Documentário 'Vai e Vem' parte do diálogo entre suas diretoras para retratar o mundo contemporâneo

Filme experimental abrirá o 11º. Olhar de Cinema, em 01 de junho, e chega aos cinemas em 2023

Duas amigas, dois países diferente, dois cenários próximos de caos e destruição. O documentário VAI E VEM nasce da ligação e das trocas entre suas duas diretoras, Chica Barbosa e Fernanda Pessoa, morando Los Angeles (EUA) e São Paulo, respectivamente. O momento é 2020, começo da pandemia, e ambos países marcados por governos negligentes e a escalada da Covid. O longa será lançado em cinemas pela Boulevard Filmes, em 2023, mas, antes disso, abrirá o 11o Olhar de Cinema, em 01 de junho.

Eu queria que a Chica tivesse um pouco da sensação do que era estar no Brasil naquele momento – os panelaços diários, a obsessão com as notícias, a cidade que deveria estar vazia, mas na verdade nunca ficou, os trabalhadores que não tiveram a chance de parar porque o capital, os empreendimentos imobiliários nunca param por aqui. Por outro lado, queria entender como ela estava vivendo esse momento lá, recém-chegada aos Estados Unidos de Trump”, explica Fernanda.

Para estabelecer esse diálogo, as duas jovens cineastas partiram de uma espécie de jogo, tendo como base um livro da professora americana R. Blaetz sobre o cinema experimental dirigido por mulheres. A publicação é composta de 16 artigos sobre diversas cineastas, e Fernanda e Chica se comunicariam por meio de vídeo-cartas curtas, cada uma inspirada por uma dessas mulheres.

Além da lista de Blaetz, a dupla também buscou nomes de outras diretoras para enriquecer o processo. “Não foi simples. Apesar de termos claro que existe uma variedade de artistas experimentais latino-americanas e negras, ainda existe o empecilho de ter um fácil acesso aos seus trabalhos. Queríamos encontrar nomes dos quais pudéssemos levar nossa pesquisa com mais profundidade para assim aplicá-la na nossa correspondência”, explica Chica.

O vai e vem das correspondências digitais durou meses, e atravessou momentos políticos marcantes – como processos eleitorais nos dois países. “No Brasil, quando o filme começou, havia uma esperança de que Bolsonaro caísse. O caos social e a pandemia davam muito medo, mas ao tempo parecia que havia uma possibilidade de mudança muito radical. No entanto, pouco a pouco parece que fomos nos acostumando com os absurdos desse governo e da pandemia”, conta Fernanda.

Apesar de sentirmos um indício de esperança com a vitória do Biden, 2021 iniciou com a invasão do capitólio e o discurso absurdo sobre a fraude do resultado das eleições. Nem a grande representatividade na equipe do Biden foi suficiente para sentirmos verdadeiramente um avanço no país desde então”, complementa Chica.

Para além das transformações sociais e políticas que o filme acompanha nos dois países, VAI E VEM foi uma experiência que mudou a vida das diretoras. Fernanda ingressou no doutorado com um projeto sobre o cinema experimental feito por mulheres na América Latina.

Com a pesquisa que eu e a Chica fizemos juntas, e a descoberta da falta de bibliografias e materiais sobre as mulheres latinas do experimental, decidi me aprofundar nesse caminho. Já no âmbito pessoal, além de reforçar minha amizade e admiração pela Chica, me fez buscar mais comunidade entre mulheres.”

Eu não venho de uma formação acadêmica, mas todo esse tempo entre pesquisa e práxis com a Fernanda, à nossa maneira e a partir das nossas próprias regras, resultou em uma belo estudo que me fez entender melhor o cinema que desejo realizar a partir de agora. O filme também me conectou com diversos coletivos de cinema de mulheres, e diversos também entre si, entre documentaristas, de latinas, “brown” e “BIPOC” – termo que acolhe toda mulher que não é identificada como branca nos Estados Unidos”, conta Chica.

Combinado diversos tipos de imagens, fotografia e texturas, VAI E VEM é um documentário com a urgência do presente, e uma observação potente de duas jovens cineastas sobre o mundo em que habitam. “Para nós, já era hora de questionar a estética cinematográfica e como contamos histórias, por meio de novas pesquisas, influências, lentes e olhares. Uma das razões pelas quais decidimos ter essas diretoras como ponto de partida formal é tomar o cinema experimental como uma forma de criação livre, sem amarras e sem convenções, mas ainda assim capaz de ressoar com o público”, concordam as duas.

VAI E VEM será lançado no Brasil pela Boulevard Filmes.

Sinopse

O ano em que tudo mudou radicalmente, onde as fronteiras reais e invisíveis ganharam outra dimensão, é a raiz de uma provocação fílmica. Duas amigas separadas pelos hemisférios norte e sul da América pretendem dançar no tumulto de imagens, violências, frustrações e desejos. Fazem-no através de um jogo onde o registro de si e das mulheres ao seu redor se transforma em um diálogo real e lúdico, como um encontro e um abraço decididos a resistir à distância.

