Sobre loucura e preconceito

Elaine dos Santos: ‘Sobre loucura e preconceito’

Elaine dos Santos
Elaine dos Santos
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 25 de novembro de 2024
às 12:42 PM

Em O Alienista, conto de Machado de Assis, tem-se a história do médico Simão Bacamarte, que abriu um consultório no interior, na cidade de Itaguaí.

Na cidade, conheceu e casou-se com dona Evarista, uma viúva. O principal interesse do médico era ter filhos e ela pareceu-lhe uma “boa parideira”.

Com o passar do tempo, Bacamarte abriu um manicômio na cidade, em que internaria pacientes com algum grau de desvio comportamental. O problema é que o médico passou a enxergar loucura em todos os habitantes da cidade.

Embora o barbeiro Porfírio tenha liderado um movimento contra o médico, porque os cidadãos de Itaguaí temiam que todos fossem considerados loucos, o próprio Barbeiro, que tinha interesses políticos, acabou aliando-se a Bacamarte e as internações continuaram.

Eis que João Pina, opositor do Barbeiro, conseguiu a sua deposição, mas, quando quase 75% da cidade estava internada, Simão Bacamarte voltou atrás e liberou todos os internos.

Na sequência, tendo revisto a sua teoria, mandou internar Galvão, um vereador da cidade. Passado um tempo, liberou novamente os internos e promoveu a sua internação.

O texto de Machado de Assis esbanja ironia (talvez para o leitor menos iniciado, tenha apenas a possibilidade do riso, mas há nuances críticas à nossa sociedade).

A ideia de escolher uma mulher apta a ter filhos saudáveis, é recorrente em nossa literatura, como em São Bernardo, de Graciliano Ramos, quando Paulo Honório reúne as mulheres jovens da cidade para escolher aquela poderia ofertar-lhe um herdeiro.

Os conchavos por interesses políticos ou econômicos remontam à literatura de todos os tempos, Hamlet, de William Shakespeare, é um exemplo paradigmático.

A loucura permeia todas as relações em nossa sociedade em todos os tempos: comportou-se fora dos ditames de determinada sociedade em determinada época, é louco.

Lembro-me de Bernadette Soubirous, a menina pobre e doente, que, em 1858, em Lourdes, no interior da França, viu e conversou com a Imaculada Conceição. Ela foi ameaçada, segregada, silenciada. Bernadette precisava ser desacreditada e, como tal, disseram que era louca.

A sociedade burguesa instituiu que a mulher deve ser tutelada pelo pai, pelo marido ou, quando este falece, pelo filho mais velho.

Como escreveu Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Na contramão dessas ideias, em tempos idos, a vida já foi diferente (ou nem tanto!). Os meus alunos de Literatura Portuguesa divertiam-se quando lhes lembrava que o Latim falado em Portugal não era o Latim culto de Roma, os doutos não participavam das invasões.

Quando os romanos invadiram a antiga Hispânia (Portugal e Espanha), seguiram soldados, aventureiros e prostitutas para a ocupação daquela região.

Quando o Brasil passou a ser ocupado, vieram aventureiros, degredados (presos) e prostitutas, portanto, a língua portuguesa que adentrou o Brasil era o português falado pelo povo.

Os jesuítas que chegaram aqui vieram, de fato, para catequizar os índios, mas vieram também para moralizar os costumes, realizar casamentos, batizar crianças nascidas em pecado.

Erico Verissimo, em O tempo e o vento, apresenta Pedro Missioneiro como ancestral mítico do gaúcho, filho de uma indígena e um tropeiro paulista, provavelmente casado, que a abandonara no caminho.

Qual o meu intento aqui com essa sucessão de fatos históricos e literários?

A sociedade contemporânea brasileira ainda guarda resquícios de conservadorismo, sobretudo em regiões interioranas: mulher, preferentemente, assume o nome de família do marido; deixa a família dela para residir com ele; as crianças recebem, com muita frequência o nome da família do pai etc.

E quem não casa? Sim, este texto é um libelo em defesa das mulheres que não se casaram, não tiveram filhos e estudaram, construíram as suas vidas profissionais independentes.

