Maria Helena de Toledo Silveira Melo: 'Engenheiro voluntário da Revolução Constitucionalista de 1932'

Maria Helena Toledo Silveira Melo

Dr. Arnaldo Maia Lello

 

Engenheiro Voluntário da Revolução Constitucionalista de 1932.

Esta cópia do Jornal O Município de 17 de julho de 1932, com o título Às Armas Indaiatubanos, foi publicada pela Fundação Pró Memória de Indaiatuba, é uma convocação aos jovens de Indaiatuba para alistarem-se no Batalhões Patrióticos da Revolução Constitucionalista, um dos que assinaram, ArnaldoMaia Lello era casado com a irmã de meu pai, Anna Maria.

Transcrição do texto:

Às Armas Indaitubanos!

Na exaltação cívica que empolga, a alma paulista, Indaiatuba não pode ficar isolada. De todos os recantos do Estado e de todas as nossas cidades, os moços já levantaram, de armas na mão, para acudirem ao apelo dos chefes deste magnifico movimento que se ergueu pela salvação dos nossos destinos de país civilizado.

São Paulo não se empenha numa luta separatista, nem tão pouco está praticando atos de rebeldia, como quer dizer o senhor Getúlio Vargas no seu manifesto. São Paulo quer, apenas, o império da Lei e a segurança do poder constituído. Estamos cansados de ser ludibriados.

Cada povo tem o governo que merece e nós não merecemos um governo ditatorial que vive protelando indefinidamente todas as suas promessas, e cuja preocupação foi sempre a de tripudiar sobre as nossas tradições de liberalismo e a de destruir toda a organização do nosso trabalho fecundo.

Quem não nasceu para escravo tem eternamente diante dos olhos, claro e deslumbrante, o fanal da liberdade, esse facho sacrossanto que arrasta consigo, na magia da sua luz feiticeira, todos aqueles que são dignos da sua terra e da sua honra.

Mocidade de Indaiatuba! Arregimentai-vos nos batalhões patrióticos! De pé, pelo vosso passado! De pé, para o vosso lar! De pé, pela vossa dignidade! De pé, para que São Paulo possa amanhã reconquistar a glória de dar a todos os brasileiros a tranquilidade e a firmeza da ordem constitucional!

O primeiro signatário acaba de receber do Sr. Dr. Francisco Morato o seguinte telegrama:

<<Movimento Constitucionalista iniciado ontem venceu integralmente, contando com o apoio e com a solidariedade das tropas federais e estaduais, milícia civil e Frente Única. Rogamos aos paulistas que estejam todos serenos e unidos aguardando as ordens do comando do Quartel General Revolucionário. Saudações. São Paulo, 11 de julho de 1932.>>

Mocidade! São Paulo conta convosco nesta arrancada pela Liberdade!

                                     Às Armas Indaiatubanos!

Dr. Arnaldo Maia Lello                            João de Paula Leite

              Dr. José Cardos da Silva                          Scylas Leite Sampaio

 

Por meio das cartas que tenho, encontrei uma em que minha tia Aninha (Anna Maria) datada de 5 de agosto de 1932, dizia que seu marido, Lello como todos o chamavam, estava no campo de batalha em Casa Grande, próximo a Mogi das Cruzes, no alto da serra em proteção a esta localidade.

Segundo consta no Livro de Euclides Figueiredo (pág.111) Mogi das Cruzes fazia parte do 2º Distrito que tinha como chefes Dr. Plinio de Queiroz e Dr. Antonio Soares Lara e como chefe Revolucionário do Município Basílio Batalha e ali atuava o 1º BCP.

Arnaldo Maia Lello foi um importante engenheiro e construtor paulista, com muitas obras realizadas em São Paulo entre as quais o Cine Teatro Paramount, Estádio do Pacaembu, na década de 30 construiu o Parque Residencial Savóia, tombado em 2009 pelo CONDEPHAAT e o Edifício Santa Elisa no Largo do Arouche entre outras obras de destaque. Em1934 participou do Concurso Público para a construção do Monumento ao Soldado Constitucionalista ficando na seleção final, onde classificaram-se Mário Ribeiro Pinto e as duplas Galileo Emendabili e Mário Eugênio Pucci, Yolando Mallozzi e Arnaldo Maria Lello.

