Clayton Alexandre Zocarato: 'E como sempre a culpa é do professor…'

Clayton Alexandre Zocarato

E como sempre a culpa é do professor

É como sempre: a culpa de nossas mazelas escolares e educacionais recaem sobre os mestres, que são responsabilizados perante políticas que empreendem uma espécie de taylorismo educacional, buscando um empirismo sádico de resultados Dentro de um vetor geopolítico, o Brasil apresenta quadros de uma ‘pedagogia da opressão’, que vai se constituindo em uma destruição de subjetividade.

E assim se caminha para a aplicação de um ‘dasein’, que coloca a culpa no professor, produzindo um extermínio de suas representações sociais. Um caminho para as realizações de liberdades repletas de frívolas artimanhas de fazer dos estudantes do ensino público uma camada alienada, sem emoldurar o seu espiritual de maneira sólida e fortificada.

A culpabilidade do professor passa por um ‘método weberiano’, destruindo sua capacidade de diluir e espalhar conhecimento. Os estudantes ficam asfixiados, privados de consciência de classe, que possa vingar como um motor da história que rompa com tessituras ideológicas, sem a responsabilidade de despertar um movimento interpessoal que seja ao mesmo tempo ético e contendo respeito a vetores multiculturalistas.

Em uma lufada de plêiades ideológicos, está ‘um jogo de amarelinha’, onde saltar casas é uma doce ignorância de princípios partidários que manipulam a seu bel prazer, criando uma aventura de pára-aprendizagens. O helenismo contemporâneo do professor foi substituído por um novo tipo de tecnicismo capitalista, onde o consumismo vai dominando aos poucos, gerando a desfiguração do ensino propedêutico, que venha retomar um caráter nacionalista, que não anseia um cunho de adoração da pátria, mas sim em ‘fazer uma teoria da ação comunicativa’.

Sim, a culpa é sempre do professor! Que tem que se submeter a três períodos de trabalho para ter algum tipo de  provento decente, que tem que ser babá, psicólogo, exorcista, assistente social, delegado partidário, advogado, diante os problemas de uma sociabilidade estudantil cambaleante, adoecida, que procura nas migalhas de seus sensos comuns cáusticos, alguma lógica de explicação intelectual, que possa assim propiciar que o papel do professor necessita ser revisto, com o reconhecimento dele como classe formadora de opinião, e não somente de ser.

A culpa é sempre do professor, que no centro de sua dor de desvalorização social, empreende construir novos vetores espirituais que venham a realizar uma identidade filosófica e que na sua representação intelectual necessita angariar rebeliões quando a um questionar, que não venha acompanhado com um véu de revolta, diante de uma crescente falta de reconhecimento e aperfeiçoamento dos seus ditames pessoais e profissionais.

Clayton Alexandre Zocarato

 

 

 

 

 




O leitor participa: José Pereira da Silva, de Taubaté (SP): 'Exercitar a esperança com responsabilidade'

José Pereira da Silva

Exercitar a esperança com responsabilidade

Percebemos no Ocidente, mas não só nele, que há décadas temos o sinal dominante da crise.  De vários pólos este nosso tempo é lido como tempo do fim: fim da civilização ocidental (Jacques Derrida), fim da modernidade (Gianni Vattimo).

Dominam a precariedade do presente e a incerteza do futuro, e sobretudo para as novas gerações, há uma incógnita que desperta medos por causa da sua imprevisibilidade e pelos horizontes asfixiantes que a caracterizam: vivemos num mundo em fuga, que parece escapar ao nosso controle e impedir-nos de compreender para onde estamos andando. Por isso, no seu ensaio Os novos medos, Marc Augé chega a denunciar que hoje se teme mais o viver do que o morrer. Em particular, os nossos jovens deixam-se vencer por algo que não sabem sequer nomear e olhar no rosto, experimentando-o, todavia, como destrutivo: o niilismo, que muitas vezes lhes impede toda a procura de sentido e, portanto, de felicidade.

Por estas razões, hoje, mais do que nunca, seria necessário voltar a escutar a pergunta: O que posso esperar? E também: O que podemos esperar juntos? É uma pergunta por vezes muda, que se sente em muitas pessoas e ambientes. É a pergunta mais profunda, que eles não sabem tampouco articular facilmente. A esperança, de fato, não é uma atitude a assumir ou a recusar de imediato, mas é o fruto de um discernimento, de uma espera fundada no pensar, no refletir, no escutar, no confrontar-se, e é também um exercício de grande responsabilidade.

O ser humano não é dado de uma vez por todas, mas é uma transformação que precisa de uma orientação, de um projeto, de um propósito pelo qual agir, de maneira a encontrar um sentido.

Tem razão Dostoiévski (1821-1881) quando afirma que: “viver sem esperança é impossível”, porque as pessoas às quais é subtraída a esperança tornam-se agressivas, violentas, apáticas, até caírem numa espécie de angústia autodestrutiva.

No entanto, há uma errada compreensão da esperança da qual é preciso resguardar-se: aquela de quem tende constantemente para além do presente, sem o colher na sua irrepetibilidade, constrangendo-se assim a uma existência vivida ao futuro anterior. Não, não se vive esperando viver, preparando-se sempre, e em vão, para uma felicidade que nunca chega…

Esperar é uma arte, é o estar prontos àquilo que ainda não nasceu, é um ato de fé e uma adesão convicta a uma promessa: é uma luta contra o desespero, e é por isso que é capaz de esperar em profundidade só quem conheceu a tentação de desesperar. A esperança, por fim, é o fruto de relações vivas, alimenta-se do estar juntos: nunca sem o outro! E não esquecemos: só se pode esperar por todos, nunca apenas por si próprio.

 

Prof. José Pereira da Silva

13.11.2020