Nadia Bussacchini na XV Florence Biennale

Bianca Agnelli

Nadia Bussacchini na XV Florence Biennale: uma poética de luz e sombra

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Nadia Bussacchini. Foto por Bianca Agnelli
Nadia Bussacchini. Foto por Bianca Agnelli

Firenze, 21 de outubro de 2025. Conheci Nadia Bussacchini por acaso, em um daqueles intervalos sutis que precedem os eventos destinados a se transformar em lembrança coletiva. Na área teatro do Pavilhão Spadolini, na Florence Biennale, uma expectativa crescente tomava o ambiente: fileiras de cadeiras já estavam ocupadas, alguns técnicos davam os últimos retoques com a iluminação, e o murmúrio distante da Fortezza da Basso se preparando para receber Tim Burton – aguardado por todos nós com seis horas de antecedência – para receber o prêmio Lorenzo il Magnifico pela carreira.

Nadia Bussacchini e Bianca Agnelli

Ela estava a poucos metros de distância, com um crachá que parecia pertencer à equipe. Perguntei-lhe uma informação qualquer, um gesto distraído para preencher a espera. Mas, em vez de uma resposta formal, recebi um sorriso e uma frase simples: “Sou artista.”

A partir daí, a conversa se abriu naturalmente. Ela me contou sobre suas obras, sobre o seu espaço expositivo em outro pavilhão, e me pediu – quase como uma brincadeira – para guardar o lugar dela. Mais tarde, quando a sala já estava cheia e o ar carregado de expectativa, ela voltou. Compartilhamos aquelas horas juntas, e formou-se uma conexão especial.

Após a cerimônia, fui ver seus quadros. Três telas, dispostas como um pequeno conto visual sobre maternidade, expectativas, realidade – e, sobretudo, sobre ser mulher.

Os títulos: RevelationThe Light WithinContemplation.

Tela Revelation. Foto por Bianca Agnelli

Em Revelation, uma concha de náutilo emerge de um fundo escuro. É um objeto antigo, quase sagrado, uma espiral perfeita que guarda o mistério do crescimento e da proteção.

Em The Light Within, o náutilo retorna, desta vez ao lado do seio de uma mulher, como se a ideia de “casco” e a de “corpo” se fundissem em um único gesto de cuidado.

Por fim, em Contemplation, uma figura feminina deixa-se envolver por elementos aquáticos e naturais – um polvo, peixes, uma mariposa luminosa – como se a natureza reclamasse os contornos do humano.

Nadia Bussacchini nasceu em Brescia, Itália e vive nos Estados Unidos, mas a sua pintura surge de um lugar que existe além da geografia. Após uma formação clássica, enriquecida por estudos de história da arte e pintura no exterior, encontrou o mestre Manuel Piña, com quem aprimorou seus conhecimentos sobre luz e sombra, seguindo a tradição da “scuola bottega”.

Tela The Light Within. Foto por Bianca Agnelli

Desde então, seu percurso entrelaça culturas, países e linguagens, mantendo no centro uma constante: a exploração da luz como lugar interior, como revelação silenciosa.

Suas obras, suspensas entre realismo e sonho, entre matéria e símbolo, falam com uma voz suave, porém poderosa. A concha, a mulher, a água, a luz: cada elemento se repete como uma oração laica. Olhá-las é como inclinar-se sobre um limiar – aquele entre o corpo e o espírito, entre o que se mostra e o que permanece invisível.

E é justamente nesse limiar que se move o tema da XV Florence Biennale, The Sublime Essence of Light and Darkness: Concepts of Dualism and Unity.

Nas obras de Bussacchini, a luz nunca é apenas luminosa, e a sombra nunca é apenas ausência. Trata-se de um diálogo contínuo entre revelação e mistério – um léxico que pertence tanto à matéria pictórica quanto à condição humana.

Para compreender mais profundamente a poética e o percurso de Nadia Bussacchini, fiz algumas perguntas sobre os temas e as imagens que habitam suas obras.

Tela Contemplation. Foto por Bianca Agnelli

Luz e escuridão, dualismo e unidade: conceitos profundamente entrelaçados ao seu vocabulário visual.

Como você interpretou essas ideias na série exposta, e o que a levou a explorá-las neste momento da sua carreira?

A luz e a escuridão sempre foram, para mim, duas presenças que convivem, como duas vozes que não se anulam, mas se completam. Na série que apresentei, quis aprofundar esse diálogo porque me encontro em um momento da carreira em que sinto a necessidade de compreender as origens das minhas emoções. A escuridão, para mim, não é um abismo, mas um ventre; e a luz não é uma resposta, mas uma passagem. Trabalhei buscando um equilíbrio entre essas duas forças, deixando que fossem elas a guiar o ritmo das imagens. Foi um processo de escuta profunda, quase meditativo, que acredito refletir perfeitamente meu estado interior.

O náutilo aparece em duas das suas obras – como concha em Revelation e junto ao corpo feminino em The Light Within.

Que significado esse símbolo tem para você? É um refúgio interior ou uma metáfora mais universal do nascimento e do acolher?

O náutilo é, para mim, um símbolo antigo, meditativo. Vejo-o como uma estrutura perfeita, uma espiral que cresce mantendo a memória de cada fase da sua existência. Em Revelation, representa o chamado para uma verdade interior, enquanto em The Light Within torna-se uma extensão do corpo feminino, um refúgio que guarda, mas que ao mesmo tempo convida a se abrir. O náutilo é, para mim, uma metáfora da viagem em direção a si mesma: conter, proteger, mas também renascer continuamente. É um símbolo que carrega delicadeza e força, assim como as mulheres que aparecem nos meus discursos visuais.

Nos seus quadros, maternidade, feminilidade e expectativas sociais se entrelaçam com a realidade.

Como você vive essa tensão na prática artística e na vida cotidiana, e como ela influencia a forma como você conta histórias através da pintura?

Ser mulher em um mundo cheio de expectativas é uma dança complexa. A maternidade – real ou simbólica – carrega um peso e uma luz que inevitavelmente infiltram-se no meu trabalho. Na minha prática artística, vivo essa tensão quase diariamente: o desejo de liberdade absoluta e, ao mesmo tempo, o chamado constante aos papéis que a sociedade nos impõe. Pintar torna-se então uma forma de renegociar esses limites, de contar não apenas o que vivo, mas o que muitas mulheres sentem e nem sempre conseguem expressar. Minha pintura, nesse sentido, é um lugar de libertação.

Antes da Florence Biennale, você expôs no Texas, no Marrocos e na Suíça, em contextos muito distintos.

Que herança você traz dessas experiências internacionais? Existe um fio invisível que liga todas as suas obras, ou cada exposição conta um capítulo separado?

Texas, Marrocos, Suíça… cada lugar me ensinou algo diferente, não apenas como artista, mas como ser humano. No Texas, percebi a força da multiculturalidade; no Marrocos, a poesia do silêncio e do deserto; na Suíça, a precisão e a calma. Acredito que exista um fio invisível que liga todas as minhas obras, mas não como uma linha reta… mais como um batimento, uma respiração que se repete de formas diferentes. Cada exposição é um capítulo, sim, mas pertencem todas ao mesmo livro emocional.

Você estudou com Manuel Piña, artista de forte matriz latino-americana.

Como a visão dele enriqueceu ou desafiou sua formação europeia? Você se sente artista entre dois mundos ou livre de fronteiras geográficas e estilísticas?

Estudar com Manuel Piña representou uma ponte entre mundos. Sua perspectiva latino-americana, tão potente e profundamente ligada à memória coletiva, abriu fendas na minha formação europeia, convidando-me a explorar a vulnerabilidade como força. Sinto-me uma artista entre dois mundos, mas também livre deles: minha identidade visual nasce dessa fusão, desse diálogo constante entre raízes e movimento.

Muitos dos seus trabalhos jogam com a luz, o corpo e a natureza de modos poéticos e suspensos.

Como você definiria o “lugar interno” onde nascem suas imagens? É um espaço de reflexão, memória, sonho… ou um entrelaçamento de tudo isso?

Minhas imagens nascem em um lugar que não saberia definir com uma única palavra. É memória, sim, mas também sonho; é reflexão, mas também intuição espontânea. É um espaço onde a lógica não domina: é mais parecido com um mar interno, no qual as ideias chegam como ondas. Algumas suaves, outras mais fortes, mas todas necessárias.

A Florence Biennale reúne artistas do mundo todo, e ainda assim suas obras parecem criar um diálogo íntimo com quem as observa.

Quando você pinta, o quanto pensa em quem verá o quadro, e o quanto deixa a obra falar sozinha?

Quando pinto, não penso em um público específico. Deixo que a obra nasça por si mesma, com seu ritmo e sua voz. Só depois, quando a exponho, percebo que a pintura sempre encontra um jeito de falar com quem a observa. Acredito que a magia esteja justamente aí: no fato de que cada espectador se torna coautor do significado.

Olhando sua trajetória artística, percebe-se uma continuidade sutil entre suas obras mais recentes e as mais antigas.

Se você tivesse que descrever esse fio invisível, como definiria a essência da sua pesquisa artística?

Se tivesse que descrever a essência da minha pesquisa artística, diria que nasce do desejo de compreender o ser humano por meio de símbolos que nos pertencem desde sempre – a luz, o corpo, a natureza, o rito. Meu fio invisível é a busca por um equilíbrio entre fragilidade e força, entre sombra e revelação. Todas as minhas obras, até as mais distantes no tempo, falam disso.

Em um mundo que muda tão rapidamente, como você acha que sua pintura, que entrelaça feminilidade, natureza e símbolo, pode dialogar com as transformações da nossa sociedade?

Vivemos em um mundo que muda em um ritmo vertiginoso. Acredito que minha pintura pode dialogar com essa mudança justamente porque busca a essência, não a superfície. Feminilidade, natureza e símbolo não são conceitos estáticos: são portas pelas quais observar o que está acontecendo. A arte pode ser um lugar de pausa, de consciência, de escuta. E é isso que busco oferecer.

Se pudesse escolher o próximo lugar para onde sua arte encontraria novos olhos e novos espaços, onde gostaria de levá-la? Existe o sonho especial de fazê-la chegar ao Brasil, permitindo que sua luz e suas histórias toquem terras distantes e novos públicos?

Gostaria de levar minha arte a muitos lugares, mas o Brasil ocupa um lugar especial no meu imaginário. Talvez por sua energia, talvez pela forma como celebra a vida e a espiritualidade. Seria uma honra compartilhar minhas histórias em um contexto tão vibrante. Cada nova terra é um novo diálogo, e sinto que o Brasil seria um encontro profundamente luminoso.

Agradeço a Nadia Bussacchini por nos conceder um olhar sobre seu mundo visual, onde a luz brinca com a sombra e a natureza conversa com o corpo humano. Suas obras não são apenas observadas: são escutadas, respiradas, levadas consigo. Percebe-se a delicadeza dos gestos, a força dos símbolos, a leveza com que o tempo se detém diante de uma concha, de uma mariposa, de um polvo que dança entre as cores.

Que essas imagens continuem a mover-se, a despertar curiosidade, a dialogar com novos olhos e culturas distantes; que encontrem quem as observe e o surpreendam, o toquem, o acompanhem por um instante fora do tempo cotidiano. Em um mundo que corre, a arte de Bussacchini é um suspiro profundo: silenciosa, potente, necessária.

Para acompanhar seu percurso, visite o site oficial nbussacchini.com e siga a artista no Instagram.

Bianca Agnelli

Nadia Bussacchini alla XV Florence Biennale: una poetica della luce e dell’ombra

Firenze, 21 ottobre 2025 

Ho conosciuto Nadia Bussacchini per caso, in uno di quei tempi sospesi che precedono gli eventi destinati a trasformarsi in ricordo collettivo. Nell’area teatro del Padiglione Spadolini, alla Florence Biennale, c’era un’energia di vibrante attesa: file di sedie occupate, qualche tecnico che sistemava le luci, e il brusio lontano della Fortezza da Basso che si preparava ad accogliere Tim Burton, atteso da noi tutti con sei ore d’anticipo per ricevere il premio Lorenzo il Magnifico alla carriera.

Lei era qualche metro distante, con un badge che sembrava appartenere allo staff. Le ho chiesto un’informazione, un gesto distratto per riempire l’attesa. Ma invece di una risposta formale, ho ricevuto un sorriso e una frase semplice: “Sono un’artista.”

Da lì, la conversazione si è aperta naturalmente. Mi ha raccontato delle sue opere, del suo spazio espositivo in un altro padiglione, e mi ha chiesto – quasi per gioco – di tenerle il posto. Più tardi, quando la sala si è riempita e l’aria era carica di aspettativa, è tornata. Abbiamo condiviso quelle ore insieme, e si è creata una connessione speciale.