Arnaldo e seus irmãos Arlindo, Armando e Álvaro eram sócios na Empresa Sociedade Anônima Construtora Arnaldo Maia Lello.

Arnaldo nasceu em 29 de outubro de 1904, filho de Affonso Di Lello e Francisca Amália Maia Lello, casou-se com Anna Maria de Toledo, tiveram uma filha Maria Thereza.

 

 

 

Fonte.

 

FIGUEIREDO, E. Contribuição para a História da Revolução Constitucionalista de 1932.São Paulo, Livraria Martins S.A, 1954.325p.,2 doc.,10 mapas.

ieccmemorias.wordpress.com, acesso em agosto de 2019.

iar.unicamp.br, acesso em agosto de 2019.

www.galileoemendabli.net, acesso em agosto de 2019.

maesertaneja.blogspot.com, acesso em agosto de 2019.

 

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.

21/08/2019.




Lançado em São Paulo o livro 'Trem blindado', com homenagem aos soldados paulistas de 1932

LANÇAMENTO DE EDIÇÃO DIGITAL DO LIVRO ‘TREM BLINDADO’

O QR Code do livro Trem Blindado

No último dia 20 de março  ocorreu o lançamento oficial da edição digital do livro ‘Trem Blindado’. Na ocasião foi lançado o QR CODE que dará acesso à obra e homenageados os Soldados Voluntários citados na obra e seus descendentes.

O evento aconteceu no cemitério da Consolação, em São Paulo, sob a responsabilidade do professor Jefferson Biajone, sa Sociedade Veteranos de 32 MMDC, entidade que fez também a concessão post mortem da Medalha MMDC ao escritor Fernando Penteado Médici, autor do livro, representado na hora pelo seu sobrinho Jorge Médici de Eston. Uma placa com o QR Code do livro foi afixada na sepultura do homenageado (n.º 26, rua 15 lado esquerdo).

 

Jefferson Biajone, Jorge Médici de Eston e Mario Fonseca Ventura

 ‘Foram agraciados com o Diploma de Honra ao Mérito “TREM BLINDADO Nº1′  o coronel PM Mario Fonseca Ventura, o professor  Sérgio Médici de Eston, e as personalidades  Jorge Médici de Eston, Maria Silvia Martins de Souza, professor Rodrigo Gutemberg , cabo PM Euclides Cachioli de Lima, engenheiro Dráusio Roberto Vieira, o padre Mário Monteiro, José Carlos Sobral e Fernando Penteado Médici

 

FERNANDO PENTEADO MÉDICI nasceu em São Carlos/SP, a 15 de Fevereiro de 1915. Filho de Sr. Atugasmin Médici e D. Antonieta Penteado Médici. Aos 17 anos alistou-se voluntariamente no Batalhão 14 de Julho, com destino ao Exército Constitucionalista do Setor Sul, em Itapetininga/SP. Por atos de bravura praticados abordo do Trem Blindado de n.º 1 durante o combate de Buri nas jornadas de 25 a 26 de Julho de 1932 foi promovido a 3º sargento.  Fernando Penteado Médici pertenceu à Sociedade Veteranos de 32 MMDC, tendo atuado como orador do batalhão 14 de Julho em diversas ocasiões. Seu prematuro falecimento, aos 32 anos, ocorreu em 3 de Junho de 1947, em São Paulo.

 

Em Campinas

No Cemitério da Saudade em Campinas, sob a responsabilidade de Maria Helena de Toledo Silveira Melo, foi homenageado o soldado voluntário integrante do Batalhão 14 de Julho Alcyr César do Nascimento. A homenagem foi entregue a Iara Aguiar do Nascimento Frenhani, filha do soldado voluntário. Na sepultura do homenageado (nº 68, quadra 36) também foi afixado um QR CODE.

