Célio Pezza: 'Samadhi – parte 2'

Célio Pezza – Crônica # 351  – Samadhi – parte 2

 

Nós não entendemos a mente humana, suas regras e seus propósitos. Nosso racionalismo nos roubou a habilidade e os ensinamentos antigos de sabedoria.

No Antigo Egito, o despertar da consciência era representado por Osíris. Sem esse despertar, qualquer conhecimento adquirido seria perigoso e desconectado da sabedoria. O Olho de Hórus tinha que ser aberto, para ter acesso ao livro de Thoth, ou do conhecimento dos deuses. Existe um paralelo entre o livro de Thoth e a árvore da vida com seu fruto do conhecimento do bem e o mal do Jardim do Éden. A Humanidade comeu o fruto proibido e abriu o livro sagrado, sem o despertar da consciência.

Nós temos muito conhecimento sobre o mundo material, mas somos ignorantes sobre quem somos e como devemos viver e morrer.

A solução não é lutar pela paz, mas simplesmente reconhecer a verdade que a estrutura do ego é violenta, ela cria uma barreira entre nós e os outros. Sem o ego, não há mais guerras. As crises externas no mundo mostram uma grave crise interna em nós. Um evento que pode parecer apocalíptico para uma pessoa pode ser visto como uma benção para outra.

Realizar o Samadhi, a meditação profunda, é tornar-se autônomo, livre para criar novas perspectivas, porque deixa de existir um Eu envolvido.

O ego cria rótulos e está julgando sem parar. Não julgue seus pensamentos como bons ou maus, mas descubra quem você é, antes do julgamento. Quando todos os rótulos são descartados, é possível ver as coisas como são.

Temos que aceitar que vivemos adormecidos na nossa matriz.

Examine sua vida honestamente. Você é capaz de mudar seu padrão de vida repetitiva se quiser? O que você está disposto a pagar para ser livre?

Percebe que se mudar sua vida interior, você deve estar preparado para mudar sua vida exterior?

O primeiro passo para o despertar é reconhecer que vivemos em um sonho. É perceber que estamos identificados com a matriz da mente humana, com uma máscara. Algo dentro de nós deve ouvir essa verdade e despertar desse sonho. Existe uma parte dentro de nós, alheia ao tempo, que sempre conheceu a verdade.

A matriz nos distrai, nos mantém eternamente fazendo algo, consumindo, criando conflitos e soluções que nunca levam a lugar algum, sempre nos impedindo de evoluir na espiral, que é um direito desde o nosso nascimento.

O Samadhi, a meditação profunda, pode nos ajudar a saber a verdade que está escondida no âmago de nosso ser.

O filósofo indiano Krishnamurti, disse certa vez que “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”.

Estamos adaptados à matriz, gerando energia para o ego e destruindo a Terra, mesmo achando que estamos salvando-a e guerreando contra aqueles que julgamos ser os inimigos da paz.

Somos ignorantes e não sabemos disso.

Aumentamos a cada dia a força destrutiva do ego, nos distanciamos da verdade e nos aproximamos do Apocalipse que já está à nossa porta, achando que estamos fazendo o melhor possível.

O momento é de mudança interna. Sem ela, nada acontecerá, mas, como disse Morpheus no filme Matrix: “Você precisa entender que a maioria dessas pessoas não está preparada para despertar. Muitas delas estão tão inertes, tão desesperadamente dependentes do sistema, que irão lutar para protegê-lo”.

 

Célio Pezza

Abril, 2017




Celio Pezza: Samadhi – parte 1

 

Celio Pezza: Crônica # 350 – Samadhi – parte 1

 

Samadhi pode ser traduzido como contemplação ou meditação profunda.

No yoga é a última etapa, quando se atinge a compreensão da existência e a comunhão com o universo.

Ele é muito importante agora, face aos problemas de nossa época.

Não temos ideia de quem somos, porque estamos nesse mundo e para onde vamos.

Vivemos no medo e no caos.

Esquecemos do Samadhi e nossa existência está focada no ego. Esse ego constrói formas nas quais você sempre precisa de mais alguma coisa; mais dinheiro, mais poder, mais amor, mais paz, mais de tudo.

Isso tudo faz parte da construção do ego, pois ela é só o impulso de repetir. Dessa forma, a maior parte dos humanos é como um rebanho de gado, que vive e morre em uma subjugação passiva, dentro de uma matriz de ilusões. Nós já nascemos dentro de uma estrutura biológica condicionada, sem auto despertar da consciência. Crescemos com uma máscara e desempenhamos papéis ao longo da vida; quando você desperta, você não acredita que é a máscara que está usando.

A mente pode estar ligada a uma armadilha para o consciente, uma prisão, mas, na verdade, não é que você esteja em uma prisão e sim que você é a prisão. Essa prisão é uma ilusão e se você se identifica com a ilusão, você está preso. Quando você luta contra a ilusão, você assume que ela é real e, portanto, você continua dormindo e lutando contra um sonho.

Samadhi é o despertar desse sonho, dessa prisão, dessa construção do ego. Despertar não é sair da matriz e sim não se identificar com ela, pois ela não existe.

O filósofo francês René Descartes ficou famoso pela frase “Penso, logo existo”. Essa frase aprisiona o mundo ocidental e ajuda na sua queda.

Já Buda, na cultura oriental, foi além da mente e do pensar. Ele foi buscar a verdade na meditação profunda, bem além da mente.

No filme Matrix existe uma civilização inserida em um programa de computador que cria nos humanos a ilusão de um mundo de sonhos e você vive dentro dele, só produzindo energia para as máquinas que criaram o programa.

A diferença é que as máquinas somos nós! Nós criamos desejos que nunca acabam pois não podem ser satisfeitos. Nós passamos a vida nessa prisão, construindo algo para amanhã e depois morremos. Quando você está na frente de um espelho, nunca vai mudar a imagem, pois ela é você. Você é a fonte. Se você não mudar, nada mudará.

Muitos dizem que para manter o mundo em paz precisamos combater os nossos inimigos, mas as lutas para a paz criam mais de tudo aquilo que queremos combater.

No mundo atual temos guerras contra o terrorismo, contra as doenças, contra a fome, contra tudo. Na verdade, qualquer guerra é contra nós mesmos, pois todas são de nossa criação.

Nós queremos o ar limpo mas continuamos a poluir e respirar venenos; nós procuramos pela cura do câncer, mas não mudamos os hábitos alimentares e continuamos a comer comida envenenada.

O mundo interno é onde essa revolução deve acontecer e somente quando sentirmos o mundo interno podemos vir para o externo.

Até lá, nada do que fizermos vai mudar o caos criado pela mente. Guerra e paz vão continuar juntas e nesse mundo de ilusões, uma não pode viver sem a outra, da mesma forma que a luz não vive sem a escuridão.

Qualquer solução que venha da mente e do ego, é dirigida pela ideia de que existe um problema e a solução se torna um problema cada vez maior.

Apesar dos melhores esforços o câncer e as guerras estão aumentando.

O que está errado na nossa abordagem?

 

Célio Pezza  /  Abril, 2017                                                                 Continua na parte 2