Sarau traz histórias inusitadas sobre Vinícius de Moraes

Dani Mattos e Poucas e Boas – Foto Guilherme Krol

Baseado na vida e obra de Vinícius de Moraes, encontro virtual convida o público a conhecer a obra do poeta e músico plural até no nome

Imagina conhecer Vinícius de Moraes e, melhor ainda, compor a melodia de uma de suas poesias. “Nos anos 70, Vinícius de Moraes fazia um circuito universitário e após um dos seus shows ele foi para uma festa. Eu e meus amigos, estudantes de medicina, ficamos sabendo e entramos nessa festa, mesmo sem convite.  Ficamos conversando e cantando com ele e  ouvimos a primeira audição da composição ‘Regra Três’. Vinícius também recitou várias poesias, entre elas uma em homenagem a Cândido Portinari e eu imediatamente criei uma melodia. Ele gostou e disse: leva que é tua bicho do mato. E eu levei, gravei e hoje tenho autorização irrevogável”.  Histórias inusitadas como essa contada pelo hoje conceituado médico psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Junior, estarão  no Sarau virtual “Vinícius, o poeta amador” , que acontece no próximo dia 12 de agosto, a partir das 18h30.

Reunindo mensalmente música, poesia, literatura, e curiosidades, o espetáculo interativo organizado pela cantora, pesquisadora e regente Dani Mattos  e seu grupo vocal Poucas & Boas acontece pela plataforma Sympla (https://www.sympla.com.br/sarau-poetico-musical-vinicius-o-poeta-amador__922538).

O espetáculo “Vinícius, o poeta amador” foi criado em 2013, ano do centenário de nascimento do poeta e na pandemia ganhou formato virtual, o que vem agregando participantes de vários estados do Brasil. “O intuito do sarau é dar profundidade à figura desse poeta que foi muito atuante no cenário artístico brasileiro e fazer um apanhado de sua extensa produção, seja como poeta, crítico de cinema, compositor, letrista, cronista”, salienta a pesquisadora, cantora e regente Dani Mattos.  De acordo com a regente, além das curiosidades, a ideia é que o público prepare uma leitura para compartilhar durante o encontro virtual.

A cada sarau acontece uma abordagem diferente, com novos convidados, músicas e poesias. A cantoria interativa do próximo encontro será da canção Tarde em Itapuã.  Os ingressos são limitados e gratuitos, mas as contribuições voluntárias serão destinadas para oficinas gratuitas de capacitação de professores da rede pública de ensino organizadas pela regente Dani Mattos. Entre elas, a oficina de musicalização “Villa-Lobos para Todos”,  e “Vinícius, o poeta amador” que estimula os educadores a criarem sarau com seus alunos.

Sobre Dani Mattos:

A cantora, regente e pesquisadora paulistana cresceu ouvindo, estudando e atuando com música, principalmente MPB, Jazz e Música Erudita.

Sua vasta lista de projetos atesta sua visão de que “música é integração social”.  Entre os projetos que a levam para os palcos estão: Cronistas da Cidade (que deu nome ao seu primeiro EP); A Época de Ouro da MPB no Rádio, uma visão feminina; Le Savoir Vivre Francês e Brasileiro Une Enchantement Mutuel (Noite Francesa); Caymmi, as várias personas de um artista brasileiro; Vinícius, o poeta amador e  Villa-Lobos para Todos. Além de criar o coral Poucas e Boas, do qual é regente há quinze anos.

Cada uma de suas empreitadas envereda por um gênero diferente, com um traço em comum: a vontade de saber. “Gosto muito de pesquisar músicas antigas e inseri-las num contexto histórico para compreender como era a sociedade da época em questão”, diz ela.

Dani Mattos é formada em regência e Educação Artística pela Faculdade de Música Santa Marcelina, estudou na Escola Municipal de Música, no Conservatório Musical Brooklin Paulista e na escola experimental do SESC.

Serviço:

Sarau poético-musical “Vinícius, o poeta amador”, com Dani Mattos e o Coral Poucas & Boas

Data: 12 de agosto de 2020, quarta-feira

Horário: 18h30 às 20h30

Investimento: A contribuição é voluntária.