ALCYR CÉSAR DO NASCIMENTO nasceu em Sorocaba no dia 22 de setembro de 1912. Formou-se engenheiro químico pela Universidade de São Paulo, tendo trabalhado por muitos anos no Instituto Agronômico em Campinas. Foi casado com a Senhora Iná Simões Aguiar do Nascimento Frenhani. Alcyr pertenceu ao Batalhão 14 de Julho e com ele participou de fio a pavio na Revolução Constitucionalista de 1932, tendo sobrevivido ao heróico ‘Combate do Cerrado’ ocorrido dia 17 de setembro de 1932 em Capão Bonito, próximo às margens do Rio das Almas. O soldado Alcyr também esteve na defesa de Taquaral

Abaixo, a última trincheira do Setor Sul, com o findar da Revolução nas jornadas de 2 a 4 de outubro de 1932.

 

Maria Helena de Toledo Silveira Melo
Presidente do 10º Núcleo de Correspondência
Trincheiras Paulistas de 32 de Jaguariúna

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Centro Cultural de Itapetininga revive memórias da Revolução de 32

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Epopéia paulista é lembrada em Itapetininga mais uma vez

 

Revivendo áureas memórias da Revolução Constitucionalista de 1932, o Centro Cultural e Histórico “Brasílio Ayres de Aguirre” apresenta um acervo histórico com fotografias, mapas, equipamentos e condecorações militares da época.

 

O acervo conta com registros fotográficos que remontam a fatos marcantes ocorridos em Itapetininga, como a chegada das tropas, a visita de Getúlio Vargas à cidade em 1930, bem como o Hospital do Sangue (que funcionava onde é hoje um colégio particular que fica à rua Pedro Marques) e outros prédios da época. Também há fotos das trincheiras de combates e retratos dos soldados.

 

Por meio de demarcações geográficas, um mapa do Estado de São Paulo conta a história dos combates realizados. Outro mapa mostra como era a cidade de Itapetininga em 1932. Equipamentos militares como capacetes, munições, cantis, medalhas e diplomas, talheres e fogareiros também fazem parte da mostra.

 

A exposição é aberta ao público, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h. O Centro Cultural está localizado no Largo dos Amores, centro. A entrada é de graça.




Documento histórico: 'Depoimento do General Nestor Penha Brasil ao jornal Diário da Noite'

Publicado no blog de Maria Helena Toledo Silveira Melo

Prezados amigos, senhoras e senhores.
Publiquei mais uma interessante matéria, depoimento do Gal. Nestor Penha Brasil, sobre acontecimentos, durante a Revolução Constitucionalista, no Setor Sul. Poderá ser conferida no link a seguir:
Maria Helena de Toledo Silveira Melo
Presidente do10º Núcleo de Correspondência
Trincheiras Paulistas de 32 de Jaguariúna

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Eduardo César Werneck: 'Você não sabia, mas isto aconteceu em 1932…'

“…trecho do livro “A Guerra de 1932 – onde o entusiasmo era indescritível”…

 

Paulo Gonçalves dos Santos, o Paulo Virgínio…

Um caso emblemático em 1932. As condições de sua morte, ainda hoje, são inaceitáveis. Apenas lembrar seu feito, dedicar uma rua, ou uma praça com seu nome não pagará jamais o sofrimento por que passou. Tentativas? Muitas! A cidade de Cunha, por exemplo, mudou o nome de Travessa do Mercado para Travessa Paulo Virgínio.  Ah, a Praça 24 de Outubro teve sua placa substituída pela de – 9 de julho – mesmo que “bastante comentado”, o então prefeito José Arantes não tivesse aparecido a NENHUMA das solenidades em memória dos que morreram em 1932.

