Neusa Bernado Coelho: 'Paralelo cultural'

Neusa Bernado Coelho

Paralelo cultural

A inovação da Semana de Arte Moderna reflete na sociedade ao trazer uma nova visão sobre os processos artísticos. O desenvolvimento das atividades culturais ocorridas em São Paulo na semana de 1922 me faz pensar num cenário das artes criadas por meio da reciclagem e conscientização ambiental.

A Pro-CREP-Criar-Reciclar-Educar e Preservar é um projeto ousado a fazer esse papel. Atua na transformação do lixo, de modo a lançar um olhar inovador para a poesia, artes plásticas e literatura.

A ruptura com o passado se expressa na renovação da linguagem que busca a solidariedade, a experimentação da liberdade econômica e a criação. Expressa a certeza de que os materiais recicláveis são fontes de renda e sustento para muitas famílias, por meio da criatividade.

O burburinho causado na Semana da Arte Moderna é, na coleta seletiva, o barulho das caçambas que chegam atulhadas de reciclados, para a alegria dos trabalhadores no galpão.

Separar plástico, metal, alumínio e papel; realizar o enfardamento dos materiais e reciclar óleo para usina de biodiesel, representam a nova vanguarda.

Essa nova linguagem atrai turistas, instituições escolares públicas e privadas, artistas e outros públicos admiradores da arte da transformação.

No projeto, as tendências artísticas florescem nos resíduos sólidos ao adquirir valor comercial com o brechó ecológico de ‘Consumo Consciente’. Na ‘Feira do Cacareco’, tudo se aproveita e se troca dando nova destinação aos objetos e elementos rejeitados. Na ‘Oficina de Mosaico de Azulejos’, o reaproveitamento de cerâmicas descartadas pela construção civil oferta ao público uma gama de belíssimos quadros, murais, vasos, todos de intensos coloridos e representações poéticas. Na ‘Oficina de Costura’, recicla-se os tecidos e recria-se moda em harmonia com formas e cores.

A inspiração para fazer arte, com foco na educação socioambiental, provém do lixo que seria descartado de forma irregular na natureza. É a matéria-prima a gerar o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. Enfim, são valores agregados a valorizar o trabalho manual e, sobretudo, preservar o meio ambiente. São oportunidades de trabalho que proporcionam o sustento para várias famílias, inclusive haitianos, mulheres desprovidas de renda, população afrodescendente, ressocialização de ex-dependentes químicos, entre outros…

Na semana de fevereiro de 1922, destacaram-se artistas e articuladores do movimento; hoje, os protagonistas são os trabalhadores, talentos anônimos experimentadores de outras estéticas; saíram do lixão para o galpão, preservam o meio em que vivem e sublevam as coisas do homem ao sagrado. A arte de reciclar é a poesia transformada, são anseios e virtudes, quiçá instrumento de paz entre as nações.

Esse paralelo cultural é meu ‘Olhar Feminino entre Letras e Tintas’ o qual defendo ser alinhavado e cada vez mais implementado pela sociedade para irmos além, e gerar outros movimentos a exemplo deste e daquele ocorrido há 100 anos na Semana da Arte Moderna.

 

Fontes pesquisadas:

doeganhe.com.br/pro-crep-organizacao-para-preservacao-ambiental/

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br

 

 




Neusa Bernado Coelho: 'Nação Guarani – Mbya'

Neusa Bernado Coelho

Nação Guarani – Mbya

Arquivo Neusa – Pintura Rute Cardoso

No passado, o limite territorial indígena era definido e respeitado entre as diferentes etnias existentes no Brasil. Com a chegada dos europeus, teve início o processo de colonização e domínio desses povos que foram perdendo espaço.

O tronco tupi-guarani é constituído de numerosa família linguística, sendo o Mbya, ou embiá, um dialeto da etnia guarani . Inicialmente denominados carijós, foram um dos primeiros povos das terras brasileiras a habitar a costa atlântica, desde a Barra da Cananeia até o Rio Grande do Sul. Concentrados preferencialmente na Mata Atlântica, se estabeleceram entre rios e montanhas, em terras férteis próprias para o plantio.

