Festival de Humor, que reunirá cartunistas do Brasil e do Irã, tem o racismo e os jogadores Pelé e Vinícius Júnior como temas

A coletiva de imprensa do Festival Internacional de Cartuns, Caricaturas e Cartazes de Amizade Irã-Brasil foi realizada no último dia 28 de agosto, no Salão Memorial Yad Safarzadeh do Campo das Artes, na cidade iraniana de Qom

Coletiva de imprensa do Festival Internacional de Cartuns, Caricaturas e Cartazes de Amizade Irã-Brasil na cidade iraniana de Qom

A coletiva do lançamento oficial do Festival de Cartuns, Caricaturas e Cartazes – Amizade Irã e Brasil, contou com a presença dos Diretores Executivos do Festival Masoud Shojai Tabatabai (IRÃ) e EDRA – Elcio Danilo Russo Amorim (BRASIL); Mohammad Javad Atai (representante do Centro de Criações Artísticas do Irã/Brasil) e o cartunista brasileiro Gilmar Machado Barbosa (um dos jurados do festival).

Massoud Shojai, que já esteve várias vezes no Brasil, (por duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba) ao apresentar os dois convidados brasileiros disse que esta realização cultural será fruto do esforço de artistas brasileiros e iranianos que discutem sobre o racismo a base de seus trabalhos. “Devo dizer
que este é um evento internacional. As informações relevantes estão no site “IRANCARTOON” na seção dos concursos.

 O evento gira principalmente em torno do racismo e dos jogadores de futebol brasileiros Pelé e Vinicius Júnior: E completou: “Espero que estes acontecimentos façam com que a distância entre os nossos corações seja menor do que a nossa distância geográfica.” Elcio Danilo Russo Amorim (EDRA), diretor-executivo deste evento cultural, disse: “Estou muito feliz e honrado com este convite e da confiança em
mim depositada. Estarei empenhado em realizar este festival da melhor maneira possível”. 

Também destacou que sua experiência na realização de dezoito edições do Salão Internacional de Humor de Caratinga, criação da Casa Ziraldo de Cultura e sua força de aglutinação diante dos cartunistas brasileiros e estrangeiros, somados aos seus mais de 40 anos de atividade na área do humor gráfico, lhe dão credibilidade para a responsabilidade assumida.

Manifestou também a sua satisfação com a cooperação no festival de amizade entre o Irã e Brasil e acrescentou: “É de particular importância que os artistas iranianos e brasileiros façam algo para unir as duas nações diante da gravidade do tema proposto pela direção do evento, e que a garantia do
sucesso está na qualidade, talento e criatividade dos artistas dos dois países, que sempre brilham em todos os eventos e festivais mundiais.”

As exposições das obras selecionadas do festival terão suas cerimônias de encerramento realizadas em novembro em São Paulo (Brasil) e em janeiro de 2024 em Abadan (Irã). A escolha de Abadan, segundo Massoud Shojai, é que a cidade é conhecida como o Brasil do Irã, cuja população tem o mesmo sentimento de paixão pelo futebol e o crescimento do surgimento de caricaturistas na cidade, por outro lado, foram fatores determinantes para a escolha da cidade para sediar o evento em seu país.

O prazo para envio de obras para este festival é 7 de outubro e os prêmios serão concedidos nas três categorias de cartuns, caricaturas e cartazes no mesmo valor, sendo o primeiro colocado: um requintado tapete persa e placa; o segundo colocado: sete mil reais e placa; prêmio voto popular: requintado tapete persa e placa iraniana e prêmio especial: requintado artesanato e placa iraniana.

Enfatizando que a resistência contra o racismo no futebol trará bons resultados no futuro, Edra declarou: “o racismo é inaceitável num nível mais amplo do futebol e devemos mostrar a nossa oposição e protestar contra ele com a cooperação dos artistas através da nossa arte”. Edra acrescentou: “Pelé é uma celebridade global, com muitos entusiastas e fãs no mundo e que, desta forma, se impôs e não sofreu ataques racistas ao longo de sua vida.

Infelizmente, por outro lado, o jogador Vinicius Jr, que se destacou muito jovem ainda no Flamengo e vem sofrendo ataques racistas de maneira recorrente desde que foi contratado, a disputar o campeonato espanhol pelo Real Madrid. Insultado covardemente como nunca
havia ter visto antes ser vivenciado por alguma outra personalidade mundial, revelando o quanto existe racismo, principalmente no futebol. 

O motivo da escolha desses personagens foi para os artistas utilizem de seus talentos no combate ao racismo.” Finalizando, Edra agradeceu Massoud Shojai pela confiança depositada em seu trabalho. “Estamos empenhados em estabelecer um bom relacionamento entre os povos do Irã e do Brasil. Durante a nossa visita ao Irã, nos foram criadas atividades e um bom ambiente para conversar com a linguagem da arte. Ao realizar este festival, transmitiremos a mensagem de amizade.

” Um dos jurados brasileiro convidado deste festival, Gilmar Machado Barbosa, também afirmou: durante a minha estadia no Irã, conheci um pouco sobre a cultura iraniana e as questões políticas do Irã e do Oriente Médio.“ Um dos jurados brasileiro convidado deste festival, Gilmar Machado Barbosa, também afirmou: durante a minha estadia no Irã, conheci um pouco sobre a cultura iraniana e as questões políticas do Irã e do Oriente Médio.

Percebi o quão diferente é do que nos foi apresentado até agora.  Esperamos que a relação entre o Irã e o Brasil seja fortalecida no futuro. É muito importante que tais festivais sejam realizados para podermos usar diferentes temas e desafios para acordar as pessoas e pode criar uma conexão entre a sociedade do Irã e do Brasil.

