Magna Aspásia Fontenelle: 'Retirante'
Retirante
Peço licença, seu moço, para contá sua história.
Numa noite de lua cheia nas terras das Gerais,
Conheci um homem que tinha três naturalidades,
Paraibano, paulista e mineiro.
Como todo nordestino para se livrar do tormento
Foge da seca e da fome, saiu em busca de alento.
Viajou pra São Paulo num caminhão coberto com lonas
Com os pais e irmãos com a intenção de vencer na vida.
Foram oito dias de sofrimento,
Chegando ao destino fora morar
Numa casa alugada pequena no final da rua.
Todo penar passou.
Sem conhecer ninguém, sem ter amigos,
Ainda criança não sabia
Que a mudança a sorte lhe traria.
A saudade da casa de adobe
Pintada de branco e as janelas de azul.
Não saía de sua mente e apertava o peito da criança.
Que chorava com seus ais,
A falta de seus amigos, da casa, dos primos
Da roça, das mangas, das brincadeiras no rio
Da escola, da professora, das mangueiras,
Onde, debaixo de suas copas, eram as salas de aulas.
Ele sabia ler e contar, se considerava no seu sertão um doutor.
No entanto, na cidade de pedra era analfabeto, sim senhor.
À noite fitava as estrelas no firmamento e pedia ao Senhor Deus
Para aliviar seu sofrimento.
O tempo passou e o menino cresceu.
Migrou pra Minas Gerais,
Terra das pedras preciosas e dos heróis nacionais.
Trabalhou, estudou, e de retirante nordestino
Transformou-se num profissional letrado, um doutor!
Sem esquecer os valores como
Humildade, caráter, retidão
Bondade e persistência!
Apoiou toda sua família e até casa para os pais comprou.
Entretanto, a casa de adobe
Pintada de branco e as janelas de azul
Continua guardada no seu coração eternamente.
É de lá, da lembrança da pequena casa,
Da sala de aula debaixo das mangueiras,
Que ele tira força, fé e segue sua caminhada na vida!
Pois, o sol quente, a lua prateada, os rios,
As brincadeiras, continuam povoando seu sonho,
Sua honra, seus valores sua vida com amor.
Magna Aspásia Fontenelle
magnaaspasia@gmail.com