Sergio Diniz da Costa: ‘O CÉU QUE SE ABRIA’
(Um conto da adolescência)
Era singular aquele movimento de abrir-fechar do céu. E o homenzinho deitado na grama do parque deleitava-se com aquele espetáculo apoteótico. Ele contemplava e sorria. De vez em quando, ensimesmava-se, franzia o cenho como quem quer ter alguma dúvida esclarecida e apresentava ligeiros espasmos passageiros. Mas, apesar disso, deliciava-se com o majestoso espetáculo de abrir-fechar do céu.
A tarde esparramava o seu manto cor-de-rosa na natureza, fato este que mais ainda enfeitava, à vista do pequeno observador, o vai e vem, o abrir-fechar do céu.
Talvez algum transeunte mais curioso perguntasse a alguém mais esclarecido o significado de tal coisa, Aliás, uma pequena multidão foi-se formando para observar o inaudito fenômeno. Porém, para o homenzinho deitado na grama do parque, aquilo era natural e ele não se importava com a multidão que, agora, estava desmesuradamente grande.
E a multidão crescia mais e mais e, logo, uma terrível balbúrdia tomou conta do lugar. Alguém, temeroso de que eclodisse alguma tragédia generalizada, tratou logo de chamar o Estado-Maior das forças Armadas e, dentro de pouco temo, todos os soldados daquele país compareceram àquele lugar.
Todavia, a multidão acotovelava-se cada vez mais para presenciar o fenômeno celeste.
Os jornais começaram a publicar em seus periódicos o fato; o rádio e a televisão correram fazer suas reportagens no local. E a notícia saiu nas primeiras páginas de todos os jornais do mundo, em letras garrafais: ‘ESTRANHO FENÔMENO DESPERTA A CURIOSIDADE DOS MORADORES DE UMA CIDADE DO INTERIOR E AS MAIORES AUTORIDADES DE TODOS OS PAÍSES’.
Logo que a notícia explodiu ante o público, todas as pessoas, de todos os países, acorreram para aquela localidade. Entretanto, a cidadezinha não comportava todo mundo. E um desequilíbrio geográfico foi causado na Terra. E ela saiu de seu eixo.
Os oceanos começaram a ocupar as partes antes não ocupadas e quase todos os homens e animais pereceram afogados. Menos, um: o homenzinho que estava deitado na grana do parque, agora tranquilo pela ausência da confusão sonora e demográfica.
E ele continuava deleitando-se com o fenômeno de abrir e fechar do céu.
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