Dopo la cerimonia, sono andata a vedere i suoi quadri. Tre tele, disposte come un piccolo racconto visivo sulla maternità, le aspettative, la realtà – e, soprattutto, sull’essere donna.

I titoli: RevelationThe Light WithinContemplation.

In Revelation, una conchiglia di nautilus emerge da uno sfondo scuro. È un oggetto antico, quasi sacro, una spirale perfetta che racchiude il mistero della crescita e della protezione.

In The Light Within, il nautilus ritorna, questa volta accostato al seno di una donna, come se l’idea di “guscio” e quella di “corpo” si fondessero in un unico gesto di cura.

Infine, in Contemplation, una figura femminile si lascia avvolgere da elementi acquatici e naturali – un polpo, dei pesci, una falena luminosa – come se la natura reclamasse i contorni dell’umano.

Nadia Bussacchini è nata a Brescia e vive negli Stati Uniti, ma la sua pittura appartiene a un altrove. Dopo una formazione classica, arricchita da studi di storia dell’arte e pittura all’estero, ha incontrato il maestro Manuel Piña, con cui ha perfezionato la sua conoscenza della luce e dell’ombra, seguendo la tradizione della “scuola bottega”.

Da allora, il suo percorso ha intrecciato culture, paesi e linguaggi, mantenendo al centro una costante: l’esplorazione della luce come luogo interiore, come rivelazione silenziosa.

Le sue opere, sospese tra realismo e sogno, tra materia e simbolo, parlano con voce quieta ma potente. La conchiglia, la donna, l’acqua, la luce: ogni elemento si ripete come una preghiera laica. Guardarle è come sporgersi su una soglia – quella tra il corpo e lo spirito, tra ciò che si mostra e ciò che rimane invisibile.

Ed è proprio su questa soglia che si muove il tema della XV Florence BiennaleThe Sublime Essence of Light and Darkness: Concepts of Dualism and Unity.

Nelle opere di Bussacchini, la luce non è mai solo luminosa e l’ombra non è mai soltanto assenza. È un dialogo continuo tra rivelazione e mistero – un lessico che appartiene tanto alla materia pittorica quanto alla condizione umana.

Per comprendere più a fondo la poetica e il percorso di Nadia Bussacchini, le ho rivolto alcune domande sui temi e sulle immagini che abitano le sue opere.

Luce e oscurità, dualismo e unità: sembrano concetti profondamente intrecciati al tuo linguaggio visivo.

Come hai interpretato queste idee nella serie che hai esposto, e cosa ti ha spinto a esplorarle in questo momento della tua carriera?

La luce e l’oscurità sono sempre state per me due presenze che convivono, come due voci che non si annullano ma si completano. Nella serie che ho presentato, ho voluto approfondire questo dialogo perché mi trovo in un momento della mia carriera in cui sento la necessità di comprendere le origini delle mie emozioni. L’oscurità, per me, non è un abisso, ma un grembo; e la luce non è una risposta, ma un passaggio. Ho lavorato cercando un equilibrio tra queste due forze, lasciando che fossero loro a guidare il ritmo delle immagini. È stato un processo di ascolto profondo, quasi meditativo, che credo rifletta perfettamente il mio stato interiore.

Il nautilus ricorre in due delle tue opere – come conchiglia in Revelation e accanto al corpo femminile in The Light Within.

Che significato ha per te questo simbolo? È un rifugio interiore o una metafora più universale della nascita e del contenere?

Il nautilus è per me un simbolo antico, meditativo. Lo vedo come una struttura perfetta, una spirale che cresce mantenendo memoria di ogni fase della sua esistenza. In Revelation rappresenta il richiamo a una verità interiore, mentre in The Light Within diventa un’estensione del corpo femminile, un rifugio che custodisce ma che allo stesso tempo invita ad aprirsi. Il nautilus è per me una metafora del viaggio verso sé stessi: contenere, proteggere, ma anche rinascere in modo continuo. È un simbolo che porta con sé delicatezza e forza, proprio come le donne che appaiono nei miei discorsi visuali.

Nei tuoi quadri, maternità, femminilità e aspettative sociali si intrecciano con la realtà.

Come vivi questa tensione nella tua pratica artistica e nella vita quotidiana, e come influenza il modo in cui racconti storie attraverso la pittura?

Essere donna in un mondo pieno di aspettative è una danza complessa. La maternità —reale o simbolica— porta con sé un peso e una luce che inevitabilmente si infiltrano nel mio lavoro. Nella mia pratica artistica vivo questa tensione quasi quotidianamente: il desiderio di libertà assoluta e, allo stesso tempo, il richiamo costante ai ruoli che la società ci impone. Dipingere diventa allora un modo per rinegoziare questi limiti, per raccontare non solo ciò che vivo, ma ciò che molte donne sentono e non sempre riescono a esprimere. La mia pittura, in questo senso, è un luogo di liberazione.

Prima della Florence Biennale, hai esposto in Texas, Marocco e Svizzera, in contesti molto diversi tra loro.

Quale eredità porti da queste esperienze internazionali? Esiste un filo invisibile che collega tutte le tue opere, o ogni esposizione racconta un capitolo a sé stante del tuo percorso creativo?

Texas, Marocco, Svizzera… ogni luogo mi ha insegnato qualcosa di diverso, non solo come artista ma come essere umano. In Texas ho percepito la forza della multiculturalità; in Marocco, la poesia del silenzio e del deserto; in Svizzera, la precisione e la calma. Credo che esista un filo invisibile che lega tutte le mie opere, ma non come una linea retta… più come un battito, un respiro che si ripete in modi diversi. Ogni esposizione è un capitolo, sì, ma appartengono tutti allo stesso libro emotivo.

Hai studiato con Manuel Piña, artista dalla forte impronta latinoamericana.

In che modo la sua visione ha arricchito o sfidato la tua formazione europea? Ti senti più artista tra due mondi o libera dai confini geografici e stilistici?

Studiare con Manuel Piña ha rappresentato un ponte tra mondi. La sua prospettiva latinoamericana, così potente e profondamente legata alla memoria collettiva, ha aperto crepe nella mia formazione europea, invitandomi a esplorare la vulnerabilità come forza. Mi sento un’artista tra due mondi, ma anche libera dagli stessi: la mia identità visiva nasce proprio da questa fusione, da questo dialogo costante tra radici e movimento.

Molti dei tuoi lavori giocano con la luce, il corpo e la natura in modi poetici e sospesi.

Come definiresti il “luogo interno” in cui nascono le tue immagini? È uno spazio di riflessione, di memoria, di sogno… o un intreccio di tutto questo?

Le mie immagini nascono in un luogo che non saprei definire con una sola parola. È memoria, sì, ma anche sogno; è riflessione, ma anche intuizione spontanea. È uno spazio dove la logica non domina: è più simile a un mare interno, in cui le idee arrivano come onde. Alcune dolci, altre più forti, ma tutte necessarie.

La Florence Biennale raccoglie artisti da tutto il mondo, eppure le tue opere sembrano creare un dialogo intimo con chi le osserva.

Quando dipingi, quanto pensi a chi guarderà il quadro, e quanto lasci parlare l’opera da sola?

Quando dipingo, non penso a un pubblico specifico. Lascio che l’opera nasca per sé stessa, con il suo ritmo e la sua voce. Solo dopo, quando la espongo, capisco che la pittura trova sempre un modo per parlare a chi la osserva. Credo che la magia stia proprio lì: nel fatto che ogni spettatore diventa co-creatore del significato.

Guardando la tua traiettoria artistica, si percepisce una continuità sottile che attraversa le tue opere più recenti e quelle del passato.

Se dovessi raccontare questo filo invisibile, come descriveresti il cuore della tua ricerca artistica?

Se dovessi descrivere il cuore della mia ricerca artistica, direi che nasce dal desiderio di comprendere l’essere umano attraverso simboli che ci appartengono da sempre —la luce, il corpo, la natura, il rito. Il mio filo invisibile è la ricerca di un equilibrio tra fragilità e forza, tra ombra e rivelazione. Tutte le mie opere, anche quelle più lontane nel tempo, parlano di questo.

In un mondo che cambia così rapidamente, come pensi che la tua pittura, che intreccia femminilità, natura e simbolo, possa dialogare con le trasformazioni della nostra società?

Viviamo in un mondo che cambia a un ritmo vertiginoso. Credo che la mia pittura possa dialogare con questo cambiamento proprio perché cerca l’essenza, non la superficie. Femminilità, natura e simbolo non sono concetti statici: sono porte attraverso cui osservare ciò che sta accadendo. L’arte può essere un luogo di pausa, di consapevolezza, di ascolto. Ed è questo che cerco di offrire.

Se potessi scegliere il prossimo luogo dove la tua arte troverà nuovi occhi, nuovi spazi, dove ti piacerebbe portarla? C’è un sogno speciale di farla arrivare in Brasile, lasciando che la tua luce e le tue storie tocchino terre lontane e nuovi pubblici?

Mi piacerebbe portare la mia arte in molti luoghi, ma il Brasile ha un posto speciale nel mio immaginario. Forse per la sua energia, forse per il modo in cui celebra la vita e la spiritualità. Sarebbe un onore condividere le mie storie

in un contesto così vibrante. Ogni nuova terra è un nuovo dialogo, e sento che il Brasile sarebbe un incontro profondamente luminoso.

Ringrazio Nadia Bussacchini per averci concesso uno sguardo nel suo mondo visivo, dove la luce gioca con l’ombra e la natura conversa con il corpo umano. Le sue opere non solo si guardano: si ascoltano, si respirano, si portano con sé. Si percepisce la delicatezza dei gesti, la forza dei simboli, la leggerezza con cui il tempo si ferma davanti a una conchiglia, a una falena, a un polpo che danza tra i colori.

Che queste immagini possano continuare a muoversi, a incuriosire, a dialogare con occhi nuovi e culture lontane; che possano trovare chi le guarda e lo sorprenda, lo tocchi, lo accompagni per qualche istante fuori dal tempo quotidiano. In un mondo che corre, l’arte di Bussacchini è un respiro profondo: silenzioso, potente, necessario.

Per rimanere aggiornati sul suo percorso, vi invito a visitare il suo sito ufficiale nbussacchini.com e a seguire l’artista su Instagram 

Bianca Agnelli

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Anatomia de um encanto

Bianca Agnelli

Tim Burton na XV Florence Biennale: anatomia de um encanto

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Em 21 de outubro de 2025, o dia começou como se quisesse homenagear o convidado especial: chuvoso, cinzento, com um ar levemente espectral. Acordei cedo – cedo demais – e logo voltei a dormir. Só quando o alarme insistiu pela segunda vez é que o meu cérebro finalmente registrou: se eu me apressasse, talvez encontrasse um dos meus diretores favoritos. Um sonho ao alcance das mãos, desde que eu me levantasse da cama.

Parti rumo a Florença com a minha principal parceira de aventuras: minha mãe. Ela tem uma habilidade invejável de se entusiasmar com qualquer plano que eu invente, sempre em dose dobrada. O detalhe escondido no entusiasmo coletivo: uma espera de seis horas. De pé. Faz parte do ofício. O ofício da cinéfila assumida, talvez.

Chegamos à entrada da XV Florence Biennale, na imponente Fortezza da Basso. O ambiente, de arquitetura quase militar, hoje pulsa arte contemporânea e, naquele dia, parecia ecoar perfeitamente o tema da edição: “A Essência Sublime da Luz e da Escuridão. Conceitos de Dualismo e Unidade na Arte e no Design Contemporâneo”.

A Bienal reuniu mais de 550 artistas de mais de 80 países e apresentou cerca de 1.500 obras entre 18 e 26 de outubro de 2025. Foi ali, às 17h, que se realizou a cerimônia do prestigioso “Lorenzo il Magnifico Lifetime Achievement Award”, dedicado a artistas que transformaram a arte contemporânea. No comunicado oficial se destaca a “extraordinária obra artística de Tim Burton, que abraça desenho, gráfica, animação em stop-motion e produção cinematográfica”.

A celebração não se limitava ao palco. A poucos passos dali, se escondia outro pequeno teatro das maravilhas: a exposição Tim Burton: Light and Darkness. Um título que já entregava, com elegância, o coração do encontro. O percurso expositivo parecia uma caça ao tesouro dentro da mente do cineasta: esboços, apontamentos, criaturinhas que pareciam sair de um pesadelo afetuoso e, detalhe que derrete qualquer fã, desenhos retirados de seus cadernos pessoais.

Cada sala abria uma fenda diferente para o seu imaginário. A viagem começava com obras bidimensionais que não tinham nada de planas: papéis, lenticulares 3D e criaturas de resina que pareciam respirar. A luz era cirúrgica, precisa, e a sombra se infiltrava para provocar a inquietação certa.

