Em formato digital, espetáculo Pontos de Vista de um Palhaço estreia temporada transmitida ao vivo do Teatro Unibes Cultural

Monólogo que rendeu a Daniel Warren indicação ao Prêmio Shell será transmitido via Instagram e Youtube

Em quarentena desde o início da pandemia, o ator Daniel Warren não poderia imaginar que voltaria a subir no palco de um teatro tão cedo. O público continua em casa, mas nos dias 27, 28 e 29 de agosto o ator estará no Teatro Unibes Cultural, em São Paulo, para interpretar, sempre às 19h, o monólogo Pontos de Vista de um Palhaço. O texto do espetáculo foi adaptado para as câmeras, e diferentemente das já tradicionais lives feitas nas casas dos artistas, as três apresentações serão transmitidas direto do teatro, com os seus recursos de luz, som e cenário, e também seguindo todas as normas de segurança, com a equipe reduzida a cinco pessoas. A iniciativa visa valorizar a manutenção dos espaços teatrais da cena paulistana, que tentam sobreviver enquanto permanecem fechados.

As transmissões serão feitas gratuitamente pelo canal do YouTube da Unibes Cultural e pelo perfil de Daniel Warren no Instagram (@danielwarrenoficial).

Na adaptação para o formato digital, os ensaios com a diretora Maristela Chelala também aconteceram à distância. “Eu posicionava o celular e ela assistia e dirigia”, conta Daniel, indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator pelo monólogo em 2017. “Para comunicar melhor, estamos sempre em contato com a câmera, cuidando para não deixá-la sem a nossa interlocução”, explica. A diretora Maristela Chelala se preocupou também com as diferenças no nível de atenção do público que vê um espetáculo online: “A casa tem muitos elementos de dispersão, que não existem dentro de um teatro, por isso é preciso capturar ainda mais o interesse do espectador”. No novo formato, o monólogo, originalmente com 75 minutos, terá duração de 40 minutos. Para isso, algumas cenas tiveram que ser suprimidas enquanto que outras, inéditas, foram criadas.

O espetáculo

Um palhaço em crise busca ajuda em uma sessão de terapia em grupo. Este é o ponto de partida da peça, baseada no romance homônimo do escritor e dramaturgo alemão Heinrich Böll, Prêmio Nobel de Literatura em 1972. O texto, adaptado por Maristela Chelala, lança luz na alteridade que está no cerne da arte do clown. Com um recurso perspicaz, ela desloca o foco do protagonista amargurado do livro de Böll, Hans Schnier, e o fragmenta entre Hans e seu alter ego, um palhaço chamado Schnier – que, na adaptação de Chelala, se transforma no narrador da história, criando novas possibilidades de humor.

Para interpretar a crise de identidade do personagem, Daniel Warren passeia por estados de espírito opostos, da graça ao sarcasmo e à revolta, manipulando com sutileza a máscara do palhaço para alternar-se entre Hans e Schnier. “A arte às vezes pode parecer terapia, mas não é”, explica o ator e palhaço sobre seu processo de criação: “Só que para mim não tem outro jeito de fazer que não seja me colocando totalmente nisso. E se eu me coloco, eu me vejo, reflito e transcendo”. A diretora Maristela Chelala concorda: “Quando estamos fazendo arte, se estamos ali de coração, estamos falando da nossa vida”.

A decadência do palhaço se segue a uma desconcertante briga de casal que expõe não só a divergência de valores religiosos e sociais entre o protagonista e Marie, mas a intolerância da própria sociedade.