Símbolo nacional, tema de óperas e poesias, o Guarani carrega consigo a imagem de índio integrado, que fala o português e usa vestes ocidentais. Essa adaptação se deve ao fato de que o Mbyá, integrado à civilização, se viu obrigado a incorporar alguns aspectos alheios a sua cultura milenar.

Superadas as questões de escravização pelas bandeiras de apresamento no século XVI e as doenças que reduziram suas populações, resistiram com estratégias de luta por direitos. Suas vozes ecoaram no Congresso Nacional, e em todos os cantos do País quando as terras conquistadas foram ameaçadas por projetos considerados de risco à sua sobrevivência.

Protegidos por legislações no decorrer das últimas décadas, acompanhados pelo Serviço de Proteção ao Índio e depois pela FUNAI – Fundação Nacional do Índio, foi a Constituição de 1988 que garantiu terra, saúde, educação, costume, língua, crença, tradição, organização social e política aos povos originários. Muitos desses direitos não foram alcançados na plenitude, deixando-os na condição de ‘sem-terra’. A grande conquista, entretanto, é que o povo guarani, ainda mantém a identidade tradicional da sua cultura, resistindo aos desafios sociais, políticos e conflitos econômicos, desde os primórdios da colonização.

Aspectos culturais Guarani

Os Mbya, conhecidos como índios da floresta, se organizam em núcleos familiares de numerosas pessoas. A arte, cultura, educação e espiritualidade, são transmitidas de geração em geração pelos mais velhos, sábios, avós e pais. Uma peculiaridade da família é ensinar aos filhos bondade, viver em harmonia, dividir qualquer coisa com seus pares e com outras famílias. Esses hábitos ancestrais representam a permanência da cultura guarani há 500 anos, embora adaptada aos novos tempos. Os cerimoniais acompanham o desenvolvimento da criança desde o batismo, celebrado pelo curandeiro, que lhe dá o nome. A festividade geralmente ocorre no Ano Novo, comemorado em agosto, época em que acontece a festa do milho, da água e da erva-mate. Outra tradição mantida na aldeia está relacionada às meninas, quando ocorre a primeira menstruação; seus cabelos são cortados, e sob a observação da mãe, fica isolada por dois meses, segundo a lenda, para não ser possuída por espíritos maléficos.

Toda aldeia tem a ‘Casa de Reza’ desempenhando há séculos papel fundamental na cultura guarani. É local de oração, meditação, dança e canto, e onde as crianças aprendem desde cedo a respeitar a natureza, as aves, as plantas medicinais. Nas cerimônias, o cachimbo fumado por homens e mulheres é instrumento de elevação espiritual num ritual para obter paz, coragem, saúde, cura e força para viver bem e feliz, seguido pelo karaí, um canto durante o qual todas as pessoas ficam em pé e dançam juntamente. A dança do txondaro é praticada por protetores e guerreiros, ao som de instrumentos musicais. A colheita e a divindade celestial é celebrada com a dança chamada (djerodjy).

Os hábitos alimentares são baseados na caça, pesca, coleta de mel, frutas, palmito, raízes e sementes da natureza. Outros, são plantados: mandioca, batata, moranga, abóbora, melancia, pepino. O milho é considerado sagrado pelo guarani; dele fazem farofa, pamonha, mingau, bolo ralado na cinza e bebida. O rio tem importância na vida dos povos originários; além do lazer, servem para pescar.

A cultura milenar do artesanato é praticada para uso próprio ou para venda. Na confecção dos cestos, arcos e flechas utilizam madeira e taquara; balaios com desenhos significam amor, e os que não têm significam paz. O colar representa o fortalecimento do espírito. As encantadoras pinturas corporais os distinguem entre as tribos e as famílias, são utilizadas no dia a dia; são diferenciados em rituais comemorativos ou de combate.

Em Santa Catarina, as aldeias Guarani estão presentes em vários municípios. Na região do Massiambu e Morro dos Cavalos, em Palhoça/SC, a primeira presença é documentada em 1576. Atualmente, vivem próximos da sede do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, sobrevivem nas ruas da cidade esmolando ou vendendo seus artesanatos aos turistas. Reclamam da falta do Tekoa, espaço de terras férteis para plantar, rios e florestas para a coleta, pesca e caça.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com

 

Fontes consultadas:

Revista de História da Biblioteca Nacional-Clarice Cohn p.18-21. N.91 de 2013

Revista de História Catarina p.72-82.