Depois, o mundo parava. Entrei em um espaço que poderia ser aquele de um parque de diversões psicodélico: luzes ultravioletas, cores que arranham a retina e, no centro, um carrossel que observava o público como se pudesse girar sem aviso. Uma espécie de ‘Burtonlândia’ secreta, inédita e, ainda assim, estranhamente familiar.

Então veio o golpe que faz o coração cinéfilo tropeçar: marionetes e desenhos dos filmes. Victor e Emily, de A Noiva Cadáver, relembravam que o amor depois da morte pode ser mais fiel que o dos vivos. Edward Mãos-de-Tesoura surgia em forma de esboço, murmurando: “fica tranquila, eu também nunca sei onde me encaixo”. Totens delicados que revelam o lado mais íntimo da stop-motion.

A tese da mostra me pareceu cristalina: nada existe apenas na luz ou apenas na sombra. As obras diziam isso. A curadoria dizia isso. O meu rosto, meio iluminado e meio oculto enquanto eu tentava entender se o monstro fluorescente no canto estava me cumprimentando, também dizia isso. Burton nunca exige que o público escolha um lado. Ele convida a enxergar a linha onde os contrastes se reconciliam.

O curioso é que a própria cidade conspirava a favor da narrativa. A chuva da manhã, o saguão em penumbra, o cenário medieval da fortaleza… tudo parecia encaixado na estética burtoniana. Além disso, quem já assistiu Edward Scissorhands ou The Nightmare Before Christmas sabe que sua arte encontra beleza exatamente na brecha entre os opostos.

Na fila para a cerimônia (de pé, com minha mãe gesticulando como se comandasse um exército de fantasmas), pensei no quanto o tema da Bienal era certeiro. O dualismo luz-escuridão é o coração da poética de Burton. Florença não era apenas palco. Tinha o papel de personagem silenciosa.

A premiação durou poucos minutos. O cineasta subiu ao palco, agradeceu em um italiano tímido e aplaudiram sem pressa, como se ninguém quisesse encerrar aquele momento. Registrei internamente o som como “um coração que pulsa também no escuro”.

Durante aqueles instantes, imaginei que Tim olhava na minha direção. Sei que não era verdade. Ainda assim, senti o choque doce da realidade: eu estava ali, testemunhando o encontro entre uma referência criativa e a cidade que o celebrava.

Quando deixamos a fortaleza ao anoitecer, a chuva já tinha amainado. Entre postes tremeluzentes e faróis distantes, a luz de Florença parecia conquistar uma vitória temporária sobre a escuridão, refletida nos paralelepípedos molhados com a graça de um pequeno feitiço urbano.

Burton teria aprovado.

Bianca Agnelli

Tim Burton alla XV Florence Biennale: anatomia di un incanto

Il 21 ottobre 2025 è stata una giornata memorabile.

È iniziata piovosa, uggiosa, perfettamente in mood spettrale. Ovviamente mi sono svegliata prestissimo – e poi, come al solito, mi sono riaddormentata. Poi la sveglia ha compiuto il suo dovere, e – click – il mio cervello ha realizzato che avrei incontrato (forse, se mi fossi data una mossa) il mio regista (beh, uno DEI) preferito.

Così, con tutta la voglia di vivere che mi restava (che, riconosciamolo, quella mattina non era al massimo), ho preso la strada verso Firenze, insieme alla mia compagna d’avventure numero uno: mia madre. Ecco: se c’è qualcosa che probabilmente non sapete è che mia madre si entusiasma per tutto ciò che le propongo con un entusiasmo doppiamente esuberante rispetto al mio – anche se la cosa prevedeva un’attesa che ho scoperto sarebbe stata di sei ore… in piedi. Ma questi sono dettagli del mestiere. (Il mestiere della pazza di cinema, forse?)

Arrivati all’ingresso del XV Florence Biennale, nella grandiosa cornice della Fortezza da Basso di Firenze – spazio storico, quasi militare, ora saturato di arte contemporanea – l’atmosfera pareva rispecchiare perfettamente il tema dell’edizione: “The Sublime Essence of Light and Darkness. Concepts of Dualism and Unity in Contemporary Art and Design”.

La manifestazione – che raccoglie oltre 550 artisti da più di 80 paesi, con circa 1.500 opere esposte – si è tenuta dal 18 al 26 ottobre 2025. E quel pomeriggio, alle 17:00, è avvenuta la cerimonia di conferimento del prestigioso premio “Lorenzo il Magnifico Lifetime Achievement Award”, destinato a celebrare la carriera di artisti che hanno profondamente segnato il contemporaneo.

Nel comunicato ufficiale si legge che il comitato curatoriale ha voluto riconoscere in Tim Burton «lo straordinario lavoro artistico che abbraccia disegno, grafica, animazione stop-motion e produzione cinematografica».

E in effetti l’evento non si è limitato a una mera cerimonia. A pochi passi dalla sala della premiazione, la Fortezza custodiva anche un altro piccolo teatro delle meraviglie: la mostra Tim Burton: Light and Darkness. Il titolo non poteva essere più esplicito, quasi un gentile spoiler del motivo per cui eravamo lì. L’organizzazione ha costruito un percorso che assomigliava a una caccia al tesoro nella mente di Burton: schizzi, appunti, creaturine che sembrano uscite da un incubo tenerissimo e – dettaglio adorabile – alcuni disegni presi dai suoi taccuini.

L’esposizione si articola su più sale e ognuna ti lancia in un frammento del suo immaginario. Si comincia con opere bidimensionali che si rivelano tutt’altro che piatte: fogli, lenticolari 3D e quelle “creature” in resina che sembrano sul punto di respirare. Qui la luce era chirurgica, precisa, e l’ombra si insinuava dove serviva per far emergere l’inquietudine.

Poi l’atmosfera immobile. Mi sono ritrovata in una stanza che pareva uscita da un luna-park psichedelico: luci ultraviolette, colori che graffiano, e al centro un carosello incantato. Una specie di “Burtonland” segreto che nessuno di noi aveva ancora immaginato, eppure così familiare.

Infine, il colpo al cuore cinefilo: pupazzi e disegni legati ai suoi film. Victor ed Emily di La Sposa Cadavere stanno lì a ricordarti che l’amore dopo la morte può essere più fedele di quello in vita. Edward con le mani-cesoia fa capolino in forma di schizzo, come se dicesse: “tranquilla, sono sempre un po’ fuori posto anche io”. Piccoli totem che restituiscono al pubblico il lato più intimo dell’animazione stop-motion.

Ho pensato che la vera tesi della mostra fosse semplice quanto profonda: niente è mai solo luce o solo ombra. Lo dicevano le opere, lo diceva la curatrice, lo diceva la mia faccia illuminata a metà mentre cercavo di capire se il mostro fluorescente nell’angolo mi stesse salutando. Burton non chiede mai allo spettatore di scegliere una parte. Ti invita a guardare proprio quella linea dove i contrasti fanno pace.

Non ho potuto fare a meno di notare come l’intera ambientazione – dalla pioggia mattutina al foyer in ombra della Fortezza – fosse una scenografia perfetta per il suo mondo: chiunque abbia visto anche solo una volta Edward Scissorhands o The Nightmare Before Christmas sa che Burton gioca con la luce e l’oscurità in modo che – sorpresa — – bellezza spesso nasca nell’intercapedine.

Mentre ero in fila (in piedi, con mia madre che gesticolava come se stesse dirigendo un’armata di fantasmi), ho pensato a quanto la Biennale avesse ragione a scegliere quel tema. Il dualismo luce-ombra è davvero il cuore della poetica burtoniana: e l’ambientazione fiorentina non era solo una cornice, ma un personaggio silenzioso.

La cerimonia è durata pochi minuti – il regista è salito sul palco, ha pronunciato un ringraziamento misurato in un italiano vagamente migliorabile, e la sala è scoppiata in un applauso che sembrava non voler finire. Io l’ho registrato mentalmente come “il battito di un cuore che pulsa anche nell’ombra”.

Durante quei due minuti, ho immaginato che Tim mi stesse guardando – e sì, lo so: un’illusione. Ma in quel frammento di tempo ho percepito l’incredulità di trovarmi davvero lì, testimone dell’incontro tra uno dei miei riferimenti creativi e la città che lo ospitava.

Alla fine, uscendo dalla Fortezza all’imbrunire, la pioggia si era fermata. Tra lampioni tremolanti e fari lontani, la luce di Firenze, sottile e suggestiva, sembrava giocare una vittoria temporanea sull’oscurità, riflettendosi sui sassi bagnati con la grazia di un piccolo incantesimo urbano. 

Burton avrebbe approvato.

Bianca Agnelli

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A Verdadeira Dor

Bianca Agnelli
‘Entre primos e memórias: O caos irresistível de
A Verdadeira Dor’

Card da matéria sobre o filme ' 'Entre primos e memórias: O caos irresistível de A Verdadeira Dor'
Card da matéria sobre o filme ‘ ‘Entre primos e memórias: O caos irresistível de A Verdadeira Dor’

Gosto quando o cinema fala de solidão, de vidas errantes, de personagens complicados e de coisas difíceis. E quando consegue falar disso com leveza, para mim, é sempre um sim.

A Real Pain (A Verdadeira Dor) aborda exatamente esses temas existenciais – e o faz com aquela elegância imperfeita das pessoas que falam de sentimentos importantes fingindo que não estão falando de nada sério. Dirigido e escrito por Jesse Eisenberg, que também interpreta um dos protagonistas, o filme nos leva a refletir sobre algumas questões emocionalmente complexas. A genealogia, por exemplo: quem disse que é sempre algo feliz? Spoiler: quase nunca é.

Descobrir onde sua avó viveu pode ser menos épico do que você imaginava – e mais… decepcionante. Ou pelo menos é assim para Benji (Kieran Culkin) e David (Jesse Eisenberg), dois primos opostos que embarcam em uma viagem à Polônia para homenagear a avó falecida. A missão parece simples: honrar as raízes familiares. A realidade, como tantas vezes acontece, é bem mais contorcida.

Benji é um vulcão que ainda não decidiu se vai explodir ou não; David é aquele que organiza tudo, inclusive as emoções, como se fossem e-mails a arquivar. Observá-los interagir é como ver um elástico se esticando: dois extremos que se atraem e se repelem, oscilando entre sarcasmo e afeto, irritação e cumplicidade. Ao acompanhar essa peregrinação emocional, você inevitavelmente reconhece uma parte dessa dinâmica em algum relacionamento seu: o caos contra a compostura, a risada que mascara o desconforto e a paciência sendo levada ao limite.

Entre um tour guiado, um hotel que parece gritar “tapetes tristes e luzes brancas demais”, e uma série de momentos de convivência estranhamente ternos e disfuncionais, o filme constrói um diálogo invisível entre os protagonistas e revela um vínculo mais profundo do que ambos gostariam de admitir – narrado através de gestos, silêncios e frases cortadas. Porque certos afetos nunca são ditos de verdade: apenas escapam, como fumaça por uma janela mal fechada.

E então chegamos ao cerne da questão – àquela pergunta que talvez fosse melhor não fazer: qual é o seu direito à felicidade? E se, mesmo tendo todo direito e toda oportunidade, você simplesmente não conseguisse ser feliz?

David é o homem “estabilizado”, com esposa e filhos, que seguiu todas as instruções do manual. Benji é a faísca – o homem imaturo que tropeçou em vícios, depressão e dor, e ainda por cima ri disso.

A felicidade, neste filme e na vida real, é caprichosa, às vezes ausente, e quase sempre difícil de segurar. Sabemos que ela não se distribui com base em méritos ou currículos emocionais, e o filme nos leva a refletir sobre quanto a memória transgeracional pesa nisso: o que significa ser neto de sobreviventes, e como as gerações seguintes herdam (e muitas vezes rejeitam) esse passado.

A interpretação extraordinária e genuína de Kieran Culkin, com seu Benji adorável e igualmente problemático, lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Protagonista na 97th Academy Awards deste ano.

Para escrever o filme, Eisenberg declarou ter se inspirado em experiências familiares e pessoais, especialmente no tema da memória judaica e nos laços entre irmãos. Um experimento cuidadosamente conduzido – e premiado no Sundance Film Festival 2024, onde recebeu o Waldo Salt Screenwriting Award na seção U.S. Dramatic.

O filme também levou dois prêmios no British Academy of Film and Television Arts (BAFTA): Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin e Melhor Roteiro Original para Jesse Eisenberg.

Na direção, Eisenberg escolhe uma leveza que não suaviza, mas aprofunda. Ele usa a Polônia não como cartão-postal, mas como um lugar de memória viva – cheio de arestas, silêncios e uma história que resiste à ordem. A visita ao campo de concentração não é um clímax retórico: é uma pausa em que a realidade se impõe em toda a sua gravidade, sem música nem palavras, em uma sequência inesquecível que nos mantém presos à tela em silêncio.