O “julgamento”… Sem Provas… A Justiça do Brasil… Deixa para lá… Hemeroteca digital – Diário Carioca – p. 3 – n. 1.624 – ano VI – 18/11/1933 – acesso em 22/8/2016

Paulo Virgínio passou por momentos de verdadeiro horror. Na manhã “de seu assassinato”, o tenente Airton Teixeira Ribeiro, o sargento Roque Eugenio de Oliveira, e Juvenal Bezerra Monteiro, Ascendino Dantas e Raymundo Jeronymo (fuzileiros navais) interrogaram Paulo Virgínio. “Caipira irredutível. Paulista rebelde, tu morres !” (bradou Airton). “Tu és fuzilado !”, secundou Juvenal bezerra. “Morro, mas São Paulo vence e a minha morte será vingada”, retrucou o herói. Deram-lhe então uma enxada para que cavasse, com suas próprias mãos, a sua sepultura. Jogaram-lhe ainda água fervendo pelo corpo, conforme denúncia do promotor da justiça militar. Finalmente, os “cinco vândalos conduziram a vítima amarrada com cordas para o local de imolação”.

Mas, o inacreditável aconteceu…

A manchete dada ao “julgamento” do assassinato de Paulo Virginio – Hemeroteca digital – Diário da Noite – p. 1 – n. 1.095 – ano V – 18/11/1933 – acesso em 22/8/2016

Realizou-se ontem, na sala do Conselho Especial de Justiça Militar, do Exército do Leste, o julgamento do 10 tenente da arma de cavalaria Ayrton Teixeira Ribeiro e seus comparsas, acusado de ter, na qualidade de comandante, mandado fuzilar o lavrador paulista Paulo Virgínio. Depois de várias horas foi lido o veridicto. Os acusados AYRTON TEIXEIRA RIBEIRO, JUVENAL BEZERRA MONTEIRO, RAYMUNDO JENOYMO MONTEIRO, ROQUE EUGENIO DE OLIVEIRA E ASCENDINO GOMES DA SILVA DANTAS foram ABSOLVIDOS por falta de provas!

Na audiência vários amigos presentes…

À viúva Juventina Maria da Conceição e aos filhos de Paulo Virgínio ficará reservado o futuro sombrio gerado pelos assassinos e criminosos comuns, nunca de guerra, que a “nossa justiça” premiou ! Acervo do Museu Frei Galvão – documento 30 – acesso em 31/5/2017

O deputado Amaral Peixoto, o capitão Dulcidio Cardoso (filho do ministro da Guerra), além do ajudante de ordens do chefe do governo provisório Ernani Peixoto (e também genro do ditador Getúlio Vargas), ou seja, “bons amigos” sempre ajudam nestas horas…

O auto da autópsia é de estarrecer. Às folhas 54 a 56 se lê que após fuzilar o Paulo Virgínio, enterraram “a vítima sem caixão a 20 metros mais ou menos, a margem esquerda da estrada de rodagem que conduz Aparecida a Cunha e a cerca de 250 metros para frente de uma calha e caiada de branco. Como a cova não comportasse perfeitamente o cadáver socaram-no dentro da sepultura, resultando ter o cadáver ficado com a cabeça torcida para frente, as pernas recurvadas, conforme encontraram os peritos que procederam ao exame”. Ou seja, a propalada ação “sem provas”…

A capa do livro e na foto o soldado ajoelhado à esquerda, era o cabo do Exército Octacílio de Souza Werneck

Enfim, àqueles que ainda não se convenceram das atrocidades cometidas contra um ser humano simples, e que nada fez para merecer tal epitáfio, fica mais um questionamento, o que deverá ter acontecido às histórias pessoais daqueles que mais intimamente estavam ligados à vida do assassinado, viúva e filhos ?

