Pedro Novaes: 'Vice X Titular'

 Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘VICE x TITULAR’

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É estranha a figura do vice, prefeito, governador ou presidente.

Em época eleitoral, todos os candidatos tratam de convidar os concorrentes para figurar como vice, na chapa. A atitude busca diminuir a concorrência, agregar apoio e manter um ambiente amistoso.

O vice ideal é aquele que agrega confiabilidade e simpatia à chapa, além de portar uma franciscana vocação a figurar em segundo plano, durante a gestão. Na prática, contudo, titular e vice rumam, desde o primeiro dia, ao desencontro.

Na república, as divergências entre Collor e Itamar, Dilma e Temer, comprovam que diferentes estilos possuem dificuldades em conviver em ambiente de hierarquia de poderes. O vice frequenta o mesmo ambiente de poder, sem possuí-lo de fato.

A criação do vice visou impedir a descontinuidade da gestão, nas faltas e impedimentos do titular. A tendência atual aponta para a utilização dos vices, ocupando secretarias ou encabeçando eventos e promoções oficiais.

Não compete ao vice aguardar, distante, a oportunidade para assumir, devendo manter-se atualizado dos fatos e tendências da administração, eis que pode, a qualquer momento, assumi-la, temporária ou definitivamente.

O acordo mais comum, e comumente mais desrespeitado, diz respeito ao vice figurar como titular, na eleição seguinte. São mínimas e irreais as chances de tal acordo vingar, mesmo que bem intencionadas as partes, quando do trato.

Toda a responsabilidade dos erros e acertos das gestões recai sobre o titular, e não existem registros de imputações de sucessos ou insucessos, ao vice. Tal situação conduz o titular a tomar para si todo o domínio e responsabilidade, acabando por descumprir as juras de administração compartilhada, infantil e ingenuamente combinadas, na fase pré-eleitoral.

Humanos, titular e vice acabam incomodados, sempre que o brilho do reconhecimento popular atinge mais um que outro. Vices, com anseios de poder, buscam luz própria, iniciando, não raro, uma disputa sorrateira, que pode atingir feições conspiratórias, comprometendo o bom andamento da gestão.

As desavenças podem ser de tal monta que algum vice, mesmo quando assume o poder por alguns dias, cuide de mudar todo o quadro de comissionados, e trate de pintar todos os postes e sarjetas, enunciando melhorias na visão popular. O vice pode ainda aproveitar a interinidade e propor, ao legislativo, normativos populistas, que desagradem o titular ou comprometam o andamento futuro da gestão.

Por outro lado, titulares podem iniciar procedimentos irregulares, deixando temporariamente vago o cargo, para que os vices assinem documentos e assumam responsabilidades. Desavenças entre titulares e vices prejudicam, sempre, a população.

No tema, a desavença é a regra, e a harmonia exceção. Resta torcer para que os desencontros fiquem confinados ao relacionamento pessoal, não prejudicando o objetivo maior das administrações, que é o bem estar coletivo.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.




Artigo de Pedro Novaes: 'Vice'

Pedro Israel Novaes de Almeida:  ‘VICE’

 

colunista do ROL
Pedro Novaes

A figura do vice, prefeito, governador ou presidente, sempre foi pouco compreendida.

Na eleição, a principal função do vice é não atrapalhar. Se acrescentar algum voto à chapa, melhor.

É comum o candidato a titular escolher um vice de boa imagem, tentando atrair para si tal virtude. Escolhas decorrentes de acordos partidários tendem a resultar em desavenças pessoais futuras.

No entendimento popular, o vice nada mais é que um plantonista, sempre à disposição, para suprir a falta, longa ou curta, do titular. O vice ideal, na visão do titular, é aquele que nada repara, nada vê e nada ambiciona.

Para evitar a função meramente figurativa, alguns vices acabam nomeados para secretarias e ministérios. Em havendo titular solteiro, o vice pode comandar as ações sociais do executivo, cargo tradicionalmente ocupado pela primeira-dama.

Quando a gestão é considerada boa, o mérito é só do titular, mas o coitado do vice é sempre lembrado, quando a gestão acaba mal avaliada. A rigor, o vice é uma autoridade que pouco pode e nada manda.

São raras, raríssimas, as gestões que comemoram um bom relacionamento entre titulares e vices. Existem titulares que operam  malfeitos e saem em licença, deixando que os vices assinem as falcatruas.

Titulares ficam revoltados quando os vices, ocupando por curto período o cargo, tomam iniciativas pleiteadas e agradecidas pela população.  O procedimento costuma agravar as desavenças do poder.

Na verdade, o vice não deve ser um simples e obediente estepe, sendo necessário que acompanhe o dia-a-dia da administração, pois pode a qualquer momento assumi-la.   Vices de fato sugerem, discutem e, se for o caso, conspiram.

Vices são conspiradores natos, e há casos em que a conspiração chega a ser heroica.  Conspiradores sem êxito acabam distanciados do Executivo, e alguns sequer comparecem à sede da administração.

O vice não exerce qualquer função, sendo mero plantonista. É pura expectativa, e, muitas vezes, torcida.

Vice é mais um caso de “teta de homem”. Existe mas não tem utilidade alguma.

Nossos legisladores precisam, com urgência, criar funções e responsabilidades para o vice. A função ideal é exercer a Ouvidoria, do município, estado ou país.

O vice não é subalterno do titular, e não perde a identidade, quando a tem, em virtude de exercer uma expectativa. Alguns governos merecem vices que conspiram.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.