Cláudia Lundgren: 'O morro'
“Este é um texto que eu, na qualidade de escritor, adoraria ter escrito! Para mim, ele alça a escritora e poetisa Cláudia Lundgren ao patamar das grandes expoentes da literatura universal!” (Sergio Diniz)
O morro acorda cedo, espreguiça-se.
Morro sinestésico, aromático. De algumas casas exala o cheiro do café recém-coado e da comida da marmita do trabalhador sendo esquentada; de outras, a fedentina alcoólica de alguém que, trôpego, acabou de chegar da barraca.
Morro colorido, multicor. O azul misturando-se ao verde, ao amarelo, ao branco; uma tela abstrata de cores aleatórias.
O morro, sempre um adolescente em fase de crescimento. Seria o Céu seu limite?
O choro das crianças, das mulheres; o grito por socorro. A música em alto volume. Os meninos brigando, xingando, em contraste com outros querendo somente paz para conseguir estudar.
O morro gargalha, comemora o gol, solta pipa, fofoca nas escadas. O morro também chora; é a bala perdida, o tráfico. A violência física e psicológica; o tapa na cara, a humilhação, a vergonha, o medo que provém da ameaça. É a sirene, é a prisão.
O morro é morte, o morro é vida.
A noite chega, e tal qual céu estrelado, o morro acende suas luzes de variadas intensidades. E dorme tarde.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@gmail.com
Nota do editor
Um texto bem escrito é semelhante às célebres esculturas de Cellini, Sansovino e, principalmente, Michelangelo Buonarroti. Igualmente, uma pintura de Da Vinci ou de Rafael. Ainda, a uma composição de Prokofiev, Debussy, Mozart ou Beethoven. Tanto quanto, a graça, a leveza, a arte do Balé Bolshoi.
Um texto bem escrito, como são as grandes manifestações artísticas, é um símbolo do pensamento e das emoções humanas, vertidas em palavras.
Este é um texto que eu, na qualidade de escritor, adoraria ter escrito! Para mim, ele alça a escritora e poetisa Cláudia Lundgren ao patamar das grandes expoentes da literatura universal! (Sergio Diniz)