Junto ao meu leito, minha obra Horrenda escritura do ‘corcunda do amor’ Sineiro enamorado da Lua! Badalos de alto clamor Disforme literatura em sua alma se desdobra.
Junto ao seu leito, meu espírito enobrece Cigana litúrgica, tua dança emana desejos… Na torre catedrática do meu algoz grafo ensejos, Bandido escriturário, no silêncio opaco emudece.
Quasímodo literato, das paixões um aleijado Horror inigualável a primazia da escrita impecável, Graciosa imagem implícita das emoções de um rejeitado Desventura velada, sombras de solidão e angústia inefável.
Literato Quasímodo, do seio contemporâneo um excluído Na festa dos loucos, o último romântico fora coroado, Das gárgulas recebe carícias plenas em seu ímpeto cálido Um herói suicida em seu ato falho! Um poeta ultrajado!
Natália Tamara Artigo: ‘A matriarca de toda manifestação cultural’
Considerando que a Literatura é uma manifestação artística humana, entende-se então que suas ramificações permeiam de forma objetiva e subjetiva toda uma unidade ‘sígnica’ representativa, que compreende desde um indivíduo, grupo, comunidade, até o conceito de sociedade.
A Literatura nos oferece um saboroso banquete, põe à nossa frente uma mesa audaciosa, que nos remete a cores e sabores, levando-nos a sensações extraordinárias. Tal gula, quando saciada, deixa o ser humano em sério perigo de adquirir uma doença rara, denominada de ‘senso crítico’. Segundo Todorov, em Literatura em Perigo: “Assim como a filosofia e as ciências humanas, a literatura é pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos”. (2009-p. 77); compreende-se então que a Literatura não diz respeito apenas a um mero componente curricular do ensino médio, ela vai muito além do que sua nomenclatura pode contemplar.
A Literatura esteve na Taverna com Álvares de Azevedo e os seus, esteve no Navio Negreiro, bradou no peito do poeta dos escravos, dançou ofegante a valsa de Casimiro de Abreu, chorou a solitude de Florbela Espanca, conheceu a intimidade de Cecília Meireles, olhou pela fechadura da dúvida a traição de Capitu. Degustou com Dionísio/Baco os melhores vinhos, amou e morreu nos braços apaixonados de Shakespeare, e, modesta que é, fingiu ser quem não é pelos olhos de Fernando Pessoa, carregando nas costas todo o sentimento do mundo, que já não cabia mais no peito de Drummond.
A literatura está nos bares, nas calçadas do dia a dia, está nos lares, no beijo dos enamorados, está na poesia marginal de Sérgio Vaz, se mostra esplendorosa na escultura ‘escriturária’ do mestre Olavo Bilac. Podemos evidenciar esta postulação em O Demônio da Teoria de Compagnon, onde o autor expõe: “No sentido restrito, a (Literatura, fronteira entre o literário e o não literário) varia consideravelmente segundo as épocas e as culturas” (199-p. 30).
A senhora Literatura, outrora vista apenas como fonte de deleite, por vezes sacramentada no papel de instruir o leitor, tem por sua verdade um poder moral perante a sociedade. Compagnon vem reafirmar tal conceito em Literatura Para Quê?: “Uma segunda definição do poder da literatura, surgida com o Século das Luzes e aprofundada pelo romantismo, faz dela não mais um meio de instruir deleitando, mas um remédio. Ela liberta o indivíduo de sua sujeição às autoridades, pensavam os filósofos; ela o cura, em particular, do obscurantismo religioso. A literatura instrumento de justiça e de tolerância, e a literatura (leitura), experiência de autonomia contribuem para liberdade e para responsabilidade do indivíduo” (2009-pp.33,34).
Contudo, é de extrema naturalidade que a visibilidade de literatura esteja atrelada a todos os moldes de uma sociedade; interligada diretamente com o campo artístico e cultural. Desta forma, podemos conceber a Literatura como a Matriarca de todas as manifestações culturais.