 Livre

40 vagas

Plataforma Sympla: https://www.sympla.com.br/sarau-poetico-musical-vinicius-o-poeta-amador__922538

Instagram: @danimmattos @7melodica

Assessora de Imprensa: Cristina Aguilera
Mídia Brazil Comunicação Integrada
11 99539-8589
11 3721-1202

 

 

 

 

 




Educadores participam de Oficina sobre Vinícius de Moraes

Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador”, dirigido pela regente Dani Mattos. Foto: Márcio Roberto Camargo

17 educadores da Escola Colibri, em Embu das Artes, em São Paulo, participam do Oficina virtual ‘Vinícius, o poeta amador’, dirigido pela cantora, pesquisadora e regente Dani Mattos

Que tal aprender mais sobre um dos grandes nomes da música e da literatura de maneira divertida? Dezessete educadores da Escola Colibri, em Embu das Artes, em São Paulo, participam do Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador”, dirigido pela cantora, pesquisadora e regente Dani Mattos. Serão três encontros virtuais com duração de duas horas, nos dias 4, 13 e 20 de agosto, às 15h.

De acordo com a regente Dani Mattos, o intuito da Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador” é dar profundidade à figura desse poeta que foi muito atuante no cenário artístico brasileiro e fazer um apanhado de sua extensa produção, seja como poeta, crítico de cinema, compositor, letrista, cronista. “Durante as oficinas, os educadores vão poder compartilhar poesias e músicas de Vinícius de Moraes, e também aprender como organizar um sarau com seus alunos ”, explica a regente.

Oficinas como essa servem de estímulo para que os educadores levem cada vez mais para as salas de aula a riqueza da linguagem poética. Várias pesquisas apontam a importância da poesia e da música de qualidade desde os primeiros anos escolares, para estimular a imaginação e melhorar a escrita.  O poeta Vinícius de Moraes possui uma imensidão de poesias e músicas que podem ser usadas também na educação infanto-juvenil.  A pequena Sophia, de quatro anos, já é fã de Vinícius de Moraes e gravou um vídeo para as redes sociais da regente cantando a sua música preferida do poetinha “A Casa”. “Um dos objetivos deste trabalho é o envolvimento das famílias nas cantorias e leituras das obras do poeta”, afirma Dani Mattos, que além da Oficina voltada para educadores, mantém um sarau mensal aberto ao público.

Para a orientadora pedagógica da Escola Colibri, Luciana Santos, o objetivo da equipe pedagógica em participar da Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador” é ampliar o olhar cultural, estimular que os educadores conheçam mais sobre o poeta , participem e compartilhem práticas desenvolvidas na escola.  A Escola Colibri atende 166 alunos , de ensino infantil e fundamental.

A educadora Noemi Fortunato que já participou de um dos saraus da regente Dani Mattos, agora vai prestigiar a oficina. “Participar do sarau poético, poder ouvir e apreciar diferentes apresentações e conhecer ainda mais o repertório de Vinicius de Moraes foi uma experiência muito bacana. Tomei coragem e apresentei a música “A casa”, tocando as notas na escaleta, fiquei feliz e agradecida com os elogios”, contou ela.

Escolas Interessadas:

As escolas públicas ou particulares de todo o Brasil interessadas em participar da Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador”podem entrar em contato com a regente Dani Mattos pelo e-mail: danimattosproducoes@gmail.com. Ou pelas redes sociais: @danimmattos e @7melodica

Além da Oficina virtual “Vinícius, o poeta amador”, a regente ministra a oficina “Villa Lobos para Todos”, que fala sobre outro grande compositor brasileiro.

Sarau “Vinícius, o poeta amador:

Se você aprecia Vinícius de Moraes, mas não é educador,  pode participar do Sarau mensal  “Vinícius, o poeta amador”, que a regente Dani Mattos realiza com seu grupo vocal  Poucas e Boas. O espetáculo criado em 2013, ganhou versão digital devido a pandemia e acontece no próximo dia 12 de agosto, às 19h. Durante o Sarau, o público será convidado  a ouvir e  recitar poemas, crônicas e canções do poeta que é um dos grandes nomes da cultura brasileira do século vinte. O espetáculo interativo será pela plataforma Sympla (https://www.sympla.com.br/sarau-poetico-musical-vinicius-o-poeta-amador__922538.  O ingresso é limitado e gratuito, mas as contribuições voluntárias serão destinadas para oficinas gratuitas para escolas públicas de todo o País.