Ficha Técnica

Escrito, dirigido, editado e fotografado por Chica Barbosa e Fernanda Pessoa

Produção: Vulcana Cinema e Pessoa Produções

Produzido por Paola Wink e Jessica Luz

Edição e mixagem de som: Tiago Bello, Chica Barbosa e Fernanda Pessoa

Colorido por Daniel Dode e Gustavo Zuchowski

Trilha sonora original: Aline Araújo, Julia Teles e Thiago Zanato

Ano: 2022

Duração: 82 minutos

As diretoras

Chica Barbosa é uma premiada diretora brasileira-mexicada residente em Los Angeles. Seu trabalho é focado no cinema de não-ficção, experimental e com narrativas híbridas, tratando de temas como imigração, conolização, LGBTQ+, identidade e fé como um ato de resistência. Seu curta-metrabem “La Flaca” (The Bony Lady, 2018) foi selecionado para mais de 100 festivais ao redor do mundo e ganhou diversos prêmios. Seus trabalhos foram exibido no IDFA, RIDM, DOC NYC, Message to Man, Frameline, Fribourg IFF, entre outros.

Fernanda Pessoa é diretora e artista brasileira. Como doutoranda na USP, pesquisa o cinema experimental latino americano feito por mulheres, é mestre pela Sorbonne Nouvelle. Seu primeiro documentário “Histórias que nosso cinema (não) contava” (2017) foi exibido em mais de 25 festivais e distribuido na Netflix no Brasil. Seu segundo documentário “Zona Árida” (2019) recebeu uma Menção do Júri no DOK Leipzig. Seus trabalhos foram exibido no IDFA, RIDM, Doclisboa, DOC NYC, Festival du Nouveau Cinéma, BIENALSUR, CalArts, entre outros.

Sobre a Vulcana Cinema

Vulcana Cinema é produtora brasileira criada em 2018 por Jessica Luz e Paola Wink, que acumulam mais de dez anos de experiência como produtoras das empresas Besouro Filmes e Tokyo Filmes em Porto Alegre. Elas produziram mais de vinte curtas entre eles O TETO SOBRE NÓS (Locarno Competition 2015) e DAMIANA (Cannes Competition 2017, TIFF Competition 2017) e longas como CASTANHA (Berlinale Forum 2014), RIFLE (Berlinale Forum 2016) e TINTA BRUTA (Berlinale Panorama 2018), além de diversas séries para TV. Em 2021, o longa em coprodução com Uruguai, Argentina e França O EMPREGADO E O PATRÃO teve sua estreia na Quinzena dos Realizadores em Cannes. Com foco em filmes arthouse, primeiros longas e mercado internacional, seus projetos foram premiados em importantes fundos internacionais como Hubert Bals Fund, IDFA Bertha Fund e Visions sud Est e participaram em laboratórios renomados como EAVE Puentes, Berlinale Talent Project Market, Torino Film Lab e Binger Film Lab.

Sobre a Pessoa Produções

Pessoa Produções é uma produtora paulista focada em cinema, vídeo e videoinstalações. Fundada em 2014 pela diretora e produtora Fernanda Pessoa, produziu nove curtas, exibidos em festivais nacionais e internacionais, como IDFA, DocLisboa, É Tudo Verdade, Hot Docs, DOK Leipzig, Mostra de Tiradentes, RIDM, Oberhausen, além de videoclipes para cantores e bandas. Produziu o documentário “Histórias que nosso cinema (não) contava” (2017) e coproduziu o documentário “Zona Árida” (2019).

Distribuidora: Boulevard Filmes

A Boulevard Filmes, criada em 2013, é uma produtora e distribuidora audiovisual que busca o equilíbrio entre projetos autorais e demandas de mercado, focando em estratégias de produção e de distribuição compatíveis com cada projeto. A empresa  se dedica principalmente à produção (curtas e longas) e distribuição (longas) de cinema brasileiro independente. A versatilidade e a busca pela diversidade são suas principais características, firmando parcerias com diretores e produtoras do norte ao sul do país.

Enquanto distribuidora, é responsável pelo lançamento comercial de filmes como Raia 4, Histórias que o nosso cinema (não) contava, Proibido Nascer no Paraíso, Libelu – Abaixo a Ditadura, Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes, Legalidade, Amor, Plástico e Barulho, Açúcar, entre outros.




Documentário sobre violência contra a mulher, rodado em 4 países, estreia em festivais do Brasil e México

NUNCA MAIS SEREI A MESMA, de Alice Lanari, está na seleção do 10o Olhar de Cinema

NUNCA MAIS SEREI A MESMA, segundo documentário de Alice Lanari faz sua estreia mundial na 10ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba com exibições nos dias 9 e 13 de outubro e emenda sua primeira participação internacional na mostra competitiva do 16º DocsMX – Festival Internacional de Cine Documental de la Ciudad de México entre os dias 14 e 24 de outubro.