Revista-História/SC-Aldo Litaiff, p. 76-78-ed. 46-2012.

Mbya Reko (Vida Guarani). Projeto Microbacias 2, 2006.

 




Neusa Bernado Coelho: 'A resiliência da professora Hélia Alice dos Santos na Pró-CREP – Organização para a preservação ambiental'

Neusa Bernado Coelho

A resiliência da professora Hélia Alice dos Santos na Pró-CREP – Organização para a preservação ambiental

A Pró-CREP desenvolve atividades socioambientais com o lema: “Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos”. Diante da precariedade na coleta dos resíduos pelo poder público, o olhar iluminado da professora Hélia vislumbrou uma oportunidade de transformar o lixo em um novo cenário. Em 03 de novembro de 1992, realizou a primeira mobilização da comunidade escolar em mutirões de limpeza. Com ajuda de pais e alunos, os resíduos garimpados começaram a ser reciclados e vendidos, principalmente alumínio. Toda verba arrecadada reverteu em favor da melhoria pedagógica e estrutural da escola. O benefício refletiu em novos banheiros, cozinha, refeitório, quadra de esportes etc. No Natal, o trabalho foi de embelezamento do bairro transformando reciclados em árvores natalinas. 

Com dedicação e criatividade, a professora Hélia promove o desenvolvimento sustentável e a inclusão social, tendo seu trabalho de conscientização ambiental reconhecido. Em 1997, recebeu das mãos do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, a Medalha e o “Prêmio Incentivo à Educação Fundamental”.  

Em 2004, a Associação Pró-CREP é legalmente instituída; a coleta dos resíduos é transportada por meio de carrinho de mão, carrinho de papeleiro, multirões na comunidade… 

Atualmente, a realidade da Pró-CREP é outra: recebe a coleta seletiva de aproximadamente quinze mil habitantes residentes no litoral de Palhoça, sendo que esse número triplica no verão. Pioneiro na região, o projeto da Pinheira é dotado de uma infraestrutura invejável, porém sem capacidade de atender todo o município que tem cerca de duzentos mil habitantes. Conta com pessoal para coleta e transporte de materiais recicláveis e óleo de uso doméstico e comercial. 

O galpão da Pró-CREP está equipado com esteira para separar plástico, metal, alumínio e papel. Realiza o enfardamento dos materiais e dispõe de usina de biodiesel implantada por estudantes da UNISUL – Universidade do Sul de SC. O óleo reciclado produz sabão de ótima qualidade; uma parte do biodiesel é destinado para movimentar as embarcações de pesca dos nativos da praia da Pinheira e para os maquinários e veículos utilizados no projeto. Outros resíduos sólidos adquirem valor comercial no brechó ecológico de ‘Consumo Consciente’, na ‘Feira do Cacareco’; na ‘Oficina de Mosaico de Azulejos’ reaproveitando cerâmicas descartadas pela construção civil e na ‘Oficina de Costura’, reciclando os tecidos. São oportunidades de trabalhos criadas que proporcionam sustento para várias famílias, inclusive para haitianos que procuram um novo horizonte na comunidade turística. As peças de artes são vendidas aos turistas que se rendem às belezas naturais do lugar triplicando na temporada de férias de verão. O projeto é visitado, além dos turistas, por instituições escolares públicas e privadas, e acolhe todos os níveis da educação, do infantil ao superior, onde o foco é a educação socioambiental. 

Inscrita no Conselho Municipal do Meio Ambiente e da Assistência Social, a Associação é um modelo a ser seguido. Contempla parcerias com universidades onde os alunos ocupam o espaço para laboratório de pesquisas acadêmicas e geram Trabalhos de Conclusão de Cursos em diversas áreas do conhecimento. 