Eisenberg assina um filme compacto – 90 minutos de precisão cirúrgica – mas cheio de fissuras emocionais, ritmos desalinhados e ironia cuidadosamente medida. Ele não busca a catarse: a evita com elegância. Assim, em vez de um final feliz, nos entrega um aftertaste: uma sensação agridoce que permanece na boca como uma lembrança teimosa, daquelas que não desaparecem depois dos créditos finais.

A Real Pain não pretende curar ninguém. Convida-nos, sobretudo, a permanecer nesse ponto desconfortável onde a memória encontra a ironia, onde o riso não apaga a dor – apenas a torna suportável. Porque existir não é fácil, e certos dramas existenciais são, sim, um privilégio dos afortunados. E porque – sejamos honestos – nem toda viagem tem um destino. Algumas terminam exatamente onde começaram: dentro de nós, com aquela sensação precisa de que a vida, com todas as suas complicações, é mesmo… uma verdadeira dor.

Bianca Agnelli

Tra cugini, fermate perse e memoria transgenerazionale: L’irresistibile caos di A Real Pain

A Real Pain affronta proprio questi temi esistenziali, e lo fa con quella grazia sghemba delle persone che parlano di sentimenti importanti fingendo di non farlo davvero. Diretto e scritto da Jesse Eisenberg, che interpreta anche uno dei protagonisti, il film ci fa riflettere su giusto un paio di questioni emotivamente complesse. La genealogia, per esempio: chi l’ha detto che è sempre una cosa felice? Spoiler: non lo è quasi mai.

Scoprire dove viveva tua nonna può rivelarsi meno epico di quanto potessi immaginare e più… deludente. O almeno lo è per Benji (Kieran Culkin) e David (Jesse Eisenberg), due cugini agli antipodi che intraprendono un tour in Polonia per rendere omaggio alla loro nonna defunta. La missione è semplice: onorare le radici familiari. La realtà, come spesso accade, è più contorta.

Benji è un vulcano che non ha ancora deciso se esplodere o no; David è quello che mette ordine e controlla le emozioni come fossero email da archiviare. Guardarli interagire è come osservare un elastico che si tende: due estremi che si attraggono e si respingono, oscillando tra sarcasmo e affetto, irritazione e complicità. Osservandoli in questo pellegrinaggio emotivo, ti ritrovi a riconoscere almeno un pezzetto di quella dinamica in qualche tua relazione passata; il caos contro la compostezza, la risata che nasconde il malessere e la pazienza messa a dura prova.

Tra un tour guidato, un hotel che sembra urlare «tappeti tristi e luci troppo bianche», una serie di momenti di convivenza bizzarra e teneramente disfunzionale, il film costruisce un dialogo invisibile tra i due protagonisti e mostra un legame più profondo di quanto entrambi vorrebbero ammettere, raccontato attraverso gesti, silenzi e battute smozzicate… perché certi affetti non si dicono mai davvero: si lasciano trapelare, come fumo da una finestra chiusa male.

E poi arriviamo dritti al punto, alla domanda che forse sarebbe meglio non porsi: quanto diritto hai di essere felice? E se, pur avendone ogni diritto e possibilità, semplicemente non ci riuscissi

David è l’uomo sistemato, con moglie e figli, quello che ha seguito le istruzioni alla lettera. Benji è la scheggia, l’uomo immaturo che nella vita è inciampato nelle dipendenze, nella depressione e nel dolore, e ci ride pure. 

La felicità, in questo film e nella vita reale, è capricciosa, a volte assente, e in ogni caso difficile da tenersi stretta. Sappiamo che non si concede in base a meriti o curriculum emotivi, e siamo spinti a chiederci quanto la memoria transgenerazionale incida su essa: interrogarci su cosa significhi essere nipoti di sopravvissuti, e su come le vite successive ereditino (e spesso rifiutino) quel passato. L’interpretazione straordinaria e sincera che Kieran Culkin ci ha servito con il suo adorabile ed altrettanto problematico Benji, gli è valsa l’Oscar come migliore attore protagonista ai 97th Academy Awards di quest’anno.

Eisenberg, per la scrittura del film, ha dichiarato di essersi ispirato a esperienze familiari e personali, in particolare al tema della memoria ebraica e dei legami tra fratelli. Un esperimento sapientemente condotto, direi, che è stato premiato al Sundance Film Festival 2024, ottenendo il Waldo Salt Screenwriting Award nella sezione U.S. Dramatic.  

Anche ai British Academy of Film and Television Arts (BAFTA) il film ha ricevuto due premi: quello per il Miglior Attore Non Protagonista a Kieran Culkin e per la Migliore Sceneggiatura Originale a Jesse Eisenberg.  

Eisenberg, alla regia, sceglie una leggerezza che non alleggerisce ma approfondisce. Usa la Polonia non come cartolina ma come luogo di memoria viva – pieno di spigoli, silenzi, e storia che non si lascia mettere in ordine. La visita al campo di concentramento non è un climax retorico: è una pausa di realtà che si impone in tutta la sua gravità, senza musica né parole, in una sequenza memorabile di scene che ci tiene silenziosamente incollati allo schermo.

Eisenberg firma un film compatto – 90 minuti di misura chirurgica – ma denso di crepe emotive, ritmi sbilanciati e ironia ben dosata. Non cerca la catarsi: la evita con eleganza. E così, invece di un lieto fine, ci regala un aftertaste: una sensazione agrodolce che rimane in bocca come un ricordo ostinato, di quelli che non svaniscono dopo i titoli di coda.

A Real Pain non vuole guarire nessuno. Ci invita piuttosto a stare in quel punto scomodo dove la memoria incontra l’ironia, dove le risate non cancellano il dolore ma lo rendono sopportabile. Perché esistere non è facile, e certe seghe mentali restano privilegio dei fortunati. E perché – diciamolo – non ogni viaggio ha una destinazione. Alcuni finiscono dove cominciano: dentro di noi, con quella sensazione puntuale che la vita con tutte le sue complicazioni sia, sì, una vera seccatura. 

Bianca Agnelli

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A voz de Hind Rajab

Bianca Agnelli:
‘A voz de Hind Rajab: O cinema como testemunho’

La voce di Hind Rajab: Il cinema come testimonianza

Card do texto  'A Voz de Hind Rajab: O Cinema como Testemunho'
Card do texto ‘A Voz de Hind Rajab: O Cinema como Testemunho’

Não sei vocês, mas eu adoro ir ao cinema completamente despreparada.

Zero trailers, zero críticas, zero “você precisa ver, é maravilhoso”.

Quero que o filme me surpreenda, me sacuda, me faça duvidar das minhas próprias emoções. Quero aquele instante em que você se senta, as luzes se apagam, e pensa: “Ok, me leve pra onde quiser.”

Às vezes encontro diretores cinematograficos desconhecidos, rostos que nunca vi, nomes que eu facilmente confundiria com senhas de Wi-Fi, e ainda assim – lá está – aquele pequeno arrepio de curiosidade.

Porque conhecer algo novo, pra mim, é como descobrir um cômodo secreto dentro de uma casa que você acreditava conhecer de cor.

Claro, reencontrar é bonito. Mas se perder… se perder em um filme completamente estranho é algo muito maior. É um ato de confiança.

E o cinema, assim como a vida, é um ato de confiança cheio de contradições: alegria, dor, caos e aquele fio finíssimo que os mantém unidos.

Foi com essa consciência que, no dia 28 de setembro, fui ao cinema. Poucas horas antes de entrar na sala, eu já tinha chorado.

Porque o que eu estava prestes a ver era um filme que eu não conhecia, mas que não podia ignorar – e do qual sabia, em linhas gerais, a história.

Porque Hind Rajab nunca foi apenas uma personagem: ela era uma pessoa, uma menina de cinco anos, nascida no lugar e no momento errados deste planeta.

Há algo de desarmante em pensar que o destino é um fato geográfico.

Alguns nascem em bairros com mais cafeterias do que hospitais; outros, em lugares onde tanques atiram nos vidros dos carros.

E nós, sentados em nossas confortáveis poltronas vermelhas, tentamos entender como tudo isso pode existir no mesmo mundo.

A voz de Hind Rajab (The Voice of Hind Rajab) é dirigido por Kaouther Ben Hania [https://m.imdb.com/it/name/nm4141599/], a cineasta tunisiana já indicada ao Oscar por “O Homem que Vendeu sua Pele”.

Sua direção é delicada e cirúrgica ao mesmo tempo – como se ela soubesse que narrar a realidade é um ato de equilíbrio entre dor e dignidade.

O filme refaz as últimas horas de Hind, uma menina palestina presa em um carro depois que sua família foi atingida durante os bombardeios em Gaza, em 29 de janeiro de 2024.

Os operadores do Crescente Vermelho Palestino conseguiram entrar em contato com ela: a ligação durou horas.

Ouvimos Hind falar, chorar, pedir ajuda, rezar.

Ben Hania decidiu não recriar essa voz, mas usar o áudio autêntico da gravação da chamada.

Os atores – entre eles Saja Kilani, Clara Khoury, Motaz Malhees e Amer Hlehel – não tinham ouvido o áudio completo antes das filmagens: escutavam em fones de ouvido, durante as cenas, deixando que o real se infiltrasse em suas expressões.

É uma escolha que transforma a recitação em algo quase mediúnico: eles não estão interpretando, estão escutando.

E nós, por reflexo, escutamos com eles.

Não vemos a morte, mas a sentimos respirar entre as pausas.

Na Mostra de Cinema de Veneza, a exibição foi seguida por vinte e quatro minutos de aplausos.

Vinte e quatro. Minutos.

É uma eternidade, mesmo para Veneza.

Mas ninguém conseguia se levantar: parecia que todos precisavam permanecer ali, imóveis, compartilhando o mesmo nó na garganta.

Como se aplaudir fosse a única maneira de dizer: não estamos surdos, Hind, nós te ouvimos.

O filme conquistou o Grande Prêmio do Júri e já está indicado como Melhor Filme Internacional no Oscar 2026.

Por trás da produção estão nomes como Brad Pitt, Rooney Mara, Alfonso Cuarón, Joaquin Phoenix e Jonathan Glazer – nomes que, de certo modo, decidiram emprestar sua voz àqueles que já não têm uma.

Hind Rajab está morta.

Em Gaza, hoje, centenas de milhares de crianças estão sofrendo, morrendo, enquanto o mundo desvia o olhar.

A voz delas grita dentro das nossas consciências, e o silêncio já não é aceitável.

O cinema nos mostrou uma realidade cruel – e ignorar esse sofrimento é cumplicidade.

Se permanecermos parados, se escolhermos não ouvir, somos parte da tragédia.

E todos os dias, a cada escolha, o mundo nos lembra: a humanidade não é um luxo: é uma responsabilidade.

Bianca Agnelli

La voce di Hind Rajab: Il cinema come testimonianza

Non so voi, ma io adoro andare al cinema completamente impreparata.

Zero trailer, zero recensioni, zero “devi assolutamente vederlo, è stupendo”.

Voglio che il film mi sorprenda, mi scuota, mi faccia dubitare delle mie stesse emozioni. Voglio quel momento in cui ti siedi, le luci si spengono, e pensi: “Ok, portami dove vuoi.”

A volte incontro registi sconosciuti, volti mai visti, nomi che potrei facilmente scambiare per password Wi-Fi, eppure – eccolo lì – quel piccolo brivido di curiosità.

Perché conoscere qualcosa di nuovo, per me, è come scoprire una stanza segreta dentro una casa che credevi di conoscere a memoria.

Certo, ritrovarsi è bello. Ma perdersi… perdersi in una pellicola completamente estranea è qualcosa di più grande. È un atto di fiducia.

E il cinema, come la vita, è un atto di fiducia pieno di contraddizioni: gioia, dolore, caos, e quel filo sottilissimo che li tiene insieme.

È con questa consapevolezza che il 28 settembre mi sono recata al cinema. Qualche ora prima di entrare in sala, avevo già pianto. Perché quello che sono andata a vedere era un film che non conoscevo, ma che non potevo ignorare, e di cui a grandi linee sapevo la trama.

Perché Hind Rajab non è mai stata solo un personaggio: era una persona, una bambina di cinque anni, nata nel momento sbagliato, nel luogo sbagliato del pianeta Terra.

C’è qualcosa di disarmante nel pensare a quanto il destino sia un fatto geografico.

Alcuni nascono in un quartiere con più caffetterie che ospedali, altri in un posto dove i carri armati sparano ai finestrini.

E noi, seduti sulle nostre comode poltrone rosse, proviamo a capire come tutto questo possa esistere nello stesso mondo.

La voce di Hind Rajab (The Voice of Hind Rajab) è diretto da Kaouther Ben Hania, la regista tunisina già candidata all’Oscar per L’uomo che vendette la sua pelle.