NUNCA MAIS SEREI A MESMA usa a escuta como base para tratar com delicadeza um tema agudo: a experiência de mulheres que convivem com a violência de gênero sob distintas formas, em quatro países da América Latina.

Os relatos de Lorena, Brandy, Ana e Cecília são como retratos que se entrelaçam, e falam inevitavelmente de seu tempo, em uma narrativa que se estabelece como um fio de costura, trazendo para o filme a relação dessas mulheres consigo mesmas.

A diretora comenta “busco trazer o que senti quando escutei pela primeira vez suas histórias, e o que veio a partir de nosso encontro. O título do filme estende seu significado como o passado, presente e futuro de todas as mulheres que sofreram alguma violência, ou seja, de todas as mulheres, eu inclusive.”

Já a produtora Luciana Boal Marinho pontua que, “através da interlocução com entidades nacionais e internacionais relacionadas ao tema, buscamos um recorte de países da América Latina que fossem representativos dos diversos tipos de violência pelos quais as mulheres passam ao longo da vida”.

Rodado no Brasil, Argentina, México e Honduras, o longa documental NUNCA MAIS SEREI A MESMA contou com uma equipe de filmagem exclusivamente feminina.

SINOPSE

Lorena, Brandy, Ana e Cecília nunca se encontraram, mas suas histórias sim. Elas têm distintas idades, origens e cores da pele, mas todas são mulheres latino-americanas que foram afetadas pela violência. NUNCA MAIS SEREI A MESMA é um longa documentário que conta histórias de vulnerabilidade e força, vividas no México, Honduras, Brasil e Argentina. Histórias que, com todos os seus contrastes, dialogam e rimam entre si.

FICHA TÉCNICA

Produzido por: Luciana Boal Marinho, Alberto Graça e Daniel de Souza

Ideia original: Daniel de Souza

Direção e Roteiro: Alice Lanari

Produção Executiva: Ricardo Favilla

Produção Associada: Diego Paiva

Direção de Fotografia: Andrea Capella

Som direto: Marina D’Ávila

Assistência de Direção: Melina Bomfim

Montagem: Ana Costa Ribeiro

Edição de som e Mixagem: Bernardo Uzeda

Cor: Marco Abujamra

Pós-produção: Paradox Color

Música: Bruno Aguilar

FESTIVAIS

16º DocsMX – Festival Internacional de Cine Documental de la Ciudad de México – De 14 a 24 de outubro de 2021.

Seleção oficial: seção Nuestra América.

10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba – De 06 a 14 de outubro de 2021.

Seleção oficial: seção Outro Olhares.

SOBRE A DIRETORA

Alice Lanari estreou em 2018 seu primeiro documentário, o longa-metragem “América Armada”, codirigido com Pedro Asbeg, em sessão hors concours do 51º Festival de Brasília. Desde então, o filme circulou em mais de 20 festivais em todo o mundo, como o 40º Festival de Havana e o 13º DOCSMX, onde recebeu menção honrosa. Foi assistente de direção em mais de uma dezena de longas, dentre eles o documentário “Juízo”, de Maria Augusta Ramos. Dirigiu o curta documentário “Escuta, gajon” e clipes como “Amor Brando” (Karina Buhr) e ”Domingo” (Vecina).

É produtora associada de “Democracia em Vertigem”, original Netflix dirigido por Petra Costa e indicado ao OSCAR de Melhor Documentário em 2020. Passou os últimos anos vivendo entre Argentina, México, Brasília e agora está no Equador. NUNCA MAIS SEREI A MESMA é seu segundo documentário longa-metragem.

SOBRE A MPC FILMES

Com mais de 30 anos de experiência no mercado audiovisual nacional e internacional, a MPC já produziu 6 longas-metragens de ficção e mais de 50 docs para o mercado brasileiro e europeu em coprodução com parceiros como France Television, Arte, BBC, Telecine e Globo Filmes, e produtoras como Gaumont Internacional, KRE e Filmes do Tejo II.

Seus lançamentos mais recentes incluem o documentário “500 – Os Bebês Roubados Pela Ditadura Argentina” (2015), de Alexandre Valenti, grande vencedor do 26º FIPA; “A Esperança é a Última que Morre” (2015), dirigido por Calvito Leal; “Histórias da Fome no Brasil” (2017), dirigido por Camilo Tavares, com o apoio da FAO, PMA – Programa Mundial de Alimentos, Ação da Cidadania e IBASE; “Yvone Kane” (2017), drama com Irene Ravache que rendeu à Beatriz Batarda o prêmio de Melhor Atriz no 18º Festival Luso Brasileiro; “Tente Entender O Que Tento Dizer” (2019), de Emília Silveira, Prêmio do público de Melhor Documentário no 8º Agenda Brasil-Milão; “Beatriz” (2019), de Alberto Graça, seleção oficial na 17ª Première Brasil/Festival do Rio; e “Vidas Descartáveis” (2021), documentário vencedor do Prêmio Especial do Júri no 23º Cine PE.