Sobre Dani Mattos:

Dani Mattos nasceu e cresceu na cidade de São Paulo. Atuou como regente em Ilhabela de 1999 a 2003. É  formada em regência e Educação Artística pela Faculdade de Música Santa Marcelina, estudou na Escola Municipal de Música, no Conservatório Musical Brooklin Paulista e na escola experimental do SESC. Fez cursos complementares de regência com Marcos Leite e Roberto Gnatalli, em Londrina (PR).

Ainda em Ilhabela, realizou trabalho de pesquisa da cultura caiçara, supervisionado pela folclorista Iracema França. Com o Coral São João, criou apresentações interativas e didáticas em escolas da rede pública, trabalhando os elementos musicais com os alunos e professores. Assim, desenvolveu o Projeto “Villa-Lobos para crianças”, baseado no “Guia Prático” do autor, no qual ele cria arranjos simples para o cancioneiro infantil brasileiro. Além do  grupo vocal Poucas & Boas, a cantora e regente Dani Mattos formou o grupo “Toque de Bambas” e Dani Mattos Quartet. Lançou em 2019 seu primeiro EP Cronistas da Cidade, pelo selo 7 Melódica.

Serviço:

Oficina “Vinícius, o poeta amador:  Público alvo: educadores.  Escolas interessadas: danimattosproducoes@gmail.com

Sarau “Vinícius, o poeta amador” : https://www.sympla.com.br/sarau-poetico-musical-vinicius-o-poeta-amador__922538  – Público em geral – Gratuito – Atividade mensal, próxima dia 12 de agosto, às 19h-

Dani Mattos: http://danimattos.com.br/projetos/

Instagram: @danimmattos e @7melodica

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Sarau Virtual Poético Musical homenageia Vinícius de Moraes

Baseado na vida e obra de Vinícius de Moraes, encontro virtual convida o público a conhecer a obra do poeta e músico que  ousou viver sob o signo da paixão

A cantora, pesquisadora e regente Dani Mattos  acompanhada do seu grupo vocal Poucas & Boas realiza no próximo dia 8 de julho, quarta-feira,  às 19h, o sarau virtual poético musical  “Vinícius, o poeta amador” . Reunindo música, poesia e literatura, o espetáculo interativo será pela plataforma Sympla (https://www.sympla.com.br/vinicius-o-poeta-amador-sarau-poetico-musical__892244?qrcode=true), com ingressos limitados. A data marca o aniversário de quarenta anos da morte desse artista considerado um dos grandes nomes da Cultura do Brasil do século XX.

“De maneira coloquial e próxima, o intuito do espetáculo é dar profundidade à figura desse poeta que foi muito atuante no cenário artístico brasileiro e fazer um apanhado de sua extensa produção, seja como poeta, crítico de cinema, compositor, letrista, cronista”, salienta a pesquisadora, cantora e regente Dani Mattos.  De acordo com a regente, a ideia é que o público prepare uma leitura para compartilhar durante o encontro virtual.

Falas de Drummond, Manoel Bandeira, Rubem Braga e também de seus inúmeros parceiros musicais enriquecem o sarau com informações relevantes e bem-humoradas a respeito do artista, considerado um dos maiores poetas e compositores da música brasileira.  Algumas canções de Vinícius nas vozes de Dani Mattos e do Grupo Poucas & Boas também serão compartilhadas pelas redes sociais. Entre elas, a música “O Poeta Aprendiz”, de Vinícius de Moraes em parceria com Toquinho.

Quarenta anos sem Vinícius:

Considerado um dos mais importantes artistas brasileiros, Vinicius de Moraes  morreu há quatro décadas, aos 66 anos, vitimado por um edema pulmonar , no dia 9 de julho de 1980. Mas seu legado continua muito presente, sua extensa produção literária e musical é celebrada em todo mundo.

Reconhecido como um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB). Impossível esquecer de obras como: “Chega de saudade”(1956),  “Arrastão”(parceria com Edu Lobo), Eu sei que vou te amar (1959), Garota de Ipanema (1962 parceria com Tom Jobim),Tarde em Itapoã (1970),  Pela luz dos olhos teus,  A Tonga da Mironga do Kabuletê (1970), A casa (1980), Aquarela (1983), entre outras.

