O leitor participa: Arvelos Vieira, da Academia Cruzeirense de Letras e Artes, com o poema: 'Trilhando a saudade pela linha do tempo'
“Com os olhos centrados neste par de TRILHOS,/ Desligo-me reportando ao passado DISTANTE,/ Extasiado e impactado pelo seu forte BRILHO,/ Reconheço o quão fora ele IMPORTANTE.”
PELA LINHA DO TEMPO
(paixão incontida pela ferrovia)
Com os olhos centrados neste par de TRILHOS,
Desligo-me reportando ao passado DISTANTE,
Extasiado e impactado pelo seu forte BRILHO,
Reconheço o quão fora ele IMPORTANTE.
Caminho que para muitos parecia INFINITO,
Mas que permitia idas e RETORNOS,
Transportando sonhos, ilusões e até amor BANDIDO,
Vidas marcadas por conquistas e TRANSTORNOS.
Trilhos que um ao lado do outro formaram uma LINHA,
Que avançou na busca incessante do PROGRESSO,
Permitindo que cidades surgissem dia após DIA,
Crescendo e evoluindo às margens do seu SUCESSO.
Por esses trilhos, infinitos amores PASSARAM,
Decepções e tristezas também foram AMARGADAS,
Muitos sonhos em fumaça se TRANSFORMARAM,
Incontáveis lágrimas foram DERRAMADAS.
Por esses trilhos muita gente construiu HISTÓRIA,
Viajou pelo tempo firmando-se como CIDADÃO,
Vidas marcadas de fracassos ou GLÓRIAS,
Fosse o que fosse à busca da sua ILUSÃO.
Os trilhos se tornaram espectros do PASSADO,
Perderam seus brilhos bem como sua PUJANÇA,
Hoje agonizam e apodrecem ENFERRUJADOS,
Abandonados sem a menor IMPORTÂNCIA.
E assim a “linha” do tempo perdeu sua FINALIDADE,
Para a insensatez, ganância e ignorância HUMANA,
Hoje se tornou um estorvo para as COMUNIDADES,
Que ela viu nascer, crescer e se tornarem URBANAS.
Descaso e exemplo da vida na sua EXTENSÃO,
Vez que somos bonitos e requisitados quando ÚTEIS,
Com o passar do tempo surge a REGRESSÃO,
Descartáveis e sem espaço, nos tornamos FÚTEIS.
Todos que fizeram parte dessa HISTÓRIA,
Tiveram seus momentos de glória e BRILHO,
Hoje nada mais são que saudosas MEMÓRIAS,
Não diferentes do agonizante TRILHO!…
E assim encerramos essa justa HOMENAGEM,
Que dedicamos a esse transporte de NOSTALGIA,
Exuberante e desbravador de PAISAGENS,
Que o credenciou a MEMÓRIAS DA FERROVIA!
Este é o nosso PLEITO DE SAUDADE,
De um transporte que nos deixou a PÉ
Pois não faz mais parte da nossa REALIDADE,
Que sempre escrevemos COMO ELA É!…
Arvelos Vieira
“Este é o primeiro poema de minha autoria, que eu dedico a memória do meu saudoso pai, Adolpho Vitor de Carvalho Vieira, o primeiro que o leu depois de pronto, e, sendo ele ferroviário fervoroso, aposentado, não conteve as lágrimas, recordação que guardo com muito carinho”.