Antônio Fernandes do Rêgo: 'Poeira'
Poeira
Lembra de me lembrar que tu não me esqueceste,
Que esqueço de lembrar que de ti não lembrei;
Tu percorreste os caminhos que eu trilhei,
Eu trilhei os caminhos que tu percorreste.
Tranquila tu atravessaste nebulosas,
E nebulosas eu tranquilo atravessei;
Rosas reguei e espinhos eu os evitei,
Tu evitaste espinhos e regaste as rosas.
Mas tu não hás de ser mais eu, ser tu, não sei,
É que eu hei de ficar na minha, e tu, na tua;
Pois eu serei o sol e tu serás a lua,
Serás nove-horas e eu o girassol serei.
Já nem sei eu se o teu nome eu já o apaguei,
Ou se o meu nome já por te passou batido;
Eu duvido que tu duvides que eu duvido,
Que eu esqueci de te lembrar que já te amei.
Quando vislumbro estradas por entre a poeira,
Não sei sequer se é o teu vulto que eu entrevejo,
Ou se é que sou traído por fugaz desejo
De me voltar para paixão tão passageira.
Antônio Fernandes do Rêgo
aferego@yahoo.com