Arte produzida na Associação Pró-CREP 

Fotos: Associação Pró-CREP

A professora Hélia, protagonista do projeto, atua voluntariamente na Associação, sob sua orientação 60 famílias tiram o próprio sustento. A Pró-CREP é uma das instituições parceira do Ministério Público, acolhe e ressocializa dependentes químicos em recuperação, ex-presidiários e apenados. Inclui socialmente imigrantes haitianos, mulheres desprovidas de oportunidades e população afrodescendente. O trabalho educativo desenvolvido na associação valoriza o ser humano, e por ser transformador, é referência na região. As escolas, os municípios vizinhos, os turistas, procuram o projeto para conhecer e aprender o destino final ambientalmente adequado dos resíduos.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br

 

 

 




Neusa Bernado Coelho: 'Mercado Público Municipal de Palhoça/SC – Memória do século passado'

Neusa Bernado Coelho

Mercado Público Municipal de Palhoça/SC

Memória do século passado

No início do século XX, Palhoça era pujante na produção agrícola, pecuária e pescados. Havia grande quantidade de olarias que fabricavam telhas e tijolos, além dos engenhos que produziam farinha de mandioca de excelente qualidade. O Mercado Público, além de ponto de encontro da diversidade, era o entreposto comercial para comercializar essas mercadorias trazidas por agricultores do interior e da serra. Os tropeiros transportavam mercadorias em lombos de mulas durante dias até chegar ao Mercado Público. Daí, ao Porto de Florianópolis (antiga Desterro), o transporte era feito pelo mar, por meio de lanchões, bateiras e barcos movidos a vela. A população de Desterro crescia e o comércio da capital se abastecia dos produtos produzidos nos Distritos localizados no continente fronteiriço, inclusive, Palhoça.

Em 1926, com a construção da Ponte Hercílio Luz, os próprios produtores transportavam suas mercadorias em carroças puxadas por bois ou carretas de cavalos trafegando por estrada de terra e sobre a única ponte que ligava o Continente à Ilha, até chegar no Mercado Público de Florianópolis.

Na mesma época a população e os comerciantes palhocenses reivindicavam um espaço maior para exercer a atividade comercial. Eis que em 1950, o conterrâneo prefeito e depois governador do Estado de Santa Catarina, Dr. Ivo Silveira, construiu o atual Mercado Público Municipal (figura abaixo).

Mercado Público Municipal de Palhoça- SC – 1950 Foto: José Bulin

Recentemente restaurado, preserva traços da cultura e arquitetura luso-brasileira de estilo açoriano, muito presente no século passado. A restauração tem importante significado para a memória do município, pois preserva e resgata as raízes culturais deixadas pelos antepassados. Os munícipes motivados, conscientizam-se da responsabilidade para manutenção da história, haja vista, que são poucos os exemplares arquitetônicos que permanecem intactos, pois a maioria dos casarios em estilo luso-brasileiro foram demolidos, dando lugar ao progresso.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br




Neusa Bernado Coelho: 'Antonieta de Barros (1901-1952)'

Neusa Bernado Coelho

Antonieta de Barros (1901-1952)

Antonieta de Barros – (Memorial Antonieta de Barros)

Antonieta de Barros, professora, jornalista e escritora, natural de Florianópolis/SC. Nasceu em 11 de junho de 1901. Filha de ex-escravos, órfã de pai, foi criada por sua mãe, Catarina de Barros, que desempenhava a função de lavadeira na casa da família Ramos, importantes políticos de SC. Por influência dessa família, foi alfabetizada aos cinco anos de idade na Escola Lauro Muller. Aos 20 anos, formou-se na Escola Normal Catarinense, atual Instituto Estadual de Educação, concretizando o sonho de ser professora.

Ativista da emancipação feminina, Antonieta de Barros, travou uma histórica luta para transpor as barreiras raciais, de gênero e de classe, tornando-se exceção num reduto branco e masculino. Foi a primeira secretária da Liga do Magistério; lutou pelos direitos das professoras, pois estas não podiam casar em nome da boa reputação. Também participou do Centro Catarinense de Letras, fundado em 4 de janeiro de 1925, instituição literária que acolhia intelectuais negros e das camadas populares ligados às letras e à política catarinense.

Antonieta de Barros foi a primeira Deputada Constituinte e Deputada Estadual na Assembleia Legislativa de SC e primeira mulher negra a exercer um mandato popular no país, época em que as oligarquias se revezavam no poder. Destacou-se pela coragem de expressar suas ideias num contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão.

