No tribunal das sombras

Clayton Alexandre Zocarato: ‘No tribunal das sombras’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Meta. 16 de julho de 2025, às 10:11 PM
Imagem criada por IA do Meta. 16 de julho de 2025,
às 10:11 PM

Na penumbra da sala onde a fé julga a razão, o homem se ergue — não com armas, mas com ideias.

Giordano Bruno, filho do cosmos e amante da eternidade, caminha entre inquisidores como quem pisa sobre brasas e estrelas.

A toga negra que o observa não vê um corpo, mas uma ameaça, a centelha que ousa incendiar a noite da ignorância.

Ali, entre cruzes e códigos, ele fala. Fala com a ousadia dos que não negociam o infinito.

Seu verbo é vasto, como os mundos que imagina — mundos sem fim, dançando na mente de Deus.

E cada palavra sua é uma afronta, cada visão uma heresia, pois o universo que abriga todos os deuses não cabe numa cela de dogmas.

Recuas?, perguntam os juízes, com as chamas já acesas nos olhos.

E Bruno responde com silêncio — não o da submissão, mas o da eternidade que já o reclama.

Condenaram  à fogueira, como se o fogo pudesse consumir a luz.

Mas naquele 17 de fevereiro, em Campo de Fiori, não foi um homem que queimou — foi o medo, tentando silenciar o pensamento.

E quando a carne se fez cinza, o espírito se fez constelação.

Vida e morte, naquele instante, se confundiram como irmãos gêmeos: uma entregando o corpo à outra, a outra libertando a alma para sempre.


Clayton Alexandre Zocarato

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