Aves de rapina
Ivete Rosa de Souza: Conto ‘Aves de rapina’


Levantou-se da cama, espreguiçou, sem dor, pronta para iniciar a rotina. Ultrapassou a porta do quarto, mas não chegou à cozinha, adorava um café fresquinho pela manhã.
A neta a encontrou no chão, o rosto pálido, a boca parecia ter um leve sorriso, daqueles que, enfim, encontraram a paz verdadeira. Chamou por ela:
— Vovó, continua dormindo? Colocando a mão em seu braço, a pele fria denunciava o inevitável. Correu para o telefone.
— Mãe, acho que a vovó faleceu, venha para cá.
E vieram outros, um procurou por documentos, outros se havia dinheiro escondido, com a premissa de pagar o funeral.
— Quem vai ficar com a casa? — perguntou o mais velho dos filhos.
— Isso é hora de abordar essas coisas? Disse a mãe da menina, com os olhos marejados.
A menina, sentada num canto, chorava baixinho, nunca presenciara a morte tão perto. Quem será o próximo? O cão uivava, deram um empurrão, o pobre animal queria ver a dona, ignoraram. Só desgraça nessa família.
— Ainda bem que a mãe não vendeu a casa como sempre falava. — disse o mais novo. E aí, vai rolar uma vaquinha para enterrar a velha? – insistiu.
O camburão chegou.