Claudia Lundgren: 'Reminiscências'
Reminiscências
Vão-se os homens e mulheres; ficam os versos, as crônicas, contos e romances. Leitores vêm e vão, mas os livros permanecem.
A sepultura silenciou as bocas, mas não foi capaz de calar as vozes; elas vivem nos vinis, CDs, rádios, aplicativos e na nostalgia dos amores vividos.
A cortina fechou-se para muitos; as luzes se apagaram; os artistas, porém, vivem em filmes inesquecíveis, novelas e séries.
Foi-se o pai de família; boas ou más, ficaram suas memórias.
Foram se as mães, mas ficaram seus frutos e lutas incessantes.
Vai-se o professor, fica a aprendizagem; as formaturas, as graduações, mestrados e doutorados; ficam os advogados, os engenheiros, os funcionários públicos e todas as outras profissões.
Vão-se os médicos e os cientistas; vivem neles os reestabelecidos, as conquistas, os avanços e as doenças erradicadas.
Foram-se os gritos, ficaram os ais. Na luta a favor da independência, da liberdade da emancipação feminina, da equidade salarial, da igualdade social e de outras causas, foi preciso coragem e resistência; muitos deram suas próprias vidas. Mártires famosos e anônimos foram substituídos por direitos.
Ficaram para trás as senzalas, os chicotes e o sangue; ficaram os senhores, o choro silencioso, as humilhações que a menina sofre na sala de aula e a escravidão.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com