Além de jornalista, escritora e política, a professora lecionou Português e Literatura nos conceituados Colégio Coração de Jesus e Dias Velho, neste último nomeada diretora. Em todas as suas atuações, defendeu educação de qualidade para todos; acreditava que o ensino libertaria as pessoas da marginalização social e seria um meio de ascensão para as mulheres. Com esse intento, em maio de 1922, aos 21 anos, inaugurou o ‘Curso Particular de Alfabetização Antonieta de Barros’, dirigido por ela até a morte. O Curso destinava-se a preparar alunos ao exame de admissão para ingresso no curso ginasial do Instituto de Educação e da Escola Politécnica e também tinha a finalidade de alfabetizar crianças e adultos carentes.

A boa formação intelectual de educadora facilitou transpor as barreiras impostas às mulheres e à liberdade de imprensa. Na década de 1920, criou e dirigiu alguns jornais, e por mais de 20 anos (entre 1929 e 1951), com o pseudônimo de ‘Maria da Ilha’, Antonieta escreveu crônicas sobre educação, direitos das mulheres, preconceito, vida política, religiosa e social, em diversos jornais de Florianópolis e de SC.

Em 1934, no primeiro sufrágio popular em que as mulheres votaram, Antonieta elegeu-se Deputada Estadual e Constituinte em 1935, pelo Partido Liberal Catarinense (PLC). A luta pela emancipação feminina foi ganhando impulso em todo o país e Antonieta tornou-se a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular. Seu lema: educação para todos, valorização da cultura negra e emancipação feminina. Salienta-se que, até essa data, as mulheres, negros, pobres e analfabetos não tinham direito ao voto no processo sufragista brasileiro.

Antonieta destacou-se como sendo a primeira mulher a presidir uma Assembleia Legislativa em 1937.  Porém, com instauração do Estado Novo e fechamento do Congresso Nacional e de Assembleias Estaduais, Antonieta perdeu os direitos políticos. O Jornal República, onde ela publicava crônicas, também encerrou. Com a redemocratização do Brasil em 1945, a ilustre catarinense foi reeleita no pleito de 1947.

Nessa fase, Antonieta publicou a obra: ‘Farrapos de Ideias’, uma coletânea de crônicas escritas para os jornais de Florianópolis. A verba arrecadada com a venda do livro foi doada para construção de uma escola chamada de ‘Preventório’ (hoje Educandário SC), destinada às crianças filhas de pais portadores de hanseníase, internados na então colônia Santa Teresa/São José.

Na segunda legislatura de Antonieta, destacaram-se a reestruturação da escola profissional feminina, o concurso para cargos no magistério e a concessão de bolsas de estudo para alunos carentes. É de sua autoria o projeto que cria o ‘Dia do Professor em SC’, comemorado em 15 de outubro de cada ano e o ‘Feriado Escolar’ pela Lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, homologada pelo governador José Boabaid.

Antonieta faleceu em 28 de março de 1952, aos 50 anos de idade, por complicações de diabetes. Está sepultada no Cemitério São Francisco de Assis em Florianópolis.

Mesmo esquecida nos livros de história do país, a luta de Antonieta em defesa das mulheres, negros e pobres, continua,  pois, ainda hoje, a mulher é minoria representativa em cargos políticos no Brasil. Essa invisibilidade da mulher na política, segundo Antonieta, era fruto de questões culturais, como o machismo presente na sociedade. Mais de cem anos se passaram, e continuam vigentes no século XXI, a desigualdade, o preconceito e a violência contra a mulher. Infelizmente!

A ilustre cidadã nomeia ruas, avenidas, estabelecimentos públicos e foi tema de samba- enredo de Carnaval da Ilha. Na Assembleia Legislativa, dá nome a Medalha concedida às mulheres com relevantes serviços prestados em defesa da mulher catarinense.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br

 

 




Neusa Bernado Coelho: 'O poder da Rosa'

Neusa Bernado Coelho

O poder da Rosa

Anita Garibaldi

“Heroína dos dois Mundos” (1821-1849)

 

Expresso admiração por Anita, mulher revolucionária, na crônica de minha autoria premiada no Concurso realizado pela AJEB/SC e Associação Itália no Mundo, por ocasião da comemoração do Bicentenário de nascimento da heroína.

