Revolução

Ivete Rosa de Souza: Poema ‘Revolução’

Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza

Minha alma anda cansada de resistir ao tempo

Deixou no meio da estrada seu orgulho, seu tormento

Amou demais e, confusa, deixou de acreditar

Tudo que queria era viver, sem perder, sem chorar

Encontrou pedras, mas com paciência tentou construir

Paredes, casas, castelos, tudo enfim veio a ruir

Sem ter teto ou abrigo, deixou que o tempo voasse

Não foi com ele, ficou, como se a empatasse

A dor do que não conquistou,

Revoltada, viu nos tropeços, pedaços e recomeços

De tudo o que não viveu,

O para sempre da espera revelou que é quimera

O legado de amar, não vale a pena sofrer

Por um amor que já morreu, antes mesmo de viver.

Ivete Rosa de Souza

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Carlos Carvalho Cavalheiro: '9 de julho'

Carlos Carvalho Cavalheiro: ‘9 de julho’

 

Os paulistas acostumaram-se com o feriado do dia 9 de Julho. Apesar de serem poucos os que sabem, essa data é a única que comemora uma “Revolução” (ou Revolta) que foi derrotada. Em 1932, os paulistas se ergueram em armas pressionando o governo do presidente Getúlio Vargas a dar ao Brasil uma Constituição. Desde novembro de 1930, depois da tomada do poder pelas forças getulistas, o Brasil era governado sem uma Constituição adequada aos novos tempos.

A elite política de São Paulo, ressentida de ter perdido o prestígio, encontrou no clamor pela constitucionalização a justificativa necessária para reaparecer no cenário e exigir a sua participação nas decisões políticas. Não deu certo e o governo federal reagiu e sufocou a revolta paulista que não conseguiu a adesão dos demais estados brasileiros. No entanto, após a derrota dos revoltosos, Getúlio Vargas anunciou a criação de uma Assembléia Constituinte que nos deu a Carta Magna em 1934. Durou pouco, pois três anos depois o mesmo Getúlio deu novo Golpe e instaurou o Estado Novo.

No entanto, algumas décadas antes, um fato ocorrido em São Paulo também marcou de maneira indelével a história paulista. Se a “revolução” de 1932 foi um acontecimento incentivado pelas elites políticas e econômicas, o outro evento traduz a luta dos trabalhadores pela conquista de direitos.

No dia 9 de julho de 1917, enquanto a Europa vivia a Grande Guerra e a Revolução Russa, no Brasil os trabalhadores de diversas categorias realizavam uma greve geral por melhorias de condições de vida e de trabalho. De acordo com a historiadora Christina Roquette Lopreato, no livro “O espírito da Revolta”, o dia 9 de julho amanheceu tenso. “Na manhã de segunda-feira, 9 de julho, policiais e grevistas entraram em choque nas imediações da fábrica de bebidas Antarctica, iniciando uma semana de trágicos acontecimentos. Praças de cavalaria, que faziam o policiamento no local com ordens de dispersar aglomerações, investiram sobre um grupo de operários, causando ferimentos…”.

Os conflitos se intensificaram naquele dia até que surgisse um mártir dentre os trabalhadores. O operário José Martinez, sapateiro, atingido por um projétil da arma dos policiais, não resistiu aos ferimentos e morreu. A sua morte serviu de estímulo para que outros operários, até então indecisos, entrassem no movimento que se converteu na maior greve até então registrada. A capital paulista parou e os donos das fábricas tiveram que negociar a volta ao trabalho, oferecendo muitos dos benefícios pleiteados pela classe trabalhadora.

O movimento grevista espalhou-se depois para outras cidades do interior, como Sorocaba e Campinas, e teve como principal consequência a formação de associações de trabalhadores, sendo responsável ainda pela reativação da FOSP (Federação Operária de São Paulo), que agregava ligas e outras entidades de trabalhadores.

A rememoração desse passado nos serve de exemplo para o presente. A reforma trabalhista, assim como a Previdenciária, ambas impostas sem um debate com a sociedade (especialmente com os mais interessados que são os trabalhadores) é um retrocesso histórico nas conquistas de direitos que tanta luta demandou. Luta essa que ceifou vidas, como a do sapateiro Martinez. Não nos esqueçamos disso jamais.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

04.07.2017