E ainda existem os que chamam Getúlio Vargas de o “Pai dos Pobres”…

 

Eduardo César Werneck – drwerneck@uol.com.br

 

 

 

 

 




Cruzes Paulistas – o principal livro sobre a Revolução de 1932

Graças ao trabalho incessante do professor Jefferson Biajone, já está publicado virtualmente o livro ‘Cruzes Paulistas’

O principal documento histórico sobre a Revolução Constitucionalista de 1932 já está disponível na internet, obra professor universitário Jefferson Biajone, membro da Confraria do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga e acadêmico da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.

http://ihggi.itapetininga.com.br/2017/01/22/cruzes-paulistas/




Carlos Cavalheiro: 'Artigo sobre a Revolução de 1932 em Sorocaba'

Carlos Cavalheiro: ‘Artigo sobre a Revolução de 1932 em Sorocaba’ 

Prezados amigos:

Saúde e Paz!
Em anexo, segue o artigo que fiz sobre a participação de Sorocaba na Revolução Constitucionalista de 1932.
Carlos Carvalho Cavalheiro.
Historiador
Colunista dos jornais ROL e Tribuna das Monções
Colaborador Emérito do Núcleo MMDC de Itapetininga

A Revolução Constitucionalista de 1932 em Sorocaba

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                Sorocaba era uma importante cidade do interior paulista na década de 1930, contando com um aglomerado de fábricas de tecido de grande porte, além de outros empreendimentos que fizeram a fama da localidade como a “Manchester Paulista”.

Entre 1929 e 1930 havia 7574 operários em Sorocaba, na contabilidade feita pelo registro obrigatório na Polícia local, eis que para o “controle social”, os trabalhadores eram fichados (CRUZEIRO DO SUL, 21 fev 1929 e 05 fev 1930). Em 1932 o número de trabalhadores cresce para 8338, distribuídos da seguinte forma: a Fábrica têxtil de Votorantim possuía 2818 operários, a Fábrica Santa Rosália, 878, a Fábrica Santa Maria, 805, a Fábrica Santo Antônio, 1074, a Fábrica São Paulo, 229, a Fábrica Nossa Senhora da Ponte, 941, a Fábrica de Enxadas, 103, a Fábrica de Arreios, 46, a Fábrica de facas e facões, 14 e as Oficinas da Sorocabana, 1430 operários (CAVALHEIRO, 2001).

A população local era de 78937 habitantes. A cidade, 38775. Na zona rural, 20679 habitantes.  Os outros 19483 habitantes estavam distribuídos nos distritos de Votorantim (5217), Salto de Pirapora (888), Campo Largo (12019) e Brigadeiro Tobias (1359).

As organizações operárias giravam em torno dos ideais anarquistas e anarcossindicalistas, principalmente, sendo que o comunismo começava a adentrar no meio trabalhador sorocabano.

De outro lado, organizações de caráter fascista como a Legião Revolucionária e o Partido Nacional Fascista Italiano e o Dopolavoro também se faziam presentes. Em 1931 fundou-se em Sorocaba uma seção da Frente Negra Brasileira, organização que militava pela valorização social dos negros, especialmente em São Paulo. Do ponto de vista político partidário, permanecia o ideal liberal e os partidos tradicionais, como o Partido Democrático e o Partido Republicano Paulista, também disputavam o poder local.

A eclosão do movimento Constitucionalista de 1932 encontrará esse cenário em Sorocaba. Como bem salientou o historiador Boris Fausto, “O movimento de 1932 uniu diferentes setores sociais, da cafeicultura à classe média, passando pelos industriais. Só a classe operária organizada, que se lançara em algumas greves importantes no primeiro semestre de 1932, ficou à margem dos acontecimentos” (FAUSTO, 1999, p. 346). Em Sorocaba, os operários ligados os movimentos de trabalhadores também mostravam resistência aos apelos para a participação na Revolução que estourava no dia 9 de julho (CAVALHEIRO, 2001).