 

Ana Maria de Jesus Ribeiro, Aninha ou Anita Garibaldi, uma rosa garbosa que, com trejeito e ginga, enfeitiçou o coração de Giuseppe, um jovem exilado italiano, o homem que a acompanhou no amor e na batalha por dez longos anos. Desfilou a magia feminina entre mares e montanhas, lares e casebres, praias e convés de navios, empunhando corajosamente arma de fuzil tal qual flauta da harmonia. Destemida, brada aos homens: ‘Vamos à luta!’. E, nas cores destiladas em rajadas de canhões da Revolução Farroupilha, atestou a valentia e sapiência da mulher à frente do seu tempo, para em seguida desfraldar calmaria em pétalas brancas da paz e o doce beijo de paixão no amado.

        O adeus à idílica Laguna, sua terra natal foi aos dezoito anos de idade rumo ao batismo de fogo na Batalha Naval de Imbituba. No Uruguai, casou-se com Giuseppe Garibaldi; depois foi lutar ao lado do marido pela unificação da Itália, deixando rastro de encantamento e admiração por onde passava.

        A radiosa história dessa mulher sonhadora iniciou há duzentos anos, em 30 de agosto de 1821, na localidade de Morrinhos, Tubarão, hoje a majestosa e histórica Laguna. Fundada por açorianos, abrigou viajantes para abastecerem-se de provisões e fazerem reparos em suas embarcações. No local, encontra-se para visitação o ‘Museu Casa de Anita’ que relata a história da ilustre moradora. A importante personagem nomeia avenidas, ruas e escolas por todo o Brasil. Em sua deferência, foi inaugurada a monumental ‘Ponte Anita Garibaldi’, em Laguna.

        Em 1849, aos 27 anos, grávida do quinto filho, não resiste a fugaz perspicácia e desfalece nos caminhos dos campos de Ravenna, Itália, vindo a sucumbir nos braços do amado que um dia lhe dissera: ‘Tu deves ser minha!’. Mais tarde, recordaria: ‘Era Anita! A mãe dos meus filhos! A companheira de minha vida, na boa e má fortuna! A mulher cuja coragem desejei tantas vezes’.

         O bicentenário de nascimento da ‘Heroína de Dois Mundos’ confirma o legado de que jamais será esquecida. Nas confrarias é rememorada em versos e prosas; em coletâneas, obras autorais e materiais didáticos. Seu nome está inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da liberdade e da democracia, em Brasília.

Em 2021, a comemoração a enfeitiçar corações, inclui a plantação da rosa híbrida desenvolvida na Itália, especialmente para homenagear a jovem flor que um dia transitou entre o Brasil e Itália em busca da liberdade republicana. Agora, renasce em diversos jardins por onde passou, em forma de ‘Due Mundi e Uma Rosa per Anita’.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com.br

 




Neusa Bernado Coelho: 'Sítios Arqueológicos: Ilha do Coral' – Palhoça/SC

Neusa Bernado Coelho

Sítios Arqueológicos: Ilha do Coral – Palhoça/SC

Há cerca de 5.000 anos o litoral catarinense passou a ser ocupado pelos índios carijós, da família tupi-guarani, e, no século XVI foram os primeiros a contactar com os navegadores europeus. Nesse litoral a espetacular planície costeira da Baixada do Maciambu, Palhoça, ladeada por Mata Atlântica, subsistem duas aldeias indígenas guaranis, engenho de farinha, pesca artesanal, criação de gado, diversas formas coletivas de apropriação dos recursos naturais e de expressões artísticas. A presença de povos pré-coloniais nessa região evidencia-se por meio de sítios arqueológicos, e por sambaquis, locais onde os índios processavam alimentos e enterravam seus mortos.

A paradisíaca Ilha dos Corais, localizada na Guarda do Embaú, Palhoça, foi um dos ambientes habitados por povos originários. Apresenta sítios arqueológicos e grandes painéis de figuras geométricas com formação de há aproximadamente dois mil anos. As inscrições rupestres, expressão artística mais antiga da humanidade, estão dispostas em paredões rochosos voltados para o oceano. Segundo algumas pesquisas, provavelmente teriam sido códigos simbólicos relacionados ao ambiente marítimo com finalidade de integrar as populações ao longo da costa. Hoje, representam um importante Patrimônio da União.

Fonte: SOS Rio da Madre;

Socioambiental. 2000, SOL/SC, 2017.

Por Neusa Bernado Coelho, natural de Palhoça/SC. Poetisa e historiadora