não do que a sociedade julga ser coerente ou não, como também a lapidar pensamentos violentos de virilidade sexual sem limite, promovendo uma ética do cuidado, perante a sexologia humana. uma ‘verdade universal’, que sirva de forma uniforme para todos.

Clayton Alexandre Zocarato