Na literatura deixou diversos livros, e uma imensidão de  poesias que falam principalmente sobre o amor e as mulheres. Entre elas: Soneto de fidelidade (1939), Receita de mulher (1959) O verbo no infinito (1962), entre outras.  Além da  A rosa de Hiroshima (1954)  que fala da tragédia da bomba atômica  no final da Segunda Guerra Mundial, no Japão. A poesia que depois foi musicalizada.

Vinícius de Moraes também atuou em outras áreas, foi jornalista, diplomata, dramaturgo, crítico, entre outros.

Serviço:

Sarau poético-musical “Vinícius, o poeta amador”, com Dani Mattos e o Coral Poucas & Boas

Data: 8 de julho de 2020, quarta-feira

Horário: das 19h às 20h

Investimento: A contribuição é voluntária.

 Livre

40 vagas

Plataforma Simpla: https://www.sympla.com.br/vinicius-o-poeta-amador-sarau-poetico-musical__892244?qrcode=true

Instagram: @danimmattos @7melodica

Assessora de Imprensa: Cristina Aguilera
Mídia Brazil Comunicação Integrada
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11 3721-1202

 

 

 

 

 




Gonçalves Viana: 'Como dizia o poeta, numa tarde em Itapoã'

Vinicius havia terminado um novo poema que falava de Itapoã, que pretendia entregar para o baiano Dorival Caymmi musicar, era ‘Tarde em Itapoã'”

 

Vinicius de Moraes

Em 1970, Vinicius e Maria Creuza foram fazer uma turnê em Buenos Aires, e levaram Toquinho para terem um violão brasileiro no acompanhamento. A turnê foi um sucesso total. O show contava com canções conhecidas de Vinicius, em parcerias com Tom Jobim, Baden Powell e Carlos Lyra e “Que Maravilha” de Toquinho e Jorge Bem. Não havia ainda uma parceria entre Toquinho e Vinicius. No navio, de volta para o Brasil, Toquinho mostrou ao poeta um samba sem letra, Vinicius gostou do tema e ficou com a ideia de fazer uma letra.

Maria Creuza

Com o sucesso da turnê argentina, Gessy Gesse, a mulher de Vinicius, na época, sugeriu que se fizesse um show no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia. Maria Creuza tinha outros compromissos, então Vinicius convidou Marília Medalha e, mais uma vez, Toquinho. No ônibus, a caminho de Salvador, ele se lembrou do samba que Toquinho havia lhe mostrado, terminou a letra, chamando-a de “Como Dizia o Poeta”, que foi também o nome do show. O enorme sucesso, advindos dos três dias do show, inaugurou a parceria, deixando antever o futuro que teria a dupla.

Toquinho

Com a temporada na Bahia, e o sucesso de “Como Dizia o Poeta”, surgiram novas canções como “A Bênção Bahia” e “Mais Um Adeus”. Toquinho julgava que a parceria fosse parar por aí, o que já estaria de bom tamanho para quem estava em início de carreira como ele.

Vinicius havia terminado um novo poema que falava de Itapoã, que pretendia entregar para o baiano Dorival Caymmi musicar, era “Tarde em Itapoã”. Toquinho ficou maluco, queria porque queria, de qualquer maneira musicar aquele belo poema, mas disputar com o bom baiano Caymmi seria uma tarefa árdua demais para um quase iniciante e, ainda por cima, paulista.

A solução foi furtar a letra. Numa noite, antes de embarcar para São Paulo, onde teria de resolver assuntos particulares, simplesmente pegou a letra e viajou. Três dias depois, voltou à Bahia com a melodia pronta e, conta ele, que:

Baden Powel

Vinicius ficou ouvindo um tempão a música, e não falava nada. Ficava ouvindo no gravador, quieto, fumando, meio indeciso, tentando não se convencer. E o pessoal já começava a cantar na casa. Aí, ele me chamou e me disse que não ia dar mais ao Caymmi. Foi nessa que ganhei o poeta!

Foi um dos maiores sucessos da música brasileira. A dupla fez uma gravação simples, só com violão e voz, e enviou para a Rádio Difusora de São Paulo. Quando a música começou a ser tocada, havia entre os ouvintes gente de peso, como João Gilberto, que telefonou a Toquinho dizendo: “acho que você não sabe o que fez nessa melodia…”. Logo depois, foi a vez de Baden Powell confessar que “essa volta no refrão, essa mudança harmônica na frase ‘ouvindo o mar de Itapoã’, é uma das coisas mais bonitas que já ouvi”. Opinião semelhante à que Gilberto Gil emitiu, quando gravou a música para o CD “30 Anos”.