Porém outros setores da sociedade estiveram engajados no movimento revoltoso. Já nos primeiros dias após a eclosão da Revolução, o jornal Cruzeiro do Sul noticiou:

 

Movimento Constitucionalista de S. Paulo

[…]

Em Sorocaba a attitude de S. Paulo foi recebida com justificado jubilo popular, mantendo se o povo na praça cathedral em commentarios favoráveis. Á hora do concerto musical a banda executou o hymno nacional, ouvindo-se ao final vibrantes applausos e vivas. A população se mantem em calma e na mais perfeita ordem. E é preciso que isso continúe não só para o socego da família sorocabana como também porque é essa uma das melhores maneiras de se concorrer para a causa que nesta hora empolga todos os corações.

[…]

(CRUZEIRO DO SUL, 11 jul 1932, p. 1).

 

Nesse mesmo dia noticiou-se a espera de 800 praças provindas de Mato Grosso, que seriam alojadas no Teatro São Raphael, em Sorocaba. No dia seguinte, dia 12 de julho de 1932, foi aberto o voluntariado sorocabano com a partida, no mesmo dia, dos primeiros combatentes.

1932-boato-1A história registrou os seus nomes: Jorge Martins Passos, Francisco Amaral Rogich, Leão Amaral Rogich, Rubens Scherepel, Rubens Gonçalves, Álvaro Martins Filho, Brasil Melchior, Carmo Scarpa, Hylário Corrêa[1], José Vieira Rodrigues, José Ibrahim Saker, Líbero Mudini, Ovídio Cattuzzo, Floriano Pacheco e Ary Seabra. Concomitantemente fundou-se a sede do MMDC em Sorocaba, numa sessão em que estiveram presentes o prefeito Octacílio Malheiro, Porphyrio Loureiro, Capitão Augusto do Nascimento Filho, Affonso Vergueiro, José Carlos Salles Gomes, Hernani Ferreira Braga e João Pereira Ignácio, este último representando o distrito de Votorantim.

Os primeiros voluntários escreveram uma eloqüente mensagem aos jovens sorocabanos, incitando-os a também partirem para a batalha:

 

Mensagem de moços

É da primeira leva de voluntários moços de Sorocaba a seguinte mensagem a nós entregue:

CONTERRÂNEOS: A época é de acções e não de palavras. Mentiríamos ao nosso honroso título de Paulistas, se nos deixássemos quedar indifferentes ante os acontecimentos históricos do momento. Eis porque partimos para a Capital do Estado, dispostos se mister for, a sacrificar a nossa vida em holocausto á causa Bandeirante. Ao partirmos, levamos a convicção de que somos acompanhados pelo vosso beneplácito, porque vós também sois Paulistas. Si, como tudo faz suppor, a causa Paulista for victoriosa, voltaremos satisfeitos de haver cumprido o nosso dever. Si tombarmos no campo da luta e da honra, vós conterrâneos queridos, irei nos substituir!

Gentes conterrâneas! Juntae as vossas orações ás de nossas mães, para que possamos brevemente regressar incólumes, trazendo a nova palpitante do triumpho da causa de nossa terra!

(aa) Hilario Correa – Ary Seabra – Jorge M. Passos – Francisco M. Rogich – Rubens Gonçalves – Rubens Schrepel – Alvaro Martins Filho.

(CRUZEIRO DO SUL, 13 jul 1932, p. 1).

 

A organização “MMDC” de Sorocaba tinha por fim o alistamento de voluntários e era filiada ao Comando Geral da Capital. O Dr. Adhemar de Sousa Queiróz, nomeado pelo Comando Geral do MMDC de São Paulo, presidiu a sessão de fundação da MMDC de Sorocaba, em 11 de julho de 1932, e da qual participaram ainda o prefeito Octacilio Malheiro, Porphyrio Loureiro, capitão Augusto do Nascimento Filho, Dr. Affonso Vergueiro, Dr. José Carlos de Salles Gomes, Dr. Hernani Ferreira Braga e o Sr. João Pereira Ignácio, representante do distrito de Votorantim (então pertencente a Sorocaba). Durante a Revolução, a organização “MMDC” ficou instalada em salas da prefeitura municipal.

