Ivete Rosa de Souza: 'Papai Noel'

Ivete Rosa de Souza

Papai Noel

Mesmo menina não acreditava

Quando meu pai dizia para escrever

Uma cartinha pedindo presente, não mandava

Porque sabia que o Papai Noel não iria ler

E por muitas vezes eu escondia

O tal presente que eu queria

Papai Noel não existia

Para quem nem tinha o que comer,

Mas meu pai, não me enganava

Trabalhava duro, e a casa voltava

Não sei se era mágica, mas impressionava

O jeito que ele dava

Um frango assado, arroz e farofa

Roupas usadas, que para nós eram novas

E um brinquedo que nos alegrava

Então descobri através dos anos

Papai Noel existia, se chamava Joaquim

O melhor dos pais, que deu a mim

A esperança e a crença nos Natais.

 

Ivete Rosa de Souza

 iveterosad@gmail.com




Pedro Novaes: ' Noel Cansado'


Pedro Israel Novaes de Almeida – NOEL CANSADO

         Papai Noel deve estar tomando alguns calmantes, como parte dos preparativos para mais uma vinda à terra.

Já conversou com as renas, pedindo que não se importem com o fato de serem chamadas de “veadinhos”. O bom velhinho sabe, há séculos, que o ambiente por aqui só faz piorar, ano após ano.

Com certeza  será chamado de comunista, escravizador, ou direitista a serviço de interesses escusos do grande capital. Alguns dirão que os presentes não foram objeto de licitação, e alguma verba deve ter sido desviada, no céu.

O bom velhinho continua direcionando os presentes segundo o sexo de nascimento das crianças, mas entende e respeita a diversidade. Jamais vai aderir à tese, tão em voga, de que todos nascemos assexuados, e só experimentando todas as alternativas ocorrerá a tão esperada opção.

Os presídios, no natal de 2017, estarão lotados, com pessoas que  juram haver cometido crimes sem violência . Alegam que só se entregaram aos prazeres e confortos do Caixa 2.

Todos, sem exceção, pediram para serem julgados por algum ministro benevolente, que persiga o esvaziamento dos presídios, colocando em liberdade criminosos engravatados. Alguns, mais realistas, pedem para cumprir a pena no sofrimento das mansões, portando tornezeleiras invisíveis.

Papai Noel não vai cruzar os céus da Coréia do Norte, para evitar que seja atingido pelo foguetório do presidente endeusado. Por lá, os presentes estão proibidos, e quem ousar pedi-los comete crime contra o regime. Da Venezuela, recebeu a garantia de livre trânsito, desde que cole, no trenó, a imagem do companheiro Chavez.

Muitos prefeitos imploraram para que o bom velhinho traga algum presente que ocupe, em tempo integral, as viúvas da administração passada. Inconformadas com os resultados das urnas, tentam boicotar os eleitos e, dizem, até forjar falsos testemunhos que ensejem a cassação política ou judicial de mandatos.

Outros prefeitos pedem que o bom velhinho, no retorno, leve junto alguns vereadores e profissionais de imprensa, formados ou não em jornalismo. Funcionários comissionados pedem a extinção dos horários de serviço, e fiquem livres da enfadonha e constrangedora análise de necessidade do cargo.

Produtores rurais fizeram o mais singelo dos pedidos: o respeito à propriedade e estruturas produtivas, que não foram roubadas. Temem que turbas  adentrem os imóveis, com os discursos de sempre, e de lá não sejam logo retiradas.

Por todo o país, Noel receberá pedidos de atendimento nas estruturas de saúde, e até o regular recebimento de salários acabou sendo uma dádiva de natal. Idosos e quase idosos imploraram para que a aposentadoria ocorra ainda em vida.

Cientistas sociais garantem que o bom velhinho dificilmente retornará à terra, após o natal de 2017. Passou séculos recebendo pedidos singelos, e agora recebe clamores desesperados e até violentos, como a extinção dos corruptos, coniventes, propagandistas e até protetores de bandidos.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.




Pedro Novaes: 'inimigos de Papai Noel'

colunista do ROL Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘INIMIGOS  DE  PAPAI  NOEL’

 

Noto, desde criança, a campanha difamatória que movem contra Papai Noel.

Diziam que as renas eram, na verdade, veadinhos, e que o paletó escondia as mais horríveis tatuagens. Outros apontavam para a eterna solteirice do velhinho, estranhando como alguém, naquela idade, jamais tivesse tido um comprometimento sentimental, ou arrastasse dezenas de pensões alimentícias vencidas.

Russos e cubanos comentavam, à boca pequena, que Noel era um agente norte-americano disfarçado, entregando brinquedos cujas peças de reposição só eram fabricadas por multinacionais exploradoras. Especialistas em segurança, por outro lado, garantiam que o velhinho era comunista, sempre com o uniforme vermelho, distribuindo brindes para levar à falência as gigantes capitalistas do setor.

A ideia de que Noel entrava nas casas pela chaminé era tida como uma tramoia para que as famílias não acendessem as lareiras, e comprassem agasalhos nas boas casas do ramo. Diziam, antigamente, que foram os fabricantes de meias os inventores do mito de que serviriam como depósitos de brindes, desde que não estivessem furadas.

Inimigos espalharam que o bom velhinho era casamenteiro, e quem acreditasse jamais ficaria solteiro. A notícia aumentou a popularidade entre as mulheres, mas causou sério abalo de imagem, no público masculino.

Noel atravessou séculos, e nem mesmo o advento do Hip Hop e Funk impediu que continuasse suas viagens pelo mundo. Tinha algumas dificuldades de locomoção, para entrar nos Estados Unidos ou sair de Cuba. No Brasil, começava a distribuir brindes já na alfândega.

O velhinho deve continuar seu roteiro por muito tempo, talvez séculos, pois foi convencido a aderir à Previdência Brasileira. Está preocupado com a pensão que restará às renas, em caso de falecimento.

Andam espalhando, por aí, que Noel foi citado em delação premiada, e seus brindes seriam custeados pela Petrobrás, por intermédio de grandes empreiteiras. Ao contrário do usual, o bom velhinho não disse que todas as doações foram contabilizadas, que está ajudando as investigações e é inocente. Somente disse, em alto e bom som, que jamais teve o apelido de Amigo dos Pobres, e Salvação da Lavoura.

Corruptos, ladrões e safados seguem tentando desacreditar o bom velhinho, e agora chegaram ao absurdo de dizer às crianças que Papai Noel não existe. Não é fácil conviver com alguém que atravessou séculos sem qualquer mácula.

Racistas radicais esbravejam contra o fato do bom velhinho não ser amarelo, preto ou rosado. Perguntado a respeito, Noel disse que sequer havia reparado que tinha cor.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.