Somos loucas, porque estudamos; viajamos; adquirimos conhecimento, certa liberdade; solitude (há quem diga que é solidão), definimos os rumos das nossas vidas. Dispensem-nos do vosso preconceito, não nos atraí a vossa vida, mas não menosprezem as nossas escolhas.

Todos nós somos seres únicos, com experiências únicas. Se algumas mulheres experimentaram a maternidade, isso não as faz nem melhores nem piores. Até porque muitas mulheres gostariam de serem mães e o próprio organismo as impede.

Por outro lado, muitas mulheres que não foram mães têm tantas experiências para partilhar. Talvez respeito fosse o meio termo para intermediar as relações sociais.

Elaine dos Santos

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Peça de Shakespeare será apresentada no Sesi de Itapetininga por portadores da Síndrome de Down

PEÇA ‘NOITE DE REIS’ TERÁ APRESENTAÇÃO

ESPECIAL ÚNICA NO SESI DE ITAPETININGA

Elenco de alunos portadores de Síndrome de Down do Grupo ADID de Teatro na adaptação inédita do clássico de William Shakespeare. Recheado de referências à Jovem Guarda, o espetáculo acontece no sábado (2/12), às 20h. A entrada é gratuita

 

Noite de Reis é uma peça sobre encontros e desencontros, emoldurada numa trama repleta de reviravoltas e surpresas. A ingenuidade presente nos discursos amorosos dialoga diretamente com o frescor das letras da Jovem Guarda. É um dos meus textos prediletos de Shakespeare”, comenta o diretor Leonardo Cortez. O público poderá ver o resultado dessa mistura no palco do SESI Itapetininga em única apresentação no dia 2 de dezembro, às 20h. Os ingressos são gratuitos.

Na trama, os gêmeos idênticos Sebastião (interpretado por Diogo Junqueira) e Viola (Ana Paula Dias) são separados em um naufrágio. Para sobreviver sozinha na ilha de Ilíria, a moça decide se passar por homem para conseguir um emprego como mensageiro. Enquanto ela leva as cartas de amor do Duque Orsino (Daniel Gejer) para a Condessa Olivia (Carolina Dias), um triângulo amoroso para lá de confuso é formado e os divertidos personagens buscam, cada um à sua maneira, encontrar o amor verdadeiro.

À frente do grupo ADID de Teatro há 19 anos, Cortez conta que a escolha pela trilha sonora incomum para essa montagem foi, em grande parte, fruto da influência do próprio elenco, formado por 20 atores portadores de Síndrome de Down. “A proposta de um espetáculo essencialmente musical vem na carona de uma necessidade pedagógica: a música se revela, desde sempre, instrumento de integração e autoconhecimento”, explica o diretor e ator premiado.

Na peça, Roberto, Erasmo e Wanderléa dão nomes a personagens e suas músicas são cantadas ao vivo pelo próprio elenco. Canções mais atuais como Estúpido cupido, Esse cara sou eu, Emoções e Além do horizonte também não ficam de fora do repertório da peça, que tem direção musical do músico-terapeuta Higor Cataneo.

“O trabalho com o Grupo ADID é o resultado de um exercício de crença na potencialidade de cada um dos atores, e os desafios superados se revelam a cada fala. Costumo dizer que o público se torna torcedor de uma partida que vencemos juntos”, comenta Cortez.

Mas esta não será a primeira vez que o grupo se apresenta em parceria com o SESI-SP. O histórico de quase uma década de parceria com SESI-SP começou com Sonho de uma noite de verão em 2010. “Estamos muito entusiasmados e felizes por estar de volta aos palcos do SESI-SP. Foi um longo período de ensaios [quase dois anos] em que os atores superaram desafios enormes como intérpretes, e compartilhar essa conquista no palco certamente será algo inesquecível”, afirma o diretor.

Após o espetáculo, os atores e profissionais da ADID farão um bate-papo com o público para discutir a influência das atividades artísticas e culturais no desenvolvimento e inclusão social das pessoas com Síndrome de Down.