A velha oligarquia paulista ressentiu-se da falta de exercício na política nacional. Os mandatários de antes agora estavam no ostracismo. E não eram somente os inimigos políticos da Revolução. Tanto o PRP quanto o PD paulista estavam relegados a um plano inferior na política nacional. Em Sorocaba essas duas forças, antes opostas, se uniram em prol da Revolução[2]. Igualmente fizeram os partidos regionais do Rio Grande do Sul, rompendo com Getúlio, e formando a Frente Única Gaúcha. Com isso, e com a promessa da entrada dos mineiros na revolta, os paulistas animaram-se para a luta.

No dia 13, fundou-se a Caixa Popular, com intenção de prestar auxílios aos voluntários pobres. Os estudantes do Ginásio Municipal e da Escola Normal (ambos no mesmo prédio) telegrafaram ao governador do Estado:

 

Exmo. Sr. Embaixador Pedro de Toledo, muito digno governador de S. Paulo. Normalistas e gymnasianos de Sorocaba, solidários na cruzada patriótica de constitucionalização do paiz, hypothecam seu apoio a V.Exa. Sorocaba, 13-7-932.”

 

Criou-se um Batalhão Infantil com mais de duzentas crianças. Também um Batalhão Feminino. A colônia espanhola realizou um espetáculo, através do G.D. Dicenta[3], apresentado no dia 15 de agosto no Teatro São José, cuja bilheteria foi destinada a causa paulista. Também a mesma colônia, através da empresa André Asensio & Irmãos, arrecadou alimentos, roupas e dinheiro para o triunfo da Revolução. Os clubes de futebol também fizeram a sua parte: o Esporte Clube Savóia, de Votorantim, o extinto Guarany Futebol Clube, o São Paulo Junior, o Sport Club Sorocabano, o Sorocaba-Paulista (reunidos) e o São Bento doaram suas gloriosas taças angariadas em diversos campeonatos. Esse material foi doado para o Material Bélico das Forças Constitucionalistas: virou munição. João Genésio de Luca esteve em Sorocaba arrecadando “utensílios imprestáveis de metal”, preferencialmente de cobre, zinco, chumbo e latão.

No dia 16 de julho o prefeito Octacílio Malheiro renunciou. Em seu lugar, provisoriamente, subiu o capitão Augusto César do Nascimento Filho. Posteriormente assumiu esse cargo o senhor Ernesto de Campos.

A Companhia Nacional de Estamparia, a maior organização industrial sorocabana, ofereceu ajuda financeira aos trabalhadores que se dispusessem partir para o front. A mesma Companhia forneceu material para a confecção de distintivos aos combatentes da MMDC. O jornal Cruzeiro do Sul noticiou que chegou a cifra de 105 os voluntários sorocabanos que pertenciam aos quadros de funcionários das fábricas do Comendador Pereira Ignácio, o qual garantiu o salário dos mesmos durante todo o tempo de incorporação ao exército rebelde (CRUZEIRO DO SUL, 3 set 1932, p. 4).

Muitos dos sorocabanos partiram para Lorena, engajados no Batalhão Santos Dumont.

Oficialmente, a Frente Negra não quis participar desse Movimento. Com isso, ocorreu uma divisão nessa organização e fundou-se a Legião Negra, responsável pelo alistamento de homens negros que quisessem lutar pela constitucionalização do país. Com isso, em Sorocaba publicou-se a nota em que deixa claro que “O MMDC acceita inscripções dos valorosos homens de cor, para formarem batalhões da Legião Negra” (CRUZEIRO DO SUL, 13 ago 1932, p. 1). Sabe-se que dentre os sorocabanos que partiram pela Legião Negra estava o major João de Almeida Melces (CAVALHEIRO, 2013).

