A Última Cena  estreia no Sesc Vila Mariana em junho

Espetáculo dirigido por Flávia Melman explora a linguagem do teatro-documental ao trazer relatos de quatro brasileiros de realidades bem diferentes sobre o medo da finitude da vida

Fotos de Otávio Dantas 

Alguém aqui sabe empilhar cadáveres? Olha, eu não sou ninguém. Sou coveiro. Sabe quem eu sou? Sou o dramaturgo do enterro. O homem primeiro sepulta para depois construir sua casa. Qualquer coisa que aconteça, inclusive a morte, foi obra do tempo e nada mais. [Fininho, 64 anos, coveiro]

Espetáculo dirigido por Flávia Melman explora a linguagem do teatro-documental ao trazer relatos de quatro brasileiros de realidades bem diferentes sobre o medo da finitude da vida. A peça estreia dia 23 de junho, no Sesc Vila Mariana, onde segue em cartaz até 22 de julho, com apresentações às sextas, às 20h, e aos sábados, às 18h30.

Parte de uma tetralogia sobre abismos sociais e afetivos, o espetáculo teve sua pesquisa iniciada durante a pandemia de Covid-19, entre os meses de maio de 2020 e abril de 2021, por meio de uma série de encontros virtuais entre os participantes.

Em cena, estão quatro homens brasileiros de diferentes classes sociais, profissões e espaços geográficos, que imaginam seus momentos finais na vida e respondem à seguinte pergunta: como entrar em contato com o medo da morte nos transforma?

São eles: Antônio Janô, 82 anos, professor de teatro, maestro da vida e mestre de muitos atores brasileiros; Osmair Cândido, apelidado de Fininho, 64 anos, um coveiro filósofo, cuja vida se alterna entre empilhar cadáveres e empilhar histórias; Nando Bolognesi, 56 anos, um palhaço que enfrenta com risos e facas a esclerose múltipla, diagnosticada há 30 anos; e  Thiago Amaral, 40 anos, o jovem viúvo de Tião, que traz consigo a sua experiência do luto. Tião Braga (in memorian), aparece em vídeo. Tião cineasta e psicodramatista que descobriu o contato com a finitude aos 34 anos, ao ser diagnosticado com leucemia crônica em meio a pandemia. 

Tião morreu antes da estreia do projeto, em outubro de 2022, aos 37 anos.  Dessa forma, o corpo físico de Thiago traz sempre a presença de Tião, marcando, assim, sua ausência. A dramaturgia ainda é composta por conversas gravadas por Zoom e parte do extenso material de Tião em sua batalha contra o câncer.

“Ao tratar da morte e nos debruçarmos sobre ela, estamos buscando aquilo que nos aproxima, nos iguala, porque no final, a morte é a única certeza que temos na vida. A humanidade tem em comum, sobretudo, esta certeza: ‘viver, morrer, [sonhar talvez]’. E sonhamos que, ao falar sobre o medo de morrer, possamos nos encontrar e promover outros sentidos para a vida, outras formas de nos relacionarmos com o outro, com a natureza, de compartilhamos uma realidade”, comenta a diretora Flávia Melman.

A ideia do espetáculo não é tratar o medo da morte para dissipá-lo, como conta a encenadora. “Tratar a morte como algo que caminha ao nosso lado, de mãos dadas, como companheira; pode criar uma proximidade conciliadora entre as pessoas e diminuir o abismo que existe entre as relações humanas”, acrescenta.

E, para contar essas histórias, o grupo pesquisou a linguagem do teatro-documentário

Um Mergulho em Quatro Atos 

A Última Cena nasce como a segunda parte de uma tetralogia que se propõe a expor nossos abismos sociais e afetivos através de encontros entre pessoas de realidades e experiências de vida diversas.

A primeira parte dessa sequência foi o espetáculo A Noite dos Mortos-Vivos, que expunha os abismos e aproximações dos intérpretes com o universo das drogas.

E os outros dois espetáculos, ainda sem título definido, terão como ponto de partida a sexualidade e o dinheiro, respectivamente. 

Sinopse

De onde vem nosso medo da morte? E se falar sobre nossa condição finita fosse uma prática do cotidiano? Num encontro improvável, quatro homens se aproximam da morte: um coveiro, um senhor de 80 anos, um palhaço portador de esclerose múltipla, um jovem viúvo de 40 anos.

Guiados pela diretora, mergulham em seus medos e fantasias sobre o morrer e, com humor e sensibilidade, questionam-se sobre aquilo que os une: a vulnerabilidade. Uma peça que aspira a sensibilidades diversas, abrindo caminhos para a reflexão sobre hiatos entre viver e morrer comuns a todos nós.

Ficha técnica

direção: Flavia Melman

codireção: Aline Filócomo e Paula Picarelli

estrutura de dramaturgia: Aline Filócomo, Flavia Melman e Paula Picarelli

elenco: Antonio Januzeli (Janô), Nando Bolognesi, Osmair Candido (Fininho), Thiago Amaral e Tião Braga (in memorian).

vídeos: Clara Lazarin

cenário e luz: Marisa Bentivegna

operação de luz: Guilherme Soares 

operação de som e vídeo: Tomé de Souza

direção de produção: Aura Cunha

produção executiva: Yumi Ogino

programação visual: Laerte Késsimos

foto divulgação: Otávio Dantas

Assessoria de imprensa: Pombo Corre

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