La sua mano è delicata e chirurgica allo stesso tempo – come se sapesse che raccontare la realtà è un atto di equilibrio tra dolore e dignità.

Il film ripercorre le ultime ore di Hind, una bambina palestinese intrappolata in un’auto dopo che la sua famiglia è stata colpita durante i bombardamenti a Gaza, il 29 gennaio 2024.

Gli operatori della Mezzaluna Rossa Palestinese riescono a mettersi in contatto con lei: la chiamata dura ore.

Sentiamo Hind parlare, piangere, chiedere aiuto, pregare.

Ben Hania ha deciso di non ricreare quella voce, ma di usare l’audio autentico della registrazione della telefonata.

Gli attori – tra cui Saja Kilani, Clara Khoury, Motaz Malhees e Amer Hlehel – non avevano ascoltato l’audio completo prima delle riprese: lo sentivano in cuffia, durante le scene, lasciando che il reale si infiltrasse nelle loro espressioni.

È una scelta che trasforma la recitazione in qualcosa di quasi medianico: non stanno interpretando, stanno ascoltando.

E noi, di riflesso, ascoltiamo con loro.

Non vediamo la morte, ma la sentiamo respirare tra le pause.

Alla Mostra del Cinema di Venezia, la proiezione è stata seguita da ventiquattro minuti di applausi.

Ventiquattro. Minuti. 

È un’eternità, anche per Venezia.

Ma nessuno riusciva ad alzarsi: sembrava che avessero tutti bisogno di restare lì, fermi, a condividere lo stesso nodo alla gola.

Come se applaudire fosse l’unico modo per dire non siamo sordi, Hind, ti abbiamo sentita.

Il film ha conquistato il Gran Premio della Giuria, ed è già candidato come miglior film internazionaleagli Oscar 2026.

Dietro la produzione ci sono nomi come Brad Pitt, Rooney Mara, Alfonso Cuarón, Joaquin Phoenix e Jonathan Glazer – nomi che, in un certo senso, hanno deciso di prestare la loro voce a chi non ne ha più una.

Hind Rajab è morta.

A Gaza, oggi, centinaia di migliaia di bambini stanno soffrendo, morendo, mentre il mondo guarda altrove.

La loro voce urla dentro le nostre coscienze, e il silenzio non è più accettabile. Il cinema ci ha mostrato una realtà crudele e ignorare questa sofferenza è complicità.

Se restiamo fermi, se scegliamo di non sentire, siamo parte della tragedia.

E ogni giorno, ogni scelta, ci ricorda che l’umanità non è un lusso: è una responsabilità.

Bianca Agnelli

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Além do conflito

Bianca Agnelli

‘Além do conflito: reflexões sobre a radicalização na era da fragilidade global’

Oltre il conflitto: riflessioni sulla radicalizzazione nell’epoca della fragilità globale

Card do artigo 'Além do conflito: reflexões sobre a radicalização na era da fragilidade global'
Card do artigo ‘Além do conflito: reflexões sobre a radicalização na era da fragilidade global’

As sementes da violência são plantadas no silêncio, no vazio, na ausência. Você não as vê crescer, mas quando percebe, já pode ser tarde demais.

Nas últimas semanas, e especialmente após o ataque dos Estados Unidos contra o Irã na noite passada, o mundo despertou com o coração apertado. O risco de escalada é real. A fragilidade geopolítica já não tem fronteiras fixas, e a guerra – a verdadeira – parece ter voltado a bater com força às portas da Europa. Mas enquanto focamos nas frentes militares, nos mísseis e nas estratégias, frequentemente esquecemos outro campo de batalha, mais silencioso, mais sutil: o da radicalização.

Toda guerra ‘externa’ pode despertar pequenas guerras internas, em países aparentemente distantes, mas psicologicamente expostos. E não se trata apenas de geopolítica, mas de narrativas, identidades, pertencimentos.

Radicalizar-se não significa simplesmente ‘tornar-se extremista’. É muitas vezes um processo lento, viscoso, marcado por feridas identitárias, solidões ignoradas, fracassos interpretados como injustiças. Nas casas às sombras, nas salas onde reina o silêncio, nas famílias fragmentadas, pode começar esse vazio que depois se expande.

Mas o outro lugar onde a radicalização cresce silenciosamente está muito mais próximo de nós: é a internet.

Ali, o extremismo se torna viral. Algumas das principais redes jihadistas (mas também neofascistas, supremacistas brancas, etc.) atuam com uma sofisticação digital surpreendente: vídeos editados com música épica, narrativas envolventes, perfis que parecem inocentes. A linguagem é jovem, familiar. A radicalização hoje tem filtros do Instagram e hashtags.

E, pior ainda, os algoritmos ajudam. Quem começa buscando um vídeo religioso pode acabar, em poucos cliques, assistindo à glorificação do martírio ou a teorias conspiratórias sobre o ‘Ocidente corrupto’. Basta um link criptografado no Telegram para cruzar essa fronteira.

Em alguns países atingidos por atentados – como França, Bélgica, Reino Unido – foram criados centros de desradicalização, com resultados variados. Alguns fracassaram, transformando-se em dormitórios vigiados. Outros, porém, tornaram-se laboratórios humanos, onde ex-extremistas contam sua queda e recuperação, gerando testemunhos que funcionam melhor que mil sermões.

No âmbito supranacional, a União Europeia implantou importantes ferramentas para prevenir a radicalização e combater a propaganda terrorista online. Desde 2022, está em vigor um regulamento que exige a remoção em até uma hora de conteúdos terroristas de serviços digitais de hospedagem, inclusive transmissões ao vivo. Além disso, a UE criou unidades específicas – como a Internet Referral Unit da Europol – para monitorar conteúdos extremistas e apoiar os Estados-membros. Existem redes de sensibilização com milhares de agentes na linha de frente, desde funcionários penitenciários a professores, para compartilhar boas práticas e compreender as fragilidades que tornam as pessoas vulneráveis ao radicalismo. O Fórum da UE sobre Internet também trabalha para interceptar as novas formas de evolução do extremismo online. Porque o terrorismo não nasce apenas nos desertos do Oriente Médio: frequentemente se forma no vazio das nossas democracias digitais.

Desarmar o extremismo significa oferecer alternativas narrativas. Significa educar para a ambiguidade, a complexidade, a beleza da não simplificação. Significa, como sociedade, aprender a escutar as fissuras identitárias antes que se tornem feridas políticas. Porque quem cai no ódio nem sempre é um monstro. Muitas vezes é um filho, um colega de escola, um jovem que não encontrou outro lugar onde se sentir parte.

A tarefa – nossa, como artistas, intelectuais, cidadãos – é cultivar uma resistência feita de pensamento, poesia, acolhimento e imaginação. Mas não basta apenas criar beleza: é preciso também presença, responsabilidade, visão. Precisamos nos sujar as mãos, habitar os espaços educativos, vigiar o debate público, monitorar as ações dos nossos parlamentares e representantes políticos.

Em uma era em que tudo clama por vingança, são necessárias vozes capazes de desarmar o ódio e não de alimentá-lo.

Para aprofundar: https://www.consilium.europa.eu/en/eu-response-to-terrorism

Bianca Agnelli

Oltre il conflitto: riflessioni sulla radicalizzazione nell’epoca della fragilità globale

I semi della violenza si piantano nel silenzio, nel vuoto, nell’assenza. Non li vedi crescere, ma quando li noti, è già tardi.

Nelle ultime settimane, e in particolare dopo l’attacco degli Stati Uniti contro l’Iran di questa notte, il mondo si è risvegliato con il cuore contratto. Il rischio di escalation è reale. La fragilità geopolitica ha ormai confini liquidi, e la guerra – quella vera – sembra tornata a bussare, prepotente, alle porte dell’Europa. Ma mentre guardiamo ai fronti militari, ai missili e alle strategie, dimentichiamo spesso l’altro campo di battaglia, più silenzioso, più sottile: quello della radicalizzazione.

Ogni guerra “fuori” rischia di risvegliare piccole guerre dentro, nei paesi apparentemente lontani, ma psicologicamente esposti. E non si tratta solo di geopolitica, ma di narrative, identità, appartenenze.

Radicalizzarsi non significa semplicemente “diventare estremisti”. È spesso un processo lento, vischioso, fatto di ferite identitarie, solitudini ignorate, fallimenti interpretati come ingiustizie. Nelle case in ombra, nei salotti dove regna il silenzio, nelle famiglie frammentate, può spesso cominciare quel vuoto che poi si espande.

Ma l’altro luogo dove la radicalizzazione cresce in silenzio è molto più vicino a noi: è la rete.

Qui, l’estremismo si fa virale. Alcune delle principali reti jihadiste (ma anche neofasciste, suprematiste bianche, etc.) operano con una sofisticazione digitale sorprendente: video montati con musica epica, storytelling accattivanti, account che sembrano innocui. Il linguaggio è giovane, familiare. La radicalizzazione oggi ha filtri Instagram e hashtag.

E, peggio ancora, gli algoritmi aiutano. Chi inizia cercando un video religioso può finire, nel giro di pochi clic, a guardare la glorificazione del martirio o teorie del complotto sull’Occidente “corrotto”. Basta un link criptato su Telegram per varcare il confine.

In alcuni paesi colpiti dagli attentati – come Francia, Belgio, Regno Unito – sono nati centri di deradicalizzazione, con risultati alterni. Alcuni hanno fallito, trasformandosi in dormitori sorvegliati. Altri, però, sono diventati laboratori umani dove ex estremisti raccontano la propria caduta e risalita, generando testimonianze che funzionano più di mille sermoni.

A livello sovranazionale, l’Unione Europea ha avviato strumenti importanti per prevenire la radicalizzazione e contrastare la propaganda terroristica online. Dal 2022 è in vigore un regolamento che impone la rimozione entro un’ora di contenuti terroristici dai servizi di hosting digitali, anche in live streaming. Inoltre, l’UE ha creato unità specifiche – come l’Internet Referral Unit di Europol – per monitorare contenuti estremisti e supportare gli Stati membri. Esistono reti di sensibilizzazione con migliaia di operatori in prima linea, dal personale carcerario agli insegnanti, per condividere buone pratiche e comprendere le fragilità che rendono le persone vulnerabili al radicalismo. Anche il Forum dell’UE su Internet lavora per intercettare i nuovi modi in cui l’estremismo si evolve online. Perché il terrorismo non nasce solo nei deserti del Medio Oriente: spesso si forma nel vuoto delle nostre democrazie digitali.

Disinnescare l’estremismo significa offrire alternative narrative. Significa educare all’ambiguità, alla complessità, alla bellezza della non semplificazione. Significa, come società, imparare ad ascoltare le fratture identitarie prima che diventino ferite politiche. Perché chi cade nell’odio non è sempre un mostro. Spesso è un figlio, un compagno di scuola, un ragazzo che non ha trovato altro luogo in cui sentirsi parte.

Il compito – nostro, come artisti, intellettuali, cittadini – è coltivare una resistenza fatta di pensiero, poesia, accoglienza e immaginazione. Ma non basta più solo creare bellezza: serve anche presenza, responsabilità, visione. Dobbiamo sporcarci le mani, abitare gli spazi educativi, presidiare il dibattito pubblico, monitorare le azioni dei nostri parlamentari e rappresentanti politici.

In un’epoca in cui tutto grida vendetta, servono voci capaci di disinnescare l’odio e non di alimentarlo.

Per approfondire: https://www.consilium.europa.eu/en/eu-response-to-terrorism

Bianca Agnelli

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‘Adolescência’

Bianca Agnelli

“‘Adolescência’, a série da Netflix que os pais deveriam assistir”

“‘Adolescence’: la serie Netflix che i genitori dovrebbero vedere”

Card do artigo "'Adolescência', a série da Netflix que os pais deveriam assistir"
Card do artigo “‘Adolescência’, a série da Netflix que os pais deveriam assistir”

Ter filhos adolescentes em 2025 não deve ser uma tarefa fácil. Eu, mãe 24/7 de uma coelhinha anã vermelha de seis anos, só posso imaginar como deve ser. (Embora, acreditem, um coelho é um filho exigente).

Pais na escuta – ou melhor, na leitura – prestem atenção, fiquem em alerta e, se preciso, liguem o radar: essa série da Netflix é para vocês. Mas também para nós. Para todos.

Adolescence )é uma minissérie dramática britânica criada por Jack Thorne e pelo ator Stephen Graham, conhecido por seus papéis em ‘Boardwalk Empire’ e ‘Piratas do Caribe’. A série é dirigida por Philip Barantini, famoso por seu trabalho em ‘Boiling Point’, e foi lançada na Netflix em 13 de março de 2025, obtendo sucesso imediato. Na Inglaterra, alcançou 6,45 milhões de espectadores na primeira semana, superando o recorde anteriormente detido por ‘Fool Me Once’ com Michelle Keegan.