Sobre o diretor:

Ator, dramaturgo e professor de teatro formado em artes cênicas pela ECA/USP, Leonardo Cortez trabalha com pessoas com deficiência intelectual desde 1995, participa e ministra palestras em Congressos Nacionais sobre Síndrome de Down. Fundou o Grupo ADID de Teatro em 1998, montando espetáculos que auxiliam os alunos no desenvolvimento da expressividade e da criatividade, ampliando o seu universo cultural.

Sobre o Grupo ADID de Teatro:

Criado há quase 20 anos em meio às atividades da Associação para o Desenvolvimento Integral do Down (ADID), o grupo vem ao encontro da acentuada identificação dos alunos com Síndrome de Down com a linguagem teatral. Ao longo de sua história, o grupo já encenou importantes obras, como Romeu e Julieta ( William Shakespeare) em 1998; Cinco pequenas histórias em família (Luiz Fernando Verissimo) em 1999; O jornal falado (Coletivo), em 2000; Muito barulho por nada (William Shakespeare) em 2002; O mambembe (Artur de Azevedo) em 2004; Um violinista no telhado (Joseph Stein, Sheldon Harnick e Jerry Bock) em 2006; A vida é sonho (Pedro Calderón) em 2008; Sonho de uma noite de verão (William Shakespeare) em 2010; A viagem do Capitão Tornado (Théophile Gautier) em 2012 e 2013; e Os miseráveis (Victor Hugo) em 2015 e 2016 – as últimas três encenadas no Teatro do SESI-SP.

 

Serviço:

Espetáculo Noite de Reis – Grupo ADID de Teatro

Única apresentação: 2 de dezembro (sábado), 20h

Local: SESI Itapetininga (Av. Padre Antonio Brunetti, 1.360 – Vila Rio Branco – Itapetininga/SP)

Capacidade: 246 lugares

Duração: 85 minutos

Gênero: comédia romântica / infanto-juvenil

Classificação indicativa: livre

Entrada Gratuita. Reservas antecipadas pelo site itapetininga.sesisp.org.br. Ingressos remanescentes serão distribuídos nos dias do espetáculo, a partir do horário de abertura da bilheteria.

 

Sinopse: Noite de Reis é uma adaptação da obra de William Shakespeare e conta a desventuras de um casal de gêmeos depois de serem separados em um naufrágio. A trilha sonora é composta por músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que são executadas ao vivo pelo próprio elenco.

 

Ficha Técnica: Direção, adaptação do texto e luz: Leonardo Cortez | Assistente de direção: Glaucia Libertini | Elenco: Ana Paula Dias, Antônio Aranha, Carolina Dias, Daniel Gejer, Diogo Junqueira, Felipe Assunção, Felipe Linden, Giovanna Marteleto, Guilherme Alonso, Ian Pereira, Jéssica Pereira, João Simões, Kátia Maçães, Luciana Sergi, Luís Octávio Almeida, Marcos Minoru Onita, Maria José Rodrigues, Paola Miranda, Renan Sant’ana e Rodrigo Botoni | Cenário: Rosane Chiarantano | Figurinos: Glaucia Libertini e Célia Rosali | Acabamento em crochê: Maria José Rodrigues e Cecília Dias | Direção musical: Higor Cataneo

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Sesi de Itapetininga apresenta peça teatral baseada em Shakespeare

A apresentação será dia 25, 4a. feira, às 20 horas

O núcleo de artes cênicas do Sesi de Itapetininga  vai apresentar a peça ‘Condomínio Elsinor’, inspirada na obra ‘Hamlet’, de William Shakespeare

O espetáculo será nesta quarta-feira (25), às 20h, no teatro do Sesi em Itapetininga, à avenida Padre Antonio Brunetti, 1.360, na Vila Rio Branco

A entrada é de graça.

Roteir
a peça se passa num condominio chamado ‘Elsinior’, numa rua chamada Dinamarca.
Um jovem reconta uma antiga história envolvendo a idéia fixa de um príncipe que resolve se vingar da misteriosa morte do pai, que foi envenenado, supostamente, por um irmão, que e assombrado pelo fantasma paterno.

O espetáculo será reapresentados dias 2, 3, 5 e 12 de dezembro.