Se Vinicius tinha ainda algum receio em relação ao novo parceiro, ele desapareceu por completo. Depois de “Tarde em Itapoã” a produção da dupla deslanchou, tornando-se um fenômeno pouco visto na MPB.

                                                                                            Gonçalves Viana -vianagaparecido@gmail.com

 

TARDE EM ITAPOÃ

Um velho calção de banho

O dia pra vadiar

Um mar que não tem tamanho

E um arco-íris no ar

Depois na praça Caymmi

Sentir preguiça no corpo

E numa esteira de vime

Beber uma água de coco

 

É bom

Passar uma tarde em Itapoã

Ao sol que arde em Itapoã

Ouvindo o mar de Itapoã

Falar de amor em Itapoã  (bis)

 

Enquanto o mar inaugura

Um verde novinho em folha

Argumentar com doçura

Com uma cachaça de rolha

E com o olhar esquecido

No encontro de céu e mar

Bem devagar ir sentindo

A terra toda a rodar

 

É bom…  (bis)

 

Depois sentir o arrepio

Do vento que a noite traz

E o diz-que-diz-que macio

Que brota dos coqueirais

E nos espaços serenos

Sem ontem nem amanhã

Dormir nos braços morenos

Da lua de Itapoã

 

É bom… ( bis)

(Toquinho e Vinicius)




Gonçalves Viana: 'O túmulo do samba'

Apesar de tudo isso, o certo é que São Paulo tem muito samba e muitos bons sambistas, e podemos citar, entre eles: Oswaldo Moles, Geraldo Filme, Germano Mathias, Osvaldinho da Cuíca, Eduardo Gudin e, sobretudo, Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa.”

 

Johnny Alf

Uma noite, em 1965, na boate Cave, na Rua da Consolação, em São Paulo, estava se apresentando Johnny Alf, tocando e cantando com a sua habitual habilidade. Entre os frequentadores, estava um atento Vinicius de Moraes. Em uma mesa próxima, encontrava-se um grupo de pessoas que não estavam nem aí para a apresentação, já meio bêbadas, conversavam em voz alta, sem se preocuparem se estariam ou não atrapalhando o espetáculo.

Foi quando Vinicius dirigiu-se ao grupo e pediu: ─ Por favor, gente, vamos respeitar o artista que está se apresentando, pois ele é muito bom!

O pessoal que já se encontrava embalado pelos eflúvios etílicos, respondeu: ─ Qual é cara, o que você quer? Fica na tua, aqui é São Paulo!…

Vinicius, muito nervoso, retrucou: ─ É! é isso aí! São Paulo é mesmo o “túmulo do samba!”

Um jornalista que estava presente, mas não acompanhou o “quiproquó” desde o inicio, tendo ouvido somente a última frase de Vinicius, no outro dia publicou:

“VINICIUS AFIRMA QUE SÃO PAULO É O TÚMULO DO SAMBA!”

Paulo Vanzolini

Posteriormente, Vinicius ponderou estar arrependido de ter dito isso, pois, afinal, ele sempre gostou muito de São Paulo e disse-o num momento de desabafo. Mas já era tarde, ele ficou marcado pelo resto da sua vida por essas palavras que perduram, mesmo depois da sua morte.

Apesar de tudo isso, o certo é que São Paulo tem muito samba e muito bons sambistas, e podemos citar, entre eles: Oswaldo Moles, Geraldo Filme, Germano Mathias, Osvaldinho da Cuíca, Eduardo Gudin e, sobretudo, Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa.

Adoniran Barbosa

Vinicius, poeta de uma cultura sofisticada, e Adoniran compositor de um tipo de samba muito peculiar, um samba paulista com sotaque de descendente de italianos, abundantes nos bairros do Brás e do Bexiga, compuseram em parceria um samba-canção.

Foi uma parceria acidental, eles não se conheceram para compor juntos. No início de 1957, Vinicius despertou melancólico, muito triste mesmo e, como ele sempre afirmava: “o poeta só é grande se for triste”. Perpetrou, então, um poema já com uma vaga ideia da melodia, tudo calcado na fórmula predileta da época, a música de fossa, mas não se preocupou muito com o problema da música, imaginando pedir a Dolores Duran que a musicasse, segundo ele, a pessoa mais indicada, por compreender e também vivenciar o clima desse tipo de composição.