Vinte anos de parceria

Maristela Chelala e Daniel Warren conheceram-se em 1997 durante o curso profissionalizante do Indac – Escola de Atores. Formados, integraram o grupo de pesquisa sobre o dramaturgo Samuel Beckett coordenado pelo diretor César Ribeiro, que resultou na peça Diálogo Inútil do Abismo com a Queda. Em 2000, criaram o grupo de comédia Os Cretinos, juntamente com os atores Oscar Filho, Alex Moreno e Carla Mercado. De 2002 a 2004, enquanto Chelala fez parte do Grupo Tapa, a dupla encenou o espetáculo A Traída, de Olair Coan. Eles também estiveram juntos em 2006 na montagem O Prodígio do Mundo Ocidental, de Ariela Goldmann. No ano seguinte, Warren estrelou Às Favas com os Escrúpulos, dirigida por Jô Soares, para em seguida subir ao palco novamente com Chelala e elenco em Amigos Ausentes, de Nilton Bicudo, em 2008 e 2010. Chelala integrou em 2008, com Denise Fraga, o elenco de A Alma Boa de Setsuan, sob direção de Marco Antônio Braz. Em 2011, Warren entrou em cartaz com a peça O Libertino, de Jô Soares. Os dois voltariam a se encontrar no mesmo ano, no elenco do infantil O Mistério no Expresso do Oriente, escrito e dirigido por Chelala – uma versão clownesca do livro de Agatha Christie, que lhe rendeu o prêmio de melhor espetáculo no Festival Cultura Inglesa e uma indicação como “Revelação” ao Prêmio Femsa pela adaptação do texto. Os dois também dividiram o palco na montagem de Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, dirigido por Cibele Forjaz, em cartaz entre 2015 e 2016, quando iniciaram juntos os ensaios para um novo infantil baseado em Agatha Christie, Suspense no Caribe. Com Pontos de Vista de um Palhaço, celebram duas décadas de trabalho em parceria.

Mestres-palhaços

Maristela Chelala e Daniel Warren aperfeiçoaram suas técnicas de palhaço com mestres como o austríaco Andreas Simma, o argentino Payaso Chacovachi, o francês Philippe Gaulier e o brasileiro Ésio Magalhães.

Sobre o autor

O alemão Heinrich Böll nasceu em 21 de dezembro de 1917 em Colônia e morreu em 16 de julho de 1985 em Kreuzau. Filho de uma família pacifista católica que mais tarde se opôs à ascensão do nazismo,  o escritor é até hoje um dos autores mais lidos em seu país e foi agraciado com o Prêmio Büchner em 1967 e com o Prêmio Nobel de Literatura em 1972. Humanista e defensor de direitos civis e democráticos, deixou uma vasta obra, traduzida para cerca de 40 idiomas, cuja tônica é a luta contra a omissão, a injustiça e a opressão. Escreveu romances, contos, ensaios, peças de teatro, poesia e radionovelas. O engajamento na luta política e a coragem marcaram a vida e a obra de Heinrich Böll, um defensor implacável dos direitos humanos, antimilitarista convicto e um dos primeiros ativistas em defesa do meio ambiente. O romance Pontos de Vista de um Palhaço (Ansichten eines Clowns) foi escrito em 1963 e adaptado diversas vezes para o teatro e uma vez para o cinema, em bela versão do tcheco Vojtech Jasny. Diferentemente de algumas obras de Böll que narraram os horrores da Segunda Guerra, o livro apresenta críticas em relação aos dogmas da religião e as estruturas sociais vigentes.

“Envolver-se é a única forma de enfrentar a realidade.” (Heinrich Böll)

FICHA TÉCNICA
Concepção Artística: 
Maristela Chelala e Daniel Warren
Baseado no romance Ansichten eines Clowns, de Heirich Böll
Dramaturgia e Direção: Maristela Chelala
Elenco: Daniel Warren
Preparação e Técnicas de Palhaços: Ésio Magalhães
Iluminação e Cenografia: Marisa Bentivegna
Figurino: Carol Badra
Trilha Sonora: Frederico Godoy
Assessoria de Imprensa: Ofélia Comunica
Fotos: Ligia Jardim

Este Projeto foi realizado através do ProAC – Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.

SERVIÇO:
Transmissão gratuita do monólogo Pontos de Vista de um Palhaço
27, 28 e 29 de agosto de 2020, às 19h
Pelas plataformas: 
canal do YouTube da Unibes Cultural (https://www.youtube.com/channel/UCz2tQ2I5BxO2W2-7EKkJOAw) e pelo perfil de Daniel Warren no Instagram (@danielwarrenoficial)
Duração: 40 minutos
Classificação: 12 anos

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