O Tiro de Guerra de Sorocaba enviou mais 100 homens, segundo os dados informados pelo historiador Aluísio de Almeida. Sobre o total de sorocabanos que partiram para os campos de batalha nessa Revolução, as informações são divergentes. Segundo o mesmo historiador Aluísio de Almeida, os números são bastante discrepantes. Diz o historiador:

Os primeiros voluntários são nitidamente nomes das classes não operárias. Em seguida, todos aderem. O jornal, refletindo a zoada popular, calcula em 2000 o número de sorocabanos nas fileiras. O M.M.D.C. ajuda-o nessa exaltação. Ora, ou as listas quase diárias das pessoas que seguiram foram injustamente incompletas ou o total não atingiu a 1000. Mas, 900 ou 950 é um número imponente (ALMEIDA, 2002, p. 401).

 

A segunda lista de voluntários sorocabanos contou com os seguintes nomes: Antonio Almeida Filho, José d’Ambrosio, José Soares, Abilio Soares Filho, Manoel Soares, Jorge Pilar, João Lisboa, Oswaldo Fasano, Sylvio Rocha, Germinal Signorelli, Pedro Oliveira e Antonio Antunes Almeida.

Em agosto, o hospital da Santa Casa de Sorocaba serviu quase que exclusivamente aos feridos nos combates. Também levantou-se um Hospital provisório no distrito de  Votorantim (ALMEIDA, 2002, p. 400).

Apesar da vontade e do empenho dos paulistas, as forças federais eram numericamente superiores. Diz o historiador Boris Fausto:

 

Mas a superioridade militar dos governistas era evidente. No setor sul, as forças do Exército contavam com 18 mil homens, além da Brigada Gaúcha e outros contingentes menores. Os paulistas não passavam de 8500 homens. As forças federais contavam também com munição suficiente e artilharia pesada, contrastando com a precariedade dos meios à disposição dos revolucionários. No ar, os paulistas perdiam nitidamente para a aviação do governo federal. A Revolução de 1932 marcou aliás o ingresso da aviação no Brasil como arma de combate, em proporções consideráveis.

Apesar do desequilíbrio de forças, a luta durou quase três meses. O ataque sobre o território paulista foi lançado a partir do sul do estado, da fronteira com Minas Gerais e do Vale do Paraíba (FAUSTO, 1999, p. 350).

 

Nos primeiros dias de outubro os jornais sorocabanos anunciam o armistício. Era o fim da Revolução Constitucionalista. Aos paulistas, a derrota com sabor de vitória: o Brasil teve a sua Constituição promulgada em 1934. Talvez por esse motivo essa seja a única Revolução não triunfante a receber, em sua homenagem, um feriado estadual.

 

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

09.10.2016

Historiador

Colunista dos jornais ROL e Tribuna das Monções

Colaborador Emérito do Núcleo MMDC de Itapetininga

 

Bibliografia

 

ALMEIDA, Aluísio de. Sorocaba, 3 séculos de História. Itu: Ottoni, 2002.

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Salvadora! Sorocaba: Crearte, 2001.

______________________. Nossa gente negra. Sorocaba: Crearte, 2013.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1999.

 

Jornal Cruzeiro do Sul (Acervo do Gabinete de Leitura Sorocabano).

[1] Em um artigo intitulado “Nove de Julho”, o escritor Hilário Correia diz que “o primeiro voluntário sorocabano a partir para o front, arrastando atraz de si mais uma dúzia de êmulos (…) foi este seu amigo e criado”. Hilário Correia foi, portanto, o primeiro a se inscrever como voluntário na Revolução de 1932. O artigo citado foi publicado no jornal “O 3 de Março”, 14 de julho de 1957, 3ª página.

[2] “Aqueles ótimos novos governantes caíram ao sopro da Revolução de 1930, com os mesmos que combateram. Juntos se reergueram para a epopéia de 1932”. ALMEIDA, Aluísio de. Memória Histórica de Sorocaba (IX) – vol.XXXIX, nº 79. São Paulo: USP, 1969, p. 180.

[3] Grêmio Dramático Dicenta