A trama gira em torno de Jamie Miller (interpretado por Owen Cooper), um adolescente de 13 anos acusado de assassinato de uma colega de classe. A série explora as pressões sociais e culturais que levam a tal tragédia, abordando temas como bullying on-line, misoginia e a influência de figuras públicas controversas como Andrew Tate.

O que me impressionou, além da habilidade do diretor Philip Barantini, do incrível plano-sequência nas filmagens e do roteiro intenso, foi o quanto a série é tristemente um reflexo da realidade. Sim, é um thriller. Mas conta o que acontece todo dia em todas as escolas. Nos celulares dos adolescentes. O bullying não é mais o que era antigamente, com empurrões nos corredores e bilhetinhos maldosos. Hoje, ele é silencioso, invisível aos adultos. Vive nos comentários nas fotos do Instagram, nos grupos do WhatsApp, nas mensagens que desaparecem no Snapchat. É ali que circulam fotos íntimas de menores, que se espalham xingamentos e humilhações.

Cerca de 15% dos adolescentes na Itália declararam já ter sido vítimas de bullying ou cyberbullying pelo menos uma vez. Esse dado vem da VI pesquisa de 2022 do Sistema de Vigilância HBSC Itália (Health Behaviour in School-aged Children – Comportamentos ligados à saúde de crianças em idade escolar), na véspera do Dia Nacional contra o Bullying e o Cyberbullying. A pesquisa, coordenada pelo Instituto Superior de Saúde em parceria com as Universidades de Turim, Pádua e Siena, com o apoio do Ministério da Saúde e a colaboração do Ministério da Educação e Mérito, envolve todas as Regiões e Empresas de Saúde Locais, oferecendo um panorama dos problemas adolescentes em um período delicado como o pós-pandemia. Comparando os dados com estudos anteriores, observa-se um aumento significativo do cyberbullying entre 11 e 13 anos, fortemente associado ao uso das redes sociais.

O bullying on-line pode ter consequências devastadoras na saúde mental das vítimas, levando à depressão, ansiedade e até suicídio.

Não é um problema ‘de personalidade’. É um desconforto cultural, social, existencial. Porque a adolescência é um problema existencial. E a história é sempre a mesma: procurar um lugar onde pertencer.

Sentir-se aceito.

Spoiler: sempre haverá alguém que não vai te apreciar. Nós, adultos, sabemos bem disso, mas aos 13 anos?

Quando tínhamos 13 anos, é inútil fingir, tudo isso era importante para nós também.

Para se sentir aceito, adotam-se estratégias. A mais eficaz – e perigosa – é fazer o que todo mundo faz. Ser parte do rebanho. Porque basta um idiota mirando alguém, e o rebanho segue; porque se uma pessoa tola, má ou simplesmente insatisfeita com a própria vida começa a fazer comentários idiotas sobre um colega, os outros começam a imitar esse comportamento. E é assim que começam as tragédias.

Por coisas bobas. E por pessoas que seguem a manada.

O lado obscuro da internet e a masculinidade tóxica

A série gerou debates importantes sobre a representação da masculinidade tóxica e a influência das redes sociais nos jovens. Discussões em escolas e universidades destacaram a atualidade e relevância dos temas tratados. Não tenho dúvidas de que ‘Adolescence’ pode ser usado como ferramenta educativa para sensibilizar sobre esses problemas.

Como mulher, jovem mulher, toda essa situação me causa repulsa. A cultura Incel está se espalhando entre os jovens: on-line. Invisível. Os incels – abreviação de involuntary celibates (celibatários involuntários) – são homens que odeiam as mulheres porque não conseguem ter um relacionamento. Reclamam que 80% das mulheres escolhem apenas 20% dos homens e despejam sua frustração em um ódio visceral. Uma mistura letal de frustração, ignorância e perigo.

E eu sei disso porque, em pequena escala, vivi isso na pele. Alguns anos atrás, postei um vídeo no YouTube, um pequeno sketch irônico sobre minhas experiências no Tinder. Nada de revolucionário. Algo leve. No entanto, um fórum chamado ‘o fórum dos feios’ abriu uma discussão sobre mim. Alguém compartilhou meu vídeo, indignado porque eu dizia que “os meninos mais bonitos não me davam match, obviamente”. Escândalo! E aqui estão os comentários, que, por acaso, um dia encontrei sobre mim:

• “Estúpida feiosa”

• “Provavelmente é rica também”

• “Mas ela quer o dinheiro do Cristiano Ronaldo”

Subtexto: Como essa garota ousa ter padrões?

Eu, uma garota tranquila, com um canal pequeno, caí na mira de um grupo de incels. Não quero nem imaginar o que escrevem sobre garotas mais expostas, mais conhecidas, mais vulneráveis.

Antes de voltar ao assunto principal – porque, admitamos, este artigo está ficando muito pessoal – preciso contar outro episódio surreal. Um certo indivíduo, desses tipos que parecem saídos de um roteiro de série B, tempos atrás comentou minhas fotos e vídeos reclamando do fato de eu não ser uma apoiadora de Matteo Salvini. Para quem não sabe – ou me lê de fora – Salvini é aquele político da Liga Norte, que para mim representa tudo o que é inaceitável no cenário político italiano.

Mas o comentário dele não parou por aí: em um misto de confusão e arrogância, me chamou de “linda – mas de um jeito quase assexuado”, como se, em vez de me ver como mulher, me considerasse uma criatura etérea, uma fada distante e impessoal. Um elogio disfarçado de um insulto sutil, típico de quem talvez projeta seu desconforto e ignorância nos outros.

Este é apenas mais um exemplo de mentalidades ridículas que circulam online.

Pais: quão responsáveis vocês são?

Na série, vemos a dor da família de Jamie. E dói. Não estamos falando de pais abusivos, ruins e cruéis. Estamos falando de pais (interpretados por Stephen Graham e Christine Tremarco) humanos. Pais que não são da pior espécie. Claro, talvez não da ‘melhor’ espécie, mas essa categoria realmente existe? (Sim, ela existe. Só que é muito rara…).

Então, em que medida podemos considerá-los responsáveis pelas ações do filho?

Eu diria: muito. Aí os vejo chorando e me pergunto: realmente eles imaginavam que o filho poderia fazer algo assim? Ou talvez a culpa esteja em outro lugar? Na sociedade? Nos professores desinteressados? Nos amigos seguidores da manada? Nos modelos errados? Nos péssimos ídolos que se espalham online, como Andrew Tate?

E os adultos, então? Porque se um jovem com o córtex frontal ainda não desenvolvido pode ser influenciado por essas figuras ridículas, que desculpa têm os adultos? E até que ponto isso é culpa da misoginia sistêmica, da violência normalizada, do sexismo que permeia todos os aspectos da vida?

Ser pai é participar

Voltando à série. Os pais de Jamie poderiam ter evitado tudo isso? Sim. Quando dizem que ele voltava tarde, que se trancava no quarto com o computador até as duas da manhã, foi aí… Esse foi o momento de agir. Ser pai, e permita-me falar isso como quem tem um coelho, não é só proibir ou repreender: é participar. É preciso participar.

Os adolescentes não são fáceis, eu sei. Mas entendê-los não é impossível. Você não vai entrar em todos os compartimentos – amigos, amores, escola – de imediato. Mas em algo, sim. As paixões. O que seu filho realmente ama? O que o faz feliz? Se você não souber responder, pode realmente se considerar um bom pai?

Eu sei com certeza que minha coelhinha Mimí ama petiscos e passeios pelo jardim. E você? Sabe o que faz o coração do seu filho bater mais rápido? Se a resposta for não, talvez (definitivamente) seja hora de começar a descobrir.

Dicas práticas para pais e educadores (e mais alguns dados):

Comunicação aberta: Manter um diálogo aberto e constante com seus filhos, criando um ambiente onde eles se sintam livres para expressar suas emoções e preocupações.

Educação digital: Ensinar os jovens a usar a tecnologia de maneira consciente e segura, explicando os riscos do bullying online e do compartilhamento de conteúdos inadequados.

Observação atenta: Prestar atenção aos sinais de desconforto, como mudanças de humor, isolamento social, problemas escolares ou alimentares.

Intervenção imediata: Não subestime o bullying on-line, mas intervenha rapidamente, sinalizando o problema para as autoridades competentes e oferecendo suporte à vítima.

Promoção da igualdade de gênero: Ensinar os jovens a respeitar as diferenças e a igualdade de gênero, combatendo a disseminação de estereótipos e modelos negativos.

Adicionalmente, segundo a UNICEF, cerca de 37% das crianças e jovens na Itália estão expostos a mensagens de ódio on-line. E o fenômeno, agora, é global… Por favor, não os deixemos sozinhos nessa selva digital!

Porque, convenhamos, criar um adolescente é como viver um thriller psicológico em capítulos: repleto de silêncios inquietantes, olhares indecifráveis e explosões súbitas de fúria. E então, pais, o que fazer? Cortar o Wi-Fi e trancar a porta do quarto? Confiscar o celular e torcer pelo melhor? Não. É hora de entrar no jogo.

Criar um adolescente em 2025 não é uma caminhada no parque, mas também não é bruxaria. É ouvir sem vigiar, estar presente sem sufocar, guiar sem ditar regras. É acender uma luz nesse labirinto emocional onde eles se perdem – antes que sejam as telas de estranhos, com intenções sombrias, a iluminá-lo.

Bianca Agnelli

“‘Adolescence’: la serie Netflix che i genitori dovrebbero vedere”

Avere figli adolescenti nel 2025 non dev’essere una passeggiata. Io, madre 24/7 di una coniglietta nana rossa di sei anni, posso solo immaginarlo. (Anche se, credetemi, un coniglio è un figlio impegnativo).

Genitori in ascolto – pardon, in lettura – drizzate le orecchie, i capelli e, se serve, anche le antenne: questa serie Netflix è per voi. Ma anche per noi. Per tutti

“Adolescence” è una miniserie drammatica britannica creata da Jack Thorne e dall’attore Stephen Graham, noto per i suoi ruoli in “Boardwalk Empire” e “Pirati dei Caraibi”. La serie è diretta da Philip Barantini, celebre per il suo lavoro in “Boiling Point”, ed è stata rilasciata su Netflix il 13 marzo 2025, ottenendo un successo immediato. In Inghilterra, ha raggiunto 6,45 milioni di spettatori nella prima settimana, superando il record precedentemente detenuto da “Fool Me Once” con Michelle Keegan.

La trama ruota attorno a Jamie Miller (interpretato da Owen Cooper), un tredicenne accusato dell’omicidio di una compagna di classe. La serie esplora le pressioni sociali e culturali che portano a tale tragedia, gettando luce su temi come il bullismo online, la misoginia e l’influenza di figure pubbliche controverse come Andrew Tate.

Quello che mi ha colpito, oltre alla bravura del regista Philip Barantini, l’incredibile piano sequenza, e la sceneggiatura intensa, è quanto la serie sia tristemente specchio della realtà. Sì, è un thriller. Ma racconta ciò che accade ogni giorno in tutte le scuole. Nei telefoni degli adolescenti. Il bullismo non è più quello di una volta, fatto di spinte nei corridoi e bigliettini cattivi. Oggi è silenzioso, invisibile agli adulti. Vive nei commenti sotto le foto di Instagram, nei gruppi WhatsApp, nei messaggi che scompaiono su Snapchat. È lì che girano foto intime di minorenni, che si diffondono insulti, umiliazioni. 

Circa il 15% degli adolescenti in Italia ha dichiarato di essere stato vittima almeno una volta di bullismo o cyberbullismo. Questo dato emerge dalla VI rilevazione 2022 del Sistema di Sorveglianza HBSC Italia (Health Behaviour in School-aged Children – Comportamenti collegati alla salute dei ragazzi in età scolare), alla vigilia della Giornata nazionale contro il bullismo e il cyberbullismo. La ricerca, coordinata dall’Istituto Superiore di Sanità insieme alle Università di Torino, Padova e Siena, con il supporto del Ministero della Salute e la collaborazione del Ministero dell’Istruzione e del Merito, coinvolge tutte le Regioni e le Aziende Sanitarie Locali, offrendo uno spaccato delle problematiche adolescenziali in un periodo delicato come quello post-pandemico. Confrontando i dati con gli studi precedenti, notiamo che si è registrato un aumento significativo del cyberbullismo tra gli 11 e i 13, fortemente associato all’uso dei social network.

Il bullismo online può avere conseguenze devastanti sulla salute mentale delle vittime, portando a depressione, ansia e persino al suicidio.

Non è un problema “caratteriale”. È un disagio culturale, sociale, esistenziale. Perché l’adolescenza è un problema esistenziale. E la storia è sempre la stessa: cercare un’appartenenza.

Sentirsi accettati. 

