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Sergio Diniz da Costa: 'Num canto da rua…'

Sergio Diniz. Foto por Teófilo Negrão Duarte

Adriane e Thor estão ali, num canto da rua, semelhantes a uma vitrine. Uma vitrine sem brilho e sem enfeites. Uma vitrine para ser apreciada somente por aqueles que têm olhos de ver e coração de sentir!”

Adriane é uma moradora de rua de Sorocaba. ‘Moradora de rua’, em termos, porquanto sua ‘casa’ é um imóvel abandonado, perto do Fórum Velho.

Nascida em Santos (SP), perdeu a mãe quando era criança. E seu pai, perdeu-o para a vida errante.

Os Ventos da Vida a trouxeram para a ‘Terra Rasgada’, na esperança de dias melhores. Entretanto, decorrente da falta de escolaridade, não consegue emprego formal. E, por causa da aparência, sequer como empregada doméstica ou faxineira (porque, afinal de contas, quem em ‘sã consciência’ a colocaria para dentro de casa para trabalhar, não é mesmo?).

Aqui, não tem familiares, parentes ou amigos. Ou, melhor dizendo, ela tem um amigo, sim! E foi ele quem me chamou a atenção, quando passei por ela. Dele, a princípio, pude ver tão somente a carinha, porque o corpo estava envolto por uma manta velha, mas aconchegante. Ele se chama Thor e tem 2 anos de idade. Thor não fala, pois a Mãe Natureza não o dotou de tal habilidade. E, aparentemente, também não pensa, pela mesma razão. Porém, em sua mudez de palavras e em sua aparente falta de pensar, Thor compensa tais dons com outro predicado: o dom da amizade; da amizade pura, da amizade incondicional.

Adriane, quando nada ganha, a título de esmola, às vezes passa fome, às vezes, frio. Solidão, solidão pela falta de pessoas próximas, sempre! Thor, no entanto, desde que está com ela (a antiga dona não o quis mais), não passa fome e nem frio. E nunca está só. E nem só deixa Adriane.

Passo por Adriane e por Thor na rua e registro esta breve história, com palavras e imagem.

Deixo-lhe algum dinheiro para um café da manhã, afago a cabeça de Thor (que, em retribuição, lambe minha mão e finge mordê-la) e sigo meu caminho.

Sigo meu caminho, alheio às coisas e pessoas à minha volta. Apenas pensando, refletindo sobre o momento em que, vendo aquele cãozinho aquecido dentro da manta, parei para conversar com sua dona, a moradora de rua Adriane.

Adriane, materialmente, é miserável. Pária da sociedade. Para nós, os humanos, certamente nada tendo para oferecer. E, assim sendo, muitos que passam por ela não a veem. Não obstante, algo nela atraiu o pequeno Thor, por laços que os olhos comuns não veem.

Adriane e Thor estão ali, em algum canto da rua, semelhantes a uma vitrine. Uma vitrine sem brilho e sem enfeites. Uma vitrine para ser apreciada somente por aqueles que têm olhos de ver e coração de sentir!

 

Sergio Diniz da Costa – jornalculturalrol@gmail.com

Sergio Diniz da Costa
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