Aracy de Almeida

Como não conseguiu falar com Dolores, e tendo de viajar para Paris, onde iria assumir o seu posto na Embaixada Brasileira local, deixou o poema e o esboço musical com Aracy de Almeida.

Aracy ficou vidrada na canção e mostrou a Adoniran, que não gostou muito do esboço da música e acabou mexendo na linha melódica, alterando algumas notas do original. Vinicius só ficou sabendo depois, mas aprovou a mudança, pois havia ficado muito bom. Assim nasceu “Bom-dia Tristeza”. Aracy gravou-a, em 24 de maio de 1957.

Maysa

Posteriormente, Maysa a regravou, numa interpretação antológica, imprimindo uma intensa emotividade, reforçando ainda mais o prestígio de Vinicius – levando a tiracolo Adoniran – na MPB.

Mas, Bom-dia Tristeza era uma frase não muito original, pois já havia sido lançada, em 1932, pelo poeta Paul Éluard (1895-1952), em “A Peine Défigurée”, trecho de seu poema “La Vie Immédiate” (Adieu, tristesse / Bonjour tristesse / Tu es inscrite dans les lignes du plafond). A partir de 1954, essa frase tornou-se mais popular, quando a famosa escritora francesa Françoise Sagan, lançou seu primeiro romance, justamente intitulado “Bom Dia, Tristeza”. Esse livro inspirou o diretor de cinema, Otto Preminger, a realizar um filme de muito sucesso: “Bonjour Tristesse”. Outro sucesso sobre o mesmo tema foi “Buongiorno, Tristezza”, bolero de Mario Ruccione e G. Fiorelli, vencedor do Festival de San Remo de 1955.

Noite Ilustrada

Essa composição de Adoniran e Vinicius suscitou uma enorme polêmica, quando o cantor e compositor Noite Ilustrada reivindicou a autoria da música. Afirmava ele, que Adoniran o procurou declarando-se incapaz de conceber uma melodia para aquela letra e o teria incumbido da função. Este, no dia seguinte, entregou a música pronta a Adoniran. Três meses depois, ao ouvi-la no rádio, percebeu que havia sido excluído dos créditos. Ao pedir satisfação, teria ouvido: “O Vinicius disse que queria só dois compositores. Depois a gente faz uma música, juntos”. Até hoje não se comprovou a veracidade desse episódio.

Muitos capitalizaram aquela frase de Vinicius, sobre São Paulo ser o túmulo do samba, para enfatizar uma superioridade – em se tratando de samba – do Rio de Janeiro sobre São Paulo. Mas, os cariocas que, todos os anos elegiam uma música como campeã do carnaval, no de 1965, o samba escolhido, e que sacudiu os foliões, foi nada mais, nada menos que um samba composto diretamente no “túmulo do samba”, por um dos mais tradicionais sambistas paulistas, Adoniran Barbosa, o samba “Trem das Onze”, na interpretação do conjunto, também paulista, Demônios da Garoa.

Nessa época, Adoniran andava meio esquecido, e só não ficou à míngua, porque, ao vencer o concurso de sambas do carnaval carioca, recebeu um prêmio de dois milhões de cruzeiros.

                                                                              (Gonçalves Viana)

 

BOM DIA, TRISTEZA

Bom dia, tristeza

Tão tarde tristeza

Você veio hoje me ver

Já estava ficando

Até meio triste

De estar tanto tempo

Longe de você

Se chegue, tristeza

Se sente comigo

Aqui nesta mesa de bar

Beba do meu copo

Me dê o seu ombro

Que é para eu não chorar

Chorar de tristeza

Tristeza de amar

(Adoniran / Vinicius)

 

TREM DAS ONZE

Não posso ficar

Nem mais um minuto com você

Sinto muito, amor

Mas não pode ser

Moro em Jaçanã

Se eu perder esse trem

Que sai agora às onze horas

Só amanhã de manhã

E além disso, mulher

Tem outras coisas

Minha mãe não dorme

Enquanto eu não chegar

Sou filho único

Tenho a minha casa pra olhar

(Não posso ficar)

Não posso ficar (…)

(Adoniran Barbosa)