Spoiler: ci sarà sempre qualcuno che non ti apprezza. Da adulti lo sappiamo bene, ma a 13 anni?

Quando avevamo 13 anni, è inutile fingerlo, tutto ciò era importante anche per noi.

Per sentirsi accettati, si adottano strategie. La più efficace – e più pericolosa – è fare quello che fanno tutti. Essere parte del branco. Perché basta un idiota che prenda di mira qualcuno, e il branco seguirà; perché se una persona sciocca, cattiva o semplicemente insoddisfatta della propria vita, comincia a fare dei commenti stupidi su un ragazzino, gli altri compagni di classe inizieranno ad emulare il suo comportamento. Ed è così che iniziano le stragi.

Per cose idiote. E per i pecoroni.

Il lato oscuro di internet e la mascolinità tossica

La serie ha suscitato dibattiti importanti sulla rappresentazione della mascolinità tossica e sull’influenza dei social media sui giovani. Discussioni in scuole e università hanno evidenziato l’attualità e la rilevanza dei temi trattati. Non ho dubbi che “Adolescence” possa essere utilizzato come strumento educativo per sensibilizzare su questi problemi.

Da donna, da giovane donna, l’intera faccenda mi inorridisce. La cultura Incel si sta diffondendo tra i giovanissimi: online. Invisibile. Gli incel – abbreviazione di involuntary celibate – sono uomini che odiano le donne perché non riescono ad avere una relazione. Si lamentano che l’80% delle donne scelga solo il 20% degli uomini, e riversano la loro frustrazione in un odio viscerale. Un mix letale di frustrazione, ignoranza e pericolosità.

E lo so perché, in piccolo, l’ho vissuto sulla mia pelle. Qualche anno fa ho pubblicato un video su YouTube, un piccolo sketch ironico sulle mie esperienze su Tinder. Niente di rivoluzionario. Una cosa leggera. Eppure, un forum chiamato “il forum dei brutti” ha aperto una discussione su di me. Qualcuno aveva condiviso il mio video, indignato perché dicevo che “i ragazzi più belli non mi matchavano, ovviamente”. Scandalo! E questi i commenti, che per caso, un giorno mi sono ritrovata a leggere su me stessa:

• “Stupida cessa”

• “Probabilmente è pure ricca”

• “Ma vuole i soldi che ha Cristiano Ronaldo”

Sottotesto: Come si permette questa qui di avere standard? 

Io, ragazza tranquillissima, con un canale piccolissimo, finita nel mirino di un branco di incel. Non voglio nemmeno immaginare cosa scrivano su ragazze più esposte, più conosciute, più vulnerabili.

Prima di tornare al discorso principale – perché, ammettiamolo, questo articolo sta diventando troppo personale – devo raccontarvi un altro episodio davvero surreale. Un certo individuo, dei tipi che sembrano usciti da una sceneggiatura di serie B, qualche tempo fa ha commentato le mie foto e i miei video lamentandosi del fatto che non fossi una sostenitrice di Matteo Salvini. Per chi non lo sapesse – o mi legge dall’estero – Salvini è quel politico della Lega nord, il quale per me rappresenta tutto ciò che è inaccettabile nel panorama politico italiano.

Ma il suo commento non si è fermato a questo: in un misto di confusione e prepotenza, mi ha anche definito “bellissima – ma in modo quasi asessuato”, come se, anziché vedermi come una donna, mi considerasse una sorta di creatura eterea, una fata distante e impersonale. Un complimento intriso di un insulto sottile, tipico di chi, forse, proietta il proprio disagio e la propria ignoranza sugli altri.

Questo è solo un altro esempio di quelle mentalità ridicole che si aggirano online. 

Genitori: quanto siete responsabili?

Nella serie vediamo il dolore della famiglia di Jamie. E fa male. Non stiamo parlando di genitori abusivi, stronzi e cattivi.

Stiamo parlando di genitori (interpretati da Stephan Graham e Christine Tremarco) umani. Di genitori non della peggior specie. Certo, forse nemmeno della “miglior” specie, ma esiste davvero questa fatidica categoria? (Sì, esiste. È solo molto rara, ecco..)

Dunque, in quanta percentuale possiamo considerarli responsabili per le azioni del figlio?

Mi verrebbe da dire: molto. Poi li guardo piangere e mi chiedo: davvero avrebbero mai immaginato che il loro bambino potesse fare qualcosa di simile? O forse la colpa è altrove? Nella società? Negli insegnanti disinteressati? Negli amici pecoroni? Nei modelli sbagliati? Nei pessimi idoli che si diffondono online, come Andrew Tate?

E gli adulti, allora? Perché se un ragazzino con la corteccia frontale non ancora sviluppata può essere influenzato da questi personaggi ridicoli, che scusa hanno gli adulti? E quanto è colpa della misoginia sistemica, della violenza normalizzata, del sessismo che permea ogni aspetto della vita?

Fare i genitori significa partecipare

Torniamo alla serie. I genitori di Jamie avrebbero potuto evitare tutto questo? Sì. Quando dicono che tornava tardi, che si chiudeva in camera con il computer fino alle due di notte, ecco… Quello era il momento di intervenire. Essere genitori, e fatevelo dire da una che ha un coniglio, non significa soltanto vietare o rimproverare: ma partecipare. Bisogna partecipare.

Gli adolescenti non sono facili, lo so. Ma capirli non è impossibile. Non riuscirai ad entrare subito in tutti gli scompartimenti – amici, amori, scuola. Ma in qualcosa sì. Le passioni. Cosa ama davvero tuo figlio? Cosa lo rende felice? Se non sai rispondere, puoi davvero considerarti un genitore all’altezza?

Io so con certezza che la mia coniglietta Mimì ama gli snack e le passeggiate in giardino. E tu? Sai cosa fa battere il cuore a tuo figlio? Se la risposta è no, forse (decisamente) è il caso di iniziare a scoprirlo.

Consigli pratici per genitori ed educatori (e qualche dato in più):

Comunicazione aperta: Mantenere un dialogo aperto e costante con i propri figli, creando un ambiente in cui si sentano liberi di esprimere le proprie emozioni e preoccupazioni.

Educazione digitale: Insegnare ai ragazzi un uso consapevole e sicuro della tecnologia, spiegando i rischi del bullismo online e della condivisione di contenuti inappropriati.

Osservazione attenta: Prestare attenzione ai segnali di disagio, come cambiamenti di umore, isolamento sociale, problemi scolastici o alimentari.

Intervento tempestivo: Non sottovalutare il bullismo online, ma intervenire tempestivamente segnalando il problema alle autorità competenti e offrendo supporto alla vittima.

Promozione della parità di genere: Educare i ragazzi al rispetto delle differenze e alla parità di genere, contrastando la diffusione di stereotipi e modelli negativi.

Aggiungo, secondo l’unicef, in Italia circa il 37% dei bambini e giovani sono esposti a messaggi di odio online. Eppure ormai il fenomeno è globale… per favore, non lasciamoli soli in questa giungla digitale!

Perché, diciamocelo, crescere un adolescente è un po’ come un thriller psicologico a puntate: pieno di silenzi inquietanti, sguardi enigmatici e improvvisi scatti d’ira. E allora, genitori, che si fa? Si chiude il Wi-Fi e si blinda la porta della cameretta? Si sequestra il telefono e si spera nel meglio? No. Si entra in gioco.

Crescere un adolescente nel 2025 non è una passeggiata, ma nemmeno un atto di stregoneria. È ascoltare senza spiare, essere presenti senza soffocare, insegnare senza predicare. È accendere una luce in quel labirinto emotivo in cui i ragazzi si perdono, prima che a illuminarlo siano gli schermi di sconosciuti con pessime intenzioni.

Bianca Agnelli

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Arquitetura da dor: ‘O Brutalista’, de Brady Corbet

Bianca Agnelli

“Arquitetura da Dor: ‘O Brutalista’, de Brady Corbet”

“Architettura del dolore: ’The Brutalist’ di Brady Corbet” 

Card do artigo "Arquitetura da Dor: ‘O Brutalista’, de Brady Corbet"
Card do artigo “Arquitetura da Dor: ‘O Brutalista’, de Brady Corbet” – Scheda per l’articolo “Architecture of Pain: ‘The Brutalist’, di Brady Corbet”

Fevereiro na Itália é um mês frio, cortante, brutal. O lançamento de The Brutalist (O Brutalista, em português) não poderia ser mais pertinente: não apenas pelo clima meteorológico que nos aperta no gelo, mas também pelo clima emocional e político que parece permear o Velho Continente – e o mundo inteiro – nos últimos meses, deixando-nos com arrepios e uma vaga sensação de inquietação.

A imagem promocional do filme – que também é o que o protagonista vê ao chegar ao porto de Nova York – já é uma declaração de intenções: a Estátua da Liberdade invertida, torta, prestes a desabar. Um presságio, talvez um aviso. A América, o país das iguais oportunidades e dos sonhos realizados, ainda é o ideal que nos foi prometido? Ou o sonho americano se transformou em uma relíquia distorcida, uma ilusão que desmorona sob o peso da realidade?

Em The Brutalist, dirigido por Brady Corbet, a ilusão se desfaz na história de László Tóth (interpretado magistralmente por Adrien Brody) ), um gênio da arquitetura, um judeu húngaro sobrevivente do campo de concentração de Buchenwald. Embora o protagonista seja fruto da imaginação de Corbet, seu contexto e as experiências que o moldam estão firmemente ancorados em eventos históricos reais. A trama se inspira nas histórias de arquitetos europeus do pós-guerra, como Marcel Breuer e Louis Kahn, que emigraram para os Estados Unidos. Esses homens, com as cicatrizes das dores do passado, trouxeram consigo uma visão inovadora e revolucionária da arquitetura, dando vida a uma nova linguagem estética que marcaria profundamente a América. Após perder todos os seus referenciais – a esposa, a pátria, a segurança – László chega em Filadélfia para reconstruir sua vida das cinzas. Mas todo recomeço é doloroso, e para László, o Sonho Americano se revela um calvário de paradoxos e abusos.

Sua salvação – ou talvez sua danação – é a arquitetura: a linguagem que ele domina, a única forma de beleza em que encontra refúgio. Corbet consegue tornar visível essa tensão em cada quadro do filme, esculpindo a película com um rigor quase arquitetônico. As linhas, sombras e geometria urbana se tornam o eco do trauma e da busca pela redenção de László.

Adrien Brody oferece uma interpretação impecável, intensa e visceral, que – como todos esperávamos – lhe valeu o Oscar. A atuação de Brody está imbuída de uma verdade pessoal que vai além do personagem: sua mãe, Sylvia Plachy, é uma fotógrafa e jornalista húngara sobrevivente da ocupação nazista, e seu pai, Elliot Brody, é filho de imigrantes poloneses de origem judaica. A história de László, no fundo, é uma história que Brody conhece nas profundezas do sangue e da memória familiar.

Por trás da força narrativa e visual de The Brutalist está também uma colaboração artística e pessoal que moldou profundamente a estrutura do filme. A esposa de Brady Corbet, Mona Fastvold, contribuiu significativamente para o filme, não apenas como corroteirista, mas como parceira criativa de longa data. Fastvold, diretora norueguesa, colaborou com Corbet na escrita de vários filmes desde 2012, ano em que também começou o relacionamento pessoal entre os dois. A sinergia deles é palpável na delicadeza com que o filme aborda o tema da imigração e da perda: Fastvold, ela mesma imigrante, enriqueceu o projeto com uma perspectiva autêntica sobre a experiência do exílio e da reconstrução. Essa fusão de olhares e sensibilidades faz de The Brutalist uma investigação sobre a identidade coletiva e as raízes destruídas.

Este não é apenas um filme sobre imigração ou sobre arte; é um hino à sobrevivência, uma crônica da dor que se esconde por trás das paredes de um sonho desfeito. É a história de quem, apesar de tudo, ousa tentar construir beleza sobre os escombros, de quem tenta dar sentido ao caos com a precisão de uma linha, com a força de um ângulo. E, acredite, isso me tocou profundamente.

No elenco, destaca-se também Felicity Jones com sua interpretação de Erzsébet, a esposa sobrevivente do Holocausto; Joe Alwyn no papel de Harry Lee Van Buren; Raffey Cassidy como Zsófia; Stacy Martin como Maggie Van Buren, irmã gêmea de Harry; e Alessandro Nivola interpretando Attila, primo de László, proprietário de uma loja de móveis na Filadélfia e mais assimilado à cultura americana.

Filmado principalmente em Budapeste, o filme também se desloca para a Itália, mais especificamente para Carrara, onde László e seu rico cliente, Harrison Lee Van Buren (interpretado por Guy Pearce), escolhem o mármore para seu ambicioso projeto. As históricas cavernas de Bettogli e Bombarda, que há séculos fornecem o precioso mármore usado nas maiores obras de arte do mundo, conferem ao filme uma beleza sublime e uma conexão tangível com a tradição artística italiana.

