Por que devemos escrever?
Lina Veira: ‘Por que devemos escrever?’
Com o avanço da tecnologia e dos meios de comunicação, o mundo moderno se edifica no aparato do tecno-científico, que tem como meta o máximo do bem-estar material, e como meios a produção de consumo, a desenfreada conquista da ‘liberdade’. Sem o hábito de escrever e refletir de muitos, a facilidade de dizer o que pensam, embora digam através de redes que, muitas vezes, as protege no anonimato, cria uma atmosfera desagradável artificial e insegura para relações, da própria finalidade das redes sociais e textos literários.
Vomitar opiniões idiotas e ofensivas virou significado de liberdade de expressão dentro de um contexto ou não. Nas redes sociais muitos assinam suas postagens simplesmente como anônimo, ou através de perfis falsos. Geralmente pessoas sem amigos na vida real, ou com algum problema psicológico não cuidado. Curtem viver de burburinhos na internet recebendo como recompensa a falsa sensação de ser ‘amado’ ou ‘admirado’, mesmo que seja por alguém com quem nunca teve contato real.
Se a linguagem escrita reflete a evolução mental de um homem, para entendermos a realidade dos nossos tempos, é preciso compreender que vivemos numa época em que impera a explicação de tudo pela razão, e pela conquista da liberdade muitas vezes de forma desenfreada, com a busca da felicidade a qualquer preço.
Valores sem verdadeiros sentidos para realização pessoal. Distante de uma formação com leitura orientada, interpretativa e questionadora do exercício do escrever e do se expressar com mais amadurecimento e originalidade que traz o habito da leitura: sua liberdade criativa com evolução mental e uma linguagem rica e consciente do sentir, refletir e julgar.
Ninguém é contra o progresso, mas toda ideia vem da experiência, do conhecimento. Como escreveu Seneca: “Escrever é uma embriaguez que excita, vicia e liberta. Mas é o pudor, o limite, a reserva que ensina mais”.
Toda liberdade é possível dentro de um contexto e sem ela não existe estética no manuseio das palavras, nem efeitos de uma comunicação desejada. Não é de se admirar que muitos não sintam qualquer atrativo para escrever. Quem não lê, fala pouco, não tem ideias próprias, imagine escrever.
No mundo de hoje, ironicamente chamado da comunicação, a verdade é que não sabemos nos comunicar. Mas de quem seria a culpa? Diria de ninguém. Nossa mesma, de escolhermos uma posição cômoda e passiva que nos transforma em presas fáceis para ideologias politicas enganosas, nos tornando alienados e ‘Maria vai com outras’, sem opinião própria e sem o exercício do pensar.
Reagir é preciso para que, através da escrita, o jovem dê valor a si, aprenda a olhar com profundidade e descubra o mérito relativo das coisas, os enganos, o que é belo e puro a serviço da cultura, da união de uma coerente linguagem falada e escrita. Ninguém é contra o progresso, mas toda ideia vem da experiência e hábito da leitura, do conhecimento mais profundo, da sabedoria e reflexão. Aprendemos a escrever, quando aprendemos a pensar.
Eis, portanto, porque devemos escrever.
Lina Veira