Contatos com o cartunista Edra

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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Pelé'

Carlos Cavalheiro

Pelé

Dois fatos movimentaram a primeira semana do ano de 2023: a posse do Presidente Lula e o velório e enterro de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, considerado o atleta do século e o maior jogador de futebol de todos os tempos.

Como Pelé faleceu no dia 29 de dezembro, a repercussão de sua morte ocupou significativa parte da programação televisiva por vários dias. Nessas oportunidades, o público, especialmente o mais jovem, que não teve o privilégio de vê-lo jogando, pôde acompanhar o seu desempenho de jogador nos campos. Algo, de fato, extraordinário e que, de certa forma, dado o distanciamento temporal, tínhamos nos esquecido.

Aliás, somos conhecidos pela falta de memória acerca de nós mesmos. Desconhecemos fatos cruciais de nossa História e coisas corriqueiras que deveriam compor a nossa identidade. Ano passado, circulou pela internet o cartaz afixado na porta de uma escola, assinado pela direção, afirmando que no dia 7 de setembro não haveria aula em decorrência da comemoração da “Proclamação da República”! Se isso ocorre dentro de uma escola, o que se espera dos demais?

O nome Pelé não foi esquecido. Mas, a grandeza de seus feitos como jogador sim. Tanto é verdade que repetidamente os comunicadores da televisão repetiam o número espantoso de títulos que ele alcançou enquanto jogador de futebol. Só para se ter uma ideia, Pelé foi o único jogador a ganhar três Copas do Mundo: 1958, aos 17 anos, 1962 e 1970. Seria até cansativo, depois de toda a exposição midiática dos últimos dias, repetir aqui todas as outras conquistas alcançadas pelo “Rei do Futebol”. E, da mesma forma, elencar todas as honrarias por ele recebidas.

Mas alguns fatos passam despercebidos ou minimizados em sua biografia. Como o fato de, na qualidade de Ministro Extraordinário dos Esportes, ter criado a chamada Lei Pelé (Lei 9.615 de 24 de março de 1998) que deu mais dignidade ao profissional dos esportes.

Como toda personalidade pública, Pelé teve explorado alguns fatos tidos como negativos em sua vida. Em 1997, foi a ele recusado o Título de Cidadão Honorário de Brasília, pelos deputados da Câmara Distrital (correlata das Assembleias Legislativas Estaduais), por votação de 12 a 8, sob a alegação de que “ele não é militante do movimento negro e só reconheceu na Justiça a paternidade da filha Sandra” (O ESTADO DE S. PAULO, 5 mar 1997, p. 32).

Pelé não participou mesmo de organização do chamado “Movimento Negro” (o que, a princípio, não justificaria a recusa do título de cidadania). Porém, relacionar essa não participação com a conivência ao preconceito e ao racismo é um abismo bastante largo e profundo. Um fato esquecido foi a polêmica de uma declaração de Pelé, dada em 1995, sobre a representatividade política do negro. Pelé teria dito que os políticos são corruptos e que “o negro não carrega essa marca”, e que, portanto, “Se o negro quer que se tenha uma melhora na sua posição social e uma melhora do Brasil de uma maneira geral, temos de botar a gente no Congresso para defender a nossa raça”.[1]

A generalização do político como corrupto, a despeito de ser uma percepção da população como um todo, irritou políticos da época como o presidente da Câmara dos Deputados Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) e do Partido dos Trabalhadores, na época, o deputado José Dirceu (O ESTADO DE S. PAULO, 21 nov 1995, p. 2).[2] Direita e esquerda revoltadas com a fala de Pelé sobre políticos envolvidos em corrupção… Ironia da História!

Porém, essa irritação teve um preço alto: Pelé não recebeu o título de cidadão honorário e teve sua imagem vendida como a de um alienado das questões ligadas ao negro. A sua fala em favor de uma maior participação política da população negra foi esvaziada.

Sobre o não reconhecimento da paternidade de Sandra, embora seja verdade – e de ter maculado a imagem do “Rei” na década de 1990 – um fato que não teve muita repercussão ocorreu nos últimos dias de Pelé. De acordo com a reportagem do jornal Folha de São Paulo, a pedido de Pelé, os seus netos, filhos de Sandra Arantes do Nascimento Felinto, viajaram dos Estados Unidos, onde residem, para passar os últimos dias de vida do avô junto com os demais familiares. Conforme a mesma reportagem, os netos perdoaram o avô. [3]

Essa passagem comprova o que já deveríamos saber. Apesar de toda a sua genialidade enquanto esportista, e de todas as coisas boas e inacreditáveis que Pelé realizou, ele não era, como afirmaram, uma divindade ou um ser extraterreno. Era apenas um ser humano, com todos os seus defeitos e qualidades. Um ser que acerta em alguns momentos e erra em outros. Apenas humano. Um extraordinário ser humano.

Carlos Carvalho Cavalheiro

04.01.2023

[1] https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/11/15/brasil/31.html Acesso em 4 jan 2023.

[2] Um dos poucos defensores de Pelé, à época, foi o articulista do jornal O Estado de São Paulo, José Nêumanne, que num artigo sóbrio, trouxe à tona a hipocrisia dos detratores do Rei (O ESTADO DE S. PAULO, 21 nov 1995, p. 2).

[3] https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2023/01/filhos-de-sandra-falaram-com-pele-no-hospital-a-gente-conseguiu-finalizar-perdoando.shtml#:~:text=Sandra%20Regina%20morreu%20em%202006,processos%20contra%20ela%2C%20mas%20perdeu.