Filmado em 70mm, o filme oferece uma qualidade visual que remete aos grandes clássicos do cinema épico, conferindo a cada cena uma dimensão quase palpável. É o resultado de dez anos de trabalho, de uma visão que Corbet aperfeiçoou com paciência e ambição, criando uma obra que não apenas homenageia o cinema do passado, mas também redefine a linguagem visual contemporânea. A duração de 215 minutos, com um intervalo de quinze minutos, convida o espectador a se imergir completamente na experiência cinematográfica, lembrando a época em que o cinema era um evento para ser vivido por completo. Pessoalmente, fui envolvida pelo filme e seu ritmo angustiante: não queria perder nem um minuto do que estava vivenciando.

Outro aspecto que realmente me entusiasmou: a trilha sonora composta por Daniel Blumberg. Conhecido por seu estilo vanguardista e não convencional, ele criou uma composição musical que reflete os desafios e os sofrimentos do protagonista. Achei fascinante o uso de sons que remetem ao processo de construção, juntamente com outros elementos que imitam materiais e ferramentas de canteiro de obras. Essa abordagem não só enfatiza a profissão do protagonista como arquiteto, mas também simboliza sua luta para reconstruir sua identidade e encontrar redenção por meio da criação.

A qualidade da composição foi reconhecida internacionalmente, com o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original. Esse prêmio sublinha a contribuição excepcional de Blumberg para o cinema contemporâneo e a eficácia da música em contar histórias poderosas e universais.

Nas mãos do diretor, a arquitetura se torna uma linguagem de resistência e memória.

A beleza que László tenta construir não é pura: ela é marcada pelas rachaduras da História, pelas sombras da violência, pelos fantasmas do passado que se insinuam entre as geometria perfeitas dos edifícios. A própria construção se torna o coração pulsante da história, desempenhando um papel crucial na evolução da trama. O Instituto Van Buren, o imenso edifício imaginário no centro da narrativa, construído em concreto e projetado com um jogo habilidoso de espaços negativos entre duas torres que se erguem em direção ao céu formando o símbolo de uma cruz, foi idealizado pela designer de produção Judy Becker. Aqui, a engenhosidade criativa se torna metáfora de uma dor coletiva, transformada em uma obra simbólica, um monumento à memória e ao desejo de não ser esquecido.

E é assim que The Brutalist se torna verdadeiramente provocador: nos obriga a confrontar as histórias de dor, racismo, imigração. László não constrói para esquecer, mas para dar forma ao vazio, para dar voz a um destino marcado pela exclusão, para contar a história de um judeu brutalizado pelo mundo. Observando seu frágil sonho se erguendo contra o céu, me pergunto: qual será o preço que nós, como sociedade, pagaremos se continuarmos a ignorar as feridas do passado?

Adrien Brody, ao receber seu Oscar, abordou os temas centrais do filme, ressaltando como o ator, mesmo no aparente encanto da profissão, vive em um terreno frágil. “Estou aqui para representar os traumas persistentes e as repercussões da guerra, da opressão sistemática, do antissemitismo e do racismo”, afirmou, lembrando como a história de László é uma reflexão sobre os danos profundos deixados pelas atrocidades históricas. “Rezo por um mundo mais saudável, mais feliz e mais inclusivo, e acredito que, se o passado pode nos ensinar algo, é que devemos impedir que o ódio passe despercebido.”

Talvez seja justamente a coragem de se identificar com essas realidades – cruas, dolorosas, injustas – que pode ajudar a reconstruir não apenas edifícios, mas uma sociedade mais justa. E, no fim, enquanto László tenta desesperadamente dar forma a um mundo que o rejeitou, nós também devemos nos perguntar se não chegou a hora de ouvir realmente as vozes daqueles que estão vivendo à margem.

Bianca Agnelli

Architettura del dolore: ’The Brutalist’ di Brady Corbet’ 

Febbraio in Italia è un mese freddo, graffiante, brutale. L’uscita di The Brutalist non poteva essere più azzeccata: non solo per il clima meteorologico che ci stringe nella morsa del gelo, ma per quello emotivo e politico che sembra permeare il Vecchio Continente – e il mondo intero – negli ultimi mesi, lasciandoci con la pelle d’oca e un vago senso di inquietudine.

L’immagine promozionale del film – che è anche ciò che il protagonista vede una volta attraccato al porto di New York – è già una dichiarazione di intenti: la Statua della Libertà rovesciata, storta, decisamente sul punto di crollare. Un presagio, forse un ammonimento. L’America, il paese delle pari opportunità e dei sogni realizzati, è davvero ancora l’ideale che ci è stato promesso? O il sogno americano è ormai solo una reliquia distorta, un’illusione che si sgretola sotto il peso della realtà?

In The Brutalist, diretto da Brady Corbet, l’illusione si infrange attraverso la storia di László Tóth (interpretato magistralmente da Adrien Brody), un genio dell’architettura, un ebreo ungherese sopravvissuto al campo di concentramento di Buchenwald. Nonostante il protagonista sia frutto della fantasia di Corbet, il suo contesto e le esperienze che lo definiscono sono saldamente ancorati a eventi storici reali. La trama si ispira infatti alle storie di architetti europei del dopoguerra come Marcel BreuerLouis Kahn, che emigrarono negli Stati Uniti. Questi uomini, con le cicatrici delle sofferenze passate, portarono con sé una visione innovativa e rivoluzionaria dell’architettura, dando vita a una nuova lingua estetica che avrebbe segnato profondamente l’America. Dopo aver perso ogni riferimento – la moglie, la patria, la sicurezza – László arriva a Filadelfia per ricostruire la propria vita dalle macerie. Ma ogni rinascita è dolorosa, e per László l’American Dream si rivela un calvario di paradossi e abusi.

La sua salvezza – o forse la sua dannazione – è l’architettura: il linguaggio che riesce a dominare, l’unica forma di bellezza in cui riesce a rifugiarsi. Corbet riesce a rendere visibile questa tensione in ogni frame del film, scolpendo la pellicola con un rigore quasi architettonico. Le linee, le ombre, le geometrie urbane diventano l’eco del trauma e della ricerca di redenzione di László.

Adrien Brody regala un’interpretazione da manuale, intensa e viscerale, che – come tutti speravamo – gli è valsa l’Oscar. La performance di Brody è intrisa di una verità personale che va oltre il personaggio: sua madre, Sylvia Plachy, è una fotografa e giornalista ungherese sopravvissuta all’occupazione nazista, e suo padre, Elliot Brody, è figlio di immigrati polacchi di origine ebraica. La storia di László, in fondo, è una storia che Brody conosce nel profondo del sangue e della memoria familiare.

Dietro la potenza narrativa e visiva di The Brutalist si nasconde anche una collaborazione artistica e personale che ne ha plasmato la struttura profonda. La moglie di Brady Corbet, Mona Fastvold, ha contribuito significativamente al film, non solo come co-sceneggiatrice, ma come partner creativa di lunga data. Fastvold, regista norvegese, ha collaborato con Corbet alla scrittura di diversi film dal 2012, anno in cui è iniziata anche la loro relazione personale. La loro sinergia è palpabile nella delicatezza con cui il film affronta il tema dell’immigrazione e della perdita: Fastvold, lei stessa immigrata, ha arricchito il progetto con una prospettiva autentica sull’esperienza dell’esilio e della ricostruzione. Questa fusione di sguardi e sensibilità rende The Brutalist anche un’indagine sull’identità collettiva e sulle radici spezzate.

Questo non è solo un film sull’immigrazione o sull’arte; è un inno alla sopravvivenza, una cronaca del dolore che si nasconde dietro i muri di un sogno infranto. È la storia di chi, nonostante tutto, osa cercare di costruire bellezza sulle macerie, di chi tenta di dare un senso al caos con la precisione di una linea, con la forza di un angolo. E, credetemi, questo mi ha colpita nel profondo.

Nel cast, spicca pure Felicity Jones con la sua interpretazione di Erzsébet, la moglie sopravvissuta all’Olocausto, Joe Alwyn nei panni di Harry Lee Van Buren, Raffey Cassidy come Zsófia, Stacy Martin è Maggie Van Buren, la sorella gemella di Harry, e Alessandro Nivola interpreta Attila, cugino di László, proprietario di un negozio di mobili a Filadelfia e più assimilato nella cultura americana.

Girato prevalentemente a Budapest, il film si sposta anche in Italia, precisamente a Carrara, dove László e il suo facoltoso committente, Harrison Lee Van Buren (interpretato da Guy Pearce), scelgono il marmo per il loro ambizioso progetto. Le storiche cave di Bettogli e Bombarda, che da secoli forniscono il prezioso marmo utilizzato nelle più grandi opere d’arte del mondo, conferiscono al film una bellezza sublime e una connessione tangibile con la tradizione artistica italiana.

Girato in 70mm, il film regala una qualità visiva che richiama i grandi classici del cinema epico, conferendo a ogni scena una dimensione quasi tangibile. È il risultato di dieci anni di lavorazione, di una visione che Corbet ha affinato con pazienza e ambizione, dando vita a un’opera che non solo omaggia il cinema del passato, ma ridefinisce anche il linguaggio visivo contemporaneoLa durata di 215 minuti, con un intervallo di un quarto d’ora, invita lo spettatore a immergersi completamente nell’esperienza cinematografica, ricordando l’epoca in cui il cinema era un evento da vivere pienamente. Personalmente, sono stata inghiottita dal film e dal suo angosciante ritmo: non avrei voluto perdermi nemmeno un minuto di ciò che stavo vivendo.

Altro aspetto che mi ha davvero entusiasmata: la colonna sonora composta da Daniel Blumberg. Già noto per il suo stile avanguardista e non convenzionale, ha creato un accompagnamento musicale che rispecchia le sfide e le sofferenze del protagonista. Ho trovato affascinante l’uso di suoni che richiamano il processo di costruzione, insieme ad altri elementi che imitano materiali e strumenti da cantiere. Questo approccio non solo enfatizza la professione del protagonista come architetto, ma simboleggia anche la sua lotta per ricostruire la propria identità e trovare redenzione attraverso la creazione.  

La qualità della composizione è stata riconosciuta a livello internazionale, con l’Oscar per la migliore colonna sonora originale. Questo premio sottolinea l’eccezionale contributo di Blumberg al cinema contemporaneo e l’efficacia della musica nel raccontare storie potenti e universali.  

Nelle mani del regista, l’architettura diventa un linguaggio di resistenza e di memoria.

La bellezza che László cerca di costruire non è pura: è segnata dalle crepe della Storia, dalle ombre della violenza, dai fantasmi del passato che si insinuano tra le geometrie perfette degli edifici. La costruzione stessa diventa il cuore pulsante della storia, giocando un ruolo cruciale nell’evoluzione della trama. L’Istituto Van Buren, il mastodontico edificio immaginario al centro della narrazione, realizzato in cemento e concepito con un abile gioco di spazi negativi tra due torri che si ergono verso il cielo formando il simbolo di una croce, è stato ideato dalla designer di produzione Judy Becker. Qui l’ingegno creativo si fa metafora di un dolore collettivo, trasformato in un’opera simbolica, un monumento alla memoria e al desiderio di non essere dimenticati.

Ed è così che The Brutalist si fa veramente provocatorio: ci costringe a confrontarci con le storie di dolore, di razzismo, di immigrazione. László non costruisce per dimenticare, ma per dare forma a un vuoto, per dare voce a un destino segnato dall’esclusione, per raccontare la storia di un ebreo brutalizzato dal mondo. Guardando il suo sogno fragile ergersi contro il cielo, mi chiedo: quale sarà il prezzo che noi, come società, pagheremo se continuiamo a ignorare le ferite del passato?

Adrien Brody nel ritirare il suo Oscar ha toccato gli argomenti centrali del film, sottolineando come l’attore, pur nell’apparente glamour del mestiere, si trovi a vivere su un terreno fragile.“Sono qui per rappresentare i traumi persistenti e le ripercussioni della guerra, dell’oppressione sistematica, dell’antisemitismo e del razzismo”, ha dichiarato, ricordando come la storia di László sia una riflessione sui danni profondi lasciati dalle atrocità storiche. “Prego per un mondo più sano, più felice e più inclusivo, e credo che se il passato ci può insegnare qualcosa, è che dobbiamo impedire che l’odio passi inosservato.”

Forse è proprio il coraggio di immedesimarsi in queste realtà – crude, dolorose, ingiuste – che può aiutare a ricostruire non soltanto edifici, ma una società più giusta. E, in definitiva, mentre László cerca disperatamente di dare forma a un mondo che lo ha rifiutato, anche noi dobbiamo chiederci se non sia giunto il momento di ascoltare, davvero, le voci di chi sta vivendo ai margini.

Bianca Agnelli

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